Ben não acreditou no que viu e resolveu entrar para tirar satisfação

–- Seu desgraçado – disse Ben partindo em direção a Leonardo e lhe dando um encontrão para afasta-lo de vez de Anita

–- Para Ben, não faça isso, não é nada do que você está imaginando se acalma e deixa que eu resolvo esta situação é melhor você sair você está muito nervoso – pediu Anita segurando o namorado

–- Oi? – perguntou ele se virando para ela

–- Pro seu bem é melhor você se acalmar, deixa comigo

– Anita o que você está fazendo! – olhou Ben incrédulo para ela – Você está me pedindo para sair do seu quarto para ficar aqui com esse cara... Desculpa ter atrapalhado o espetáculo de horror – disse o garoto batendo a porta com raiva

–- Não Ben não foi isso, espera aí – gritou Anita em vão e em completo desespero correndo atrás dele

–- Para! Fica aí, não vem comigo que vai ser pior, você já fez a sua escolha – disse o garoto no pé da escada completamente desapontado

–- Você está entendendo tudo errado! O que você viu não ... – ela insistiu descendo alguns degraus, mas foi interrompida

–- Eu não quero mais saber, dá para respeitar a minha vontade? Vai ser melhor assim, pode acreditar – disse ele dando as costas para ela e saindo de casa

–- Ben! – balbuciou Anita não segurando as lágrimas

–- Anita? – chamou Leonardo sem jeito

– Olha o que você fez! – disse ela voltando ao quarto e se sentando no chão como se lhe faltassem as pernas

–- Calma Anita, não fica assim eu posso resolver isso – falou Leonardo

–- Como me explica? – perguntou Anita de forma ríspida e irônica

–- Eu posso falar com o Ben, fui eu que te beijei, ele vai ter que entender isso

–- Eu fiz tudo errado eu dei a entender que preferia você aqui e não ele – disse ela aos prantos

–- Eu vou atrás dele e trazer ele de volta agora – decidiu Léo

–- Você não se atreva, o meu namorado é assunto meu, não se mete mais entre a gente – falou Anita se levantando e ganhando uma força que lhe proporcionou uma voz firme

–- Desculpe eu acho que acabei confundindo tudo, mas eu tinha certeza que você estava sentindo o mesmo que eu, que estava se envolvendo – falou Leonardo

–- Eu também tinha certeza que você sentia o mesmo que eu, para mim nós éramos amigos e aliado a isso eu tinha um sentimento de gratidão pelas vezes que você me ajudou com trabalho – disse Anita

–- Eu me apaixonei, você sempre estava tão presente e interessada que eu não estava conseguindo mais disfarçar. Só não viu quem não quis! – falou Leonardo atordoado

–- Eu nunca te dei este tipo de entrada e muito menos esperanças Leonardo e eu nunca percebi nada, para mim você era apenas um cara muito legal e não um sujeito com segundas intenções e agindo na surdina ... Eu ainda te defendi ...tantas vezes ... Meu Deus me ajuda – ela se lamentou em súplica

–- Não posso ter confundido tudo ...

–- O que você está falando garoto, será que ainda não entendeu? Eu amo o Ben ele é o amor da minha vida – gritou Anita

–- Mas eu era claro Anita e você não me brecou, não sou essa pessoa desleal, se insisti é porque enxerguei uma chance

–- E com a Marcela também? – perguntou Anita

–- O que que tem a Marcela? Como ela veio parar aqui nesta conversa? – indagou Leonardo curioso

–- Sempre achei que vocês gostavam um do outro e você sempre tratou ela com muito carinho e até crise de ciúmes dela com o Daniel você já teve

–- Ela é linda, alegre, agradável, mas a vejo como amiga, talvez se eu não tivesse me encantado com você ela até seria a garota perfeita, mas agora não tem mais espaço. E o Daniel é um cafajeste, está cada dia como uma garota diferente, como amigo eu não posso querer que ela se envolva com um cara daquele tipo. E porque isso agora?

–- Porque acho que você nem sabe o que quer de verdade e mesmo assim aprontou essa grande confusão. Você não sabe o que sente é um irresponsável, e dobre a língua para falar do Daniel ele pelo menos é autêntico e honesto com os sentimentos dele e dos outros – esbravejou Anita

–- Eu sei sim o que eu quero

–- O Ben tinha razão o tempo todo quando falava de você, como eu fui burra – constatou Anita

–- Tinha, o ciúme dele era justificável – admitiu Léo

–- E você fala isso com orgulho? Repito eu fui burra – gritou Anita aflita

–- Não eu não me orgulho, na verdade eu nem me reconheço, não sou um canalha e nunca fui de passar por cima das pessoas como eu fiz com o Ben que é um cara legal, mas foi mais forte do que eu e do que dos meus princípios

–- Você se lembra daquele dia na comunidade que eu te contei que já tinha pensado em desistir da minha vida uma vez?

