Eu gostaria de poder chorar, mas uma estranha dor – a mesma que havia atacado minutos antes – invadiu novamente meus pulmões e não parou até eu ter que me deitar e gemer. A dor parecia uma chama, e ela estava me incendiando por dentro. A dor então parecia querer explodir como os canhões de um navio Pirata ou como em um vulcão em erupção.

Quando comecei a gritar e não conseguir mais segurar, Felix apareceu como um pulo e chegou perto o bastante para alisar meu rosto e descobrir que eu ardia em febre.

– Peter! Peter! – Ele gritou segurando minha mão. Meu corpo se mexia para lá e para cá tentando despistar as chamas que me enfrentavam. No mesmo instante Peter apareceu com o mesmo olhar fuzilante de antes, porém quando viu que era algo extremamente sério se acalmou e pareceu se importar. Eu gostei daquilo…

O pior de tudo é que eu achava que havia sido curada, a minha raiva fora sido em vão e Peter Pan me manipulou, disso parecia ter certeza por causa da dor. Isso já havia acontecido quando estava no Hospital que na época não era uma doença terminal, o Jack (o aparelho que uso para ficar melhor) me ajudou a evitar esses ataques chatos.

Resumindo: Eu não estava curada.

– O que aconteceu? – A voz de Peter pareceu alta demais.

– Eu não faço ideia! Quando cheguei ela já estava assim! – Felix se defendeu.

– Precisam…Me levar… - Tentei dizer dá melhor forma possível mas no final foi mais alto que eu – Água!

Eles se assustaram. Peter estava pronto para me carregar quando Felix me puxou para si e me pegou em seu colo saindo correndo. Eu podia sentir as grandes batidas de seu coração. Peter ia logo na frente tirando os obstáculos do caminho.

Uma pontada atingiu bem no meu peito e agonizei de dor. Meu corpo se movimentou fazendo com que Felix só me agarrasse mais a ele.

– Me dê ela – Peter mandou estendendo os braços.

– Por que? Eu sei que você quer ela morta, por isso não deu a cura para ela – Felix retrucou. Uma briga estava acontecendo, e eu estava lá presenciando tudo.

– Só não dei a cura para ela porque Hook está com ela! – Peter gritou me pegando em seu colo e me levando para água da ilha.

Suspirei quando entramos na água. O dor estava diminuindo. Na verdade, ela ainda estava presente, porém a água – para mim – amenizava e eu não gritava enquanto estava dentro dela. Peter me segurava e olhava para os lados preocupado. Enquanto Felix ia embora, desaparecendo na floresta.

– Por que tão preocupado? – Minha voz saiu fraca.

– Preciso te manter viva, só isso – Peter disse sério.

– Aqui na água? – Perguntei e ele assentiu. – Aqui têm sereias?

Perguntei por curiosidade. Eu sempre adorei sereias, elas são tão belas e magnificas!

– Não faça essa cara de admiração, elas são umas pestes – Peter contou e eu ri, o que deu uma pontada em meu peito novamente. – Tudo bem?

– Sim, sou uma garota forte, não pense que vai se livrar de mim tão fácil – Disse em um tom intimidador e ele riu. Era a primeira vez que ele ria, um sorriso tão lindo.

Esperamos bem ali até a dor parar por completo, e mal percebi que o sol nascia além do horizonte. Era tão belo, e desejei que aquilo fosse o meu infinito. Mas acho que ainda é cedo, de repente eu pude sentir como é bom viver.

– E então? Acabou? Estou ficando com frio aqui – Peter se pronunciou. Assenti e olhei para ele.

– Obrigada – Agradeci.

– O que você faria sem mim não é? – Ele bufou e fez um sorriso malicioso. – Vai me beijar agora?

– O que? Não! – Joguei a água em seu rosto e cabelo e ele pareceu se zangar. Ele jogou em mim também e eu revidei claro. E então ouvimos os canhões. Os gritos dos garotos. E eu vi com meus próprios olhos um navio e um Capitão.

– Atirem! – Ele ordenou olhando para nós. O canhão mirou para onde estava com Peter, e quando ouvimos o som estrondoso o garoto me jogou brutalmente para o lado impedindo que a bola preta não me atingisse.

– Peter! – Gritei preocupada. Ele havia sumido. Tentei procurar por ele entre as águas, mas mãos me puxam e sou levada bruscamente para fora do mar. – Me deixem! Me solta!

– Calada! – Dois garotos disseram no mesmo tempo me levando rapidamente para dentro da floresta. Assim que eles pararam começou uma discussão.

– Por que o Felix tinha que ser tão idiota?! – Um deles vociferou.

– Não faço ideia! Ele disse que precisava roubar algo do Hook e olha no que deu! – O outro contou levemente irritado. A cura, Felix deveria ter ido busca-la para mim.

– Mas e quanto ao Pan? – O outro perguntou e eles olharam para mim.

– Ele sumiu… - Falei baixo e os dois pigarrearam juntos.

– Ótimo! Felix foi raptado e Pan sumiu! O que mais pode acontecer? – Perguntou e ouvimos movimentos. Os dois “gêmeos” bateram um no outro e me puxaram. Nos escondemos atrás de vários arbustos.

– Onde eles estão? – A voz era de um adulto. – Smih! Você disse que eles estariam aqui!

– Calma Capitão, eu os vi por aqui mesmo.

– E Peter? – O “Capitão” perguntou irritado. – Ele morreu né?

Arregalei os olhos no mesmo instante e os dois irmãos que estavam atrás de mim me puxaram trás. Fizemos um pequeno barulho chamando a atenção dos dois que conversavam.

– Corram! – Ouvi e por vertigem acabei correndo para um lado oposto do que dos gêmeos.

Tentava correr o mais rápido que podia, eu olhava para trás e via que um homem com trajes pretos e uma mão como gancho me perseguia. E então eu vi Peter Pan pular em cima dele. Parei no mesmo instante e tentei voltar para ajuda-lo mas meu pé se prendeu contra um cabo de arvore. Tentei tira-lo mas parecia impossível.

Eu via que Peter se desviava dos ataques que o homem Gancho fazia a ele. Era apavorante, eu queria ajuda-lo. Eles começaram a lutar o que só fez com que meu coração se acelerasse mais ainda.

Por fim, Gancho o golpeou e Pan quase perdeu a consciência. Ele olhou para mim, não só ele, mas Gancho também. E então Gancho começou a vir até onde estava e meu corpo se arrepiou. Puxei com força meu pé tentando tira-lo e quando olhei para ver onde Gancho já estava, vejo Peter segurar seu pé para que não desse mais nenhum passo.

– Já está na hora de morrer garoto – Gancho vociferou se preparando para mata-lo.

– NÃO! NÃO FAÇA! – Gritei chamando a atenção dos dois. Gancho olhou para mim, ele franziu a testa incomodado e olhou em meus olhos.

– É ela não é? – Gancho perguntou puxando os cabelos de Peter para falar.

– Não – Ele respondeu. Gancho soltou os cabelos de Pan com força.

– Mentiroso! – Ele começou a vir até mim quase correndo.

E então inesperadamente, meu pé se solta e posso correr novamente. Eu gostaria de correr para onde Pan estava, mas era impossível já que Gancho corria atrás de mim e seria uma enorme tragédia se o fizesse.

Meus pés travaram ao alcançar um abismo, a altura era realmente muito grande, o mar parecia muito agitado e havia muitas rochas pontiagudas.

– Nem pense em fazer isso! – Gancho gritou.

– Não estava pensando, mas agora me deu uma ótima ideia – Eu olhei para ele e depois para o fim do abismo. E então eu pulei.