Iterum Te escrita por VenusHalation
Minako vestiu-se com um macacão largo e uma regata simples, adicionou algumas pulseiras, prendeu o cabelo em um rabo alto e desceu para esperar o homem. Em poucos minutos o carro preto parou e revelou Kyle no banco do motorista fazendo sinal para ela entrar.
– Bom dia! – Cumprimentou enquanto entrava no banco do passageiro na frente.
– Olá, senhorita Aino! – Ele sorriu para ela.
– Olha, se quiser que isso funcione, me chame de "Mina", certo? – Fechou o cinto de segurança em torno de si. – Eu não chamo você de “Senhor Matsui”. – Desenhou aspas no ar.
– Posso tentar. – Acelerou o veículo e riu. Realmente, ela sempre o havia chamado pelo primeiro nome, mesmo sem conhecê-lo.
Algo inexplicável deixou o clima pesado, - talvez ambos se deram que conta de que estavam saindo como completos estranhos e que parecia um encontro - não conseguiam manter uma conversa até chegarem no parque. O local era calmo, a brisa batia suave e o sol frio da manhã passava por entre as folhas das árvores timidamente. Começaram a caminhar pela trilha sem dizer nenhuma palavra.
– Então... – A loira começou. – Mamoru disse que você não é de Tóquio.
– Sim, eu morava em Osaka. – Olhou pra cima.
– E como era lá?
– Comum. - Fez um gesto com os ombros. - Eu trabalhava em meus estúdio, em casa mesmo. Apesar de morar sozinho, estava sempre com meus pais e minha irmã mais nova.
– E você não sente falta deles? - Chutou uma pedra no caminho.
– Sinto, claro.
– Então, qual o motivo de você ter vindo?
– Aiya me disse para vir, disse que seria bom pra mim.
– E está sendo? - Jogou os braços atrás da cabeça, continuando a caminhada lenta.
– Até que sim. No início não tanto, pois Aiya não pode estar comigo e eu era só, mas conheci os rapazes. – Riu de lado. – Digamos que tornou a cidade mais suportável.
– Entendo. – Olhou pro céu e parou na frente dele, apontando um pequeno quiosque de sorvete italiano. – Que tal um sorvete?
– Só se eu puder pagar. – Argumentou.
– É claro que é você quem vai pagar! - Sorriu marota.
Serviram-se das casquinhas e sentaram em uma mesa para dois ao lado. Falaram sobre o emprego e as responsabilidades, tão casualmente que nem pareciam os líderes de outro tempo.
– E Aiya não se importa de você sair com outra garota? – O assunto foi puxado.
– E seu namorado, também não? – Retrucou.
– Se eu tivesse um, talvez. – Articulou mostrando a mão sem anel de compromisso.
– Aiya não liga muito, desde que estejamos bem.
– Nossa... – Mina riu. – Acho que eu estaria arrancando os cabelos!
– Não faça isso, seu cabelo é realmente muito bonito!
– Bem, não posso dizer o mesmo do seu, raspado assim não há como avaliar. – Mordeu a casquinha.
– Eu costumava usá-lo comprido. – Passou a mão livre na cabeça.
– Imagino que deva ficar ótimo. – “Eu sei que fica ótimo!”, pensou.
– Bom, eu simplesmente não podia aguentar Aiya alisando meu cabelo. – Disse tranquilamente. – Era como se...
– Se... – Levantou uma das sobrancelhas com interesse.
– Certo, mas não me chame de maluco. – Soltou um riso leve. – É como se ela não pudesse, quer dizer... me incomodava, é uma sensação estranha.
– Nem acho tão estranho. – Um sorriso brilhante tomou conta de seu rosto. – Às vezes tenho a mesma impressão, mas aí é uma questão de estar com alguém.
– Como exatamente?
– Não posso arrancar minha boca fora como você faz com seu cabelo, entende? – Enrolou um fio dourado no dedo. – Então, não beijo muitos caras.
– Faz sentido pra mim. – Trocaram um olhar de entendimento.
Levantaram a voltaram a andar pelo parque. Foram em um velho pedalinho, o que fez com que Mina quase caíssem dentro do lago ao se empolgar, sendo salva por Kyle. Almoçaram cachorro-quente – ideia dela - em um quiosque à beira do lago e encontraram músicos de rua que ficaram impressionados com o timbre da loira cantando junto deles, também viram um mímico e os dois tentavam adivinhar o que ele fazia. Alugaram uma bicicleta para dois, deram algumas voltas e quando o sol estava indo embora sentaram-se na grama, exaustos.
– Vem aqui! – Ela puxou o escandaloso celular alaranjado da bolsa. – Sorria!
– Está brincando? – Balançou a cabeça negativamente, rindo.
– Vamos, logo! – Puxou-o para perto. – Diga “Selfie”!
– Selfie? – Riu interrogativo quando ouviu o som de click vindo do celular e Mina já o virando para ver a foto.
– Ficou ótima! – Mostrou pra ele.
– Você ficou ótima, olhe para mim! – Apontou. – Odeio fotos minhas!
– Você está sorrindo e está muito bonito, de verdade! – Brincou. – Podemos tentar outra, se quiser.
– Não! – Sorriu de lado. – Você está muito bem nessa e eu sou melhor atrás das lentes, de qualquer forma!
– Vou enviar pra você. – Apertou o botãozinho em forma de envelope na tela sobre a foto.
– Recebida. – Colocou a mão no bolso quando o celular apitou e puxou o aparelho. – Você é bastante fotogênica, de verdade!
– Obrigada! – A senshi suspirou, deitando-se na grama. - Me sinto com dezesseis anos outra vez.
