Anita lia a carta atentamente, parecia querer entender o significado de cada palavra para tentar identificar exatamente de onde vinha o perigo e o que de verdade ela deveria temer, e a conclusão foi a mesma das outras vezes: ela era o objeto da conquista, Ben continuava sendo ameaçado veladamente e algo de concreto e muito ruim parecia de aproximar cada vez mais deles.

–- Meu Deus! Será que este inferno nunca vai ter fim? – perguntou Anita já tomada pelo desespero

–- Calma princesa, não fica assim esse cara é um covarde e tudo que ele quer é aterrorizar a gente, não permita que ele triunfe, ele já conseguiu muita coisa da gente. Basta! – disse Ben tentando acalmá-la

–- É Minha filha, o Ben tem razão, por isso que eu tinha decidido não te mostrar esta carta, mas agora que você ficou sabendo o melhor que tem a fazer é entrega-la a polícia, deixa para eles resolverem e desvendarem este mistério – falou Vera

–- Será que alguém pode me explicar o que está acontecendo aqui? – perguntou Cícera

–- Eu explico. É que depois que a Anita terminou o noivado com o Antônio ele passou a perseguí-la com mensagens ameaçadoras – respondeu Sofia

–- O Antônio? Que Antônio? – perguntou Cícera confusa

–- O Antônio seu ex-enteado postiço – disse Sofia

–- Mas como? Ele não morreu? Até rezei pela alma dele, era um menino perturbado coitadinho – disse Cícera que continuou – Alias eu nunca entendi direito este relacionamento de vocês. Que criação é essa que você dá para estas crianças, Ronaldo? Como você permite esse intercâmbio, troca-troca entre “irmãos”? É Anita que namora com Antônio e Bem que por sua vez também namora Sofia – falou Cícera

–- Lembrem-se que oficialmente ele continua morto, o laudo oficial ainda não saiu. E Cícera se eu for indagar a criação que você dispensou ao meu filho as coisas não vão terminar boas por aqui, sorte dele que você é incompetente como mãe e não conseguiu transmitir para ele os seus valores morais distorcidos – alertou Ronaldo

–- Sofia! Você sabe muito bem que o Antônio nunca foi nada meu de verdade que eu vivi um teatro, uma história mórbida com ele. Já você né .... ? Se aproveitou da minha tristeza, da minha fraqueza e amargura para ganhar terreno e se agarrou em uma frase, um consentimento infeliz que eu dei no pior momento da minha vida para ir atrás de quem eu amava ... amo. Eu sempre me pergunto como você pode ter me virado as costas e me deixado no fundo do poço que você sabia que eu me encontrava para ir atrás do Ben, e tudo apenas para satisfazer o seu ego egoísta. Agora com licença que eu vou subir – disse Anita ressentida

–- Anita, vem cá pera ai ... – falou Ben

–- Meu filho vem falar com a mamãe direito e a gente precisa conversar – disse Cícera

–- Depois mãe agora eu vou subir para falar com a Anita – disse Ben Aflito

Anita chegou a seu quarto e se sentou em sua cama totalmente perdida, sua vontade era sumir dali e entrar num buraco, mas não naquele que tinha sido a sua desgraça, mas em algum outro, um túnel na verdade e que a saída desembocasse .... no passado, num tempo em que ela e Ben ainda eram pessoas ingênuas e genuinamente felizes.

–- Como é que você está meu amor? – perguntou Ben ao chegar no quarto e se aproximar da namorada

–- Desesperançada Ben, parece que as coisas teimam em dar errado pra mim, pra gente. Porque que um sentimento tão bonito quanto o nosso precisa passar por tantas provações? Me dá a sensação que tem sempre algo nos segurando, nos puxando para trás – desabafou Anita

–- Porque ele é forte, já provou que resiste a tudo, mas isso incomoda a quem não teve a sorte de amar e nem a capacidade de se deixar ser amado. Só que de nada adianta porque nós somos pra sempre – disse Ben

–- É tão estranho hoje de manhã eu estava tão feliz, tinha despertado nos seus braços depois de uma noite tão perfeita ... Aí eu chego em casa e vira tudo, umas simples palavras maldosas são capazes de me jogar na escuridão de novo. Essas mensagens estão me soando cada dia mais reais, estou com tanto medo – confessou Anita.

–- Hei! Olha para mim – disse Ben segurando o queixo da namorada – Não fica assim, eu disse isso lá embaixo e repito, não deixe essa carta te abater, você é mais forte e já provou isso de tantas maneiras. Eu tenho tanto orgulho de você, poucas pessoas passariam por tudo que você passou tão dignamente – falou Ben

–- Jura...! Eu surtei, fui manipulada, te acusei ... – disse a menina com lágrimas nos olhos

–- Normal tudo isso. A barra que você passou foi muito pesada e parece que ninguém, quer dizer ... poucas pessoas conseguiram compreender. Eu não soube te ajudar e nem fui capaz de me ajudar também fiz coisas impensáveis. A sua coragem fez você se reerguer e correr atrás da verdade, se arriscar .... me diz, quem você conhece que faria isso? Então não vai fraquejar agora. Nós estamos juntos e se por acaso as suas pernas bambearem eu estarei do seu lado de apoiando, te dando o meu braço para você se segurar – disse Ben beijando a mão de Anita e continuou a falar.

