Ben e Anita se atrasaram no café da manhã e nas conversas com a família e quando chegaram no ponto, o ônibus tinha acabado de passar e o próximo só chegaria em meia hora

–- Droga! Agora com este imprevisto se pegarmos um sinal vermelho a mais ou ao menos dessincronizado pelo caminho perderemos o primeiro tempo, trânsito nem se pode imaginar né? – disse Anita

–- Calma Anita vai dar tudo certo e pelo que pude perceber essa primeira semana vai ser de muita falação e pouco conteúdo, se perdemos não fará tanta falta – ponderou Ben

–- Mas eu não quero perder

–- Também não quero, mas já que não há nada a ser feito será que a senhorita pode vir aqui começar a alegrar o meu dia?

–- Vou pensar no te caso – disse a menina fazendo doce

–- Tudo bem ... eu te pego a força – falou Ben a puxando com vigor pelo braço para um beijo quente

–- Nossa! Que foi isso? – perguntou Anita surpresa

–- Saudade misturada com um sonho lindo que tive com você e somada a sua presença irresistível – disse ele dando outro beijo na garota

–- Você está inspirado mesmo, estou adorando ... continua ... – falou ela baixinho

Os dois ficaram o tempo todo de espera e no trajeto namorando de forma discreta. Tudo deu certo e eles chegaram na UFRJ a tempo, deram um beijo rápido de até breve e correram para as suas salas. As aulas dos dois transcorreram de forma parecida, como se fosse uma espécie de protocolo de boas-vindas. Quase que o tempo todo foi usado para se fazer uma introdução das matérias em questão e explicar como aquele período se desenvolveria. Depois do intervalo os professores tiveram pouco tempo de explanação.

–- Com licença professor, será que a gente pode entrar? – perguntou um grupo de amigos na porta da sala

–- Claro, entrem! Queridos novos alunos estes meninos aqui são colegas de vocês e fazem parte desta “gangue da bagunça”, mas são excelentes alunos e excelentes pessoas – explicou o professor

–- Desculpa interromper está aula magnífica, mas nós estamos aqui numa função muito importante para a vida acadêmica de vocês. Viemos nos apresentar e explicar um pouquinho de como será a dinâmica da nossa temporada de trotes.

Nessa hora se ouviu um burburinho na sala com algumas conversas paralelas, até que alguém resolveu falar e matar a curiosidade que era de todos

–- Temporada? Como assim? Quanto tempo vamos ficar pagando prendas, o trote não é num dia só? – perguntou um dos novatos

–- Ih calouro, marquei a sua cara, não sei se isso é bom ou ruim! Agora são dois que eu conheço desta turma – disse isso olhando diretamente para Anita e continuou

–- Primeiro deixa eu me apresentar, meu nome é Leonardo / Léo eu sou do terceiro período e estou falando em nome daquela rapaziada ali que é a “Comissão do Trote”. E agora respondendo a sua pergunta, sim será uma temporada e não, o trote não se resume a apenas um dia, vamos fazer várias atividades.

–- Ai galera, sei que estes marmanjos sarados, marombados e marrentos amedrontam à primeira vista, mas são todos corações moles podem ficar tranquilos – brincou o professor

–- É verdade vocês verão como somos bonzinhos! Bom primeiro eu quero esclarecer que o trote não é obrigatório e só participa quem quiser e sem represálias. O segundo ponto é que aquela coisa tradicional de sujar todo mundo e pedir dinheiro na rua é uma outra etapa e só acontecerá na semana que vem, mas não vou adiantar o dia, quem for esperto é melhor passar a vir com roupas velhas a partir de segunda – alertou Léo

–- Mas mancha? O que vocês pretendem fazer – perguntou um outro calouro

–- Não posso adiantar, mas para bom entendedor meia palavra basta – falou o veterano

–- Se essa parte é para semana que vem, o que vem agora? – perguntou Anita

–- Bom galera, hoje faremos umas brincadeirinhas de leve com vocês aqui em sala de aula mesmo só para já irmos nos conhecendo – falou um dos veteranos

–- Sim, mas também temos o “Trote do Bem”, todo ano a UFRJ se engaja em uma campanha ou projeto social e neste semestre não será diferente. Vocês devem ter visto o desabamento que aconteceu numa comunidade vizinha aqui da universidade – disse Leo

–- Sim, eu vi sim. Parece que tem algumas famílias desabrigadas e morando em abrigo – falou um novato

–- Pois é e como as autoridades estão demorando para ajuda-los, nós resolvemos fazer um mutirão de solidariedade. As coordenadorias de Arquitetura e Engenharia se juntaram e vão até o local ver o que podem fazer para reconstruir as casas. Os professores se cotizaram e vão doar a grana para a compra do material, mas nada impede de alguém de fora se interessar em contribuir, qualquer valor será de grande valia. Agora a nossa função mesmo é doar roupas e alimentos não perecíveis para as famílias que estão desamparadas – explicou Léo