– Aos dezesseis eu não tinha nada na cabeça. - Ele a acompanhou, deitando ao seu lado.
– Eu sonhava em ser famosa, na verdade.
– Como?
– Modelo, atriz, cantora... Ser famosa, eu até chegava a perseguir ídolos. – Olhou pro céu. – Era meu sonho.
– E por que você não seguiu?
– Eu não podia... – Fechou os olhos e respirou profundamente. – Haviam outras coisas que eram prioridade para mim.
– Tenho certeza de que você seria uma ótima idol. – Continuou com o olhar no céu. – Não perde em nada para muitas delas, eu posso afirmar.
– Você está sendo gentil! – Virou a cabeça para olhar para ele.
– Eu me diverti muito. – Ele devolveu o olhar simpático.
– Você fica muito só, não é? – Continuou o contato visual.
– Aiya nunca aceitaria vir comigo aqui.
– Como não?
– Ela detestaria almoçar cachorro-quente e andar à pé por horas. – Permitiu-se enrolar um punhado dos cabelos loiros de Mina nas mãos, inconsciente.
– Ela está perdendo uma oportunidade única de se divertir. – Virou o rosto para cima e contemplou o céu. – Adoro essa cor laranja quando o sol se põe.
O ex-shitennou contemplou a expressão da mulher enquanto ela olhava sonhadora para o céu. O azul de seus olhos era diferente do azul dos olhos de Aiya, um azul vivo e aconchegante, como se só ela fosse capaz de ter aquele tom que refletia o céu escurecendo, sentiu algo familiar e apaixonado em seu peito de novo. O sol foi embora, as luzes do parque foram acesas e ela se levantou, os cabelos dela, antes nas mãos de Kyle, deslizaram como seda entre seus dedos e ele encontrou uma Mina olhando divertida para ele ainda deitado.
– Bem... Hora de ir, certo? – Ela estendeu a mão para ele.
– Vamos. – Sentiu um pulso elétrico ao tocarem as mãos.
Por algum motivo, quando ele finalmente estava de pé, pararam sem palavras frente a frente, Mina viu ali traços de um antigo relacionamento e tentou procurar na expressão dele algum sinal de que ele havia se lembrado. Kyle ainda mantinha o mesmo sentimento nostálgico e confuso enquanto sentia o toque suave da mão de Minako na sua, isso era tão errado, tão maluco. Ele soltou a mão da dela e fez menção de levar até o rosto de marfim de expressão incógnita, mas seu celular tocou e toda a magia criada ali havia se quebrado.
– Alô? – Puxou o telefone do bolso rapidamente. – Não, ainda não. Estarei em casa logo, ligo pra você depois.
– Aiya? – A loira juntou as mãos na frente do corpo.
– Sim. – Respondeu casualmente.
– Vamos, então? – Moldou um falso sorriso.
Entraram no carro comentando algo sobre um bêbado que quase abraçou Minako no caminho, o que acabou trazendo o assunto sobre histórias da faculdade. Sobre quando ela ficou tão louca que acordou no dia seguinte ao lado de um cara bem quente e nu que afirmou que ela desmaiara antes de fazer qualquer coisa, quando ela organizou a festa de sua fraternidade e acabou escorregando na mesa e quebrando um braço tentando pendurar enfeites nas paredes. Ele acabou por contar que já havia feito uma corrida pelado, havia beijado uma garota com o apelido de “Takara Sebosa” em um momento de embriaguez e uma aposta, e participado de uma competição pra ver quem bebia mais cerveja, o que acabou nele dormindo em cima do próprio vômito.
– Ai que nojento! – Gargalhou gostosamente jogando a cabeça para trás.
– Não tanto quanto beijar a Takara! – Balançou a cabeça fingindo um arrepio. – Acredite em mim, ela fedia, tinha dentes tortos e muitas dobras e suor entre elas! – Torceu o nariz.
– Você é nojento! – Abriu a boca e pontou o dedo indicador para dentro, fingindo que ia vomitar.
– O pior foi aguentá-la me perseguindo pelo campus nas semanas seguintes! – Olhou pro lado vendo aquele sorriso branco e genuíno quando parou o carro.
– Bem, a história sobre seu grande amor estava ótima, mas acho que estou entregue! – Mina apontou seu prédio. – Boa noite!
– Boa noite, senhorita! – Acenou, dando ênfase a palavra “senhorita” em tom brincalhão.
– Obrigada pelo dia! – Virou para puxar a tranca do carro.
– Minako! – Chamou antes que ela pudesse destravar a porta.
– O quê? – Virou-se esperançosa.
– Você me deixaria lhe fotografar? – O convite foi bem direto.
– Hein? – Sentiu as bochechas queimarem.
– Sabe, eu estou montando um portfólio de técnicas em fotos monocromáticas. – Coçou a cabeça desengonçado. - Você disse que era seu sonho ser modelo, então... Poderia me ajudar?
– Bem, eu não sou bem uma modelo, mas acho que tudo bem. – Riu sem graça, aquela oportunidade era única.
– Você é bonita como uma modelo, isso eu garanto.
– Oh... – Sentiu as bochechas esquentarem.
– Então eu ligo pra você, certo?
– Pode ser! – Dessa vez ela saiu do carro e abaixou-se até o vidro aberto. – Boa noite, Kyle!
– Boa noite! – Acenou e esperou até loira atravessar a porta de vidro do edifício onde ela morava.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
Mal a demora, galera, fim de semestre me matando!
Enfim... férias!
Sailor Moon Crystal está chegando!
Quem também está empolgado? Eu estou a mil! SUPER ansiosa! *O*