O Herói do Mundo Ninja escrita por Dracule Mihawk


Capítulo 124
Encruzilhadas do destino - parte 2


Notas iniciais do capítulo

Senta que lá vem a história...



Obs.: quem é velho como eu pegou a referência.










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— Kushina e Mira Uzumaki, irmãs gêmeas? — Ino mal acreditava no que acabara de ouvir de Shikamaru durante a reunião do Conselho da Folha, a primeira que faziam após o Encontro das Nações Ninja. — Mas isso significaria dizer que o Naruto e a vice-líder dos Yuurei seriam...

Shikamaru fez que sim com a cabeça.

— Se essa teoria estiver correta, então sim. Naruto e Mira são parentes de fato. Infelizmente, estou mais conjecturando do que provando alguma coisa — descansou o queixo sobre as mãos. — Não tenho material suficiente para afirmar nada.

— Pelo menos isso explicaria por que elas são tão parecidas — disse Shizune — e por que Mira Uzumaki tem tanto apego à memória da Kushina-san.

— E ao Naruto também — Tsunade falou em tom sombrio. Virou-se para Shikamaru. — Continue.

— De fato, a teoria de que Mira seja apenas uma sósia de Kushina é a mais consistente com os fatos já comprovados, porém o comportamento de Mira até aqui não me deixa convencido de que essa seja a verdade. Por isso, embora não consiga provar, estou considerando a possibilidade de elas serem irmãs que foram separadas na infância, provavelmente quando ainda eram bebês, e crescido isoladamente uma da outra; o que tornaria o Governador do Redemoinho, Hayato Uzumaki, o principal suspeito por tudo isso — expôs Shikamaru —, e faria da entrega de Kushina à Vila da Folha a manobra perfeita para esconder toda a verdade.

Yuugao Uzuki franziu o cenho.

— Mas nós realmente precisávamos de alguém para substituir Mito Uzumaki como Jinchuuriki da Kyuubi.

— Acredita em providência, Yuugao-san? — Shikamaru perguntou retoricamente. — Esse seria um bom exemplo.

— E quanto às outras duas teorias, Shikamaru-kun? — perguntou Sai.

— São mais improváveis — admitiu Shikamaru. — A terceira, Kushina seria um clone de Mira, a filha do governador. Segundo a carta de Hayato Uzumaki, eles haviam descoberto recentemente uma garota também capaz de usar o Kongou Fuusa no Jutsu — frisou Shikamaru. — O que me desconvence dessa possibilidade é a ausência de indícios de que o País do Redemoinho tivesse, naquela época, capacidade científica para realizar clonagem humana — ajeitou-se na cadeira. — E a última teoria é a mais absurda de todas, e já foi refutada: Mira e Kushina seriam a mesma pessoa; o corpo de uma, a mente de outra.

Ino estremeceu.

— Isso seria muito bizarro!

— Eu sei — Shikamaru deu de ombros. — Felizmente, descobrimos que nossa Yuurei visitava o memorial de Kushina com frequência, e isso já é suficiente para me convencer do contrário.

Tsunade estreitou os olhos, pensativa. Mira Uzumaki, uma sósia ou a irmã de Kushina... que ótimo.

— Naruto já deve estar bem próximo do País do Redemoinho a essa hora. Acho imprudente o perturbarmos com nossas teorias às vésperas de sua luta — disse a Hokage.

— Por outro lado — observou Ino —, se Mira Uzumaki for mesmo tia do Naruto, ela certamente contará a verdade quando eles se encontrarem. Não seria melhor já o prevenirmos quanto a isso?

— Eu concordo, Tsunade-sama — disse Shizune. — Naruto já é um homem e um Jounin qualificado. Ele poderá lidar com algo assim.

— Mas também é um órfão Jinchuuriki que cresceu sozinho, sem ninguém da família que pudesse criá-lo e protegê-lo daqueles que o odiavam — contrapôs Shikamaru — e, de uns tempos para cá, virou o alvo preferido dos Yuurei. Nem imagino como ficará a cabeça do Naruto, caso ele pense que a responsável é uma tia que ele sequer imaginava possuir.

— E não vamos nos esquecer de que a Yuurei quer enfrentar o Naruto — acrescentou Yuugao. — Se uma verdade dessas vier à tona no meio de um combate, Naruto não terá escolha a não ser agir. Por isso, também acho melhor que ele descubra tudo sozinho.

Ino balançou a cabeça insistentemente.

— Mas e se o Naruto não agir? — perguntou para Yuugao. — Se ele travar no momento errado, ainda que por um mísero segundo? — virou-se para Shikamaru. — Você mesmo disse que ele é um órfão que cresceu sem família; e aquela mulher tem o rosto da mãe dele, Shikamaru!

— Mas não é a Kushina Uzumaki — respondeu Shikamaru. — Naruto sabe disso, assim como sabe o que está em jogo. Ele não vai travar. Não em uma luta.

Ino não se deu por convencida.

— Você e eu estudamos com ele na Academia, Shikamaru! O Naruto tem mesmo uma força mental muito grande, como poucos... — disse —, mas não é invulnerável.

— Os Yuurei souberam explorar o emocional do Naruto-kun muito bem — lembrou Shizune.  — Por esse motivo, colocaram o Zero Caudas nele.

— Então vamos contatar o Naruto e dizer a ele que, hipoteticamente, irá enfrentar a própria tia? — Shikamaru cruzou os braços. — Não me parece a melhor decisão.

— Ele já passou por coisa pior...

— Quando não havia mais nada a fazer senão lutar — frisou Shikamaru. — E quando não foi o caso, houve um lapso temporal para que ele pudesse colocar a cabeça no lugar.

Tsunade sabia a que Shikamaru estava se referindo: a ocasião em Naruto descobrira sobre a morte de Jiraiya. Fora graças à ajuda do próprio Shikamaru, de Iruka, bem como o tempo afastado treinando no Monte Myoboku que Naruto Uzumaki pôde voltar e performar bem, vingando, assim, o mestre.

— Ele está focado — disse Shikamaru —, mas se jogarmos essa bomba nas mãos do Naruto agora, ele terá poucas horas até estar frente a frente com Mira Uzumaki. Nosso excesso de cuidado pode pôr tudo a perder.

Sai, educadamente, ergueu o braço para falar.

— Naruto contou para Sakura-san e para mim como foi conhecer o pai e, depois, a mãe — disse o integrante do Time Sete. — Segundo ele, a alegria foi tanta que ele mal sabia como agir. Claro, o Quarto Hokage e Kushina-san já estavam mortos... — postou-se pensativo. — Se Mira Uzumaki for mesmo tia dele, então Naruto encontrará alguém da família que ainda está vivo; e isso será inédito — disse Sai e Ino assentiu em concordância.

— Nem tanto — Shikamaru respondeu aos dois. — Estão se esquecendo da Karin. Naruto a trata como uma prima de verdade; e nós três estávamos na missão em que ela passou a correspondê-lo.

— Não é a mesma coisa, Shikamaru! — protestou Ino.

— Eu sei, mas chega bem perto. De qualquer forma — deu de ombros —, não vejo o Naruto congelando diante de alguém que, seja quem for, ainda é nosso inimigo. Ele não é assim. Nunca foi.

O silêncio de todos mostrou que Shikamaru Nara tinha razão.

— Por hora, vamos deixar nossas suposições conosco — disse Tsunade — e confiar no Naruto.

Com isto, a reunião dar-se-ia por encerrada, não fosse a chamada de vídeo que Tsunade, inesperadamente, estava recebendo da Mizukage. Ao ver o símbolo Névoa no meio da tela de seu notebook, a Quinta Hokage endureceu o semblante e, respirando profundamente, tornou a se sentar. O antigo número da Mei, reconheceu.

