Acordei ouvindo o barulho de algo apitando perto de mim e quando abri os olhos tive que piscar algumas vezes até me acostumar de novo com a claridade. Quando tudo entrou em foco, me deparei com dois pares de olhos, um castanho e outro verde esmeralda me encarando.

– Onde eu tô? O que houve? – tentei falar e embora minha voz tenha saído rouca acho que deu pra entender, pois Dimitri me respondeu.

– Você desmaiou e agora está no hospital.

– Mas o que aconteceu? O que eu tenho? É algo grave? – perguntei alarmada.

– Não se preocupe Rose, vai tudo ficar bem. – a voz de Dimitri era tranquilizadora, mas eu vi um brilho estranho em seu olhar. Ele deu um aperto gentil em minha mão antes de dizer: - Vou deixar vocês dois conversarem. – e então saiu me deixando com Adrian.

– Pequena Dhampir. – disse com alívio na voz. – Você vai ficar bem agora. Eu prometo. – ele se sentou ao meu lado na cama e alisou suavemente meu cabelo. Seus olhos brilhavam com alguma emoção que me era desconhecida e...

– Adrian! Você está chorando? – perguntei alarmada, quando vi uma lágrima escorrendo por seu rosto. – Oh meu Deus! Eu vou morrer não é? É por isso que você tá chorando. Eu devo ter alguma doença rara e sem cura e...

– Rose. Rose. – Adrian sacudiu meus ombros de leve e senti a calma se espalhar por mim. Ele não tinha usado compulsão, não exatamente, mas ainda tinha usado sua magia para me acalmar. – Está tudo bem meu amor. Você não tem doença alguma, você não vai morrer.

– Então por que você estava chorando? Eu não entendo... – minha voz foi morrendo conforme a confusão foi tomando minha mente. Ele segurou minha mão entre as suas, fazendo círculos em minha mão, me acalmando.

– Você não está doente Rose, nem prestes a morrer. Você... Você está grávida. – eu queria falar pra ele parar de fazer graça, que aquilo não era brincadeira, mas então... Então eu olhei em seus olhos e vi seriedade neles. Aquilo não era nenhuma brincadeira de mau gosto.

– Isso não pode ser verdade... Eu... Não. – minha mente era uma confusão só, eu não conseguia formar uma única sentença. E então eu comecei a chorar. Por que aquilo não podia ser verdade, eu não podia acreditar que depois de tudo, de todo o esforço pra ter a guarda de Lissa, eu ia perder tudo por uma besteira de um momento impensado. – Quem mais sabe disso? – perguntei depois de me acalmar.

– Só eu, Lissa e o Belikov. Eles me ligaram assim que você chegou aqui e então eu vim voando.

– Ótimo, então me prometa que você não vai contar pra ninguém. Até eu decidir o que fazer. Me prometa Adrian! – exclamei puxando-o pela gola da camisa.

– Tudo bem, eu prometo. Não direi uma palavra a ninguém.

– Ok. Então traga Lissa até aqui e avise ao Dimitri pra não contar nada a ninguém. – disse com minha mente já voltando a funcionar. Lissa chegou logo depois que Adrian saiu e assim que me viu, ela veio correndo até mim.

– Como você está? – perguntou. Pelo laço eu senti a preocupação e ao mesmo tempo euforia que vinha dela.

– Eu estou bem. Mas nem adianta você começar a fazer planos, eu não vou ter esse bebê. – Lissa me olhou em choque, sem conseguir compreender minhas palavras.

– O que você quer dizer com isso? Como assim você não vai ter esse bebê? Você não tá pensando em...

– Sim Liss, é exatamente o que eu tô pensando. Eu vou tirar esse bebê.

– Não. Você não pode fazer isso! – sendo a pessoa religiosa que era, eu podia ver por que Lissa era contra isso, por que na cabeça dela eu estaria cometendo um crime, mas honestamente, que outra escolha eu tinha?

