O Guardião Cinzento escrita por Malcolm Beckster


Capítulo 2
O Homem




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Thomas Smith tinha 29 anos em 2959, olhos verdes e um cabelo castanho bem claro que podia ser confundindo como louro, Smith afinal era também líder do poderoso império econômico dos Investimentos Smith, um aglomerado de um total de 57 empresas sendo que a maior delas era a empresa central, a grande e quase trilionária Smith Corporações, a grande empresa de sete gerações.

Mas navegando pelo Rio Bell, na costa da cidade de Nova, com uma bela e formosa dama encarando seus olhos frios e sinceros enquanto ele empurrava a água com seu remo de madeira genuína, retirada de uma árvore da pequena, mas densa, floresta de sua propriedade nos limites da cidade. A senhorita e seu vestido branco, carregando uma sombrinha da mesma cor, disse:

– Senhor Smith, desde quando pratica remo?

– Desde os quatro anos, eu tinha um barco pequeno e nadava lá quase o dia inteiro, eu aprendi a nadar aos três, então meu pai não tinha preocupação em eu me afogar.

– Seu pai que te ensinou a navegar?

– Não, ele só me ensinou a nadar. Eu comecei a remar quando ganhei o barco, era um barco de piscina, mas eu percebi que ele aguentava meu peso se eu ficasse em pé no centro dele.

– Se não ficasse o que acontecia?

– Ele virava, aconteceu duas veses, o maior problema era revirar todo o peso do barco, eu nadava com ele até a margem. Na última vez que eu o usei o barco teve o casco rompido e ele afundou, eu tinha sete anos.

– Então nadou bastante com ele, descobriu por que rompeu? - disse a brasileira Júlia Vasco, uma mulher de olhos azuis e cabelo quase negro, seu ar de cautela se formou, como se tivesse medo daquele barco romper.

– Meu peso, eu engordei doze quilos dos quatro para os sete anos.

– E tem comido muito ultimamente?

– Não, mas eu ia fazer a mesma pergunta para você - disse Smith com um sorriso debochado - Afinal essa parte está bem afetada pelo impacto com a água. Então não force muito seu peso.

– Isso é verdade?

– Claro que não - disse, expressando uma forte risada - Eu poderia pular vinte vezes na maior rachadura, e ela não é maior do que meu dedo mindinho do pé noventa vezes que a rachadura iria ter no final o tamanho da minha mão no máximo.

– Hum... Espero que sim, senhor.

– Não confia em mim?

– Claro que não, eu o conheço a sete horas.

– Formidáveis sete horas - ele respondeu, com uma espécie de charme.

– E se seu considerá-las desagradáveis, um infortúnio de minha jovem vida?

– Se minha companhia é tão desagradável, por quê não pula?

– E molhar meu vestido? Está louco, isso é seda indiana, custa milhares, isso se não milhões. Essa peça de vestido que vê custou à minha conta bancária sete milhões de Nebulus.

– Isso considerando que Nebulus é uma moeda oriental, minha dama, não sou nenhum idiota. Nebulus são contados em milhares, você pagou no máximo 15 Marcos por isso, se não menos. Não tente me enganar, senhorita.

– Se acha um bom detetive, senhor Smith?

– O melhor de todos que eu conheço, e eu conheço muitos.

– Por quê?

– Para quem sofreu dezenove tentativas de assassinatos em três meses acho difícil, e quase impossível, não conhecer um detetive sequer - ele respondeu - Além do mas, o meu pai tinha o mesmo histórico de inimigos mandando matá-lo.

– E por que tentaram matá-lo tantas vezes?

– Meu imenso e extenso poder aquisitivo, que alguns acreditam ser bem maior, fato que porém acaba ser pretenso, uma vez que nunca fui de fato o homem mais rico dentre os estados todos. Esse se não me engano cabe a Arthur Vann, ele de fato pode ser dito o homem mais poderoso de todos no que diz a termos aquisitivos, o que significa que até eu terminar meus planos de expansão econômica, ele continua ganhando.

– Vann é um cientista.

– De fato, eu sou um matemático. De igual para igual.

– Ele tem os melhores cientistas do mundo ao lado dele, você tem os melhores dentre os administradores, mas ciência hoje é muito mais do que você pensa, afinal o mundo foi construído por cientistas.

– Eu não preciso de cientistas, quando já sou um excelente.

– É um ótimo administrador, mas é muito orgulhoso.

– Não sou orgulhoso, só quero que os outros - o barco tremeu, não era comum isso.