— É ela — Tsunade avisou a seus conselheiros.

E após Tsunade aceitar a ligação, Mira Uzumaki surgiu do outro lado da tela. Embora estivessem separadas por milhares de quilômetros, a tensão entre a Hokage a Yuurei era nítida em uma simples troca de olhares.

— Está me fazendo perder um tempo precioso — disse Tsunade. — O que quer agora?

— Eu serei breve, Hokage. Também tenho meus próprios compromissos — respondeu a Yuurei. — Vim avisá-la do que está por vir, portanto preste bastante atenção.

Aquelas palavras não possuíam tom de ameaça, mas sim de advertência, pelo que Tsunade suspeitou ainda mais. Mira, que era como uma estátua de gelo, não se importou e foi direto ao ponto:

— Amanhã, ao raiar do dia, os Yuurei atacarão a Vila Oculta da Nuvem.

O quê?

— Você me ouviu — disse Mira. — Amanhã, a esta hora, a Vila da Nuvem já estará reduzida a escombros e poeira; e o Raikage, morto, se já tiver retornado do Encontro das Nações Ninja. Se não quiser que seu aliado partilhe do mesmo destino da Folha, sugiro enviar Sasuke Uchiha para lá.

Tsunade precisou de alguns segundos para digerir aquelas palavras. Isso está fedendo à armadilha, pensou consigo. Por que os desgraçados atacariam a Nuvem agora? E Sasuke... é óbvio que pretendem destruí-lo. Mas e se tudo isso não passar de outra distração para algo maior?

Tsunade ergueu os olhos e conferiu rapidamente as reações de seus conselheiros; e só confirmou suas crenças.

— Vocês querem Sasuke Uchiha. Este é só mais um artifício para tirá-lo da Vila da Folha.

— Não nego. Sasuke Uchiha fez por merecer nossa atenção — respondeu Mira —, mas acredite quando digo que a Nuvem está, sim, condenada.

A Hokage esmurrou a mesa, impaciente.

— Não subestime o Raikage, sua fedelha! — censurou Tsunade. — Nem a União Shinobi.

União Shinobi? — Mira arqueou a sobrancelha. — É assim que se chamam agora? Bom, isso é irrelevante — deu de ombros. — Não estou os subestimando; a Nuvem já está condenada e a razão é bem simples: Iori Kuroshini levará todos os nossos Yuurei para lá.

Tsunade abriu a boca em perplexidade. O que disse?, iria perguntar, mas as palavras ficaram presas em sua garganta. Mira, por sua vez, achou a reação da Quinta Hokage minimamente divertida.

— Você disse todos os Yuurei — Mira escutava a voz de Shikamaru Nara fora do ângulo da câmera —, mas suponho que esteja se excluindo dessa contagem. Estou certo?

Mira assentiu do outro lado da tela.

— A destruição da Nuvem é algo com a qual sonhei por anos — admitiu —, mas sou uma mulher maleável. Como irei encontrar Naruto neste mesmo dia, deixarei meu sonho nas boas mãos de Iori.

— E por isso sugere que enviemos o Sasuke, para entregá-lo às boas mãos de Iori Kuroshini — ironizou Shikamaru.

— Vejo que não acreditam em mim.

— Já vimos esse filme! — criticou Tsunade. — Na ilha Misuto, se lembra? Sasuke não vai a lugar nenhum desta vez!

Mira baixou os olhos.

— Façam o que julgarem ser o certo. Mas não digam que não os avisei.

Cuidadosamente, Tsunade estudou o rosto da Yuurei. Ainda que a teoria das irmãs não fosse verdadeira, Mira agia como a contraparte perfeita de Kushina Uzumaki; e se Kushina havia sido uma moleca impulsiva, encrenqueira, de temperamento forte, extrovertida e, é claro, brincalhona...

— Admitindo que esteja nos dizendo a verdade... — Tsunade hesitou, cautelosa — qual o seu interesse por trás disso? Está traindo Iori, denunciando-o para nós.

Um sorriso tímido se formou nos lábios finos de Mira.

— Talvez eu esteja sendo apenas uma subordinada leal... e, ao avisá-los do ataque, entregando Sasuke para Iori.

— Para Iori... e todos os outros Yuurei também.

— Não — Mira meneou a cabeça. — Apenas nós, os líderes, temos autorização para enfrentar o Assassino de Yuurei agora. Iori o enfrentará sem ajuda. Seria vergonhoso para nós se, dadas as circunstâncias, nosso líder não assumisse para si esta responsabilidade.

Sasuke contra Iori Kuroshini, cercados pelos Yuurei fora da vila, refletiu Tsunade, isso não me soa bem de jeito nenhum.

— Caso ainda estejam receosos em sua decisão... — Mira falou com voz calma e paciente — talvez o recente ataque ao Kazekage possa persuadi-los.

— A comitiva de Gaara foi atacada?! — Shikamaru adiantou-se ante Tsunade e perguntou diretamente para Mira. — O que aconteceu? Gaara e os outros... como eles estão? Responda!

Mira olhou bem para o jovem líder do clã Nara.

— O Kazekage sobreviveu. O irmão dele também — disse. — A irmã...

— Temari! — Shikamaru chegou ainda mais perto da câmera. Sua ansiedade era nítida e perfeitamente compreensível para todos ali, até para Mira, que conhecia um pouco sobre cada um dos amigos de Naruto, especialmente os que eram mais próximos do sobrinho. — O que houve com a Temari?

— Shikamaru... — Ino sussurrou baixinho, dirigindo ao amigo um olhar compadecido. Sai, que se sentava ao lado da namorada, pegou gentilmente a mão de Ino e meneou a cabeça para ela discretamente. Ino arregalou os olhos na mesma hora.

— Eu sinto muito — foi a resposta de Mira.

Shikamaru apertou os lábios e os olhos, enquanto puxava ar pelo nariz. Jamais se perdoaria se chorasse ali, na frente de todos. Se o fizesse — e se Temari estivesse ali, vendo aquilo, certamente ela o teria chamado de Bebê Chorão, como em outras vezes; e o falecido pai, Shikaku Nara, o teria repreendido diante de todos por não agir como um homem feito. Era verdade, ele já era um homem...

 E, acima de tudo, Shikamaru Nara era um ninja; e a conduta Shinobi não lhe permitia fraqueza.

— Foi você a responsável? — Shikamaru perguntou com a voz seca.

— Sim — respondeu Mira. — Eu ordenei a missão.

— Entendo.

Shikamaru tinha um olhar vazio que Tsunade e, principalmente, Ino Yamanaka viram poucas vezes. A última delas, logo após a morte de Asuma Sarutobi. Tanto a Hokage quanto a companheira de equipe sabiam perfeitamente o que se passava na cabeça do Estrategista da Vila Oculta da Folha naquele exato momento.

— Saiam todos — ordenou a Hokage imediatamente aos conselheiros. A ideia de Tsunade era apenas retirar Shikamaru daquela sala, mas tinha certeza de que ele não aceitaria caso lhe fosse ordenado sair só, ou mesmo acompanhado por Ino. — Menos você, Shizune. Você fica.

— Sim, Tsunade-sama.

— Cometeu um grave erro, Mira Uzumaki — disse Tsunade após os demais conselheiros saírem —, o seu último.

E imediatamente fechou a tela do notebook com força. Droga, praguejou Tsunade. Droga! Droga!

— O que vamos fazer agora, Tsunade-sama? — Shizune perguntou com receios. — Gaara-kun é um dos nossos aliados; e de acordo com o que foi estabelecido no...

