Forgotten Portrait escrita por Teruque


Capítulo 10
Final


Notas iniciais do capítulo

Demorou mais do que o planejado, mas saiu finalmente. Tbm achei que não ia dar nem mil palavras... Bem...

Então iniciando os agradecimentos aqui. Obrigada a todos que leram, favoritaram e principalmente comentaram

Aqui está o final dessa pequena fic



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O tempo que ameaçava a acabar e a incerteza. Ninguém queria ser abandonado. Não outra vez.

– Dessa vez sairei nem que seja sozinha.

– Espere Mary. – pediu Ib analisando melhor a passagem aberta. – Está bem escuro, mas são escadas. Talvez... Mary segure minha mão. Vamos descer juntas. Garry venha também

– Mas...

– Não me interessa essas regras! – Ib elevou a voz impedindo que Garry falasse algo. - Eles mentiram o tempo todo para nos separar. Eu não irei aceitar nada sem antes tentar do meu jeito.

Garry pensou em dizer algo, porém se limitou a apenas sorrir. – Então Mary... Se importa se eu segurar sua mão?

A garota hesitou inicialmente, porém desejava sair e estava confiando em que Ib não a enganaria.

Antes que pudesse tocar na mão do rapaz um estrondo os assustou. Sombras de mãos surgiam rastejantes pelo chão, prontas para impedir Mary a aceitar o acordo.

Garry sem parar para pensar jogou-se sobre Mary impedindo-a de ser capturada.

“Não vão sair”

“Não todos”

“Ninguém”

– Ib! Mary! Corram logo para o quadro! – gritou Garry.

– Mas e quanto a você?

– Estarei logo atrás de vocês. Apenas desçam aquelas escadas e não olhem para trás.

“... não olhem para trás.” Essa frase ecoou na mente de Ib, levando-a a acreditar que nem ele acreditava em sua fuga. Mas permanecer ali também não salvaria ninguém.

– Mary. – chamou a garota que ainda estava paralisada não acreditando no que havia acabado de acontecer. Havia sido salva por Garry. E isso não lhe fazia sentido. Nunca deu motivos para que ele fizesse algo por ela. – Mova-se. – a puxou consigo, porém apenas Ib passou pela moldura do quadro. Mary continuou olhando para Garry. Esperando que ele as alcançasse.

– Só mais um pouco... – sussurrou para si. – Eu vou conseguir puxá-lo...

Não sairá daqui”

Antes que Garry conseguisse ao menos tocar na moldura do quadro e se puxado por Mary, as sombras deram espaço para longas ramas espinhosas. Essas que se lançaram sobre Garry, agarrando-o pelas pernas.

– Garry! – Ib gritou, porém já estava do outro lado do quadro e não poderia voltar.

Mary apenas observava as ramas se enroscarem ainda mais sobre o corpo de Garry, alcançando seu pescoço. Levando a mão no bolso do vestido pôde sentir um pequeno objeto escondido. Tinha receio se deveria usá-lo. Estaria quebrando uma das regras da galeria. E também tinha medo.

Ao nosso querido Azul um enforcamento digno de um rei.”

– Não... Parem! – Mary gritava entre lágrimas. Quis tanto se livrar de Garry no passado que agora se sentia confusa.

“Você será a próxima se não se apressar Mary”

“Não lhe perdoaremos pela traição.”

– Mas... – precisava vencer seus medos naquele instante. Pela primeira vez não queria que alguém fosse sacrificado em seu lugar. O desespero de Ib por não poder ajudar e o som mudo da voz de Garry.

Faça. Era isso que sua mente gritava para seu corpo.

– Espero que não guardem remorso de mim. – tentou sorrir em súplica. E, olhando uma última vez para o rosto assustado de Ib, retirou o objeto confiscado no passado. Um velho isqueiro que ainda funcionaria uma última vez.

“Jogue isso fora Mary!”

Ela apenas ignorou a ordem ateando fogo nas ramas que se rastejavam para perto de si. As chamas rapidamente se espalharam as forçando a soltar sua vítima para se debaterem inutilmente.

Mary... Por que?!”

“Você queimará junto!”

– Se mexa Mary! – Garry gritou tentando alcançá-la antes das ramas que desejavam realizar seu último ato. Mesmo mal se aguentando em pé, deixou-se levar pela adrenalina do momento puxando Mary em direção do quadro.

Assim que atravessaram a pintura a passagem se fechou e um misto de gritos e gemidos moribundo morriam aos poucos.

Quando o silencio voltou a reinar com o cessar de choros e a adrenalina desaparecer. Puderam finalmente dar atenção a atual situação. Todos haviam conseguido passar pelo quadro. A iluminação era precária e ainda havia longas escadas guiando para baixo. Não tinham ideia de onde terminaria, porém sabiam que a galeria havia morrido.

