Asas e Lâminas escrita por RTM


Capítulo 1
Asas e Espadas


Notas iniciais do capítulo

Este fanfic é um crossover entre Love Hina e Mahou Sensei Negima.

Todos os direitos sobre os personagens deste fanfic pertencem a Ken Akamatsu.

Notas:
Dôjo - academia de artes marciais.
Boken - espada de madeira usada em treinamentos de kenjutsu.
Chi (ki) - energia que faz parte de todas as coisas vivas. Frequentemente usada em artes marciais.



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    O céu estava escuro, coberto por um véu de estrelas e uma lua grande e vermelha. Um odor acre de medo, fúria e perversidade escapava da floresta, indo na direção do tapete de grama aveludada da planície. Fugindo da fonte do odor, um homem corria desesperadamente. Em seus braços carregava algo embrulhado em panos, na sua cintura havia uma espada. Depois de se afastar da floresta, o homem parou para verificar se havia sido seguido. Seus pulmões pareciam queimar, mesmo sob o gelado ar da noite, e suas pernas doíam pelo esforço de ter corrido durante horas. Mas ele não se importava com isto, o mais importante era distanciar-se da floresta.

    O homem então encheu seus pulmões com o ar que passou por sua garganta como farpas de gelo, olhou para o embrulho que carregava e então se virou na direção da grande montanha que se erguia a leste. Um vento forte veio da direção da montanha, lançando seus sussurros silenciosos pela planície. O homem sabia o que aquilo significava e correu o mais rápido que pôde. Em resposta ao vento da montanha, um longo e angustiante pranto irrompeu da floresta.

    Sombras rápidas como relâmpagos saltaram do meio das árvores e em poucos momentos cercaram o homem. As sombras deram forma a demônios que exalavam fogo e enxofre e estalavam suas presas, banhadas em saliva e sangue. Suas aparências eram tão sombrias e sinistras quanto suas almas. Os demônios pararam para saborear lentamente o medo que envolvia sua presa.

    - Agora, seja bonzinho e devolva o que nos foi roubado. Não vamos lhe fazer mal. – mentiu o demônio, abrindo um largo sorriso com suas enormes presas.

    O homem segurou firmemente o embrulho com o braço esquerdo enquanto puxou a espada com o direito. Ele respirou fundo e tentou ignorar todo o medo que sentia e então apontou a espada na direção do demônio que se dirigia a ele.

    - Hahahahaha! Tolo! Acha que pode nos derrotar sozinho? Mas agora eu mudei de idéia, quero saber qual a consistência da sua carne e que sabor tem o tutano dos seus ossos.

    Murmurando uma breve prece que encomendava sua alma aos seus ancestrais, o homem preparou-se para entregar sua vida para proteger o embrulho que carregava. Uma súbita mudança na direção do vento o deixou mais atento. O ar parecia mais leve e trazia um suave aroma de flor de cerejeira. Uma centelha de coragem e esperança acendeu em sua alma e, eliminando todas as dúvidas de sua mente, o homem correu na direção do demônio:

    - ZANKUUSEN!

    Um clarão rasgou a noite com o brilho da lâmina da espada refletindo a luz do luar. Os demônios se afastaram num salto e agora não mais gracejavam. Então, em um acordo silencioso, eles atacaram todos ao mesmo tempo. O homem desviou de um, dois, três ataques, mas o quarto o acertou, o seguinte tirou-lhe a arma e o último o levou ao chão. Os demônios finalmente poderiam iniciar o tão aguardado banquete. 

    - RAIMEIKEN!

    A palavra cortou o ar tão rápido quanto o relâmpago prateado que talhou três demônios ao meio. Rápidos como o vento, três guerreiros desciam a montanha. Eles brandiram suas espadas, preparando-se para o combate. Os demônios se reagruparam e iniciaram um ritual de magia sombria. Em uníssono, os guerreiros recitaram e desferiram seus golpes:

    - ZANMAKEN NI NO TACHI!

    Os demônios desapareceram sob o turbilhão de lâminas enem mesmo suas sombras restaram neste mundo. Os guerreiros então correram até seu companheiro ferido.

    - Mestre... – disse o homem agonizante. – Minha missão...

    Uma mulher de longos cabelos negros e pele alva como a neve de inverno se ajoelhou ao seu lado. Seu rosto denunciava um sorriso gentil, mas abatido pela tristeza.