– O que foi?

– Acho que vão tentar me matar de novo.

– Como assim?

– A onda que nos acertou veio em nossa direção, errou por pouco, mas… - o barco os acertou finalmente, caíram no rio, Smith ficou terrivelmente irado ao vê-lo destruído, isso bastou para que ele fosse atrás dos malditos. Mas desistiu e voltou com a garota ensopada, nadando fortemente e quase a carregando, até a margem, Smith reconheceu a área, tinha caçado um porco selvagem lá uma vez. Procurou uma marca com o símbolo 34 em uma das árvores e achou, encontrando lá uma pequena arma de baixo calibre com apenas um tiro. Ele tinha deixado lá para caso a munição acabasse, o que aconteceu, lembrando-se só mais tarde que anda havia um tiro nela, o problema claro era que se ele foi enganado pela arma, era porque ela não estava funcionando.

– De onde você tirou isso?

– Quando eu caço eu deixo minhas armas em estoque caso a munição acabe, no dia em que eu cacei eu acabei perdendo a trilha. Eu costumo marcar 34 porque não vejo uma razão sequer para alguém escrever 34 numa árvore.

– Faz sentido. Mas por que a guardou?

– A arma emperrou, eu pensei que estava sem munição. Só tem uma bala.

– Estamos ferrados, e se forem mais de um?

– Eu só preciso de uma bala para matar dezenas, acredite.

– Depois me diz que - uma silhueta emergiu na água erguendo uma espécie básica de rifle. Smith foi mais rápido, atingindo a cabeça da figura assassina, mergulhou na água e sumiu, voltando mais tarde com a arma do morto em suas mãos procurando vítimas.

Vinte vezes em três anos, eu mereço. Nem contra meu pai eles eram tão frequentes pensou Smith, de fato, o pai sofria no máximo um ou dois atentados contra sua vida, toda semana eles tentavam matá-lo, e isso começava a entediá-lo.

Os motivos eram claros, ele tinha desligado diversas empresas num processo contra as subsidiárias da Demolay Industries, controlada por um grande líder da máfia francesa, que perdeu bilhões de dólares e também grande parte de seu controle territorial. Atacou e perdia homens quando fazia isso tanto para os seguranças de Smith quanto para o próprio empresário.

Smith teve pouco tempo para se acostumar com a arma, observou seu cano curto e o gatilho estreito, era facilmente recarregável embora ele não tivesse nenhuma carga para o equipamento. Ainda assim o que mais lhe impressionou foi o selo policial no cano.

– O que diabos?

Parou de pensar parar atirar, uma onda sônica empurrou o alvou, uma figura semi humana coberta por uma espessa camada de materiais que formavam o traje de profundo mergulho, para muito longe. Smith, desacostumado, caiu também na água, embora o do inimigo tenha sido duzentas vezes maior, além de mortal. O empresário se levantou antes de finalmente voltar para a margem.

Júlia gritou: - Tem certeza que é só esse?

– Não, mas esse era o único perto de nós, vamos logo - Smith gritou, afundou calma e triunfantemente na água antes de voltar até terra firme. Quebrou a arma na perna e do interior dela a bateria, que jogou no rio, afinal não tinham peixes, e se tivessem, seriam os peixes mais azarados do mundo, especialmente se fossem peixes artificiais com pés de pato e máscaras de oxigênio - Agora vamos.

– Para onde?

– Minha senhorita, minha casa fica nesse sentido, tem algum problema em correr?

– Não, mas… Mas…

– O quê?

– Meu vestido… Eu vou ter que…

– Ah, sim, claro. Eu… Eu vou… Com licença - Smith andou até uma árvore, deitou suas costas nela e esperou, ouvindo o barulho de zípers sendo abertos e tecidos sendo com suavidade descolados - Já está pronta?

– Não, mais um minuto.

Passou-se um minuto e ela apareceu, o vestido e seus materiais diversos tornaram-se uma espécie de calça e o decote principal uma blusa, não estava nem um pouco bonito ou elegante quanto o vestido, mas ainda assim estava razoável e permitia que ela corresse por alguns minutos, não de maneira eficiente, ela teria que parar várias vezes, mas com o vestido ela teria que parar a cada vinte passos.

Correram. Júlia parou. Correram de novo. Júlia parou. Correram de novo, até que já era possível avistar a formosa casa de Smith, um palácio de mármore e pedra calcária, alcançaram-na e finalmente descansaram.

– Timothy! Tim!