— Prepare esta mensagem, Shizune — ordenou. — Eu, Tsunade Senju, Quinta Hokage da Folha, invoco, excepcional e monocraticamente, o art. 66, caput, do Tratado dos Países Aliados; e que conto com a aprovação posterior de todos os Chefes de Governo dos Estados-membros da União Shinobi — fechou os olhos, pensativa. — Nos termos do referido artigo, um ataque a um Estado-membro da União Shinobi significa um ataque a toda União Shinobi...

Tsunade parou. Ficar sentada na cadeira acolchoada já lhe era insuportável. A Hokage se levantou em silêncio e caminhou, sob o olhar analítico da assistente, até a janela do escritório com vista para o centro da Vila da Folha. Era uma noite tranquila e pacata, e o movimento das pessoas nas ruas era como de praxe.

— Tsunade-sama...? — Shizune a chamou baixinho.

— Em sendo este o caso — a Hokage concluiu com voz firme —, a União Shinobi, a partir desta data, declara guerra aos Yuurei.

Shizune anotara tudo com rapidez impressionante.

— Farei o possível para que a mensagem seja enviada aos países aliados ainda hoje.

— Obrigada, Shizune — Tsunade ainda falava de costas para a assistente — e me faça outro favor ao sair. Encontre Sasuke Uchiha e diga que preciso dele aqui.

 

 

                                                                            ***

 

 

País do Silêncio.

— Já sabe abrir a porta? — Suki perguntou assim que pararam ao pé da montanha.

Musashi assentiu levemente.

— Não estou acostumado aos sinais de mão Shinobi — executou a sequência corretamente —, mas aprendo bem rápido.

Imediatamente o granito cedeu e uma fenda na rocha se abriu diante dos três. Alta e imponente, a entrada do esconderijo principal dos Yuurei era escura e larga como um fosso, e dava para um labirinto de catacumbas abaixo da montanha.

Shozu Ibuke sorriu fascinado.

— Parece mais extenso que qualquer um dos meus laboratórios.

— Não se empolgue — disse Suki —, não há muito o que ver lá embaixo.

— Mas há — respondeu o marionetista. — Meus futuros colegas, por exemplo.

Suki tomou a frente.

— Não espere uma recepção calorosa — ela mesma fez o sinal para fechar a entrada secreta. — Não somos bons nisso.

Os três desceram um longo espiral de escadas cavadas na rocha. Suki ia na frente, seguida por Shozu e Musashi, nessa ordem. À medida que desciam, mais o frio subterrâneo aumentava, embora também ficasse mais luminoso por conta os archotes acesos nas paredes.

Por fim, chegaram a um grande hall com um paredão de pedra ao fundo e dois corredores à direita e à esquerda.

— Os aposentos — explicou Suki. — Ímpares à direita, pares à esquerda; conforme sua posição na hierarquia. Atrás desta rocha fica o salão de reuniões.

— Entendo — Shozu olhou para os lados. — E estou curioso para saber onde ficarei alojado.

Suki estreitou os olhos.

— Tente não sair muito do quarto, só um conselho.

— Há algo que eu não possa ver?

— Não é isso — Suki sequenciou selos com as mãos; o paredão de pedra se abriu em duas partes —, mas sua preferência em usar mulheres como cobaias humanas pode ser um problema.

Shozu deu uma gargalhada.

— Então você sabe? — segurou a risada. — É claro que sim; e deixe-me adivinhar: não me quer por perto.

Suki percebeu o olhar do titeriteiro a conferindo de cima a baixo e o encarou por um instante. De baixa estatura e magricela, cabelo roxo bagunçado, olhos cruéis e um sorriso sórdido e trapaceiro, Shozu Ibuke estava bem longe de fazer seu tipo preferido de homem. Mas Suki não se importou; gostava de ser desejada, ainda que por um maníaco sádico e ambicioso.

— Você não entendeu — disse ela enquanto atravessavam a entrada do salão —, não estou falando de mim. Não tenho problema com homens.

— Fala de suas companheiras.

— Hana Sakegari e Mira Uzumaki — assentiu Suki. — Se olhar para Hana como fez comigo, Kioto Hyuuga te matará na mesma hora. Se olhar para Mira, Hana te matará... e não vai querer ser morto por ela.

— Por quê?

— Porque... — uma voz aguda e entediada ecoou do fundo do salão — a Hana não bate bem da cabeça.

Musashi fez uma referência com a cabeça.

— Kan-dono. Está aqui há muito tempo?

— Fui o primeiro a chegar — o jashinista levantou-se da tribuna de pedra, espreguiçou-se e atou a foice de seis lâminas, antes recostada numa parede, nas costas. Depois desceu para cumprimentá-los; primeiro Suki, depois Musashi e, por último, Shozu. — Por que demoraram tanto?

— Minha culpa. Pedi para que fôssemos a um dos meus antigos laboratórios — explicou Shozu, todo sorriso. — Eu gostaria de me apresentar de forma apropriada.

E indicou os três rolos de pergaminho que trazia nas costas.

— Muito conveniente, garoto — e virou-se para Suki. — Tem certeza de que ele vai servir? Naruto Uzumaki já o derrotou...

— O próprio Líder-sama pediu por ele — respondeu Suki.

— Então o Gepeto aí não vai passar pelo teste probatório? — ouviram a voz estupefata de Hana Sakegari vinda da entrada atrás deles. — Esse novato mal chegou e já vai sentar na janelinha? O Líder-sama só pode ter perdido o juízo.

Suki olhou inquisidoramente para trás e encontrou os olhos severos de Kioto Hyuuga já postos sobre si. Com um sorriso agridoce nos lábios, Suki cumprimentou o Terceiro Oficial dos Yuurei com um quase imperceptível aceno de cabeça. Geralmente, a simples presença de Kioto não a intimidaria, mas considerando que ainda não estava totalmente recuperada de sua luta contra o Kazekage, Suki preferiu não ofender um Yuurei que era sabidamente mais forte do que ela.

Entrementes, Shozu tentou parecer minimamente cordial. Cumprimentou os dois Yuurei recém-chegados, sempre sorrindo ao falar com eles. Kioto simplesmente o ignorou. Já Hana, só por respirar o mesmo ar que Shozu Ibuke já se sentia enojada. Definitivamente, não havia gostado dele e, volta e meia, encarava-o com desconfiança. Shozu, por sua vez, evitou manter contato visual com ela.

Mas quando a escuridão tomou forma no fundo do salão, todos os Yuurei se curvaram em reverência. Iori Kuroshini era apenas um vulto preto encapuzado, tão distante quanto uma sombra, de modo que era impossível distinguir se o líder dos Yuurei havia se manifestado fisicamente ou se era uma projeção. Mesmo assim, Shozu Ibuke sentiu uma sensação terrivelmente esmagadora e sufocante, como se todos os seus piores pesadelos se aglutinassem em sua mente de uma vez. Paralisado, sentiu a cabeça girar e ambos os joelhos vacilarem e cederem.

— Assim está melhor — disse Iori com uma voz profunda que reverberava por todo o ambiente. — Agora... — as trevas tomaram o controle do corpo de Shozu, que sentiu uma dor excruciante no meio da fronte; a escuridão parecia lhe penetrar o cérebro como uma broca. Aquilo não era uma tortura, mas Shozu sentia que seu corpo estava prestes a despedaçar ante todo aquele poder estranho que o revolvia e o enchia do alto da cabeça às solas dos pés.

Ao final de tudo, Shozu Ibuke não se despedaçou. Muito pelo contrário. O que é esse chakra? É tão... intenso, ria-se enquanto se colocava de pé. Entendo...  este é o Meiton, o poder que nem o Onmyouton (estilo Yin-Yang) pode anular, via as marcas da escuridão retrogredindo em sua pele pálida; a última a desaparecer foi a marca própria do selo na testa.