–- Gente essa ação é muito bonita e eu estou muito feliz de estar participando, tenho certeza que vocês também não irão se arrepender. Será um ganho, tanto por estar ajudando ao próximo como também vão estar aprendendo na prática, teremos uma aula campal. In loco veremos e analisaremos as condições do terreno e espaço para poder criar um projeto – falou o professor

–- Também acho imperdível, no entanto não é obrigatório, mas quem quiser participar estaremos indo até a comunidade depois de amanhã após a aula. Então por favor tragam as doações na quinta o trabalho mais pesado mesmo será no sábado – concluiu Léo

–- Professor só uma dúvida, a aula já acabou né? -- perguntou outro veterano da comissão

–- Que pressão, estou saindo! Caros novos alunos foi um prazer conhece-los. Vos deixo na alegre companhia destes rapazes, até a próxima – disse o professor deixando a sala de aula

–- Bom, agora vocês estão com a gente e vamos começar as brincadeiras, quem não quiser a porta da rua é serventia da casa – disse Léo com cara de sacana

Apenas um aluno quis sair e o restante entrou no clima da zoação imposta pelos veteranos. Eles ficaram durante 45 minutos participando de diversas dinâmicas, como apresentações individuais, jogos, danças, cantoria e diversas outras brincadeiras que arrancaram gargalhadas da turma e serviu para entrosar os alunos novos e os antigos, tudo num clima de total descontração.

No fim da aula Ben e Anita se encontraram na área externa do prédio da Arquitetura e voltaram para casa dividindo as impressões e as experiências vividas no segundo dia de aula

–- Oi Amor, como foi seu dia? – perguntou Anita

–- Foi ótimo, adorei os professores de hoje e já fiz amizade com dois malucos muito maneiros, amanhã te apresento no intervalo. E o seu como foi?

–- Muito produtivo também, as aulas foram ótimas e já comecei a me entrosar com a galera e teve a questão do trote também. O pessoal também apareceu na sua sala? – indagou Anita

–-Ah sim! Foi uma galera lá se apresentar e fazer algumas brincadeiras, minha prenda foi recitar uma poesia cheia de duplo sentido, mas tinha que fazer cara séria, de poeta. – falou Ben

–- Tadinho do meu namorado – disse Anita dando um beijo nele – Pegaram leve comigo, tive que dançar o “Lepo Lepo”, mas era uma turma grande de dançarinos e eu fiquei escondida lá trás.

–- E do projeto, te falaram? Incrível como andamos juntos até nisso, nossas coordenadorias se uniram. É o destino conspirando a nosso favor e nos deixando sempre pertinho um do outro – falou Ben a puxando pela cintura para um novo beijo

–- Sempre né? Pensei isso na hora, mas não tinha certeza se a sua Engenharia também iria participar

–- Todas vão, claro que a Civil terá uma participação maior e mais efetiva, mas a minha de produção, a elétrica e até a ambiental também foram convocadas

–- Amei e você vai poder ir? Tem o seu trabalho – disse Anita

–- Não sei, mas espero que sim. Na quinta será impossível, mas reparei que é coisa mais para os veteranos. Quero ir no sábado, só se eu tiver muito azar para ter que trabalhar, mas vamos ver

–- Vou torcer para não. Ah Ben, adivinha quem é o líder da minha “Comissão de Trote”? – perguntou a menina

–- Quem? Eu conheço? – indagou Ben

–- Conhece, o Léo! Olha que sorte a minha de ter esbarrado e feito amizade justo com ele, espero que ele continue pegando leve comigo

–- Foi ele que escolheu sua tarefa de hoje? – perguntou Ben desconfortável

–- Foi e me disse baixinho que na medida do possível vai tentar me aliviar

–- Que sensível da parte dele – falou Ben

–- Pois é, eu bem reparei que algumas meninas ficaram caidinhas por ele – disse Anita rindo

–- Reparou? Anita repara um pouco menos da próxima vez por favor! – sugeriu Ben

–- Ah não Ben sem essa por favor – falou Anita

–- Que que tem? É um pedido normal de namorado ué! – ele se defendeu

–- Tá bom, vou pensar no teu caso, mas não vou deixar de ser amiga dele

–- Eu não pedi isso

–- Tá bom! Agora vamos nos apressar senão perdemos o ônibus e até chegar outro vai demorar tivemos essa experiência hoje de manhã. – se apressou Anita

–- Se for para ficar namorando com você no ponto ... – provocou Ben

–- Deixa de ser engraçadinho tá! – disse Anita puxando o namorado pelo braço após ele começar a andar muito devagar.

Autora: Carol