–Eu não tenho outra escolha, ok? Não posso ter um filho e abandonar minha carreira, abandonar você.

– Mas nós todos vamos te ajudar. Eu, Christian, Dimitri até mesmo Mia! Nós todos vamos cuidar do bebê e você vai poder cuidar de nós. Por favor, Rose, não faça isso.

– Eu não posso Lissa. Eu não posso ter um bebê, eu mal sei cuidar de mim! – eu desabei nos braços dela, chorando como uma criança. Por que eu não queria isso, não queria essa complicação na minha vida.

– O Adrian vai te ajudar, você vai ver...

– Não, não vai. Ele pode gostar de mim, até amar, talvez. Mas ele ainda é o Adrian, ele não vai assumir essa criança, ele não vai querer nada com ela. E mesmo que ele queira, você acha que a família dele iria deixar? Eu estou sozinha nessa, Liss...

– Para com isso. – ela me deu uma leve sacudida. – Se você me ama, se você preza a nossa amizade, você não vai mais nem cogitar em tirar esse bebê.

– Não faz isso, você sabe que não é justo, que eu não posso fazer essa escolha. Eu não quero arruinar minha vida inteira graças a isso. – disse apontando para minha barriga.

– Pois você deveria ter pensado nisso antes, e não agora. É tarde demais Rose. E eu acho que você tá cometendo um grande erro. Um do qual você vai se arrepender amargamente mais tarde. – ela disse dando as costas e indo embora.

Depois que Lissa saiu não me restou nada a fazer que não fosse remoer a novidade. Eu não queria ter filhos, eu não podia. Como eu iria cuidar da Lissa, fazer meu trabalho como guardiã dela e ao mesmo tempo criar uma criança?

– Estúpida, estúpida, estúpida. – briguei comigo mesma.

– Hey. – Dimitri disse entrando no quarto. – Lissa pediu que eu viesse falar com você.

– Você não vai me fazer mudar de ideia.

– Eu não quero te convencer de nada. Quero apenas que você pense bem antes de tomar qualquer decisão. – ele puxou uma cadeira e se sentou ao meu lado. – Ouça Rose, eu sei que talvez eu não mereça sua confiança, mas só peço que você me ouça. Eu, mais do que ninguém, sei o que é o senso de dever, de querer fazer o certo. Mas você também não pode se colocar de lado em prol dos outros o tempo todo. Com a Lissa morando na Corte, e com o forte esquema de proteção em torno dela, você pode muito bem continuar sendo guardiã e ter o bebê. Ele seria criado aqui na Corte, teria uma boa educação, estaria sempre protegido e ao seu lado. Não seria nada como você e sua mãe. Outro fator que você está se esquecendo é o Adrian. Ele é tão culpado disso quanto você, e eu tenho certeza que ele não vai te deixar sozinho agora.

– Por que todos vocês tem tanta certeza disso? – perguntei. – Por que ninguém é capaz de ver o Adrian como ele realmente é? Sim, nós temos um relacionamento legal, mas isso se baseia no fato de que nós sempre soubemos que esse relacionamento, por mais tranquilo que fosse, nunca será do tipo que dá em casamento e em filhos. Além do mais é o Adrian! Conquistador barato, que foge das responsabilidades e que vai passar a vida toda na sombra dos pais. – por que ninguém conseguia ver isso? Por que todo mundo insistia em achar que o Adrian era o cara mais perfeito do mundo? Isso era tão frustrando, eu estava realmente irritada com todo esse assunto.

– Por que ele te ama.

– Desculpa Camarada, mas...

– Ele te ama, Rose. Só você que é incapaz de ver isso. Que por baixo de toda aquela atitude irreverente e rebelde, ele é uma boa pessoa e é capaz de tudo por você. Mas se tem tanta dúvida sobre isso, apenas espere. Logo você verá por si mesma o que eu estou te dizendo. – ele se levantou pronto pra sair, mas parou antes de alcançar a porta. Ele correu os olhos a sua volta, parecendo que queria falar mais alguma coisa, mas desconfortável demais para tal.