Shozu Ibuke concordava com o conceito de arte de Sasori da Areia Vermelha. Para ele, a verdadeira arte possuía caráter duradouro e sublime, vencia o próprio tempo e tornava-se eterna. Shozu também reconhecia, no entanto, que até mesmo a melhor das marionetes era incapaz de atingir tal feito; não importasse o material utilizado, no fim, todas elas tornar-se-iam pó. O tempo era o único verdadeiramente absoluto.

Até agora.

Shozu ainda podia sentir o poder de Iori Kuroshini fluindo em suas veias, tornando-se parte dele, tornando-se ele. Shozu Ibuke sabia que, a partir daquele instante, sua humanidade era coisa do passado; e fora embora junto com toda a influência que o tempo poderia exercer sobre seu corpo. Agora era um ser atemporal, eterno por excelência.

Shozu sentia-se ótimo.

 — ... seja bem-vindo aos Yuurei — completou Iori Kuroshini —, Oitavo Oficial Shozu Ibuke.

 

 

                                                                            ***

 

 

A última vez em que Sasuke se lembrava de ter entrado pela janela, Sakura não era nem sua namorada e ainda vivia junto com os pais. Mas não tinha certeza quanto a isso; talvez ele tivesse usado a janela do quarto uma ou duas vezes quando iniciaram o relacionamento, e outras mais quando Sakura passara a morar sozinha. Mas, sem dúvida, aquela vez, quando havia sido tomado por um espião, era inesquecível.

E, talvez, para rememorar o início de tudo entre eles, Sasuke adotara o velho capricho. O quarto de Sakura ficava no segundo andar da casa, com a janela virada para a rua. Sasuke não teve qualquer dificuldade para entrar, especialmente por que a referida janela estava destrancada.

— Você tem uma cópia da chave da porta, Sasuke-kun — encontrou Sakura parada em pé, sorrindo divertida para ele. Ela vestia seu típico traje para missões. Pelo que Sasuke entendeu, Sakura já o estava esperando. — Não precisa entrar feito um bandido.

— Aonde você vai? — Sasuke perguntou já sabendo a resposta.

— Vou com você, ora essa. Onde achou que eu iria? — Sakura franziu o cenho, minimizando. Mas pela reação descontente do noivo, assumiu uma postura igualmente séria. — Ino já me contou tudo, Sasuke-kun. Você está indo atrás do líder dos Yuurei... — estreitou os olhos, enfatizando — e eu vou com você.

— Não.

— Eu já me decidi — replicou Sakura

— Eu também. Você fica.

— Minha escolha não está em discussão aqui... — Sakura sentia a cabeça esquentar.

— Então sugiro que a repense — respondeu Sasuke. — Alguém precisa ficar para proteger a vila. Além disso, vai ser perigo-

Sakura enterrou o punho na parede com um barulho ensurdecedor. Sasuke olhou de esguelha para o lado esquerdo; o soco só não o atingira por uma questão de míseros centímetros. Se ela tivesse me acertado com isso, ainda que só de raspão, estaria sem meu braço de novo, pensou Sasuke, dirigindo um olhar impassível para o rosto irritado de Sakura Haruno.

— Eu não preciso ser protegida — advertiu-o com seriedade. — Sei muito bem cuidar de mim mesma. E posso lutar ao seu lado.

Sasuke assentiu devagar.

— Eu sei disso — falou com uma brandura que pegou Sakura de surpresa. — Ainda assim, a vila precisará de você aqui.

— De nós dois! — corrigiu Sakura, amenizando a voz. — Seja aqui ou lá fora, a vila ficará melhor se estivermos juntos, você não vê? — descalçou a luva direita e mostrou o anel de noivado que ele lhe dera. — Somos uma equipe, você e eu.

Sasuke conteve o ímpeto de beijá-la.

— Sakura... — começou.

— Eu não pretendo dissuadi-lo, Sasuke-kun — interrompeu-o Sakura —, então, por favor, não tente me fazer mudar de ideia também. Assim como você, eu também quero acabar com eles e, na verdade... — encolheu os ombros, envergonhada — sei que será perigoso; eu estava aqui, na vila, quando o líder dos Yuurei nos atacou — pegou a mão de Sasuke. — Por isso, não quero que vá sozinho. Vamos fazer isso juntos!

Em outros tempos, Sasuke Uchiha teria dito que a insistência de Sakura Haruno era simplesmente irritante. Mas não agora. Não mais. Sakura tornara-se seu bem mais precioso; era sua noiva, sua futura esposa, e ele a reconhecia como uma Kunoichi do mais alto nível. De uma forma ligeiramente engraçada, Sasuke gostava de ter uma mulher forte como Sakura, que poderia obliterá-lo com um único golpe bem dado.

E, sim, Sakura tinha razão: os dois eram uma equipe. Eram o casal mais forte da Vila Oculta da Folha. Sasuke gostaria mesmo de levar Sakura consigo em algumas missões, sem o palerma do Naruto e o inconveniente do Sai para atrapalhá-los quando tudo terminasse. Na guerra e no amor, ambos funcionavam muito bem juntos. Por isso, uma parte de Sasuke desejava ficar ali, com Sakura. Mas não podia. Havia aquela maldita missão.

E, para aquela missão, Sasuke não poderia suportar a ideia de levar Sakura consigo.

Com um toque amoroso, Sasuke cutucou a testa de Sakura, presenteando-a com seu melhor sorriso.

— Desculpe, Sakura. Fica para a próxima vez — e já se virava para a janela.

Sakura pegou-o pela mão.

— Odeio te ver pelas costas — disse ela, puxando-o de volta para si. Sasuke, que havia entendido a que momento Sakura se referia, não resistiu. — Vai me fazer passar por aquilo de novo?

Sasuke ficou em silêncio, pelo que Sakura aproveitou para se achegar ainda mais a ele e envolvê-lo num abraço. Sasuke olhou para baixo, mas Sakura não o olhava de volta; a cabeça dela estava recostada em seu peito.

— Eu sei por que está fazendo isso — disse Sakura, acariciando-lhe o bíceps. — É pelo Naruto e por mim. Você acha que ainda tem uma dívida conosco, especialmente para com ele. Por isso quer tomar a frente do Naruto na luta contra os Yuurei e resolver tudo sozinho, para compensá-lo por tudo que fez no passado.

Sasuke respirou profundamente e virou-se para baixo mais uma vez; encontrou os olhos esverdeados de Sakura o observando sem parar.

— É o mínimo que posso fazer — admitiu Sasuke. — Por vocês dois.

— Mas Naruto e eu não vemos desse jeito! — Sakura gritou, repreendendo-o; mas não havia raiva em sua voz; e, se havia, estava bem escondida debaixo de camadas de afeto e de preocupação. — Você não precisa nos compensar, Sasuke-kun! Naruto e eu já o perdoamos. Então pare de agir como se ainda precisasse fazer alguma coisa...

Sakura sentia a voz começando a fraquejar e não queria chorar ali, na frente de Sasuke. Mordeu o lábio enquanto respirava pelo nariz.

— ... ao invés disso — completou Sakura —, aprenda a dividir os seus fardos com a sua futura esposa. Vamos mostrar para os malditos Yuurei do que somos capazes.

Havia um brilho determinado nos olhos de Sakura Haruno; e a menos que Sasuke a levasse consigo, ela não o deixaria partir daquele quarto. Diferente das outras vezes, agora, Sakura tinha reais condições de impedi-lo. E por estarem abraçados, bastaria um movimento em falso de Sasuke e Sakura lhe esmagaria as costelas.

Sasuke deu um sorriso rendido.

— Acho que tem razão.

— Você não gosta mesmo de dar o braço a torcer, não é, Sasuke-kun? — o sorriso de Sakura foi simplesmente radiante. Ela usou os braços para enlaçar o pescoço de Sasuke e puxar o rosto dele para si. Compartilharam um beijo e, ao final, colaram as testas uma na do outro. — Então, vamos indo?

