Sagira escrita por Senjougaha


Capítulo 20
Capítulo 20 - Indícios de uma guerra fria


Notas iniciais do capítulo

I'M BACKKKKK



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— Onde diabos você esteve? - o chão treme quando meu pai grita.

Nunca o vi perder erguer o tom de voz assim antes.

Me encolho e agarro meus cotovelos tentando pensar no que dizer.

— Eu não saí por vontade própria, eu juro - digo, soando indefesa - Hórus me buscou.

Tanatos agarra meu braço, tenso.

— Se não se importa, senhor, eu mesmo vou tirar as respostas dela - ele diz com um sorriso educado.

Mas seus olhos dourados perfuram os meus dolorosamente.

Meu pai concorda com um aceno de cabeça desapontado e Tanatos me arrasta pro meu quarto.

Me joga na cama com raiva e passa a mão no rosto, frustrado.

— Eu disse a verdade - me defendo - ele basicamente me raptou, disse que estou correndo perigo e aparentemente acha que não posso me defender sozinha...

— Ele está certo - Tanatos me interrompe - você corre perigo e não conseguirá se defender sozinha do que está por vir, MAS NÃO É LÁ QUE DEVE FICAR!

Seus olhos tremulam do dourado ao prateado e me encolho.

A mudança, em Tanatos, não é coisa boa.

Ele agarra as beiradas da mesa no canto do quarto e a joga contra a parede.

Observo o móvel cair no chão e sua madeira ressecar e esfarelar completamente.

Morte.

Um sentimento de indignação me domina.

— Eu não tenho culpa! - grito de volta, me aproximando dele e erguendo a cabeça para encará-lo nos olhos.

— Perdão? - ele diz cinicamente - como não tem culpa se ficou lá todo esse tempo?

— O tempo corre diferente nos mundos, Tanatos - semicerro os olhos - sabe tão bem quanto eu.

Ele se acalma e parece pensar.

— E da próxima vez que ameaçar Chloe, eu arranco suas maravilhosas asas com minhas garras - digo séria e saio do quarto batendo a porta.

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Perséfone está tagarelando no meu quarto.

Mais uma vez, Eros virá jantar conosco.

Parece até que eu nunca estive fora daqui. Tudo está de volta ao “normal”, exceto por uma coisa.

Sinto falta de Tanatos, mas é melhor assim.

Já fazem três dias que não trocamos uma palavra e agora que não temos mais a corrente física, ele caça sozinho.

— Sagira - Perséfone me chama.

— Sim? - franzo o cenho e tento me lembrar do que ela estava falando.

— Não se preocupe com Tanatos - ela diz - ele não é a escolha certa pra você, querida, ele é a Morte, você é a vida, só vão se ferir...

— Não estou me preocupando com Tanatos - minto - e eu não sou a vida.

Solto uma risada sarcástica.

Estou longe até de TER vida.

Visto o vestido preto, sentindo-o se moldar ao meu corpo, colando-se nele. Possui pérolas negras na gola.

Me sinto bonita.

Mas vazia.

Não sei mais quem sou, de onde venho.

Ou o que eu sou.

Claro que eu já tinha esse vazio antes, mas de certa forma eu não percebia.

— Você é uma garota grega no momento - Tanatos me assusta - só isso importa.

Me viro para ele.

Está de smooking preto e seus olhos dourados estão inexpressivos.

Incrível.

Ele sabe o que estou sentindo, já que agora estamos psiquicamente ligados. Provavelmente até faz ideia dos meus pensamentos.

— Você está bonita também - ele responde.

Mordo o lábio inferior e volto a me olhar no espelho.

— Ficou perfeita - Perséfone elogia, ignorando o diálogo entre Tanatos e eu - qualquer coisa, me chame.

Assinto e sorrio para ela, vendo-a sair do quarto com passos apressados e leves.

Penso em algo pra dizer e derrubar essa parede de gelo entre nós.

Me viro e nós dois abrimos a boca para falar algo, mas a porta se abre e a cabeça loira de Eros surge, curiosa.

Ele fecha a cara e pergunta:

— Interrompi algo?

Nego com um aceno de cabeça e termino de abrir a porta.

Eros entra, ajeita as asas multicoloridas e me olha dos pés à cabeça.

— Conseguiu ficar ainda mais linda - ele sorri, satisfeito.

Escureço os olhos e ele alarga o sorriso.

— Pode ir na frente, Tanatos - Eros diz, soando amigável.

Fico tensa na hora. Por que ele quer ficar sozinho comigo?

Tanatos abandona sua carranca e me olha.

