~P.O.V Will~

Eu estava sentado no sofá com branca e nós conversávamos sobre coisas estúpidas e aleatórias, isso para os outros, poderia parecer louco e eles poderiam pensar que estávamos sem foco, mas para nós fazia sentido, afinal eu fiquei anos e anos preso com Branca naquela cela escura e fria, e com a convivência ela acabou se tornando uma grande amiga, por conta disso, automaticamente assumimos uma maneira só nossa de reagir ao mundo, quando estávamos tensos ou algo do tipo, começávamos a falar sobre coisas aleatórias, quando estávamos em paz falávamos de nossas vidas, famílias e afins e quando estávamos tristes e se um quisesse ficar só, com um único olhar o outro entendia e cada um ficava no seu canto, depois que cansamos de falar de coisas desnecessárias.

Branca disse que ia preparar um suco e Let se ofereceu para ser ajudante, eu fiquei na sala observando as crianças que já não eram tão crianças assim, Alli estava sentado na porta e fitava o céu com seus olhos vermelhos quase rosa, ou coisa do tipo, Erick e Alice tinham acabado a arrumação e estavam sentados na escada, eles pareciam se entender e notei que Erick não tirou o sorriso do rosto uma única vez, mas ainda assim ele não parecia feliz, isso me irritou, eu sentia vontade de ir até ele e arrancar aquele sorriso falso de seu rosto, de dizer a ele para deixar de fingir, mas eu não podia, eu sentia que não podia me aproximar mais, e isso é o que me irritava, eu estava destroçado por dentro, meu filho parecia não ter sentimentos reais, meu sobrinho pareci ter sido jogado num poço de frieza e maldade, e até agora ninguém me disse nada sobre minha filha, só de pensar nela me dava um aperto no coração, de alguma forma sentia que já sabia o que todos estavam evitando dizer, mas não tive coragem de admitir.

Suspirei, cansado, mesmo que não quisesse acreditar eu tinha que aceitar e para isso precisava ter certeza, eu me levantei e andei até a porta, Alli me encarou por um tempo, seu rosto não carregava expressão alguma, mas eu sabia, desde o momento em que o vi que ele estava perdido e que precisava urgentemente de amparo e cuidado, forcei um sorriso, que ele retribuiu docemente, enquanto se levantava.

— Podemos conversar? – Perguntei e ele consentiu, embora um pouco temeroso.

Fui até o fim da varanda e ele me acompanhou até lá. — É um belo lugar.

— É! – Ele respondeu e eu o encarei, nossos olhares se encontram por um segundo, mas ele logo desviou, sentei na beirada da varanda e Alli faz o mesmo.

— Ei, Alli, eu sou seu pai, pode confiar em mim eu te amo e quero o melhor pra você. – Comentei e ele abaixou a cabeça, nós ficamos em silencio por um bom tempo até que ele mesmo o quebrou.

— Pai... Sobre... – Mas ele se interrompeu, contraindo os lábios. — Sobre... Ela...

— Está morta não está? – Perguntei, sentindo meu coração perder o ritmo e ele me encara surpreso, mas logo baixa os olhos, eu sabia, eu sempre soube, o aperto em meu coração toda vez que penso nela, é, eu sabia, o fato de que desde que eu cheguei aqui todos desviam o assunto quando eu pergunto dela, eu sabia, sinto uma pequena lágrima brotar, mas tenho que me controlar, eu não posso simplesmente me entregar à dor, todos esses anos eu jurei a mim mesmo que não me entregaria e vou cumprir esse juramento, custe oque custar.

— Sim, ela está. – Ele respondeu finalmente sem olhar pra mim. — Desculpa pai, ela se matou... Bem na minha frente. – Ele concluiu, seu tom soava sério, mas ainda possuía um pouco de doçura, eu o envolvi em meus braços e acariciei seu cabelo, ele fechou os olhos e sorriu um pouco.

— Não peça desculpas, você não teve culpa de nada, então... Antes de morrer, ela estava... Sei lá, ela... Era ela?

— Sim, era ela, ela... Parecia em paz, pelo menos ela sorriu até o fim.

— E me diz uma coisa... O Erick ainda...