–- E Lembre-se no dia que esse infeliz nos mandou aquele sapo morto nós prometemos que o terror não nos abalaria mais ... o que está havendo agora hein? – disse Ben antes de dar um selinho demorado na namorada.

Anita mergulhou nos olhos verdes do namorado que naquele momento lhe pareciam um oceano de tranquilidade e esperança e pouco a pouco ela foi relaxando e se aninhando nos braços dele, que a abraçou de forma carinhosa, mas ao mesmo tempo firme para poder transmitir segurança para garota. Eles ficaram assim até que foram despertados pela batida na porta do quarto.

–- Desculpe interromper, mas a sua mãe está lá em baixo e quer se despedir de você – disse Pedro em pé na porta

–- Obrigado cabeça, já vou lá falar com ela – respondeu Ben

–- Está melhor? – perguntou para a namorada

–- Estou ... Eu já te falei que você tem o dom de me acalmar, de me trazer paz? – perguntou Anita sorrindo

–- Não .. (risos) .. essa frase é minha ... para você – respondeu Ben

–- Pois fique sabendo então! E eu te plagiei mesmo, mas ela é perfeita para transmitir as sensações que você me passa. – disse Anita.

–- Eu te amo muito – disse Ben beijando Anita e se levantando para descer até a sala.

–- Oi Maninha, faz companhia para Anita por favor, eu tenho que ir lá embaixo rapidinho – pediu Ben ao cruzar com Giovana no corredor.

–- Vai tranquilo – respondeu a ruiva

Enquanto isso Sofia e Cícera papeavam animadas na sala enquanto Vera passava um café na cozinha.

–- Oi mãe, você pediu para me chamar? – disse Ben

–- Claro né Ben, eu vim de longe preocupada com você e com o rumo da sua vida e você me recebe assim?! Se trancafiando no quarto com aquela menina – disparou Cícera

–- Aquela menina se chama Anita e ela é minha namorada. E será que você não percebeu o que aconteceu aqui hoje não, será que você é tão insensível assim? – se exaltou o rapaz

–- Eu entendo sim Benjamim, entendo muito bem tudo que aconteceu e não gosto do que estou vendo. – disse Cícera sem muita paciência

–- Do que você está falando, que agora eu que não estou entendendo? – perguntou Ben

–- Estou me referindo ao fato de você ter voltado para o Brasil para estudar e entrar para uma faculdade, mas em menos de um ano por aqui você conseguiu namorar a filha da sua madrasta, terminar o namoro com ela, namorar a outra filha da madrasta, engravidá-la e terminar com ela também para voltar com a primeira irmã. Além disse tudo, suas notas estão longe de te levar a ter sucesso no vestibular e você perdeu um emprego que nem era para ter procurado. Muita bagunça para muito pouco tempo, não acha? – indagou Cícera

–- Concordo! Se a vida tivesse lógica, regra, fosse uma questão de exata, mas não é, os caminhos são tortos, as pessoas falham ... tentando acertar, mas falham e na verdade essa é a graça dela. E você apesar de ser minha mãe não pode chegar aqui me cobrando explicação de tudo assim

–- Olha como fala comigo menino – repreendeu Cícera

–- Eu gosto muito de você, mas você está afastada de mim e dos meus problemas há muito tempo, não estou falando só deste ano em que ficamos geograficamente distantes, mas sim desde a época em que essa ambição desenfreada tomou conta de você e viver o sonho americano passou a ser seu objetivo de vida. – argumentou Ben

–- Eu tentei fazer o meu melhor, quero um futuro brilhante para você, tanto que temos o trato de você voltar para os Estados Unidos se as coisas derem errado por aqui, e não pense que eu desisti disso. – se defendeu Cícera

–- Nós morávamos na mesma casa, mas foi o Hernandez que cuidou de mim mãe, aliás nisso eu te agradeço, pois você sempre achou que ele não estava a sua altura, mas sabia que ele era descente o suficiente para criar o teu filho. – disse Ben magoado

–- Ben você está com a cabeça quente talvez pelo que tenha acontecido lá em cima e acho que esta conversa não vai nos levar a lugar nenhum. Eu vim para estar com você, para tentar te ajudar e quero muito sentar com o meu filho e ver o que nós podemos fazer para melhorar as coisas. Essa minha ambição que você critica tanto hoje me tornou uma pessoa com condições de ... – falou Cícera sendo interrompida

–- Com condições de gastar o dinheiro dos outros, do inocente que aceitou se casar com você – disparou Ben

–- Com condições de te ajudar, de dar uma vida descente para essa criança que está chegando. Por favor meu filho você está nervoso senão não estaria falando desta forma comigo, então me procure amanhã, ou quando você achar melhor. Estarei no mesmo hotel que fiquei da outra vez, você tem o endereço e o telefone – falou Cícera tentando ser compreensiva

–- Você tem razão desculpe pelo tom e por qualquer excesso. Você também será muito bem-vinda no meu quartinho para uma visita – disse Ben indo abraçar a mãe.

–- Bom eu vou indo então, agradeça o café para Vera por mim, nem vi a hora que todos saíram para nos deixar ... digamos ... que “conversando”. Dê um beijo na linda Sofia, a mãe do meu netinho, ah e outro na Anita. – tentou contemporizar Cícera antes de deixar o Casarão com JR.

Autora: Carol