Harry e...plantas escrita por HamsterC
— Já vou mãe! – Harry olhou-se no espelho, seu cabelo preto estava todo despenteado, ele logo o ajeitou com suas mãos e saiu de seu quarto.
— Você vai se atrasar – a mãe do garoto estava próxima a pia, lavava pratos e copos com um avental em volta do corpo.
— Não, não, não, eu como rápido – o garoto sentou-se na cadeira e pegou o pão que estava na mesa – Não tem café?
— Hoje não, querido – a mãe do garoto levou os cabelos curtos e pretos para atrás de sua orelha.
— Aah, mas eu só acordo com café, vê – Harry fechou os olhos e fingiu roncar – Ainda estou dormindo.
— Já são 7:00, você vai se atrasar, estou avisando – a mãe do garoto saiu da pia e tirou o avental, ela colocou a mão no bolso e estendeu algumas moedas para o garoto – No caminho para o colégio compre algumas sementes de girassol para eu colocar no nosso jardim, tome.
— Não entendo – disse Harry com a boca cheia – As plantas do nosso jardim sempre morrem, se fosse eu, parava de gastar dinheiro, mesmo sendo apenas algumas moedas, ainda serve pra comprar bombom, que é bem melhor – ele olhou diretamente para a mãe e sorriu, ainda de boca cheia.
— Vá logo – a mãe do garoto o abraçou e ao soltá-lo apertou as bochechas dele – Trocou de cueca? Maria vai hoje? Tomou banho?
— Mãe, eu tenho 16 anos, até – ele levantou-se e saiu de casa, as plantas no jardim estavam mortas, com exceção de alguns capins, que sempre cresciam ali ao invés das flores.
Ele abriu a pequena porta de madeira e enfim saiu de sua casa, não havia muros, tudo era seguro em sua cidade. Ele andou, e na segunda rua que passara, procurou por alguém que vendia sementes. Ainda não havia ninguém na feira. “Eu disse que não haveria ninguém, ainda é cedo” pensou ele. Ele ignorou e continuou a andar, até que um homem o barrou.
— Oh! – disse o velho, com uma sacola nas costas.
— O senhor sabe se a feira vai abrir hoje? – disse Harry, aproveitando o senhor que estava ali, em sua frente.
— Sim, sim, o que você está procurando garoto?
— Sementes de girassol, o senhor por acaso tem? – o menino não queria voltar e ir na feira, durante a volta da escola.
— Oh, sim, sim, tenho – o velho colocou a sacola no chão e colocou a mão dentro dela, procurava pelas sementes, quando ele as pegou, estendeu a mão e falou seriamente – Pegue.
— Quanto são?
— É de graça, tome, creio que elas irão satisfazê-lo.
— Obrigado, mas não são para mim, são para minha mãe – Harry pegou as sementes, agradeceu o homem e foi embora.
Harry já estava sentado em sua cadeira. A cabeça estava abaixada e ele tentava dormir em meio ao barulho de seus colegas. Ele sentiu algo ser pregado nas costas e ao levantar a cabeça e olhar, alguns garotos riam enquanto olhavam para ele. Ele esticou a mão até suas costas e sem muito esforço conseguiu tirar o papel. Ele leu. Estava escrito “Me coma”. Ele amaçou e jogou contra os garotos que riam.
— Não liga para o que os idiotas fazem, acho que são imbecis ao ponto de um macaco ser mais inteligente que eles.
— Clara – Harry sorriu.
— Não é Clara, é Maria, Ma-ria-a.
— Prefiro Clara.
— Tudo bem, tudo bem – ela usava a saia e a blusa do uniforme do colégio, seu cabelo era castanho claro, e em seus olhos, a cor azul predominava, mas o óculos impedia que eles fossem vistos.
— Não vai sentar?
— Oh sim, sim – ela jogou a mochila na cadeira que estava atrás de Harry e após rodear a fila, sentou-se – E aí? O que aconteceu no final de semana? Tretas.
— Oh sim, tretas, muitas tretas.
— Aaaah, necessito saber de todas. O que aconteceu no passeio do Lucas com você? Diz, diz, diz.
— Minha mãe pegou eu e ele se masturbando.
— Mentiraaaaa. E ela?
— Nada. Apenas, meio que, ficou estranha pelo dia inteiro até ele ir embora.
