‘O que fazer?’

‘Estamos sozinhos’

‘E agora com quem brincar?’

‘Os últimos visitantes apenas causaram estragos e queimaram nossa rainha. ’

‘Uma tola que desejava nos abandonar’

‘Ela falhou ao realizar a troca e foi destruída. ‘

‘Mas alguém foi esquecido aqui. ‘

‘Pobre visitante. ’

‘Quis tanto salvar aquela criança e foi deixado para trás. ‘

‘Veja como dorme preso àquele quadro. ’

‘Vamos acordá-lo. ‘

‘Ele brincará com todos nós. ’

Em um comodo vazio, composto apenas de paredes brancas e um grande quadro que deixava transbordar suas rosas azuis tão bem criadas dando um ar de estarem realmente vivas.

A pintura do jovem que deveria estar ali dormindo entre as flores encontrava-se no chão. Finalmente despertado após longos quatro anos esquecido. Sentia-se perdido e confuso.

‘Bom dia. ‘

‘Vamos brincar já que te acordamos. ’

–... Brincar...? - indagou sem saber a quem pertencia aquelas vozes. Apenas as ouvia, porém não via ninguém.

‘Somos muitos. ’

‘Podemos nos divertir. ’

–... Não... Eu tenho que ir...

‘Ir?’

‘Para onde?’

– Eu... Não sei... Eu fiz uma promessa... Para alguém...

‘Quem?’

– Não lembro... Mas era importante... Não sei onde estou... Nem meu nome...

‘Nome? Você não possui. ’– riram.

‘Não viu a descrição de seu quadro?’

– Meu quadro...?

‘Não possui descrição. ’

‘Apenas afirma ser alguém esquecido. Abandonado. ’

–... Por que estou aqui...?

‘Você foi abandonado aqui.’

‘Então vamos brincar.’

– Não. Preciso sair daqui. Eu prometi. Preciso encontrar... Ela.

‘Quer mesmo sair?’

– Sim.

‘Então terá que trazer outra pessoa para ficar em seu lugar’

– Trazer alguém...

~*~

Em uma aconchegante sala de estar uma jovem garota admirava um quadro ali exposto. Entre todos era o maior e majestoso.

Um rapaz delicadamente colocado entre rosas azuis, com mãos e pescoço envoltos pelos espinhos da roseira. Ainda assim parecia sereno em seu sono profundo.

– Vejo que gostou mesmo desse quadro minha jovem. – a voz de uma senhora já com certa idade chamou a garota assustando-a.

– Desculpe por sempre vir incomodar a senhora... – se desculpou depois de passado o susto.

– Incomodar? – sorriu. – Fico feliz que uma jovem com a senhorita ainda se interesse pelas pinturas de meu pai. Já faz quatro anos desde a exposição de Guertena e parece que ninguém mais se recorda das obras. – seu sorriso pareceu triste.

– Eu gosto de suas obras.

– Você é uma graça Ib. – elogiou a senhora. – Todas essas pinturas feitas por meu pai e eu conheço todas. Muitas até desaparecidas, mas pode se notar sua essência em todas. Porém... Esse rapaz. É tão belo. Sinto não saber nada sobre ele. Guertena tinha seus segredos até mesmo de mim. Queria saber qual a razão de pintar esse quadro... E por que o jovem estar morto...

– Não! – a pequena gritou. – Ele não está morto. Só dormindo... Está exausto... Mas ainda irá abrir os olhos. – Ib analisava ainda mais intensamente a pintura. Sentia algo diferente e queria acreditar que aquele rapaz despertaria.

– Tens uma bela imaginação. – a senhora riu.

– Desculpe... Não sei por que, mas pensei desse jeito.

– Certo... Ele só está dormindo. Não é uma princesa, mas sim um rei adormecido, certo?

– Sim...

~*~

– Essa criança... – do outro lado do quadro o jovem perdido no comodo vazio a observava.

‘Essa criança?’

‘Então está decidido. Será ela.’

‘Ib... Não será difícil trazê-la aqui uma segunda vez’

–... Eu não entendo o que estão dizendo... Enfim, então Ib. Se ela vier para cá eu poderei deixar esse lugar? – indagou com um ar de mais frieza. Sem se importar com que poderia vir a acontecer com a criança após a troca.

‘O rei anterior saiu assim. ’ –mentiu ocultando o fato da garota que o antecedeu ter falhado em sua fuga.

–... Entendo. Perdoe-me Ib-chan. Não é que eu te odeie, mas eu preciso sair daqui.

‘Então daremos as boas vindas a essa criança’

‘Iremos fazer um novo labirinto e armadilhas’

‘Iremos assustar e seduzi-la’

‘Ah~~ Como isso será divertido’

‘É o nascimento de um novo labirinto’

‘Dessa vez o rei é a rosa azul.’

– Há uma promessa em jogo... Algo realmente importante.