Aquele Que Veio do Mar escrita por Ri Naldo


Capítulo 27
Zebras


Notas iniciais do capítulo

Mirina, taí, Colan, aproveite, vai ser a última vez, não quero essas viadagi na minha fanfic



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Dylan, a próxima viagem que vocês farão vai ser a última, é tudo que eu sei. Então o próximo destino de vocês vai ser o final.

— Onde eu estou?

No aquário.

— Você tá aqui também?

Não.

— E como…

Você está dormindo.

— Mas…

Sim, os deuses podem fazer isso às vezes, mas se me pegarem…

— E como você sabe que a próxima viagem vai ser a última?

Eu tenho meus contatos, não se preocupe com isso. Vamos dizer apenas que não quiseram me dar todas as informações.

— Mas… eu não tô preparado, eu… eu pensei que fosse demorar mais…

Você devia estar preparado desde o começo, nunca se sabe o que pode acontecer numa missão, é tudo muito imprevisível.

— Nós ainda temos algum tempo.

Vocês têm que ir o mais rápido que puderem, sem desculpas, também não sabemos o que quem está com o Percy tem em mente.

— Mas é um ciclope, não é? Foi o que a profecia disse.

As profecias geralmente têm muitos devaneios, Dylan. Dezenas de significados para uma só palavra.

— Não consigo achar outro significado para “ciclope”.

Não foi isso que eu quis dizer. Agora eu tenho que ir. Boa sorte, filho.

— Não, esp...

Mas eu acordei com a cabeça pousada em uma superfície macia, e, de tão confortável, deixei minha cabeça lá por alguns instantes, até perceber que a superfície era a barriga de Colin. Me levantei com um impulso, acordando todos, inclusive a cadela.

— O que foi, Dylan? — perguntou Julieta, coçando o olho.

— Que horas são?

— Não sei.

— Levantem-se, temos que ir.

Saí do aquário, procurando por alguém que tivesse um relógio.

— Ei, senhor, que horas são? — perguntei pra um cara que tava dando uma olhada na jaula dos leões.

— Seis da tarde. É impressão minha ou você saiu do aquário abandonado?

— O quê? Ah. É impressão sua. Obrigado — e saí, entrando discretamente no aquário de novo.

— E aí? — perguntou Louise.

— Seis da tarde, dá pra acreditar? Agora só temos dois dias…

— O quê? Seis da tarde? Deuses — disse Colin, se levantando e pondo-se a arrumar as mochilas.

— Nossa comida tá acabando… — percebeu Julieta, naturalmente.

— Olhe ao seu redor, há muita comida, se quer saber…

— Muito engraçado. Você quem deveria comer comida de peixe, filho de Poseidon.

— Ei — levantei o dedo — só porque sou filho do deus dos mares não significa que eu seja um peixe.

— Você até parece um pouco com um — observou Colin.

— Ha. Ha. Ha.

— Vamos parar de mi mi mi e ir logo com isso? — falou Louise, irritada. Ela tinha razão. — Venha logo, sua imunda — Louise estava tentando puxar a Sra. O’Leary, que empacara no chão.

— Acho que ela tá com fome — falei.

— Não sei se vocês sabem, mas não temos comida suficiente nem pra nós — Julieta falou.

— Ué, vamos comprar.

— Dylan, hoje é domingo — observou Colin.

— E…

— E que ninguém vende carne no domingo.

— E o que vamos fazer?

Louise olhou pra mim, eu olhei pra Julieta, que olhou pra Colin.

— Ah, não, nem pensar. Eu não vou fazer isso — falei, balançando a cabeça.

_

— Vá na cela das zebras, você pode falar com elas, não é? — falou Louise.

— E como é que eu vou convencê-las a dar a comida delas pra mim?

— Você não vai, é só roubar.

— E se ela começar a gritar ou coisa assim?

— Zebras não gritam, elas zurram. Nenhum animal grita — Colin revirou os olhos.

