Dear Teacher escrita por Flávia Monteiro


Capítulo 4
Capítulo 3 - Café na madrugada


Notas iniciais do capítulo

Sim, estou atrasada em duas semanas. Porem tive problemas com a internet, o pc e aff... a faculdade. Agora sou todinha de vocês! hehehe o/
Esse cap ia ser um só, mas ia ficar muito grande, então estou postando ele em dois caps! ;)
No próx tem a participação do Mr. Gostoso Grunt! *-*
Eu ia dar spoiler mas melhor não, né?
Enjoy!



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Troquei minha roupa por um pijama, me enfiei debaixo do meu cobertor e tentei dormir. Parece que estava cedo demais para isso, e tive que encarar o teto do quarto por um tempo antes de fechar meus olhos e me obrigar a dormir.

Estava de volta à minha casa de infância, um apartamento espaçoso e vazio. Meus pais sempre trabalharam o dia todo, me deixando em companhia da nossa empregada velha e amorosa. Percorri a cozinha com panelas no fogo, a sala com a TV ligada em desenhos, meu quarto e dos meus pais e nada. Eu estava sozinha em casa? Olhei para meu reflexo no comprido espelho na porta do guarda roupa dos meus pais e me encontrei em um dos meus vestidos favoritos de quando era jovem. Suas alças finas deixavam meus ombros magros à mostra, o tecido amarelo pálido cheio de flores chegava acima dos meus joelhos, meus fios negros estavam trançados às minhas costas do modo como mais gostava de usá-los na época.

Ouvi um barulho vindo do corredor. Finalmente havia alguém em casa. Corri, encontrando a porta do escritório semi-aberta. Curiosa, deslizei silenciosa até lá.

– Pensei que não voltaria mais, senhorita Johnson.

Meu estômago caiu em um infinito congelante, me deixando de boca aberta e olhos arregalados para o homem que apoiava seu corpo na escrivanhia do meu pai com uma mão no bolso da sua calça e outra segurando um pequeno livro aberto. Senhor Grunt me observou com aqueles olhos verdes e um pequeno sorriso no canto da boca. Uma cena que nunca tinha visto antes.

– Podemos retomar à aula? – perguntou se afastando da escrivanhia.

Era para me sentar ali. Sabia disso porque sempre tive aulas particulares naquele mesmo escritório com vários professores ao longo dos anos. Cambaleei para a cadeira até me sentar de qualquer jeito no móvel. O livro aberto a minha frente era de física. Não havia nada na vida em que tivesse sido pior do que lidar com números.

Mr. Grunt começou a sua explicação ao longe, me deixando abobada olhando para o livro com fórmulas e números.

– Senhorita Johnson?

Ergui meus olhos para aquela voz grave. Um, dois, três botões não abotoados mostrando e escondendo seu pescoço enquanto ele dobrava as mangas compridas de sua camisa branca até acima dos cotovelos. Por que isso estava acontecendo? Por que não conseguia emitir um som?

– Se não vai se entregar totalmente, me sinto um inútil aqui. – reclamou se aproximando e se curvando até ficar face a face comigo e sussurrar – Já que essa lição não te interessa, talvez eu deva te ensinar outra coisa.

Seus olhos percorreram meu rosto e se detiveram em meus lábios entreabertos e trêmulos antes de me beijar.

Acordei assustada e me sentei em minha cama. Estava respirando como se tivesse corrido uma maratona. Passei minha mão em meu rosto, sem acreditar no que estava sonhando, e senti o suor quente do meu corpo. Ellen ainda estava dormindo na cama do seu lado do quarto, o que me fez pensar em que horas eram. Busquei meu celular sob o travesseiro e apertei seu botão lateral para destravá-lo.

00:12 AM

Meia noite? Que droga! Deitei mais uma vez e tentei voltar a dormir, mas cada vez que fechava os olhos as cenas do Mr. Grunt me beijando voltavam e meu cérebro criou várias possibilidades de como o sonho poderia continuar que, ao invés de me fazerem dormir, me deixaram muito bem acordada. Com meu celular na minha mão de novo, mandei uma sms para Alan.

Está acordado?

Segundos depois o aparelho vibrou com a resposta.

Joguei o edredom de lado, calcei minhas pantufas, vesti meu robe rosa e um casaco pesado sobre ele antes de sair do quarto em silencio. O corredor estava escuro, e era possível se guiar apenas com as luzes emanadas sob as portas de alguns dormitórios. Os garotos ficavam no outro lado do prédio, o que levou algum tempo para chegar usando a luz do meu celular como guia. O que, aliás, não parou de vibrar com mensagens seguidas de Alan:

Por quê?