– Diga logo Dimitri.

– Me desculpe se eu te magoei aquele dia na igreja.

– Isso é passado. – disse simplesmente.

– Eu fico feliz por você e Adrian e, quer você queira ter o bebê, ou quer você o tire, quero que saiba que sempre poderá contar comigo. E que eu espero sinceramente que possamos ser amigos. – o pedido me pegou de surpresa. Será que eu queria ser amiga de Dimitri? Depois de tudo o que eu tinha sofrido por causa dele? Ele não era culpado por toda a dor que eu tinha passado nos últimos meses, ele tinha assistido ao meu coração se despedaçando sem poder fazer nada. Ele nunca pediu pra se tornar um Strigoi, ele foi pra Rússia pra se manter longe de mim e eu que fui atrás dele. Sim, percebi subitamente, eu queria Dimitri comigo. Se eu não podia tê-lo pra mim, pelo menos podia ter ele ao meu lado.

– Sim. – eu disse timidamente. – Eu quero ser sua amiga. – disse um pouco mais alto. Seus olhos se abriram em surpresa. Acho que ele não esperava que eu fosse aceitar tão facilmente. Então sua expressão se fechou naquela máscara de guardião e em seguida, hesitantemente, ele me deu um abraço.

–Obrigada. – agradeci quando ele já ia saindo. Ele se virou e em seu rosto pude ver um de seus raros sorrisos.

POV – Adrian

Um filho! O quão louco tudo isso poderia ser? Eu nunca havia pensado em ter filhos, nunca nem havia gostado de crianças. Do meu ponto de vista eles eram apenas seres barulhentos e que requerem atenção 24/7. Mas a ideia de uma mini Rose correndo por aí me fez abrir um sorriso involuntário. Infernos! A Pequena Dhampir realmente conseguiu me transformar num romântico. Eu, Adrian Ivashkov, sorrindo com a ideia de ser pai. Mas não queria nem imaginar a reação de meus pais e tia Tatiana quando eles descobrissem. Meu pai provavelmente iria me deserdar e tia Tatiana ia fazer de tudo para que Rose tirasse o bebê. Eu não podia permitir isso. Não podia nem sequer imaginar como viveria, como olharia para Rose se ela fizesse isso. A menos que... Ugh! Janine Hathaway e Abe Mazur... Esses dois iriam querer arrancar meu fígado, com toda a certeza.

– Adrian! – Eddie gritou, correndo pra me alcançar.

– Hey Castille.

– Que sorriso bobo é esse? – perguntou.

– Boas noticias que estão por vir. – disse sem dar muitos detalhes. Ele me pareceu intrigado, mas não quis perguntar.

– Ouvi que a Rose tá no hospital, tá tudo bem? Ela não quebrou nenhum osso dessa vez, não né?

– Não. – respondi ainda rindo. – Não foi nada demais. Apenas reação a alguma coisa que ela comeu. Acho que a médica deve liberar ela ainda hoje.

–Muito bom. Fiquei preocupado, você sabe como a Rose é. – ele disse rindo, com certeza se lembrando de alguma coisa do tempo da academia. – Teve uma vez que ela...

– Com licença Guardião Castille. – disse um guardião vindo até nós. – A Rainha solicita sua presença, Lord Ivashkov. – me despedi do Eddie e acompanhei o guardião até a sala de reuniões do palácio. A sala estava vazia, exceto por minha tia. Sem guardiões e sem Priscila Voda. Aparentemente ela não queria testemunhas pra essa conversa.

– Oi titia. – disse dando um beijo nela. Foi quando olhei em seus olhos que percebi que eu estava encrencado. Oh-oh.

– Eu quero saber que história é essa de que Rosemarie Hathaway está grávida, e quero saber agora. – ela disse na sua voz de rainha. É. Oh-oh. Estou ferrado.