Aquele Que Veio do Mar escrita por Ri Naldo


Capítulo 25
Internato




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Corri até ele, gritando.

— Sr. Blake! Sr. Blake! — eu corria e sorria feito um louco. Achei que nunca mais ia vê-lo.

— Dylan — ele me abraçou, e eu senti novamente o cheiro de enseada que vinha da camisa havaiana dele.

— Essa semana foi tão agitada, eu fui na lanchonete e… — eu me interrompi.

Não tinha certeza se o Sr. Blake iria acreditar em mim, ou se eu deveria estar contando isso a ele.

— Eu sei exatamente o que aconteceu — ele sorria. — Você ainda tem aquele mp3 que eu lhe dei?

— Hã… tenho sim, mas…

— Posso vê-lo?

— Claro.

Tirei o mp3 da mochila e entreguei a ele, que analisou como se fosse uma relíquia antiga.

— Receei muito em dá-lo pra você, Dylan, eu costumava usar isso aqui, é uma das melhores que já produziram.

— Um das? Então você sabe que é uma…

— Espada? Sim. Eu mesmo a encomendei para os ciclopes. Os melhores ferreiros depois de Hefesto, você sabe — ele continuava com o sorriso no rosto. Parecia estar se divertindo com minha expressão de pura perplexidade.

— Ciclopes? Hefesto? Então você sabe dos deuses e tudo o mais?

— Claro que sei, eu sou um deles. Dylan, eu sou seu pai, Poseidon.

Essa era uma situação que eu nunca, em hipótese alguma, teria imaginado, então eu apenas fiquei de queixo caído, olhando fixamente para ele até que Louise chegasse no meu encalço.

— Ei, vamos ou não? Temos que achar algum lugar pra ficar até a Sra. O’Leary descansar. Não podemos perder mais tempo, você sabe disso. E quem é esse velhote aí?

— Velhote? — Sr. Bl… Poseidon deu uma risada. — É, devo realmente estar ficando velho. Seu pai não está muito melhor também.

Louise olhou como se ele fosse insano.

— Você não sabe quem é meu pai.

— Ah, como sei. Já discuti muito com ele… E com a mãe daquele loirinho ali também — ele apontou para Colin, que estava sentado ao lado de Julieta, que olhavam para a gente.

— Ah, é? Então vamos, quem é meu pai? — Louise falou, em tom de desafio.

— Ares, deus da guerra. A mãe do loirinho ali é Atena, deusa da sabedoria. E o pai da loira é Apolo, deus do sol, um cara legal, aliás.

O queixo de Louise também caiu, mas logo voltou a subir.

— E quem é o pai dele? — ela apontou pra mim.

— Louise, voc…

— Shhh, Dylan.

— Eu sou o pai dele — Poseidon respondeu.

Louise riu.

— Você? Poseidon? Aqui na nossa frente? — ela cruzou os braços. — Prove.

Poseidon sorriu. Ele estalou os dedos, e o mundo ao nosso redor mudou. Estávamos em cima de uma pedra no meio do mar, com as ondas batendo fortemente nas bordas, e eu até podia sentir os pingos de água salpicando na minha pele. E Poseidon não estava mais com seu terno e sua camisa havaiana, estava com uma toga grega azul, e segurava um tridente, no topo de um rochedo acima de nós. O oceano parecia se dobrar perante ele. Depois de mais ou menos cinco segundos tudo voltou ao normal. Agora era Louise quem estava com a boca completamente aberta.

— Hum… peguei pesado demais? — perguntou Poseidon.

— Dylan… É… é o seu pai.

— Eu sei — falei, ainda perplexo.

— Dylan — o sorriso se esvaiu do rosto dele, ele parecia querer uma conversa séria agora. — Eu também sei por que você está aqui. Percy foi raptado, e corre risco de morrer. Nem os deuses sabem por quem. É a sua missão, ou melhor, a missão de vocês descobrir por quem, e trazer ele vivo. Eu não posso lhe ajudar, os deuses me abominariam. Mas eu vou fazer o que eu posso fazer.

— E o que exatamente você pode fazer?

— Eu sei pelo que você passou para chegar até aqui. Eu estava lhe assistindo a todo momento. Dylan, uma responsabilidade enorme lhe espera. Eu peço a você que busque a razão, não o seu coração.