Aconteceu alguma coisa?

Catherine, me responda!

Dormiu?

Enfim, consegui. A luz do quarto do meu amigo estava apagada, então dei uma batida leve na porta. Alguns segundos e nada. Bati de novo um pouco mais alto, e dessa vez uma conversa baixa e ruídos de alguém se movendo lá dentro foram ouvidos antes da porta abrir o suficiente para mostrar um Alan descabelado usando apenas boxer e uma camiseta branca.

– Kate? O que foi? – sussurrou, provavelmente para não incomodar Gustav.

– Não consigo dormir. – resmunguei.

Acho que ele estava tentando avaliar meu rosto, o que era meio difícil com a pouca iluminação que vinha do abajur dentro do dormitório dele.

– Do que precisa? – me perguntou.

– Pode ficar comigo um pouco? Só jogar conversa fora... – preciso muito de um amigo agora e você é o único que sabe por que estou assim! Por favor, diga que sim!

– Só me dá um minuto.

E assim ele fechou a porta na minha cara. A luz do quarto acendeu e ouvi reclamações da parte do Gustav sobre a luz, depois uma discussão em voz baixa e finalmente a porta se abriu para meu amigo ruivo sair já devidamente vestido com seu pijama, tênis e casaco. Em um segundo antes da luz ser apagada novamente, sobre o ombro de Alan vi que o lado do quarto que era para ter uma cama estava vazio, sem nada ali. Apenas um segundo antes da porta ser fechada e a gente sair vagar pelos corredores.

O segui até o fim do corredor, com uma máquina de café perto da enorme janela de vidro que nos mostrava uma lua fina e um céu sem estrelas. Alan comprou dois copos com café para nós e mos sentamos no chão ao lado da máquina, tentando conversar um pouco.

– Então... Desde que te conheço nunca ouvi falar que tivesse problemas para dormir. – ele assoprou um pouco o café em seu copo de isopor antes de beber um gole.

– Não tenho. Foi só... Um sonho ruim. – murmurei também bebendo o meu café. Estava amargo, e terminou de me despertar.

Ouvi um riso baixo vindo dele.

– Sei bem que tipo de sonho tirou seu sono, Kate.

Funguei e continuei bebendo meu café. Um ótimo amigo para dividir segredos, mas nunca perde a oportunidade de mexer comigo.

– Sabe, sempre pensei que você fosse o tipo de garota que fosse gostar do cara como uma princesa imaculada e não... Como posso dizer isso? Sentir vontade de fazer sexo com ele e sonhar com isso.

Meu rosto ficou muito quente e ergui meus ombros para me enfiar dentro da gola peluda do meu casaco. Não, não cheguei a sonhar isso, mas imaginei enquanto tentava voltar a dormir. O que é bem pior para mim.

Lábios, mãos, corpos, roupas sendo tiradas, livros sendo jogados no chão... Cada coisa que imaginei voltou de novo a minha mente, me deixando com raiva. NÃO POSSO GOSTAR DO MEU PROFESSOR!

– Catherine, já imaginou se algum dia isso chegar mesmo a acontecer? Já imaginou que talvez esse dia pode estar perto?

– Pare de dizer idiotices! – resmunguei de novo, terminando minha bebida. – É fácil para você falar! Nunca te vi gostando de alguém. Sabe como é difícil se aproximar da pessoa sem ser rejeitado? Ou já pensou em como dizer o que sente para ela e esperar por uma reação que não deseja? Talvez, sei lá, a pessoa não goste e te humilhe em público...

– Catherine... – ele suspirou – É disso que você tem medo?

– Não. – menti, ficando de joelhos para pegar mais café para mim. A bebida me mantinha aquecida nesse corredor frio.

O silencio perdurou enquanto a maquina enchia meu copo. Não vou negar que tenho muito medo de me confessar e levar O Fora do Mr. Grunt, mas é que... isso já é demais para compartilhar com o Alan. Ele, provavelmente, vai querer que eu me confesse em voz alta para o Mr. Grunt só para me mostrar que não levaria fora algum. Conheço como aquela cabeça funciona...

– Sim, já gostei de alguém. Na verdade gosto. – me confessou. Prestei atenção em meu amigo sentado com as costas na parede à luz da lua o deixando pálido. – Sei como é difícil dizer como se sente no começo, mas você nunca vai ter a resposta se não ariscar.

– Qual foi a resposta? – minha pergunta atrevida saiu comigo voltando para meu lugar ao lado dele.

