A imagem do espelho de Annabeth oscilava junto com cada passo que Octavian dava. Todos eles observaram atentamente quando o romano e Tântalo entraram no que parecia ser a sala grande do casarão. Alex podia sentir a atmosfera pesando com antecipação. Ele tinha que admitir. Leo era um gênio.

Eles agora tinham completo acesso ao acampamento dos Menelaus e poderiam antecipar exatamente o que iria acontecer. Ele não podia deixar de ficar esperançoso. Com todas as perdas e derrotas que tinham tido, aquilo poderia lhes dar uma chance de vencer o jogo. Ele queria poder dividir isso com Penny, dizer que ela tinha razão sobre Leo, que eles iriam conseguir. Mas ela não estava ali. Como sempre nesses momentos, Alex tinha que ignorar o enorme puxão que sentia no coração todas as vezes que se lembrava disso. Ele sabia o que a amiga diria.

–Ei general, estamos no meio de uma guerra, pare de se preocupar com besteira e se concentre.

Era como se ele quase pudesse ouvir a voz dela. Um xingamento baixinho de Reyna do seu lado o trouxe de volta a realidade. Alex prestou atenção e viu que a casa estava cheia de símbolos gregos e romanos. Não demorou muito para que ele percebesse o que enfurecera sua ex-guardiã. Eles eram símbolos do império romano, ou de antigos reis gregos. A mensagem de Octavian era clara. a ordem havia mudado. Ele sabia que Reyna deveria estar se sentindo muito ultrajada. De algum modo, ele também estava. Era como se alguém tivesse bagunçado seu quarto sem pedir permissão.

Os dois ficaram de frente para uma pequena multidão de soldados. A politica dos Menelaus era complicada, mas Alex saberia dizer exatamente quais eram romanos e quais eram gregos. Embora lutassem por um objetivo comum, eles jamais se misturariam completamente. Doentio? Alex tinha certeza que sim.

–Me solta seu brutamontes!- Disse uma garota.

Ela tinha cabelos ruivos e olhos castanhos. Alex podia ver que ela era bem pequena. De repente sentiu uma vontade louca de esmagar a cara de um daqueles legionários de Octavian. Ele sempre odiou quem jogava sujo. E não havia nada mais sujo do que um bando de brutamontes ameaçando uma garota com a metade do seu tamanho. Não que ela fosse indefesa. A menina deu um pontapé em um dos soldados e por um momento ele quase a deixou ir.

Haviam alguns outros soldados que seguravam um garoto. Com cabelos negros e olhos azuis, ele parecia ter saído de uma daquelas propagandas de marcas de roupas. Apesar disso, ele tinha um ar tímido e desengonçado, que ficava claro toda vez que ele abria a boca para falar com os soldados.

–Deixem ela em paz, ela não fez nada.

Assim que entrou na sala Octavian olhou para a menina com desgosto.

–Oh Cassy, criando problemas de novo?- Perguntou ele parecendo um pouco entediado. O ódio entre os dois era visível. De alguma maneira Alex podia dizer que os dois se conheciam há muito tempo.

–Octavian, mande seus brutamontes me soltarem! Agora.

O romano deu um olhar malvado para a garota. O desprezo demonstrado em cada linha de expressão de Octavian.

–Não pense que você tem o direito de fazer exigências Cassandra. Não uma mestiça como você.

–Ela merece chicotadas- Gritou um dos soldados que parecia muito feliz em puxar o saco de Octavian. Alex percebeu que ele era um dos gregos. Devia ser um dos filhos dos deuses menores que continuavam ressentidos com os resultados da 2ª guerra contra Cronos.

–Cala boca seu imbecil- gritou o garoto que tentava se desvencilhar de um outro legionário-Deixe ela em paz...

Octavian levantou a mão antes que ele pudesse continuar falando impacientemente.

–É isso o que você queria me mostrar Octavian?- Perguntou Tântalo olhando para os dois jovens como se eles fossem uma espécie particularmente perigosa de vírus que ele gostaria de evitar. Octavian olhou para homem impaciente.

–Garanto que as coisas são mais... organizadas do que parecem.

Tântalo olhou para o romano desconfiado, mas Octavian já estava com sua atenção no grupo de soldados a sua frente.

–Então...- Continuou Octavian, mas foi interrompido por uma chegada abrupta.

De repente, foi como se Alex tivesse sido sugado para uma dimensão paralela. Seus sentidos só obedeciam um comando. Observar a cena que estava em sua frente. Ele não podia acreditar no que estava acontecendo. Ele pode ouvir os outros arquejando. Percy e Annabeth, paralisados em choque.

–O que está acontecendo aqui?- Aquela voz. O maior desejo de Alex era ouvir de novo aquela voz. Era engraçado a forma como os deuses respondem nossas preces.

–Di Imortalis!- disse Lara, o que só fez com que Alex se desse conta de que, ao contrário do que esperava, aquilo tudo não era ilusão.

A garota estava com o cabelo loiro. Alex se deu conta, pela primeira vez, do quanto ela parecida com Annabeth. O coração do garoto deu um salto quando ele a viu usando uma camiseta preta e um jeans simples. Ele nunca achou que sua pulsação pudesse acelerar tão rápido por causa de coisas estúpidas como o jeito que uma calça jeans ficava em uma garota, ele tinha quase certeza de a maioria dos caras ficaria louco por uma menina bem maquiada com vestido curto, mas aqui estava ele. Admirando a figura a sua frente. Mas que diabos, ela estava fazendo ali?