— Gosta dela? – Ele me interrompeu sorrindo. — Sim, e ele está mal. – O sorriso dele diminui, o pai de Erick, Johan era meu melhor amigo, os pais dele morreram quando ele ainda era bem novo e ele foi morar com minha família, ele era mais alto que eu, era loiro, tinha olhos verdes, fazia um baita sucesso com as garotas e sempre estava aprontando alguma, bem não preciso de esforço para deduzir que o filho seguiu o mesmo caminho, mesmo quando crescemos e construímos nossas próprias vidas, sempre demos um jeito de nos reunir, tanto que acabamos morando perto, ele se tornou ferreiro e sua mulher, Rose, era uma professora de piano e também pintava quadros, uma mulher muito talentosa, por causa de nossa proximidade nossos filhos cresceram juntos, Alli e Erick viviam discutindo e ao mesmo tempo se ajudando em tudo, Carime ficava entre eles e Erick vivia lhe dando flores, chocolates e pedrinhas diferentes que achava na beira do lago, o que fazia com que Alli brigasse com ele, lembrar disso me fez sentir um calor no coração, eu me senti um pouco triste por lembrar pessoas que amo e que perdi, mas ao mesmo tempo feliz por saber que não me esqueci dos bons momentos.

— E você em?

— Eu oque? – Ele se fez de confuso, o que me fez rir.

— Nada não esquece. – Ele me encarou e eu me levantei, respirando fundo o ar puro, neste momento Alice pôs a cabeça pra fora da porta.

— A rainha está chamando. – Ela avisou e percebi que é a primeira que ouvia sua voz de fato, a confiança natural dela me deixou surpreso, e ela irradiava um ar de nobreza fortíssimo, Alli se levantou e passou por ela, que olha torto pra ele, mas depois baixa os olhos.

— O que foi Alice? Parece tensa. – Perguntei e ela me encarou sorrindo.

— É só que... Acha que os dois estão bem? O Chapeleiro é forte eu sei, mas...

— Não sei, isso é preocupante, mas agora temos que nos concentrar no que faremos. – Eu sorri e ela retribuiu, logo se virando e entrando na sala, me deixando sozinho com meus pensamentos, eu a observei por um tempo, e percebi que não era o único, sorrio ao ver como Allister a observava com fascínio, Alice me faz pensar na minha esposa, Maira, mas não por se parecer com ela e sim por ser o oposto.

Maira e Alice são diferentes, Alice é loira e até um pouco baixinha, ela tem olhos verdes que parecem reluzir de tão belos, me lembram até jades de meu país, quando ela sorri transparece sinceridade e pureza, sua voz é confiante, mas não autoritária e ela parece se importar com Alli e Erick, já Maira era igualmente bela, de uma forma oposta, Cabelos cacheados e negros, com alguns fios brancos totalmente naturais, olhos castanhos e desafiadores e uma personalidade bem mais difícil de aturar, para inicio de conversa eu nem sequer a amava, talvez sentisse atração por ela no começo, mas não era amor, e ela também parecia nem se importar comigo, nosso casamento era uma farsa, os pais dela queriam que se casasse logo, e como eu não estava a fim de me casar com qualquer uma e ela era linda e me encantava nós nos casamos, para depois de um tempo descobrir que não nos suportávamos, eu vivia fora e talvez por isso as vezes dava pra viver em paz como um casal normal, mas isso nunca durava muito, Maira era fútil, sempre quis ter uma filha, mas nunca um filho, quando Alli nasceu minha vida ganhou um novo sentido, mas para ela não foi nada demais.

Só que ai Carime nasceu e a coisa mudou de figura, ela que nem olhava para Alli, deu tanta atenção a menina que eu nem tinha chance, eu amava os dois, mas ela parecia que só amava Carime, no começo isso eu até ignorava, mas depois enquanto as crianças iam crescendo eu percebi que ela fazia pouco caso de Alli e muita questão de Carime, isso me chateava e nós vivíamos discutindo sobre isso, ela era muito vaidosa, e toda vez que eu retornava de alguma viajem Johan me dizia que Alli ficava mais tempo na rua do que em casa, pois não suportava ficar com a mãe, não o culpo por isso, nunca o culpei, também não o culpo por não conseguir tirar os olhos e se atrair por uma garota que é o oposto da mãe, que nunca foi uma verdadeira mãe.