    - Você fez bem, muito bem, meu amigo. Estamos em débito contigo, pois nos prestou um grande serviço.

    O homem tentou sorrir, mas faltavam-lhe forças. Seu braço ainda segurava o embrulho, em cujo interior uma pequena criança dormia, inabalada pelo frio da noite ou pelo calor da batalha. A mulher pegou a criança em seus braços, com cuidado e delicadeza. Os outros guerreiros ergueram respeitosamente o corpo de seu colega falecido. Então os três retornaram à montanha.

* - * - * - * - * - * - * - * - * - * - * - * - *

    Manhã de outono, 9 anos depois. As árvores dançavam lentamente sob a brisa refrescante que trazia o suave cheiro do orvalho sobre a grama. Sentada sobre os degraus do dojo uma mulher que vestia hakama vermelho observava duas pessoas que treinavam sob a sombra das árvores. Elas vestiam roupas de treinamento de kendo e empunhavam espadas de madeira. As espadas rangiam com o choque dos golpes, mas as mãos mantinham-se firmes. Apesar da armadura pesada que protegia e escondia suas cabeças, seus olhos mantinham-se focados, com a máxima concentração. Qualquer deslize poderia levar a uma derrota simples e humilhante. Os golpes eram desferidos e respondidos com contragolpes igualmente vigorosos. Nenhum dos lados parecia recuar. Um grito de ataque sinalizou o movimento derradeiro. Em um giro rápido e sutil o ataque foi repelido. Momentos depois uma espada de madeira deslizou graciosamente sobre a grama.

    As duas pessoas se curvaram uma à outra em sinal de respeito. Então retiraram o equipamento que protegia suas cabeças. Logo os lutadores revelaram-se serem garotas. Uma delas, a mais alta, tinha o cabelo longo e negro amarrado em um rabo de cavalo. Sua pele era clara e tinha finos e elegantes olhos negros. A outra, mais baixa, tinha o cabelo um pouco mais curto, amarrado com um laço no topo da cabeça, do lado esquerdo. Seus cabelos eram brancos como sua pele e seus olhos eram rubros.

    - Você foi incrível, Motoko nee-sama! – disse a garota mais baixa.

    - Você também fez muito bem, Setsuna-chan. – respondeu a garota mais alta, com um sorriso.

    - Eu não consegui nem chegar perto de você.

    - Mas você está ficando cada dia melhor.

    - Deve ser porque você é uma ótima sensei! - respondeu Setsuna, com um sorriso honesto.

    - Vocês duas foram muito bem. – disse a bela mulher de hakama vermelho, andando em direção às garotas.

    - Onee-sama! – as duas garotas sorriram para sua irmã mais velha.

    - Vejo que vocês duas estão evoluindo a cada dia. – disse a mulher, com um sorriso contido, mas gracioso. – Estou orgulhosa de vocês.

    As duas garotas coraram e sorriram de volta.

    - Agora vão para dentro e banhem-se. O café da manhã está quase pronto.

    - Sim, onee-sama! – as garotas responderam e correram na direção da casa.

    Setsuna era feliz. Todos os dias pela manhã ela treinava kenjutsu com Motoko e à tarde ela assistia Motoko treinar com  Tsuruko, sua irmã mais velha. Apesar dos olhares de desdém e da frieza do tratamento que recebia dos demais membros da academia, Setsuna era sempre recebida com um sorriso por Motoko e Tsuruko, como se ela própria fosse parte da família. Os outros alunos caçoavam dela, mas Setsuna fingia não ouvir, apesar de sua audição ser bem aguçada. Eles a isolavam por ser diferente, por seus cabelos brancos e olhos vermelhos. Mas ela tinha Motoko, que lhe servia de modelo a ser seguido. Seu respeito e admiração por ela beiravam a veneração. Desde que Setsuna foi trazida quando bebê, Motoko a tratara como se fosse sua irmã mais nova, por isso Setsuna nunca se sentia sozinha, pois Motoko estava sempre ali para lhe dar apoio e companhia.

    Com uma expressão séria no rosto Tsuruko observou as duas garotas entrando alegremente na casa. Ela havia tomado a decisão, era para o bem da academia, mas sua alma estava pesada.