— É, zurram pra vocês, mas eu posso entender muito bem.

— E o que geralmente elas dizem? — Julieta perguntou.

— Nada demais, só coisas como “vai se f…

Um apito tocou ao longe.

— Ah, é o sinal que o zoológico tá fechando. É só esperar mais um pouco.

Julieta ficou escondida do lado de fora do aquário, verificando se ainda tinha gente lá. Um tempo depois, ela atirou uma flecha, sinal que estava tudo limpo.

— Se você não voltar com um saco de comida, nem precisa voltar — avisou Louise.

— Não é você que vai arriscar o traseiro, é?

— Cale a boca.

A jaula das zebras não era nem de longe limpa. Montes de cocô se espalhavam aqui e ali, e foi um necessário um tanto de trabalho para abrir o cadeado. Gabriel bem que poderia ajudar agora.

— Hã… Olá.

Humano idiota, por que está falando com zebras, sabendo que ele não pode nos entender?

— Na verdade eu entendo vocês sim. E eu não sou humano. Bem, só metade.

Interessante… E a outra metade é o quê?

— Deus.

As zebras pareceram rir.

É mesmo? Engraçado.

— Bom, engraçado seria se vocês, por algum motivo, ficassem sem água a noite toda — levantei a mão, e pensei na água do bebedouro das zebras vindo até mim, flutuando acima da minha mão, o que de fato aconteceu. Agora elas pareciam surpresas.

Ouvimos histórias de outro como você, que também falava com zebras, mas isso só aconteceu uma vez, anos atrás, em um lugar longe daqui. Las Vegas, acho.

— Estamos procurando por esse semideus em especial, ele foi raptado.

Boa sorte, então. Mas, afinal, o que você está fazendo aqui?

— Eu quero comida.

A nossa comida, não, nunca.

Aproximei a água do chão.

NÃO! Não faça isso, só um saco, apenas um.

— É tudo que eu preciso — fui até os fundos da jaula, onde os comedouros, cheios de comida, ficavam, perto do estoque. Peguei um saco e acenei para as zebras, sorrindo. Mas, antes de sair, elas começaram a me cercar. Levantei a mão de novo.

Nem sequer pense em fazer isso… Só vai tornar sua morte mais dolorosa. Ninguém. Rouba. Nossa. Comida.

A cada palavra elas foram se aproximando mais e mais de mim, até que ficaram tão próximas que podiam me atacar a qualquer momento, não tinha saída. Até que…

— Cara, você não sabe fazer nada sozinho, não é? — disse Louise, entrando na jaula. — Então, vocês podem deixar ele ir do jeito fácil, ou do jeito difícil — na palavra “difícil”, ela levantou a lança, e seus olhos faiscaram. — Eu prefiro o difícil, se quer saber.

As zebras imediatamente se dispersaram para os cantos da jaula, com medo de Louise.

— Venha logo — ela disse, me puxando até o aquário novamente.

— O que aconteceu? — perguntaram Colin e Julieta.

— Elas quase mataram o Dylan.

— Ei!

Louise abriu o saco e despejou em um monte perto da Sra. O’Leary, que comeu em silêncio, ou tanto quanto podia fazer.

— É melhor ficar safisfeita — disse.

_

— Tudo pronto aí? O.K.

Louise assobiou, e partimos para mais uma viagem, só que essa não foi como as outras, foi um tanto… diferente. Em vez que ficarmos seguros nas costas da Sra. O’Leary, nos soltamos, gritando sem voz.

Tive um pouso um tanto agitado. Caí de cara no chão de algum lugar, desmaiando imediatamente. Acordei em um lugar que eu não conhecia, deitado em uma cama. Estava com a cabeça e o braço doendo, parecia tê-lo quebrado de novo. Estava com um pano molhado na testa, e minha visão estava turva. E o mais importante:

Eu estava sozinho.


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