— Perdoe-me, Sakura. Esta será a última vez.

Sasuke abriu os olhos devagar e, erguendo-os, olhou no fundo dos olhos de Sakura, que sentiu ambas as pernas bambolearem e a mente virar uma página em branco. Foi tudo num instante.

Assim que Sakura ameaçou cair no chão, Sasuke tomou-a nos braços e a carregou até a cama, deitando-a cuidadosamente. Sakura dormia como um bebê e, sabia Sasuke, não acordaria tão cedo.

Usando o Rinnegan, Sasuke abriu um portal dimensional próximo à janela do quarto e, antes de atravessá-lo, viu-se na obrigação de olhar para trás novamente. Fitando Sakura ali, adormecida e vulnerável, Sasuke reconheceu que algo nele próprio estava diferente. Seu coração palpitava acelerado e seus pulmões bombeavam ar mais rápido que o normal; e a garganta estava seca.

Não era algo que acontecia com frequência, e não era qualquer um que o fazia se sentir assim, mas Sasuke soube reconhecer a sensação de medo que, subitamente, lhe sobreviera. Ele, tido como o único ninja no mundo inteiro capaz de rivalizar com Naruto Uzumaki, e que recentemente vinha sendo chamado de o Assassino de Yuurei, o grande Sasuke do clã Uchiha tinha medo de sua próxima luta, medo do que estava por vir, medo de não ser forte o suficiente para matar Iori Kuroshini... e medo de não poder voltar para Sakura. Por isso, olhou-a o tanto quanto pôde, caso aquela fosse, de fato, a última vez.

Era um sentimento natural e humano, nada que pudesse impedi-lo de lutar. Sasuke tinha medo, mas não estava aterrorizado.

— Não ficarei fora por muito tempo, Sakura. Juro que voltarei para você.

Após isso, Sasuke se dirigiu ao portal e desapareceu no ar.

 

 

                                                                            ***

 

 

Mira abriu os olhos e se levantou num sobressalto. Mas logo percebeu, para seu alívio, que tudo não havia passado de um sonho; e, para sua sorte, ainda era madrugada. Quatro e treze da manhã, conferira no despertador, os outros ainda não saíram. Que bom.

Desembrulhou o corpo dos lençóis e, pondo os pés descalços no chão frio, caminhou até o banheiro. Mira tomou banho, higienizou-se por completo e, após o café da manhã, voltou ao quarto para se trocar.

Seu traje de Yuurei consistia em uma camisa preta de gola alta e mangas compridas, aberta na metade superior das costas; um obi todo vermelho, em honra ao clã Uzumaki, na cintura; calças pretas, com estojos de armas atados em ambas as coxas, e botas pretas de cano longo. Na parte posterior da cintura, Mira carregava duas bolsas de ferramentas onde guardava — além de itens padrão, como tarjas explosivas e fios de arame — pequenos rolos de pergaminhos e, também, sua preciosa flauta de bambu.

Mira foi até o espelho conferir um detalhe ou outro. Talvez seja melhor usá-lo por fora desta vez, pensou. Cuidadosamente, vestiu primeiro o manto negro sobre os ombros para só depois soltar a cabeleira ruiva. Pronto, disse para o próprio reflexo, fica mais confortável assim.

A vice-líder dos Yuurei ainda estava diante do espelho do quarto quando os sentiu chegarem. Deixando a própria imagem de lado, Mira fitou o reflexo da porta do aposento, de onde duas frequências de chakra haviam se materializado repentinamente no lado de fora. Bem na hora, pensou aliviada.

— Entre, Hana — disse Mira antes que a outra começasse a bater à porta.

A maçaneta girou e Hana Sakegari entrou sozinha. A Yuurei mais jovem sorriu amorosamente no instante em que seus olhos encontraram o belo e tão receptivo rosto de sua vice-líder.

— Vim me despedir antes de viajarmos para a Vila da Nuvem — disse a garota. — O Líder-sama nos contou que você não irá conosco, Mira-sama.

A vice-líder confirmou com um sorriso materno.

— Obrigada por ter vindo aqui, Hana — disse Mira brandamente. — Eu queria mesmo falar com você... em particular.

— Comigo? — Hana franziu a testa.

— Sim — Hana percebeu que, aos poucos, o sorriso de Mira Uzumaki desvanecia, dando lugar a uma expressão de rígida cautela e urgência; e Mira a olhava bem nos olhos, quase sem piscar. — Hana... faz quanto tempo?

A Quinta Oficial engoliu em seco.

— C-Como assim, Mira-sama?

— Não tente esconder de mim, Hana — Mira estreitou os olhos. — Você sabe bem a que me refiro.

Hana encurvou a cabeça envergonhada e, instintivamente, levou as mãos até a barriga. Seu sorriso também desaparecera.

— Quase dois meses... — disse Hana baixinho, sem conseguir olhar para Mira. — Foi logo após o ataque à Vila da Folha.

Mira assentiu em silêncio. De fato, fora mais ou menos naquele período que a relação de Hana Sakegari com o Terceiro Oficial dos Yuurei, Kioto Hyuuga havia passado de uma parceria para um relacionamento íntimo; e os dois Yuurei só viriam a assumir o romance semanas depois.

— Kioto já sabe? — perguntou Mira.

— Que estou grávida? Não — a expressão de Hana Sakegari, no entanto, era incerta. — Eu não falei nada com o Kioto-sama sobre isso, mas...

A voz de Hana sumiu enquanto, de olhos arregalados e rosto empalidecido, ela se lembrava de um fato banal que ocorrera há poucos dias.

— O que foi, Hana?

— Ele pode ter visto alguma coisa! — respondeu, alarmada. — No dia em que Suki-sama levou Musashi até nós, Kioto-sama e ela acabaram se estranhando e... Kioto-sama usou o Byakugan.

Mira respirou fundo. Embora aquilo já fosse bem problemático por si só, o fato de Kioto Hyuuga já saber que Hana esperava um filho dele não era o que mais preocupava Mira Uzumaki. Seu medo era que Suki também soubesse de alguma coisa.

— Como Kioto se comportou em seguida? Percebeu algo de diferente nele? — Mira quis saber.

Hana, porém, negou com a cabeça.

— Nada de anormal naquele dia nem após. Por isso tenho dúvidas se Kioto-sama já sabe.

— Entendo... — Mira fitou a barriga de Hana, que ainda não dava sinais aparentes da gestação. No entanto, Mira podia sentir a vida crescendo, tão frágil, dentro da pequena Yuurei. Em breve, Hana já não conseguiria esconder o segredo; e embora a gravidez não fosse um problema por si só, poderia gerar consequências terríveis para ela.

Em primeiro lugar, Iori tinha pressa em concluir seus planos; e, se por um acaso, esses mesmos planos fossem atrasados ou, na pior das hipóteses, interrompidos por conta de algo tão trivial quanto a gravidez de uma subordinada, então nem os esforços combinados de Mira Uzumaki e de Kioto Hyuuga poderiam proteger Hana e seu bebê da ira do líder dos Yuurei.

Em segundo lugar, era sabido que Suki detestava Mira Uzumaki; e Mira, por sua vez, tinha a Quinta Oficial Hana Sakegari em alta estima. Paralelamente, Hana era íntima de Kioto Hyuuga que, na qualidade de Terceiro Oficial, também estava acima de Suki na hierarquia dos Yuurei — e assumiria como o vice-líder, na ausência de Mira. Mesmo que Suki olhasse para seu superior imediato, na maioria das vezes, de maneira relativamente amigável, era inequívoco que, assim como Mira Uzumaki, Kioto Hyuuga também representava um obstáculo para a atual Quarta Oficial dos Yuurei retornar ao seu antigo posto na organização.