Ele quer saber se vou ficar bem.

Assinto e ele sai.

A ultima coisa que vejo são suas asas gigantes e negras.

Alguns minutos de silêncio se passam até que Eros pega minha mão e desliza algo gelado pelo meu dedo.

Fico encarando o brilhante e sentindo o metal gelado na minha pele, piscando confusa.

— O que é isso? - pergunto.

— Você perdeu o seu antigo, acho adequado continuar usando - ele fecha meus dedos para evitar que eu concretize meu pensamento de arrancar o anel e jogá-lo longe.

— Hórus vai jogar esse fora também - digo com certeza.

— Mas quando ele jogar esse, você vai pelo menos procurar? - ele pergunta, sério.

— Você sabe que eu não quero isso - sibilo e puxo minha mão para mim.

— Sagira, você não está nem se esforçando - ele se irrita.

— Eros, ninguém quer estar com alguém que não pode amar - resmungo.

— E quem disse que você não pode? - ele pergunta, cético.

Comprimo os lábios numa linha fina e encaro o chão negro.

Sinto um vento frio passar e Eros me envolve com suas asas.

— Eu não vou mentir, dizendo que posso te amar, Sagira - ele diz - mas você me intriga, é interessante e nossos pais tem interesse no noivado.

— Olha Eros - digo, controlando o tom de voz - a minha vida toda eu fui sozinha e livre. De repente começam a se importar comigo, me arrastar pra lugares em que eu não quero estar e eu tenho um noivo arranjado. Como você acha que eu me sinto sobre tudo isso agora? O que mais já decidiram por mim e eu não sei?

Eros me encara por alguns segundos compridos.

— Devem estar nos esperando pro jantar - ele diz e sai.

Fico encarando a porta, onde os dois alados entraram e saíram.

Por que diabos eu não consigo entender nenhum dos dois?

O amor e a morte são complicados.

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O jantar correu estranhamente bem.

Agora estou aqui, com Eros.

Ele não para com esse linguajar antiquado. Provavelmente as garotas se jogam aos céus pés quando ouvem, mas estou simplesmente cansada.

— Sei que não gosta - ele diz.

Arqueio a sobrancelha e me abraço.

Está frio.

— Do meu linguajar - ele me puxa e me abraça com suas asas - mas é assim que eu falo e… gosto de te ver irritada.

Reviro os olhos.

— Você não vai caçar? - ele pergunta, pegando minha mão e notando o quão trêmula ela está.

— Não - respondo e puxo minha mão de volta.

Mas ele a segura firme e entrelaça seus dedos no meu.

— Eros, o que está fazendo? - pergunto, irritada.

Não sou fã de contato físico.

As asas eu aceito, porque gosto delas.

Mas… mãos?

Ele dá de ombros.

— Por que não vai caçar? - ele pergunta, insistindo.

— Porque não estou afim - respondi, exasperada - será que pode me deixar em…

— Sagira - ele chama.

Ainda irritada, olho em seus olhos e não consigo dizer mais nada.

Estão coloridos, assim como suas asas.

Tento me mexer, mas estou paralisada.

Eros se aproxima e encosta sua boca na minha por segundos demais.

Consigo sair do transe e o empurro.

Ele ri.

— O que é tão engraçado? - pergunto, brava.

— Pensei que fosse imune a isso também - ele continua rindo.

Franzo o cenho.

Afasto uma de suas asas e saio do cerco que elas formam.

A passos apressados caminho - quase corro - de volta ao castelo e Eros vem logo atrás.

— Ah, Sagira - ele chama - não negue, você gostou.

Entro nos portões do castelo, ignorando-o, mas olhando para trás para conferir o quão longe o maldito está.

Dou de cara com um par de asas negras.

— Eu podia ter continuado e você teria retribuído - ele diz em voz alta.

Tanatos franze o cenho.

— O que ele teria continuado? - pergunta.

— Nada - respondo, me desviando dele e continuando a andar.

— Sagira! - Eros me segue.

Sinto uma lufada de vento e logo, ele me alcança e puxa meu braço.

Com raiva, escureço os olhos e o ameaço com as garras.

— É só uma questão de tempo e você vai ser minha - ele diz, com o olhar assustador - pode negar, adiar, pode fazer o que quiser, mas se prepare.

Ele solta meu braço e voa para longe.

Devo admitir que estou um pouco assustada.

Eros é bem intimidador quando quer.

Pisco e passo a mão onde ele me segurou com força.

Olho para os lados e encontro Tanatos me encarando com os olhos prateados e o maxilar trincado.

Volto para o meu quarto.


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