–- Lembro! – respondeu Leonardo confuso

–- Então, entre algumas outras coisas, que não valem a pena serem comentadas, a causa mais importante que me fazia querer desistir era o fato de ter perdido o Ben, eu espero que você não tenha me jogado neste inferno novamente – disse Anita chorando

–- Não fala isso por favor, me diz como eu posso te ajudar, o que devo fazer para consertar essa confusão toda? -- ele falou desconcertado com a aflição dela

–- Sair do meu quarto, da minha casa e principalmente sumir da minha vida – ordenou Anita

Leonardo acatou o pedido e foi embora, Anita saiu logo depois mesmo contrariando o desejo do namorado. A garota procurou sem êxito por Ben em todos os cantos do Grajaú e voltou para casa após perceber que sua busca seria em vão. O garoto devia estar decidido a não aparecer na sua frente e ele era mestre na arte de despistar alguém. Já em casa ela decidiu esperar pelo namorado no quarto dele, mais cedo ou mais tarde ele teria de aparecer

Enquanto Anita esperava por Ben a ansiedade a consumia e esse sentimento só piorava a medida em que a hora começou a andar em compasso diferente, a cada intervalo de uma hora em que ela olhava para o relógio constatava que oficialmente apenas cinco minutos haviam se passado. Neste período de total paralização de sua vida, ela pensou em diversas situações e tentou ensaiar formas de conversar com o namorado, mas tudo em vão, pois no íntimo ela sabia que os dois sempre se resolviam pelo olhar, e seria justamente a intensidade deste momento, o primeiro contato visual, que iria ditar o rumo da prosa.

Mais alguns intermináveis cinco minutos haviam se passado sem nenhum sinal de Ben até que Anita ouviu o ruído de uma porta se abrindo, e naqueles poucos segundos que separaram o som da maçaneta e a luz do corredor se tornando algo real ela encheu seu peito de ar e o coração de esperança ...

–- Oi, você demorou – foram as primeiras palavras encontradas por Anita

–- Estava me esperando? -- perguntou o rapaz fechando a porta

–- O que você acha? Eu preciso muito te contar o que aconteceu e acabar com esse mal entendido -- disse ela com a voz trêmula

–- O que! Agora você já pode falar comigo? Porque mais cedo você preferiu a companhia do Leonardo – disse ele muito magoado

–- Eu tentei sim me explicar e você me deu as costas

–- Ah sim! Depois do leite derramado, depois de se colocar na frente para proteger aquele cara e depois de me pedir com todas as letras para sair do seu quarto? -- ele indagou com ressentimento

–- Não foi nada disso, eu só não queria que você se envolvesse numa briga aqui dentro de casa, quis te poupar – explicou a menina

–- Me senti muito bem com essa consideração, obrigado – disse ele em tom irônico

–- O pessoal já chegou? Quando eu voltei para casa ainda não tinha ninguém – indagou Anita

–- Não sei, não me preocupei com isso, agora eu só vi a Vera preparando o jantar, já até adiantei que estou indisposto e que não vou descer para jantar. Não tenho a menor condição de encarar a família hoje – respondeu Ben

–- Você contou alguma coisa para ela? – perguntou Anita

–- Contar o que? Nem tenho o que contar ainda Anita – disse ele desapontado

–- Aonde você foi? Está encharcado pode pegar uma gripe, tira essa roupa – disse ela preocupada

–- É estava andando por aí, nem reparei quando choveu – disse ele sem se importar muito

–- Achei que não voltaria hoje – ela disse

–- Era tudo que eu queria, desaparecer, mas lembrei que tenho que resolver uma pendência do trabalho e o arquivo está salvo só no meu notebook – respondeu Ben encarando a parede

–- Você também está todo arranhado, olha o seu braço ... deixa eu cuidar desse machucado -- pediu Anita se aproximando

–- Não precisa, o Hernandez já limpou e fez o que tinha que ser feito, eu encontrei com ele vindo para cá – disse ele se desvencilhando das mãos dela

–- Fez Parkour?

–- Sim! Estava precisando pensar e colocar as ideias no lugar

–- Conseguiu?