— Vala, ai! Espera – Clara pegou o óculos e colocou sobre a cadeira, logo levou o dedo até a beirado de seu olho – Pronto, apenas um cisco – Harry estava parado, o garoto olhava para a cadeira, pensando em alguma coisa – Harry? Acorda!
— Sim, sim.
— Tá estranho. O que houve? Descobriu que é gay?
— Não, não, apenas, me veio uma coisa na cabeça e se foi em segundos, como se fosse um flash.
— O que houve? Tá bem?
— Estou Clara, estou.
— Ignorante – ela olhou para a porta após falar com Harry, um garoto chamou os dois, era Lucas – Meu Deus, meu Deus, finge que não conhece ele – Clara abaixou a cabeça e fingiu não ter visto o garoto que chamava eles, ao olhar para Harry, o garoto estava novamente paralisado, dessa vez olhando para Lucas – Harry! Acorda!
— O-O que?
— Eu disse pra abaixar a cabeça e fingir que não conhece aquele inquilino – sussurrou ela.
— Vocês dois – Lucas estava do lado deles, ainda com a mochila nas costas – Andem, quero falar com vocês enquanto não toca – Lucas jogou a mochila na cadeira na frente de Harry, os dois que estavam sentados se levantaram e seguiram o maior.
— Quando entrei no colégio, me disseram que Rachel está esperando um bebê.
— A puta da nossa sala? – perguntou Clara.
— Isso mesmo – confirmou Lucas.
— Nem fico surpreso, ela sempre se vendeu pra todo mundo – disse Harry, acompanhando os dois.
— Não, e o pior é que dizem que ela, apenas em uma semana, ficou com quatro garotos do colégio e um da rua – disse Lucas.
— Vish, e o bebê? – perguntou Clara.
— Vão dividir ele em cinco, claro – Lucas começou a rir com as palavras que citou.
— Nossa, estou até chorando Lucas – disse Harry – Está vendo aqui ó, uma lágrima – Harry apontou para o seu olho e continuou a falar - que está caindo por você ser tão retardado!
— Olha quem fala, o garoto que se esquece de fechar a porta do quarto enquanto bate punheta.
— Você que quis e me chamou pra ir junto, não posso fazer nada.
— Parem, se não meus ouvidos irão começar a sangrar – gritou Clara – Por que apenas não admitem que estão juntos?
— Por que não estamos, oras – disse Harry.
— Aah, acabei de me lembrar de algo – disse Lucas sorrindo, ele olhava para Clara – Pode me dizer como foi sua primeira transa?
— O-O-O-O qu-que? – Clara quase engasga – De onde tirou isso? Você tá normal?
— Eu também ouvi falar – Harry sorria.
— Ai, não vem não Harry, que o curioso aqui é o Lucas – o garoto logo ficou triste – Agora me diga de onde tirou isso.
— Lúcia me contou.
— Buf, Lúcia? Lúcia? – perguntava Harry segurando o riso – Lúcia a sem vida?
— Vala, o que foi? – perguntou Lucas.
— Ela sempre conta mentiras para o povo, se a notícia vier dela, coloque na cabeça que aquilo que ela disse nunca aconteceu, geralmente é inventado por ela pra espalhar boato e assim se vingar das pessoas que a maltratam.
— Ela se parece com meu cachorro – disse Harry.
— Seu cachorro fala? Sério? Onde comprou um?
— Vamos, já vai tocar – chamou Clara, dando a volta e indo novamente para a sala.
O sinal havia tocado, todos os alunos já estavam indo para casa. Harry, Clara e Lucas já estavam na calçada indo para a casa de Harry.
— Vocês vão ficar até amanhã? – perguntou Harry, aos seus amigos.
— Não, eu não, no momento estou com medo da sua mãe – disse Lucas colocando a mão em seu cabelo louro e sorrindo.
— Talvez eu durma lá – Clara sorriu, tirou os óculos de seus olhos e os limpou, estavam manchados.
— A feira está aberta, vamos lá, eu preciso pagar ao senhor que me deu as sementes.
— Ele te deu? – perguntou Lucas.
— Harry, se ele te deu é por que ele deu, oras! Pra que quer pagar a ele?
— Sei lá, apenas acho errado ele me dar as sementes sem nem mesmo pedir dinheiro.
— Vai ver ele queria se livrar delas.
— Se livrar de sementes? Sério? – Harry não entenderia o porquê de tal coisa.