    Após a refeição, as garotas saíram para treinar. Desde pequena, Setsuna foi proibida de sair do terreno da academia, mas Motoko sempre conseguia convencer os mestres, assumindo a responsabilidade para si. A princípio, ninguém daria tal responsabilidade a uma garota de 13 anos, mas Motoko tinha sua irmã mais velha ao seu lado. Tsuruko não era apenas a guerreira de graduação mais alta do dojo como também era a mestra sucessora do Shinmeiryuu.

    Ao chegarem nas nas margens do rio, elas começaram o treino. Motoko estava ensinando Setsuna a nadar. A correnteza do rio estava bem fraca, por isso não havia nenhum problema.

    - Motoko nee-sama! Veja só. - disse Setsuna depois de se molhar na beira do rio.

    Motoko viu Setsuna com os cabelos cobertos por algas e lama e não pôde conter o riso:

    - Hahahahaha! Você está engraçada.

    - Ah, eu só queria ter o meu cabelo escuro que nem o seu, Motoko nee-sama. - disse Setsuna, emburrada.

    - Hunf – Motoko suspirou. - Você andou dando ouvidos de novo àqueles moleques na academia?

    - Se meus cabelos e olhos fossem pretos, ninguém ia caçoar de mim.

    - Tsuruko onee-sama e eu gostamos de você do jeito que você é. Setsuna-chan, você não precisa mudar só por causa do que uns moleques idiotas dizem.

    - Mas não são só os moleques. Os mais velhos também...

    - Já disse pra não se preocupar. - Motoko interrompeu, seu rosto estava sério. - Eles não te conhecem, não sabem o que dizem.

    Motoko sabia que Setsuna era diferente. Durante os treinos ela havia presenciado Setsuna fazer coisas que só espadachins experientes seriam capazes. Ela emanava algum tipo de energia, diferente do Chi. Nos últimos treinos Motoko havia percebido que Setsuna evoluíra muito mais rápido. Em duas ocasiões Motoko quase havia sido derrotada, mesmo com a diferença entre as duas de altura, peso e de quatro anos de idade. Por isso Motoko sentia que sua obrigação para com Setsuna era ainda maior. Ela sentia que era seu dever servir de modelo para aquela que considerava sua irmã mais nova.

    - Motoko nee-sama! - disse Setsuna, nadando no meio do rio. - Tem alguma coisa errada aqui.

    - O quê você disse? - perguntou Motoko, que ainda se despia para entrar no rio.

    - Alguma coisa errada na água. Está difícil nadar...

    - Ora, você já está cansada? Precisa melhorar sua resistência, Setsu...

    Motoko olhou na direção do rio e não encontrou mais sinal de Setsuna, o fluxo da água continuava lento, mas não havia nenhuma ondulação na superfície. Rapidamente Motoko jogou suas roupas na grama e saltou no rio. A água fria do rio fez seus músculos se contraírem, mas ela ignorou a sensação e mergulhou fundo. Por longos momentos ela permaneceu embaixo da água, mas não encontrou nenhum sinal de Setsuna. Motoko sentiu a preocupação apertando seu peito quando saiu do rio. Setsuna não podia ter sido carregada pela correnteza, já que não havia nenhuma. O leito do rio era de pedras, portanto ela não havia afundado ou se prendido em alguma coisa. Motoko não a vira sair do rio e também não havia pegadas saindo de nenhuma das margens do rio. O mais correto a fazer seria correr até o dojo e pedir ajuda de sua irmã, Tsuruko, mas não havia tempo, até lá a pequena Setsuna poderia estar morta.

    Então Motoko limpou sua mente, respirou fundo e se concentrou, como Tsuruko a havia ensinado nos inúmeros cansativos treinos de meditação. Ela concentrou seu Chi para procurar por qualquer sinal da presença de Setsuna próximo ao rio. Alguns momentos depois ela encontrou um sinal muito fraco saindo do rio, indo na direção das copas das árvores. Imediatamente Motoko pegou sua bôken e correu na direção do sinal. Correu floresta adentro por vários minutos parando de vez em quando para tomar fôlego e voltar a sentir o Chi.

    Depois de uma longa corrida, Motoko chegou na entrada de uma caverna. O sinal de Setsuna seguia para dentro da escuridão. Cautelosamente Motoko entrou, segurando a espada com as duas mãos. A luz da manhã parecia estar sendo absorvida pela escuridão das paredes da caverna. O frio era cada vez maior à medida que se afastava da luz. Motoko engoliu seco e respirou fundo, reunindo a coragem para continuar. Seu pensamento estava fixo em Setsuna. Era sua culpa que Setsuna havia sumido. Se ela tivesse a força e a coragem de sua irmã mais velha, poderia tê-la protegido melhor.