–- Consegui cair do muro, não foi possível me concentrar em nada, pelo menos a dor da queda serviu para amenizar o resto

– Eu te procurei lá no bosque e não te encontrei, te procurei por todos os lugares – falou Anita

–- Eu também andei por todos os lugares – disse o rapaz com tom baixo e desanimado

–- Nos desencontramos então

–- Você nem imagina o quanto! – disse ele

–- Engano seu não há desencontro que dure, os nossos corações sempre irão se procurar e se encontrar – declarou Anita

–- Seria bonito isso se a vida real não fosse dura demais – falou encobrindo o rosto com as mãos

–- Ben por favor não faz isso com a gente – disse Anita com os olhos marejados

–- Eu fazer Anita, você tem certeza do que você está falando?

–- Acredita em mim, eu não tive a intenção, eu não tinha percebido nada

–- Difícil isso hein! Estava tão claro e eu te alertei diversas vezes, se o Leonardo chegou a esse ponto foi porque não encontrou resistência – falou Ben muito chateado

–- Você está sendo injusto eu me afastei dele por sua causa, como você pode dizer que eu facilitei? -- perguntou Anita nervosa

–- Se afastou? Se a amizade tinha esfriado ... então o que eu vi foi realmente o que pareceu ... um flerte? Mas também porque a surpresa!

–- Não distorce as coisas que eu digo! Você precisa confiar em mim! – suplicou a menina

–- Confiar Anita! Eu acho que eu confiei até demais ... porque mesmo percebendo as reais intenções do seu amigo eu continuei convivendo com a amizade de vocês. Confiei em você, na gente e até mesmo na decência que eu imaginei que existisse no Leonardo. Agora eu vejo que se eu tivesse dado um basta lá atrás naquele episódio da mangueira hoje eu não estaria passando pelo o que eu estou passando

–- O que você quer dizer com isso? ... um basta!

–- Um basta Anita ... ter quebrado a cara dele, ter sumido, saído do caminho ... sei lá, mas devia ter tomado uma atitude

–-Saído do caminho ...! O que você está falando? Olha aqui a minha mão eu estou usando aquele anel que você me deu nos meus 18 anos é o nosso pacto para a vida toda, eu nunca mais tirei ele do dedo. Você acha que iria trair esse compromisso dessa forma?

–- Não foi a primeira vez que você aceitou um anel, eu já soube de outros dois, aliás no dia em que eu cheguei ao Brasil você estava aceitando um deles e aquele relacionamento pelo visto não era coisa séria – falou Ben sendo sarcástico

–- Você está sendo leviano e me ofendendo, você sabe muito bem que naquele dia eu não aceitei anel nenhum, eu apenas não tive coragem de recusar ali na frente de todo mundo e deixar o Martin em uma situação constrangedora – afirmou Anita

–-Será?

–- Isso está indo longe demais Ben

–- Ah que bom ... até que enfim chegamos num acordo

–- Você está olhando nos meus olhos, não é possível que não esteja enxergando o meu amor por você – falou a menina

–- Hoje eu não estou enxergando mais nada, eu já vi muita coisa que não queria ter visto, chega! Estou muito cansado confuso e preciso pensar e nem isso eu estou conseguindo – disse o garoto passando as mãos no rosto e desviando o olhar

–- Pensar em que? – perguntou Anita aflita

–- Em tudo que aconteceu hoje ... você acha pouco? -- indagou ele virando a cabeça para encarar a garota novamente

–- Pois é, hoje mais cedo a gente estava muito bem, você me fez uma linda declaração. Como pode ter virado tudo desse jeito?

–- Brincalhão o destino né? Quem diria que depois daquilo eu veria você beijando outro cara ...

–- Aquilo não foi um beijo

–- Tá bom então ... eu devo estar tendo alucinações

–- Ben por favor não termina o nosso namoro – pediu ela muito abalada e segurando as mãos dele

–- Anita não dificulta as coisas eu preciso ficar sozinho, será que você pode me dá licença? – pediu ele se levantando e caminhando até um canto do quarto

–- Não se o motivo for o beijo, porque eu não fiz nada te juro, me deixa explicar! – disse ela em meio as lágrimas

–- Não tem o que explicar eu sei o que eu vi, eu sei o tanto que eu te alertei em vão que isso ia acontecer e tudo que eu consegui de volta foi ser taxado de ciumento e implicante

–- Eu errei quando não te escutei ... mas não é possível que ... – falou ela desolada

–- Anita por favor! – pediu Ben

Autora: Carol