Mary ainda chorava silenciosamente relembrando das imagens de instantes. Havia destruído sua própria casa, traído a todos que deixou ser consumido pelas chamas. E ainda acabou sendo salva mais uma vez por aquele que tentou tanto sacrificar pela sua liberdade. Agora se recusava a soltar de seu casaco.

Garry de certa forma continuava vivo, porém ao diminuir a adrenalina de seu corpo, pôde sentir cada parte negar o menor movimento que fosse. Sua rosa com apenas uma pétala. Provavelmente não aguentaria outro desafio.

Ib estava feliz por ver todos juntos, mas ainda apreensiva. A quase perda a deixou em panico. Mesmo aos poucos estar conseguindo se acalmar. Ver o estado de Garry querendo fingir estar bem a irritava.

– Garry... – Ib buscou cortar o silêncio.

– Você estava certa, Ib. Todos nós passamos. – Garry buscava sorrir na falha tentativa de acalmar as duas.

– Mas ainda não acabou. – Ib respondeu. – Ainda não estamos em casa.

– Mas o pior já passou. Agora só precisamos tomar cuidado para não tropeçarmos nas escadas. – Garry não queria ver o pessimismo naquelas duas. Estavam vivos, juntos e próximos da saída. Após tudo que passaram não havia motivos para aquelas caras. – Mary... Já pode me soltar. – disse em um tom divertido. – Só precisamos continuar... Vão indo na frente com cuidado. Eu acompanho vocês...

– Tem certeza que aguenta andar?

– Preciso... Até porque nenhuma de vocês aguentaria me carregar.

– Vam... Vamos Ib. – Mary finalmente se levantou segurando firme a mão de Ib. Não queria se perder agora e nem admitir seu medo de escuro.

Os passos lentos iam descendo as escadas como se pudessem pressentir alguma armadilha escondida em algum degrau. A cada dois passos Ib sentia a necessidade de olhar para trás para ter certeza que Garry ainda as seguiam. Era um alívio e uma surpresa ainda o vê-lo aguentando, de certa forma, de pé.

Ao final de toda a escadaria encontraram em uma última sala praticamente deserta. Ao centro, sendo bem iluminada, havia uma última obra intitulada “Estágio Final”. Lembrando uma cama em formato bem semelhante de uma caixa quadrada completamente negro.

– Isso nem de longe pode ser convidativo. – comentou Garry ao alcançar as meninas. – Mas compreensível... A vida de Guertena se findou nessa “caixa”. Uma vida bem solitária...

– Estivemos o tempo todo apagando isso – comentou Ib.

– Consertando. – corrigiu Garry. – Ele se sentia solitário a ponto de dar vida a esse lugar. Nós fizemos companhia e silenciamos o lugar.

– Queimamos.

– Pelo menos agora a mente acalmou e poderemos ir pra casa.

– Papai... – Mary apenas murmurou para si.

– Agora a saída...

– Há um quadro no fundo da sala. – Ib apontou se aproximando. – “A beleza do vazio.”

– Nome bem criativo para um quadro todo esfumaçado.

– É como uma manhã coberta pela neblina. Não conseguimos ver nada.

– Bela dedução Ib. – Garry não pôde disfarçar a surpresa com a conclusão da garota. – Mas como isso irá nos ajudar?

– Não sei...

– Alguém tem que ficar. – Mary se pronunciou. – Esse é o teste final. Por isso não queríamos que nós três passássemos. Só com desistência de um...

– Do que está falando Mary?! Não posso deixar Garry para trás. Não depois de tudo.

–E não precisa... Eu ficarei.

– O que? Mas... Você era quem mais queria sair.

– Eu sei... Garry... Eu já estou em casa. – olhou em direção a escultura. – Meu pai está aqui.

– Mary!

– Ib, nós somos amigas, não é? Irmãs.

– Sim Mary. Podemos ser o que você quiser.

– Obrigada Ib. Por ter sido minha amiga.

– Mary...

– Não me entenda errado Garry. Eu continuo não gostando de você. Ainda assim me ajudou duas vezes e não gosto de ficar devendo favores. Cuide bem de Ib... Ela chegou longe por você.

– Mary, não! – Ib tentou correr em direção a Mary querendo evitar que ela se aproximasse da cama, porém foi interceptada por Garry que a puxou pelo braço e abraçando-a pelas costas para segurá-la. – Garry! Solte-me. A Mary vai...

– Deixe-a... Ela tem razão e fez sua escolha...

– Eu nasci em um mundo fabricado e a ele pertenço junto as lembranças e vida de meu pai. Alguém falsa como eu teve mais alegria que merecia. Vocês me deram liberdade. Agora libertarei vocês.

Seria errado perguntar como decidiu isso? Pareceu muito repentino. – indagou Garry e Mary apenas sorriu.