    Motoko ouviu alguns ruídos vindo do fundo da caverna. Ela se apressou na direção dos ruídos e encontrou uma escada que descia. No fim da escada havia um pouco de luz e os ruídos já podiam ser reconhecidos como sendo vozes terríveis. Motoko parou para prestar atenção no que as vozes diziam.

    - ...pertence a nós.

    - ...são nossas presas...

    - ...levados ao sacrifício!

    Motoko então ouviu Setsuna gritar e então desceu a escada, saltando os degraus de dois em dois. No final ela saiu uma sala de pedra, iluminada por algumas tochas penduradas nas paredes. No centro da sala havia uma mesa de pedra rodeada por alguns demônios. Sobre a mesa de pedra estava Setsuna, com os braços e pernas amarrados. Um dos demônios segurava um pequeno rato pela ponta do rabo e o balançava em cima do rosto de Setsuna.

    - Seus demônios malditos! - Motoko gritou furiosa. - O que estão fazendo com Setsuna-chan!

    - Motoko nee-sama! - Setsuna gritou ao ver Motoko.

    - Agora vocês vão pagar por isso! - Motoko ergueu sua espada. - Estilo Shinmei, técnica secreta, ZANTETSUSEN!

    O golpe com a espada cortou o ar e fez um giro em espiral até o teto da sala. Os demônios se afastaram para evitar o golpe, o que deu tempo para Motoko chegar até a mesa de pedra.

    - Setsuna-chan! Você está bem?

    - Sim, Motoko nee-sama. - Setsuna respondeu com lágrimas nos cantos dos olhos.

    Com um rápido giro da espada Motoko cortou as cordas que prendiam os braços e pernas de Setsuna. Os demônios as cercavam por todos os lados.

    - Motoko nee-sama...

    - Não se preocupe, Setsuna-chan. Nós vamos sair daqui vivas e bem! - disse Motoko, forçando um sorriso.

    “Tsuruko onee-sama, por favor, me dê forças para tirar Setsuna-chan daqui.”, Motoko pensou, movendo-se à frente de Setsuna. Seus braços seguravam vigorosamente a espada, mas Motoko não conseguia impedir que suas pernas tremessem.

    Os demônios perceberam a hesitação de Motoko em atacar e começaram a se mover ao redor delas, preparando-se para o ataque. Motoko também se preparou e esperou os demônios fazerem o primeiro movimento.

    - Estilo Shinmeiryuu, técnica secreta, KAKUSAN ZANKOUSEN!

    Os demônios saltaram sobre Motoko, mas um forte vento os jogou na direção das paredes. Vários pontos de Chi brilharam no ar e atingiram os demônios, que caíram atordoados no chão.

    - Agora! Vamos correr! - Motoko disse para Setsuna, puxando-a pelo braço.

    As duas subiram as escadas saltando vários degraus de cada vez. A caverna era longa e elas podiam ouvir a respiração pesada dos demônios chegando cada vez mais perto. Motoko olhou para Setsuna e deu um pequeno sorriso:

    - Vá, corra até o dojo! Busque a ajuda da Tsuruko onee-sama.

    - Mas, Motoko nee-sama...

    - Eu vou cuidar dos demônios aqui, não se preocupe, eles não vão te seguir.

    - Não, eu não vou sem você. - lágrimas rolavam pelo rosto de Setsuna.

    - Vá logo! Eu encontro você depois, é uma promessa!

   Motoko empurrou Setsuna para fora da caverna e virou de costas. Setsuna olhou uma última vez para ela e então correu na direção do dojo.

    Setsuna correu o mais rápido que podia. Vários galhos e espinhos arranhavam sua pele, mas Setsuna não parou de correr. O ar parecia cada vez mais difícil de respirar, mas ela  sabia que não devia parar, tinha que correr até o dojo e chamar Tsuruko onee-sama. Apenas ela poderia salvar Motoko.

    Então, de repente, o dia escureceu. Setsuna havia pisado em falso em uma pedra, perdeu o controle e bateu a cabeça contra o tronco de uma árvore.