— Um momento, deixe-me adivinhar, você não pode me contar?

— Mudar o futuro é extremamente proibido.

— Certo — falei, aborrecido. Já haviam escondido muitas coisas de mim, e eu odiava isso com todas as minhas forças.

— Me desculpe, mesmo. Eu tenho que ir. Juro pelo Rio Estige que vou ajudá-los da forma que puder.

Ele se abaixou e beijou minha testa. Ainda parecia um sonho, treze anos depois eu encontrar meu pai, treze anos. Eu tinha tantas perguntas pra ele… “Por que você não me visitou?”, “Por que não estava lá quando minha mãe morreu?”, “Por que não impediu que Percy fosse sequestrado?”, “Por que me fez?”; mas eu sabia que a resposta pra todas seria “Porque não pude” — menos a última, que seria “porque não pude evitar”. Então sumiu. Apenas sumiu.

— Hã… Dylan, temos que ir também — Louise falou, passando a mão na frente do meu rosto, tentando me tirar do meu estado de transe.

— Eu tenho que pegar uma coisa.

Então, sem pensar nas consequências, eu entrei no meu antigo internato. Ignorei os olhares perplexos que me seguiam — deveria ser estranho pra eles eu ter sumido uma semana atrás e voltado agora —, mas, afinal, quem ligava?

Entrei no meu antigo dormitório, e senti o mesmo cheiro de doce devido ao estoque ilegal que meus “colegas” de quarto mantinham. Se eu contasse, apanharia, então eu sempre fiquei calado, mas agora eu já não tinha medo deles.

— Dylan? Onde você estava?

— É, cara! Você sumiu!

E eu apenas ignorava. Procurei por minhas coisas que eu havia deixado ali.

— Cadê as minhas coisas?

— O Tobias quase jogou fora! Mas a Sra. Mabel não deixou, e guardou com ela, tinha esperanças que você voltasse, sabe… — disse Mike, um dos meus “colegas”. Pra falar a verdade, era a primeira vez que eu falava com ele, sempre foi “oi” e “olá”.

— Quem é Sra. Mabel? — perguntei, confuso.

— A nossa coordenadora, cara. Onde você tá com a cabeça?

— E a Sra. Ruby?

— Quem é Sra. Ruby? — ele perguntou, confuso.

Olhei pra ele como se ele fosse louco, e ele olhou pra mim do mesmo jeito. Fiz um sinal de “esqueça” com a mão pra ele. Saí em direção à sala da coordenadora, e acabei topando com Tobias no caminho.

— Olhe só quem está de volta. O viadinho.

— Vá se ferrar.

— O que você disse? — ele se aproximou de mim, com o punho fechado.

— Vá se ferrar. Você é tão burro que vou ter que escrever? Aliás, nem sei se você sabe ler.

Ele bufou e avançou pra cima de mim. Eu desviei do primeiro golpe, do segundo e do terceiro — as aulas de esgrima no Acampamento me foram úteis, afinal. Agora era minha vez, dei-lhe um soco na barriga e um chute no Tobias Junior. Ele caiu, resmungando com a voz fina como se tivesse inspirado um balão de gás hélio. As pessoas ao redor estavam boquiabertas com minha reação.

— Vocês vêm também? — falei, em tom de desafio, para os dois amigos gordos de Tobias, que andavam sempre com ele.

Eles viraram de costas e correram. Ouvi a porta ao meu lado abrir, e uma mulher de cabelos negros e rosto dócil apareceu.

— O que est.. Dylan?! Quando você chegou aqui? — apesar de ela me conhecer, eu nunca tinha visto aquela mulher na vida.

— Dez minutos atrás. Onde estão as minhas coisas?

— Aqui, mas...

Entrei na sala dela, sem nem pedir permissão. Eu queria sair daquele lugar o mais rápido possível.

Numa caixa encostada no canto da sala estavam minhas roupas, minha antiga mochila e um porta-retrato, que era exatamente o que eu queria. Fiquei admirando a foto por alguns minutos antes de eu colocá-la na bolsa. Como eu disse antes, era a única foto que eu tinha da minha mãe. Quando eu estava saindo, a Sra. Mabel perguntou.

— Onde você vai?

— Eu tenho um amigo pra salvar. Desculpem, vocês nunca vão me ver de novo.


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