– Não estranhe quando voltarem para casa... Algumas coisas estarão bem diferentes. E agora... Está na hora de dormir... Meu pai está me chamando...

– Mary! – Ib gritou ao ver o sorriso da garota dar espaço a uma lágrima ao finalmente se deitar naquela estranha cama. Encolhida e abraçada a sua rosa amarela de plástico. Queria alcançá-la, porém foi impedida por Garry. Abraçada pelas costas.

– Ib, se acalme... – dizia próximo ao ouvido da garota.

– Me acalmar? Mary está...

– Está dormindo. Ela está onde quer está. Em casa.

– Mas ela queria tanto sair... Isso não é certo.

– Não parece certo, mas é o melhor...

– Mary... – olhou novamente para a garota deitada. Parecia estranhamente tranquila, dormindo.

– Ib... Precisamos ir.

– Para onde? – indagou sem desviar os olhos de Mary.

– O quadro. Olhe pare ele. A neblina dissipou. Não sei bem para onde dará, mas é fora desse mundo.

– Aquela sala...

– Pela sua reação conhece o lugar.

–...Sim.

– Então... – soltou a garota para se apoiar na moldura do quadro. – Vamos? Basta me estender sua mão que te puxarei.

Por um instante Ib hesitou, olhando mais uma vez para a garota adormecida.

– Obrigada Mary. E... Adeus... – despediu-se pela última vez antes de segurar a mão de Garry e atravessar o quadro.

Após um clarão Ib se viu sozinha de volta a sala onde tudo começou. Não tinha grandes recordações, porém notou a presença de outro quadro. Não se tratava mais de um rapaz adormecido envolvido por espinhos de uma roseira. Agora era uma pequena garotinha dormindo tranquilamente enquanto tinha seu sono velado por alguém.

– Mary... – pronunciou tento breves recordações. – Espero que esteja bem... Estou em casa.

– Ib! Você voltou... – a senhora que antes conversara com ela sobre as pinturas parecia diferente de alguma forma que a garota não conseguia dizer. – Eu fiquei com medo de lhe perder também...

– Também? – não conseguiu negar a expressão de dúvida e confusão.

– Mãe, eu tirei os biscoitos do forno antes que queimassem. – ouviu uma voz estranhamente familiar aproximar-se do cômodo. – Era a última?

– Era sim. Obrigada, Garry.

– ... Garry? – atônita, Ib tentou expressar alguma reação além de pronunciar seu nome.

– Hã?! Não sabíamos que tínhamos visitas. – sorriu. – Na verdade... Nem vi ela chegar.

– Ib sempre vem olhar as pinturas de seu avô. – respondeu com um sorriso. – Eu vou arrumar o lanche pra vocês. Conversem a vontade, mas não esqueçam de descer para comer. – ditou deixando os dois sozinhos no cômodo.

– Então gosta dos trabalhos de Guertena?

– Eu não sabia que ele era seu avô... – buscou falar algo tentando controlar sua ansiedade.

– Bom... Não o conheci pessoalmente. Então não tenho porque falar dele. – tentou se explicar sem parecer rude. – Mas... Fico feliz que alguém tão jovem aprecie arte.

– Garry... – já incapaz de conter as lágrimas correu em direção ao rapaz o deixando surpreso ao ser abraçado

– Eu disse alguma coisa errada?

– Idiota... Nunca se lembra de nada...

– Lembrar?

– “Rei do labirinto azul” e o eterno “Quadro esquecido” – sorriu na esperança de que esses nomes resfrescassem sua memória.

– Ib?! A galeria... Nós voltamos... Conseguimos! – suas lembranças pareciam ter sido despertadas. – Mary! Ela...

– Está dormindo. – respondeu apontando para o quadro na parede. – Não está mais solitária também...

– E pensar que no final fomos salvos por ela...

– Mary... Sempre foi uma boa garota. Teria sido legal tê-la aqui com a gente...

– E ela está. – apontou para cabeça. – Basta não nos esquecermos dela.

– Não te deixarei esquecer, Garry. – sorriu.

– Agora vamos que minha mãe está nos esperando para o lanche.

– Não esperava que ainda morasse com sua mãe.

– E qual o problema? – acabou corando levemente. – Ela diz que não posso sair de casa até estar casado. E ela ainda tem que aprovar a pessoa.

– Ah. – a garota riu gostosamente.

– Hey! Isso não tem graça...

– Vamos Garry. O cheiro dos biscoitos já chegou até aqui. E alguém ainda está me devendo Macarons.

– Isso eu não esqueci.

Sorriram de modo cúmplice. Estavam juntos como tanto desejaram.

Sobre a galeria, não esqueceriam a aventura. E principalmente se lembrariam de Mary.


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Notas finais do capítulo

O final não foi tão emocionante e quem esperava algo mais "shippavel", desculpe. Mas ficou pra imaginar