Um homem velho de olhos verdes e uma longa barba branca apareceu. Olhou tanto seu mestre quanto sua companheira, Smith estava molhado e os trajes deselegantes dela bastante rasgados, entendeu rapidamente e disse, com uma voz calma:

– Eu vou pegar as armas - disse, antes de subir as escadas.

– Quem é esse?

– É o Timothy, Timothy Burns ele é quem caça os animais selvagens da casa.

– E por que chamou ele?

– Porque é ele quem guarda os rifles, eu não sei onde eles estão. Você sabe usar os de tipo N9V, por acaso? - ele perguntou enquanto via o caçador descer carregando três rifles e uma caixa onde havia munição comum e especial.

– Aqui está, senhor. Mais alguma coisa?

– Caçou algum animal hoje?

– Dois veados e um cordeiro selvagem, eu enforquei o cordeiro, então a carne não vai ter aqueles estilhaços de bala, mas como eu enfoquei a carne deve estar incada e não poderemos comer o cérebro. O Barney gosta bastante deles.

– Sim, enfim, obrigado. Peça ao Howard preparar a carne de veado. Por favor.

– Os porcos já está na época de consumo, senhor.

– Sim, eu quero, mas mais tarde. Por enquanto eu quero só um prato simples, peça ao Howard, se ele precisar preparar a carne por mais tempo, peça ao Flávio, o estagiário, ele não fez quase nada ontem.

– Sim, senhor.

– Obrigado - agradeceu Smith antes de se virar para Júlia.

– Você tem animais?

– Porcos, galinhas e vacas, eles ficam numa fazenda anexa a dois minutos viajando de carro. Era pra descermos lá hoje, mas você sabe. Eu sei que é meio antigo, mas o meu pai sempre gostou da ideia de uma micro fazendo - disse, depois soltou um tímido riso.

– Sim, mas eu me referi à animais domésticos?

– Hã? Dentro da casa não, tenho um lobo de caça, Tiberius.

– Eu tenho alegia à pelo de cachorro, então - Smith pressentiu algo, os pelos da testa se eriçaram. Cargas elétricas. Empurrou Júlia, girou o corpo fazendo com que ela caísse sobre ele, depois disso, uma rajada explodiu os vidros.

– É a terceira vez que eu troco essa vidraça - disse o empresário tomando um rifle e o carregando, mirou, sentiu a umidade do ar e atirou, acertando em cheio a cabeça de seu primeiro inimigo - Eu pensei que eles não viriam, eles nunca vêm.

– Você o matou!

– Se eu não tiver errado, sim. E eu quase nunca erro.

– Mas… Como pôde?

– Simples, mirando e puxando o gatilho. Eu caço animais desde os sete anos, entre nós, homens são animais, a única diferença é que eles pensam e tentam matar não por um instinto natural, mas por que são loucos monstruosos. Animais quando estão de igual para igual e lutam ou se matam ou ferem letalmente seus inimigos, e se você entendeu o que eu quis dizer: Eu acabo de vencer a fera que me ameaçou.

– Isso é macabro, senhor.

– E eu não queria que fosse di…

– Senhor! Senhor! Você não vai acreditar! - berrou Howard, o cozinheiro.

– O que foi? Atiraram em alguém?

– Não, eu estava vendo o telejornal - ele disse num sotaque francês clássico, ele pode ter nascido no Novo Estado, mas ainda assim viver tanto tempo no Quarto Estado tornou ele uma espécie de francês, afinal, foram quinze anos vivendo lá - Parece que um homem, um homem usando um traje e máscara e armas atacou uma gangue de desordeiros e sem dificuldade os botou para correr.

– Mas que diabos - disse Júlia.

– E daí?

– Os arruaceiros tinham uma rota, senhor, eles estavam indo rumo aos Gonovi. Eles eram emissários dos Gonovi entre os Carbonaro, pode contar com menos atentados agora, senhor.

Smith esboçou um longo sorriso.

– Sabe o que isso significa? - perguntou Howard.

– O quê? - retrucou Smith.

– As coisas vão começar a melhorar.

Finalmente pensou Smith enquanto densas nuvens se aproximavam da cidade. Não eram tempos de paz, eram tempos de mudança, mudanças que viriam cedo ou tarde, mas que chegaram naquele momento. A fagulha de um mundo novo, um mundo com heróis e com vilões, um mundo agradável aos ouvidos de Thomas Smith, mas que não agradou a outros ouvidos.

Titãs iriam combater uns aos outros em pouco tempo. Muito pouco tempo.


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