–Oh deuses!- Alex teve a consciência de ouvir a voz chocada de Frank

–Mas o que...- Perguntou Tales tão baixo que Alex podia jurar que só ele ouviu.

Alex não se importou com os outros. Ele deu um passo para frente e ficou muito perto da televisão. Mesmo tão perto da imagem, ela parecia irreal. Ele não conseguia entender o que estava acontecendo.

–Penny?-sussurou Alex

Penny estava diferente, ele tinha que reconhecer. Além do cabelo loiro, Alex notou que os olhos dela pareciam mais sem vida, como se a felicidade tivesse sido sugada de dentro deles. Como ele podia dizer isso, ele não sabia.

–Eu vou matar Octavian... juro por todos os deuses que eu vou...- Rosnou Percy da sua cadeira.

–Eu vou ajudar!- disse Annabeth- Você distrai ele enquanto eu chego por trás e...

–Hum... Percy, Annabeth... Por favor, me digam que a Penny tem uma gêmea do mal que anda caminhando por ai- A cara de surpresa de Leo seria cômica, se Alex não soubesse que o amigo deveria estar tão perdido quanto ele.

–Percy , Annabeth, eu apoio totalmente o plano de aniquilarmos Octavian e resgatarmos Penny mas, antes precisamos saber exatamente o que ele fez com ela e como ela chegou lá.

–Você tem razão Quiron. Tem toda a razão- disse Annabeth perigosamente.

Ora, ora- Alex obrigou -se a voltar sua atenção para Octavian- Como sempre, atrasada Penélope. De qualquer maneira, eu tinha que apresentar você a alguém.

Alex percebeu Penny olhar desconfiada para Octavian, que já estava falando com os soldados.

–Como eu ia dizendo antes de ser tão rudemente interrompido, o que está acontecendo aqui?

–Bem, se você vai usar minhas frases tecnicamente não interrompi.- Alfinetou Penny. O Garoto percebeu que tinha sentido falta do humor de Penny mais do qualquer outra coisa. Ele conseguiu perceber um sorrisinho de canto de Percy, durou uma fração de segundo, mas estava lá.

Alex não conseguiu se concentrar muito depois disso. Ele ouviu Penny negociando os dois como seus soldados especiais (ou escravos, Alex não conseguiu entender muito bem). O que pareceu ser uma Deusa entrou no recinto. Alex não poderia dizer nada disso, sua mente continuava muito nublada para entender o que estava acontecendo. Ele tinha implorado por meses para conseguir uma noticia de Penny. E agora que ele conseguira....tudo o que queria era sair correndo dali, quebrar o espelho ou acordar desse pesadelo.

Um barulho vindo diretamente da entrada da casa grande chamou a atenção.

–Mensageiros- alguém gritou do lado de fora.

Sem pensar duas vezes todos eles saíram da casa grande. No pátio havia uma confusão enorme. Todos os campistas pareciam falar ao mesmo tempo, alguns tinham a cara franzida e estavam visivelmente zangados. Quiron foi abrindo espaço para eles

–Campistas- gritou Quiron tentando ser ouvido- Vamos nos acalmar.

Assim que Alex conseguiu chegar perto de onde Quiron e os outros estavam ele percebeu o por que da comoção. Um homem que parecia estar na meia idade estava olhando para todos sorrindo. Ele tinha os cabelos negros envolvidos em gel. Seus olhos dourados faiscavam perigosamente. A áurea nele emanava um aviso que dizia Encrenca. Ele vestia uma camiseta dos Beatles e uma calça jeans surrada.

–Olá todos!- disse ele visivelmente contente por ter atenção de todos- Meu nome Epimeteu, mas podem me chamar de "Big E".

–Big "E"? O E com certeza deve significar encrenca - sussurrou Mirna atrás de Alex.

–Pera... você é Epimeteu? O Epimeteu?- Perguntou uma filha de Hermes que estava próxima do homem.

–Exato lindinha. Mas vamos esquecer essa coisa de irmão de Prometeu e marido de Pandora. Não é legal. Diferente do que eu vim aqui tratar com você.

–Hum hum... e o que seria senhor Epimeteu?- Inquiriu Quiron.

–Ora, o que mais seria? Eu vim falar sobre a guerra com os Menelaus. Sou o mensageiro deles, vocês sabem, essa baboseira toda. O serviço é um saco, mas eles pagam bem então...

–E o que exatamente eles querem?- Perguntou Annabeth.

–Nada de mais, que o acampamento apenas de uma prova de boa vontade. Você sabem... guerras podem ser evitadas, derramamento de sangue é um desperdício e blá, blá.... Claro- disse o homem com um sorriso malicioso- Se vocês não estiverem dispostos haverão consequências. E eu tenho certeza de que não irão gostar delas.

–E quais seriam as exigências?- Questionou Jason

–Simples... vocês não deverão receber mestiços e, principalmente, deverão expulsar eles do acampamento.

Demorou um segundo, mas assim que percebeu de quem Epimeteu estava falando o choque tomou conta de Alex. Os Menelaus estavam exigindo que sua família e o restante dos 7 fossem expulsos do acampamento.