Nesse sentido, ainda que também apreciasse os talentos de Hana Sakegari — e até quisesse tê-la tido por parceira tempos atrás —, Suki era uma mulher ambiciosa e irremediavelmente cruel; ela não teria problema nenhum em usar Hana para atingir ambos os adversários de uma só vez, por quaisquer meios que julgasse necessários.

Por último, havia o novo membro dos Yuurei, recrutado a pedido do próprio Iori Kuroshini. Shozu Ibuke fora selecionado para um fim bastante específico: o jovem titeriteiro, uma vez batizado pelo poder do Meiton, seria capaz de controlar um número inimaginável de marionetes de forma simultânea. Com Shozu unindo-se à organização, os Yuurei teriam seu próprio exército de títeres humanos. E, Mira sabia muito bem, Shozu Ibuke tinha um apetite sádico bem peculiar para com mulheres.

— Fique longe deles — ordenou Mira para Hana. — Do Líder-sama, de Suki, e de Shozu. Tome cuidado com o Musashi também; embora ele seja parceiro do Kioto, fui Suki quem o recrutou. E, por favor, não comente nada perto do Kan. Seja muito cautelosa, Hana!

A garota balançou a cabeça veementemente.

— Sim, Mira-sama.

— Enquanto estiverem juntos, Kioto a manterá segura — instruiu, ainda, Mira Uzumaki. — E eu também... só preciso resolver outro assunto primeiro.

Hana sabia qual assunto era. De esguelha, vira a bola de cristal acesa sobre a mesa escrivaninha.

— Naruto Uzumaki — disse Hana e Mira confirmou.

— Não acho que conseguirei vencê-lo rapidamente — Mira deu à pequena um sorriso reconfortante —, mas quando eu acabar de fazer tudo o que preciso, você não terá mais nada com o que se preocupar — pôs a mão sobre o ombro de Hana. — Confie em mim, está bem?

Hana balançou a cabeça, confiando naquela promessa; e, para a surpresa da própria Mira, adiantou-se e envolveu a cintura da vice-líder num apertado, mas aconchegante, abraço.

— Obrigada, Mira-sama... — a voz da garota saía abafada; Hana tinha o rosto enterrado nos peitos de Mira. — Obrigada por se importar... muito obrigada!

A vice-líder dos Yuurei pestanejava sem reação. Não sabia dizer exatamente quando ou por que Hana Sakegari passara a vê-la como uma espécie de super-heroína, porém Mira sentia-se grata por ser o alvo de tamanha admiração, especialmente porque Hana era uma pessoa incapaz de disfarçar os próprios sentimentos. A Quinta Oficial dos Yuurei agia com excentricidade e possuía um humor volátil como poucos; mas apesar de todos os problemas, era uma pessoa por quem Mira nutria um afeto quase maternal; embora também não soubesse dizer quando ela própria desenvolvera tal afeto. Talvez naquele dia em que ficamos a sós no País do Redemoinho, pensou Mira consigo, ou, talvez, eu já a visse assim antes, quem sabe?

Era difícil para Mira apontar com precisão, mas isso tornara-se irrelevante. O que importava realmente era a conexão que tinham entre si. Mira e Hana eram duas mulheres estranhas, perturbadas por seus respectivos passados e mentalmente quebradas; e que se entendiam muito bem.

Por esse motivo, Mira acabou puxando o pequeno corpo da garota mais para junto de si, correspondendo-lhe o abraço. Inspirou o doce perfume que vinha do cabelo loiro-platinado de Hana. Era um frescor de jardim bem regado, tão agradável a Mira.

Hana sorriu como uma criança nos braços protetores da mãe.

— Quando a conheci, você era tão diferente... era mais distante, sombria e melancólica. Eu nunca imaginei que veria esse seu lado, Mira-sama — Hana ergueu os olhos verdes para o rosto de Mira — nem que seríamos amigas um dia... — hesitou por um momento. — Nós somos amigas, não somos?

Mira beijou a testa de Hana.

— É claro que sim — e as bochechas de Hana enrubesceram.

— Você é muito mais legal que a Suki-sama e, cá entre nós, mais bonita também — Hana deu uma risada leve e gostosa; e tornou a abraçar Mira. — Boa sorte contra Naruto Uzumaki, Mira-sama — disse novamente com o rosto recostado no peito da vice-líder. — Sei que não precisa disso, mas boa sorte mesmo assim.

— Obrigada, querida.

— Farei como me pediu — disse Hana após se soltarem uma da outra. — Com sorte, ainda volto a tempo de assistir ao final da sua luta. Até mais, Mira-sama!

O relógio indicava 5h17min quando a Quinta Oficial havia saído de seu aposento. Mira soltou um longo e cansado suspiro. Ao escolher ajudar Hana, havia se comprometido além do que deveria. Mas Mira não pudera evitar; gostava de Hana Sakegari realmente. Seu medo, no entanto, era deixar que laços profundos cativassem outra vez seu coração já muito fragmentado. Envolver-se demais era perigoso, pois a vida sempre dava um jeito de arrancar, do nada, tudo que lhe era mais importante.

Mira olhou para o espelho às costas.

— Você foi uma tola, Mira Uzumaki — disse a si mesma.

Enquanto se preparava para sair, a voz comovida de Hana Sakegari voltou à memória de Mira Uzumaki: obrigada, Mira-sama, obrigada por se importar... muito obrigada! Mira balançou a cabeça com força, ordenando a si mesma que se concentrasse, mas não adiantou.

Em um movimento rápido, Mira rasgou o ar e adentrou ao véu escuro que se abrira.

E, durante os poucos segundos da travessia, outra voz se juntara à de Hana em sua mente. Apenas uma. Mira se lembrava perfeitamente daquele timbre hesitante, bem como da expressão atônita no rosto dele quando estiveram frente a frente pela primeira vez.

M-mãe?

 

 

 

 

Do outro lado da cortina de escuridão, surgiu a costa do País do Redemoinho. Mira apareceu no cimo do morro que dava vista para o mar Chigiri. Assim que pôs os pés na grama verdinha, ergueu o rosto de olhos fechados para o céu e inalou o cheiro bom da maresia. Mira puxou e soltou o ar, regozijante; o vento marítimo enchia seus pulmões de expectativa, ao passo que seu coração parecia se ajustar às batidas das ondas contra as rochas praianas lá embaixo.

Então abriu os olhos, sabendo que estava pronta.

Aparentemente, Naruto já não fazia mais questão de ocultar o próprio chakra, de modo que, mesmo separados por dezenas de quilômetros de água salgada, Mira Uzumaki conseguia sentir o sobrinho do outro lado, na praia do País do Fogo. E não era só isso. Mira sabia muito bem que, àquela distância, também já estava ao alcance de ser detectada por ele.

Era exatamente o que acontecia naquele momento. Mira contemplava a vastidão azul no horizonte sabendo que, no outro lado do mar, Naruto também vasculhava a ilha, pressentindo seu chakra. Não precisavam de mais do que aquilo; as habilidades sensoriais dos dois Uzumaki lhes permitiam encarar-se mutuamente, ainda que à distância. Naruto observava Mira, e Mira observava Naruto; e apenas o mar Chigiri se punha entre eles.

Naruto, Mira sorriu, finalmente.

O semblante da vice-líder, no entanto, endureceu quando um portal de trevas se abriu atrás dela. Intrigada, Mira se virou para encarar o visitante — e com displicência, pois não fez questão alguma de reverenciá-lo. Não ali, não sob aquelas circunstâncias.

— Iori.

— Não parece feliz em me ver, Mira — a secura na voz da parceira comunicara ao líder dos Yuurei que ele não era bem-vindo ali, mas Iori Kuroshini apenas sorriu com o rosto encoberto pelo capuz e fitou o horizonte. — Eu entendo perfeitamente. Não posso competir com ele, não é? — virou-se novamente para Mira. — Está pronta?