— Pronto, a feira está aí, agora procura informação com alguém, eu e Lucas ficamos esperando, vá – Harry foi até uma mulher que vendia tomates, e vários outros frutos.
— Você sabe me informar onde o senhor que vende sementes fica?
— Que senhor?
— Um com barba grisalha e branca, pequeno e corcunda, usava um casaco marrom, a cara estava um pouco coberta pelo capuz, mas consegui ver a cara dele, você o conhece?
— Não, nunca um senhor de tal idade trabalhou aqui, me desculpe.
— Mas, mas, ele me vendeu...
— Me desculpe garoto.
Harry não acreditava. Quem era aquele senhor? Por que ele havia lhe dado as sementes? Não entendia. Como assim ele não trabalhava na feira? Ele foi o primeiro a chegar, e ainda tinha o que ia vender em suas costas, na sacola. Ele andou de volta até Lucas e Clara que os esperavam. Não sabia que deveria contar a eles que poderia ter falado com algum fugitivo ou algo do tipo. Quando chegou até eles, preferiu deixar o segredo consigo mesmo.
— Cadê? Pagou o velhinho? – perguntou Clara, ajeitando a bolsa em suas costas.
— Preferi deixar o dinheiro comigo mesmo. Imagine o que posso comprar com o dinheiro que minha mãe me deu. E ela nem sabe, huhuhu – Harry deu uma risada maligna.
— Camisinhas – disse Lucas sorrindo.
— Olha a minha cara de quem tá morrendo de rir – Harry apontou o dedo indicador para sua cara.
— Vamos meninos, quero me jogar logo na sua cama, Harry.
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— Mas querido, eu, eu não posso – a mãe de Harry falava no telefone, estava brigando com alguém – Tássio, entenda! – gritou ela – Eu não consigo pagar isso tudo – ela sentou-se na cadeira e colocou a mão na cabeça, estava impaciente – Por favor, meu filho mais novo não – algumas lágrimas começaram a sair – Tudo bem, eu irei tentar, tudo bem, está certo – disse ela, chorando.
Ela levantou-se e colocou o telefone na mesa. Ela foi até a pia e pegou uma das facas. Enquanto observava o objeto, suas lágrimas pingavam. Ela suspirou e olhou para trás ao ouvir um barulho. Harry havia chegado. Ela então virou-se de costas e limpou as lágrimas, não queria que seu filho a visse chorando.
— Mãe? – perguntou Harry, arrastando a porta de vidro e tirando os sapatos.
— Filho! Chegou mais cedo hoje, o que houve?
— Hoje eu saía de 11:50, se esqueceu mãe?
— Sério, nem lembrava – ela sorriu e pegou alguns pratos espalhando-os sobre a mesa – Seus amigos vieram?
— Oi senhora Vívia – disse Clara, colocando os sapatos no pano, ela fora a única a lhe dizer “oi”.
— Oi Lucas – disse Vívia, colocando dessa vez os talheres na mesa. O garoto havia a ignorado, este fora o motivo da mulher lhe ter dito “oi”.
— Oi – disse ele sorrindo.
— Harry, vá se trocar no seu quarto, enquanto você Clara querida, pode ir se trocar no outro banheiro – ela olhou para Lucas e não falou nada, apenas sorriu e colocou a sua comida em seu prato – Lucas, pode comer, eu volto já.
Harry entrou em seu quarto e tirou a blusa de sua farda escolar. Ele a jogou na cama, e antes de tirar sua calça, sua mãe batera na porta e entrara no quarto. Ela parecia brava. Não estava conseguindo ver bem se ela estava ou não com raiva, isso era raro, pois geralmente ela sempre foi frágil.
— O que foi mãe?
— O que Lucas está fazendo aqui? Eu já disse que não queria vê-lo por um bom tempo, para me esquecer aquilo que vi.
— Mãe, olhe aqui, ele é meu amigo de infância, é impossível eu me separar dele – Harry andou até sua mochila e pegou a pequena sacola com as sementes dentro – Tome, as sementes que você queria.
— Cadê o troco?
— Foram caras mãe.
— Apenas duas sementes, caras?
— S-Sim, estavam em falta.
— Olhe, eu não quero você sofrendo a má influência daquele garoto novamente, se eu ver indícios de que ainda anda com ele, ficará de castigo, e você sabe que não gosto de fazer isso com você – Vívia fechou a porta deixando-o sozinho no quarto. E ao sair, Lucas estava lá, ouviu tudo o que a mulher falou.
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