* - * - * - * - * - * - * - * - * - * - * - * - *


    Uma brisa leve e fresca acariciou seu rosto. Setsuna abriu seus olhos e viu o teto do seu quarto. Já era o fim da tarde e a luz alaranjada do sol entrava pela janela e pintava as paredes em tons claros. Um pequeno sorriso se acendeu ao lado da cama. Setsuna sentou-se sobre a cama e identificou o sorriso de Motoko. Ela olhou para baixo e percebeu que Motoko tinha um dos braços engessado e várias bandagens cobrindo as mãos e as pernas. Setsuna sentiu lágrimas caindo sobre o cobertor, suas próprias lágrimas. Ela queria pedir desculpas e ao mesmo tempo dizer o quanto estava feliz em ver Motoko, mas não conseguia dizer nenhuma palavra.

    - Setsuna-chan. - disse uma voz gentil.

    Era Tsuruko. Ela estava com suas roupas habituais de kenjutsu. Em seu rosto havia um sorriso melancólico.

    - Onee-sama. - Setsuna murmurou.

    - Não se preocupe, Setsuna-chan. Seus ferimentos foram leves, mas a pancada na sua cabeça deixou você desacordada por alguns dias.

    - Mas... Motoko nee-sama...

    - Ela está se recuperando rapidamente. - disse Tsuruko sorrindo. - Apesar de não querer deixar o seu lado nem por um minuto. Vocês duas tiveram sorte. Se Shippu não estivesse voando sobre a floresta quando tudo aconteceu, eu não chegaria a tempo.

    Setsuna então viu a bela ave de longas penas amarelas sobre o ombro esquerdo de Tsuruko. Aquela ave acompanhava Tsuruko por onde quer que ela fosse.

    - Aqueles demônios estavam atrás de você, Setsuna-chan. - disse Tsuruko, agora séria.

    - O que eles poderiam querer com ela, onee-sama? - perguntou Motoko.

    - Eles queriam que você se tornasse um deles, Setsuna-chan.

    - O quê? - Setsuna estava surpresa. - Mas por quê?

    - Você tem um talento especial. É este o talento que faz de você diferente das pessoas normais.

    - Quer dizer, os meus olhos e meu cabelo?

    - Sim. E mais que isso. - Tsuruko tinha um olhar triste. - Você possui em seu sangue o poder dos demônios.

    Setsuna não se sentiu perturbada com a revelação. No fundo, ela sempre soube que era diferente, que possuía habilidades que ninguém mais possuía.

    - Então é por isso que os outros não gostam de mim? Porque eu sou um monstro?

    - Não, Setsuna-chan! - Tsuruko disse rispidamente. - Você não é um monstro. Os outros a temem porque não compreendem suas habilidades.

    - Mas... eu sou um demônio! E vocês treinam pra caçar demônios!

    - Não! Você não é um demônio, você faz parte de nossa família. Nós te amamos, Setsuna-chan, da forma como você é.

    Tsuruko passou sua mão pelo cabelo de Setsuna, acariciando suavemente. Em seu rosto havia um sorriso gentil e carinhoso. Motoko também segurava sua mão, reforçando as palavras de sua irmã. Assim que Setsuna se acalmou, Tsuruko voltou a ter uma expressão séria:

    - Este ataque dos demônios não será o último. Eu já mandei mensageiros para alguns amigos e você poderá ir a um lugar onde estará protegida de demônios.

    - Eu vou ter que sair daqui? -perguntou Setsuna, com os olhos arregalados.

    - É sério, onee-sama? - perguntou Motoko, preocupada.

    - Infelizmente, sim. Agora que os demônios descobriram onde você está, eles não irão descansar até te levarem de volta. Por isso eu falei com Eishun Konoe, amigo da nossa família. Daqui a três horas eles estarão aqui para te buscar.

    Setsuna abaixou a cabeça. Ela sabia que não havia como contestar uma decisão de Tsuruko. Motoko ficou no quarto, ao seu lado. Durante várias horas elas permaneceram paradas em silêncio. Havia muita coisa que poderia ser dita, mas não houve nenhuma necessidade.


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Notas finais do capítulo

Tradução não-oficial dos nomes dos golpes do estilo Shinmei:

Zankuusen: relâmpago que corta o ar
Raimeiken: espada relâmpago
Zanmaken ni no Tachi: espada cortadora do mal, segunda talhadura
Zantetsusen: espada cortadora de ferro
Kakusan Zankousen: relâmpago disseminador, cortador de luz



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