— Estou.

Iori analisou-a meticulosamente com o olhar.

— Não deixe que sentimentos pessoais interfiram — advertiu Iori. — Lembre-se de que tem um trabalho a fazer.

— Estou ciente do meu dever — Mira respondeu impassível. — Veio de tão longe apenas para se certificar disso?

Iori negou, abafando uma risada e se aproximou devagar da vice-líder. Mira permaneceu imóvel, mas desviou os olhos no instante em que Iori Kuroshini chegou perto demais. A presença dele era sufocante. O Meiton, além de tornar o ar mais pesado e difícil de respirar, lhe impunha uma sensação terrível sobre os ombros. De repente, todo o calor que Mira experimentara há tão pouco tempo havia desaparecido. Só restava o medo frio e implacável. Um medo que ela fazia de tudo para esconder de Iori.

 — Mesmo que não tenha me dito nada, sei que a magoei naquele dia — Iori a segurava na ponta do queixo, deslizando o polegar pela bochecha de Mira, que estremeceu com a lembrança da tortura. Droga, praguejou Mira, assim que seu corpo acusou o medo para Iori, que sorriu satisfeito. — Eu a conheço melhor do que qualquer outro, minha cara. Sei exatamente o que passa no seu coração.

Aquelas palavras eram muito ambíguas e assustadoras. O que diabos ele quer me dizer com isso? Iori sabe sobre minhas intenções com o Naruto? Ou sobre a Hana? Iori Kuroshini não tinha a habilidade de ler mentes, mas era quase como se pudesse realmente fazer isso.

Mira engoliu em seco, procurando manter a compostura e a conversa sob controle.

— Então sabe que não fiquei magoada — apesar de tudo, não conseguia encará-lo assim, tão perto. — Como a vice-líder, minha obrigação é servir de exemplo para os demais. E isso é tudo.

Aquela resposta não poderia ter soado mais mentirosa, mas Iori não se importou.

— Eu já te disse, não? — tomando-a cuidadosamente pelo queixo, Iori obrigou Mira a olhá-lo nos olhos. — Você me faz lembrar dela, da minha esposa. Tem as mesmas feições delicadas, os traços tão finos e bem delimitados... como a obra-prima de um artista.

— Fico lisonjeada por ser comparada a uma deusa, mas não chego aos pés de Kaguya Ootsutsuki — com a mão, Mira se livrou da pegada de Iori. — Eu não passo de uma menina órfã que deu muito azar nesta vida. Agora, se me der licença, tenho um trabalho a fazer... — inclinou a cabeça — Líder-sama.

Iori mantinha o rosto apontado para Mira, e somente desviou o olhar poucos segundos antes de os primeiros raios de sol aparecerem sobre o oceano a leste. Por sua vez, Mira Uzumaki, que durante anos sentira-se segura na companhia de Iori Kuroshini, naquele momento se viu aliviada por lhe dar as costas e se afastar; e contava os segundos para que o parceiro, finalmente, a deixasse novamente a sós.

Iori sabia disso e, assim como antes, não se importou. Mira Uzumaki era sua propriedade e estava ligada a ele, assim como todos os Yuurei.

Calmamente, Iori Kuroshini retirou o capuz. Mas Mira se recusava a virar-se novamente. Sabia o que deveria esperar e não queria ver aquilo. Não tem o direito de usar o rosto dele, pensava Mira com amargura.

— Hoje vingarei o clã Uzumaki e o País do Redemoinho por você, minha cara — a voz de Iori saía completamente diferente do habitual, assim como toda sua aparência. Tornara-se gentil e pura. Agora, o líder dos Yuurei era um homem alto e pálido, com o cabelo tão ruivo quanto o de Mira. — Gostaria que estivesse ao meu lado, mas isso não será possível. Cuide bem do nosso Alvo Primário e... divirta-se.

O ar, num instante, voltou a ficar mais leve. Mira não precisou se virar para saber que estava novamente sozinha. O medo também havia sumido, dando lugar à uma raiva repentina.

Cobriu a boca com as duas mãos e abafou um grito. Infelizmente, ainda precisava de Iori Kuroshini para realizar o Banbutsu Souzou no Jutsu. Porém, naquele momento, Mira Uzumaki simplesmente abominava o demônio que chamava de parceiro.

— Boa sorte, Iori — murmurou Mira enquanto uma folha solitária surgira dançando com o vento diante de seus olhos. — Vai precisar.

 

 

                                                                            ***

 

 

O País do Relâmpago.

Eram sete espectros ao todo, de manto todo negro e capuz, que marchavam em formação de “V” sob a liderança de Iori Kuroshini. O Terceiro Oficial, Kioto Hyuuga, ocupava provisoriamente a posição de vice-líder à direita de Iori; e a Quarta Oficial, Suki, a posição de Kioto, à esquerda. Seguindo Kioto pelo flanco direito, vinham, nesta ordem, Hana Sakegari e Musashi Yamamoto, a Quinta e o Sétimo Oficiais. No flanco esquerdo, depois de Suki, seguiam respectivamente o Sexto e o Oitavo Oficiais, Kan e Shozu Ibuke.

Como já imaginavam, aquela área estava completamente selada para técnicas de espaço-tempo. Com o auxílio do Byakugan, os Yuurei haviam encontrado e desarmado trajas de selamento espalhadas ao longo do caminho — as quais, em conjunto, deveriam cobrir um raio de aproximadamente trinta quilômetros daquele ponto até a entrada da Vila Oculta da Nuvem. Uma medida de segurança um tanto previsível, mas até certo ponto eficaz, que vinha sendo implementada pelas vilas ocultas das Cinco Grandes Nações e até por outros países menores.

De qualquer forma, viajar pela escuridão direto para a Nuvem não seria possível, já que faltava descobrirem toda a rede de proteção ainda à frente. Restava-lhes, portanto, seguir por uma trilha repleta de armadilhas capazes de pegar qualquer um que não fosse natural do País do Relâmpago.

Porém, nada que escapasse dos olhos aguçados de Kioto Hyuuga.

O caminho era bem íngreme e tortuoso, com seus desfiladeiros e paredões rochosos que mais pareciam um labirinto natural interminável. Construída dentro da cadeia de montanhas mais altas do País do Relâmpago, a Vila Oculta da Nuvem se escondia, literalmente, entre as nuvens. Nuvens de tempestade. Tão negras, densas e assombrosamente barulhentas, que ficavam ainda mais terríveis — e próximas — à medida em que subiam a montanha. Raios riscavam o céu escuro e trovões rugiam não tão distantes de suas cabeças.

Depois de mais um trovão rimbombar perto deles, Kan finalmente ergueu os olhos para o céu.

— O clima está bem estranho, não acham?

— Por que diz isso, Kan-senpai? — perguntou Shozu, com seu típico sorriso maníaco estampado na face. — Percebeu alguma coisa?

— Há muitos raios...

— Genial! — ironizou Hana. — E eu aqui me perguntando por que este lugar é chamado de País do Relâmpago...

Até Suki escondeu uma risada.

— Sua idiota! — Kan tinha o rosto vermelho. — Juha-senpai e eu já viemos aqui antes, se lembra? Nem de longe parecia com isso aqui.

— Quem liga? — Hana deu de ombros. — Se quer saber, subir isso tudo a pé é a verdadeira desgraça... — suspirou. — Estou cansada, quero só acabar logo com isso e voltar.

— Você anda meio debilitada ultimamente, hein? — provocou Kan.

Kioto olhou para Hana por sobre o ombro.