Alguns segundos de silencio me diziam que isso não era do meu interesse.

– Catherine, ainda não quero falar sobre isso com você. Desculpe. - murmurou e virou seu rosto para a lua.

A madrugada passou num piscar de olhos entre idéias trocadas em sussurros naquele cantinho ao lado da máquina de café do corredor dos dormitórios masculinos e, quando vimos, o sol já saía no horizonte de concreto de Londres em meio à neblina da manhã fria. Eram os últimos dias de inverno, acho que vou sentir falta dessa estação.

Nos levantamos do chão assim que o primeiro despertador soou abafado em um quarto ali perto e nos demos conta de que já amanhecia. Voltamos para nossos dormitórios correndo e sorrindo. Era a primeira vez que quebrávamos a regra do toque de recolher, e não era tão ruim assim.

Entrei no meu quarto e encontrei Ellen se levantando. Seus cabelos loiros estavam tão embaraçados que precisariam de alguns minutos de atenção especial hoje.

– Onde você estava? – seu rosto sonolento tentava focar a concentração em mim atravessando o local.

– Hum... Conversando com Alan. – tirei minhas pantufas e peguei minha toalha perto da minha cama.

– Ah. – Ela parecia magoada pelo fato de ter preferido Alan a minha melhor amiga. Mas ela não sabia do meu dilema! Como contar algo tão vergonhoso assim? Ah, vou tomar meu banho!

Peguei uma muda de roupa e me dirigi ao banheiro da nossa ala. Estava vazio quando cheguei, então tive água quente o bastante para mim. Minha mente ainda estava desperta de tanto café que tomei, mas os músculos do meu corpo doíam. Terminei meu banho e me vesti. Fui até o espelho e passei a manga da minha blusa para desembaça-lo, encontrando um rosto cansado e com olheiras. Minha nossa! Eu não usava maquiagem. Ellen tampouco. Liguei a torneira e joguei um pouco de água fria no meu rosto esperando melhorar minha aparência. Escovei meu cabelo e voltei para meu quarto apenas para pegar minha bolsa com meus livros e caderno e desci para o refeitório.

Peguei um croissant e um chocolate quente e me sentei bem no centro do refeitório em uma mesa vazia. Enquanto comia meu croissant Derick apareceu e se sentou na cadeira a minha frente. Pela primeira vez estava quieto, com seus olhos azuis me encaravando preocupados e assustados.

– O que aconteceu com você? – foi tudo o que conseguiu dizer para deixar a boca aberta para mim como se eu fosse um animal impressionante nunca visto antes.

– Só não dormi bem. – suspirei e voltei pro meu croissant.

– Não dormiu bem? Parece é que você nem sequer fechou os olhos essa noite!

Engoli em silencio e tomei um gole do meu chocolate quente frio. Por que é que servem isso?

Alan chegou e se sentou ao meu lado, puxando minha bandeja para si e dando uma grande mordida no meu croissant sem sequer perguntar se podia. Não liguei até ele me devolver o que restou.

– Gustav foi pegar alguma coisa pra gente, mas ‘tô com muita fome pra esperar. – se desculpou sorrindo de boca cheia.

Derick alternava os olhos entre mim e Alan descaradamente. Provavelmente comparando nossas caras cansadas e olheiras e tentando decodificar isso em uma desculpa conveniente para estarmos assim.

– Que foi? – perguntei, querendo muito que parasse com aquilo.

– Nada. Deixa pra lá. – resmungou fechando a cara e se levantando da mesa.

– Não vai comer nada? – elevei minha voz antes que ele estivesse longe demais.

– Não estou com fome. – resmungou sem olhar para mim e saiu do refeitório.

– Que bicho o mordeu? – Alan me perguntou e dei de ombros, preocupada. O que aconteceu?

Uma bandeja com um grande sanduíche natural e um copo de capuccino foi posta com força na frente de Alan e só tive tempo de reconhecer as costas de Gustav se afastando para o outro lado do refeitório.

– E agora? – já estava duas vezes preocupada com todo mundo amanhecendo com o bumbum virado pra lua.

Alan deu de ombros e deu uma grande mordida no sanduíche dele.

– Está assim porque passei a noite fora com você. Não gostou que desrespeitei o toque de recolher. Você o conhece, sabe que ele é psicótico por bom comportamento. – me explicou com a boca cheia.

Por algum motivo fomos evitados o dia todo, então resolvi não assistir minhas aulas à tarde e ir estudar na biblioteca.


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Notas finais do capítulo

Mais uma vez, desculpa o atraso. O prox cap já está pronto, só falta revisão! Bjs! o/



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