— Debilitada, eu? Claro que não! — Hana titubeou embaraçada. — Só não estou acostumada a fazer tanto esforço assim, seu idiota! — defendeu-se e rapidamente acrescentou: — Quero voltar logo para ver a Mira-sama contra o Naruto. É isso!

— Nisto concordamos, Hana-chan — disse Shozu antes de Kan. — Também estou bastante curioso quanto a Naruto Uzumaki.

— Por quê? Ele já te deu um pau antes. Quer relembrar a sensação?

Shozu apenas riu.

 — Hana-chan, você parece não gostar muito de mim.

— Tem razão, eu não gosto de você.

— Sério? E por quê? — Shozu mantinha o rosto sempre sorridente.

Hana, que sustentava uma expressão analítica para o novato, deu de ombros.

— Você é esquisito... e feio.

A marcha dos Yuurei prosseguiu montanha acima até que o grupo se deparou ante um enorme despenhadeiro cuja profundidade era coberta por uma densa neblina e as margens longínquas conectadas por uma ponte estreita e plana. A ponte mais parecia um fio esticado no meio de um abismo sem fundo. Mas tão logo fizessem a travessia, os Yuurei estariam praticamente às portas da Vila Oculta da Nuvem.

Só havia um obstáculo no caminho.

— Quem é aquele cara do outro lado? — perguntou Kan.

Daquela distância somente Kioto Hyuuga teria uma visão nítida. Os Yuurei, no entanto, viam que se tratava de um Shinobi, pois o sujeito empunhava uma catana negra na mão esquerda enfaixada, embarreirando-lhes o caminho. A julgar pela altura, era quase certo se tratar mesmo de um homem. Vestia-se todo de preto, tal como os Yuurei, exceto por que não usava capuz. A capa, também negra, tremulava ao vento às suas costas.

Kioto Hyuuga examinou-o com o Byakugan; e ao fazê-lo, imediatamente, franziu o cenho.

— O que foi, Kioto? — perguntou Suki, impaciente. — Quem é ele?

Kioto Hyuuga logo reconheceu aquele rosto frio como a morte, e o único par de olhos que, em todo o mundo ninja, era mais forte que seu Byakugan. Quanto à identidade daquele homem, não restava qualquer dúvida. Ainda assim, Kioto se sentia intrigado quanto ao inimigo. A começar, por que ele estava ali? Mas não somente isso.

Aquele braço esquerdo é feito das células do Primeiro Hokage, analisou o Yuurei, e a espada dele... aquilo é Meiton?!

Sobriamente, Kioto se dirigiu ao líder:

— É Sasuke Uchiha.

Em meio à perplexidade dos Yuurei, Sasuke apontou a catana para aquele que liderava a formação inimiga. Os Yuurei imediatamente se calaram para ouvi-lo falar.

— Estou aqui para matar Iori Kuroshini — disse Sasuke com a voz ecoando através do abismo. — É você?

 

 

                                                                            ***

 

 

Ao contrário do que ele esperava a partir da história de Kishimoto e dos demais pescadores, não encontrou tempestades, vendavais, neblina nem redemoinhos; o País do Redemoinho não lhe parecia diferente de qualquer outra ilha paradisíaca, exceto pela sensação mista de beleza, solidão e ruína que pairava no ar.

Naruto seguiu da praia diretamente para a antiga Vila Oculta do Redemoinho, guiando-se pela única frequência de chakra existente em toda ilha além da dele próprio e as dos dois Sábios. Diferentemente de minutos atrás, quando havia sentido outra presença ali na ilha — a de Iori Kuroshini —, agora, a cada novo passo, mais Naruto Uzumaki estava convicto de que não existiria qualquer emboscada dos Yuurei. Seriam apenas Mira Uzumaki e ele, como deveria ser desde o começo.

Mira Uzumaki...

Naruto não sabia dizer ao certo. Certamente, não era medo nem hesitação o que sentia, mas era como se um filme estivesse passando em sua cabeça, levando-o de volta ao fatídico dia em que havia encontrado Mira pela primeira vez. Desde então, como agora, a vice-líder dos Yuurei tinha um espaço reservado em sua mente — mas nem sempre, para a própria incredulidade de Naruto, como uma estranha.

Mais adiante, Naruto passou a escutar o som. Era um sopro calmo e triste viajando do ar para os seus ouvidos, e dos ouvidos para o seu coração. A princípio pensou tratar-se de um Genjutsu, mas logo descartou tal possibilidade. É uma flauta, disse a si mesmo.

A música se tornava cada vez mais alta à medida que Naruto seguia o chakra da Yuurei. Já estava mais do que claro que Mira Uzumaki o estava, de todas as formas, conduzindo até ela. Naruto inspirou fundo e apertou o passo.

Então, ele a viu; e sequer precisou entrar nas ruínas da Vila Oculta do Redemoinho. Mira Uzumaki estava sentada num pequeno barranco à beira do caminho; a capa negra e os cabelos ruivos, esparramados pela grama verdinha. Mira ainda tinha os lábios soprando sobre a pequena flauta de bambu, totalmente concentrada na música.

Mas parou logo em seguida. Cuidadosamente, Mira guardou a flauta de bambu e só então ergueu o rosto para encarar o par de olhos amarelos que a observavam ameaçadoramente do pé do barranco. Assim que seus olhares se conectaram, a vice-líder dos Yuurei dirigiu um sorriso suave para o jovem Herói do Mundo Ninja.

— Você finalmente veio, depois de me fazer esperar por tanto tempo — disse ela. — Apesar de tudo, as coisas aconteceram como eu havia imaginado, ou talvez até melhor. O que você acha, Naruto?

Não era apenas o rosto de Mira Uzumaki, mas também a voz, o penteado, a altura, os olhos, o sorriso, tudo naquela mulher era exatamente como vira em sua mãe, Kushina. Era como encontrá-la outra vez, mas agora em carne e osso; e isso era simplesmente perturbador em todos os aspectos.

Naruto cerrou as duas mãos, calando seus sentimentos mais profundos à força.

— Eu estou aqui e é só o que importa.

— De fato.

Mira Uzumaki se pôs em pé no barranco. Seu sorriso enigmático, assim como o olhar, mantinha-se sobre o ninja da Vila Oculta da Folha. A vice-líder dos Yuurei se curvou em uma ligeira mesura.

— Seja bem-vindo ao País do Redemoinho, Naruto Uzumaki.


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Notas finais do capítulo

Muita coisa aconteceu hoje, não?


MIra confirmando a morte da Temari e assumindo a responsabilidade, Shikamaru cozinhando a vingança, declaração de guerra aos Yuurei, Shozu Ibuke recebendo o Yami no Fuuin (e por que Iori quis recrutá-lo), um momento SasuSaku (porque uma das propostas desta história é abordar romance e o desenvolvimento dos casais), uma conversa reveladora entre Mira e Hana, outra entre Mira e Iori, os Yuurei no País do Relâmpago, com o Sasuke os esperando e, POR FIM, o encontro que todo mundo (ou não) queria ver.


Foi um capítulo bem cheio. Espero que tenham gostado dele :)


Duas lutas acontecendo simultaneamente. Naruto vs. Mira de um lado, Sasuke vs. Iori do outro. Senhoras e senhores, façam suas apostas!


***


Próximo capítulo: [SPOILER]
14/10/2022 (sim, vou pegar mais uma semana de vocês. Perdoem-me, é por uma boa causa).


***

Quem puder dar aquela força nos comentários, ou até recomendando esta história, fará este autor mais feliz!
Observações, opiniões, comentários, críticas... fiquem à vontade! Aceito até xingamento por destruir ShikaTema (contém ironia).


***

Obs.: o capítulo foi revisado, maaaas caso ainda haja algum erro, por favor, sinalizem pra mim que consertarei.


Muito obrigado por acompanharem até aqui!


Até o próximo capítulo o/