Sagira escrita por Senjougaha


Capítulo 1
Capítulo 1 - Arrastada pela morte




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- Sagira. Acorde – ordena alguém.

É uma voz familiar. Mas não tanto a ponto de eu abrir os olhos e ver quem é.

- Sagira – a voz fica mais insistente e o dono dela me sacode, irritado.

Ouço um barulho de ferro rangente. Parece uma cela se abrindo. Então me lembro de onde estou e me levanto num pulo para longe da voz que tanto tenta me acordar e rosno. Literalmente.

- Viu só? Essa garota precisa ser adestrada – desdenha Perséfone.

Estou numa cela, e dentro dela estão meu pai, sua esposa e um cara alado de olhos dourados. O que me acordou. Não que eu esteja achando ruim. O chão não é o melhor lugar pra se dormir. Esfrego os olhos para acordar melhor, pois estou enxergando tudo embaçado.

- Levante – ordena meu pai e eu obedeço de cara feia.

Me lembro de quando fui trazida à força até aqui pelo cara de olhos dourados. Qual o nome dele mesmo? Só me lembro que depois que cheguei, fiquei dois dias na cela como uma boa garota. Meu pai queria me ensinar uma lição por me envolver demais com os japoneses e eu até entendia aquilo. Mas quando percebi que ele pretendia me deixar ali durante três meses, no segundo dia me irritei e fugi.

Só pra ser trazida aqui de novo. O cara de olhos dourados sempre encontra um jeito de me achar e trazer de volta. Como se eu fosse um cachorrinho que fugia. É exatamente isso que pensam de mim: uma cadelinha.

Mas eu sou uma loba.

- Vai continuar a tentar fugir? – Hades pergunta já sabendo a resposta.

O encaro. Sério mesmo?

Ele suspira e fala alguma coisa em grego para um espírito que eu sequer notara que estava ali. Ando com a guarda baixa. E meu grego está péssimo.

- Você pretende me deixar aqui por meses – rosno – se me acha uma filha desnaturada, o que eu diria de um pai como você?

Furioso, ele fecha a cela com um aceno de mão e me sufoca. Ele nem precisa me tocar para isso. Estou com a cabeça tocando o teto e sinto falta de ar, levo as mãos ao pescoço. Ele me solta e eu caio com força no chão.

- Você não vai sair do meu reino até aprender a lição – ele diz severo - até aprender que aqui é o seu lugar.

- E como é que você pode garantir isso? – zombo me arrastando pelo chão, tentando ficar em pé.

Estou zonza.

- Assim – ele diz pegando a mão do cara de olhos dourados e o fazendo me enforcar.

Fico ainda mais zonza e caio no chão. Desmaio.

Acordo em poucos minutos e sinto algo em meu pescoço. Será que ele não cansou de me enforcar? Será que não percebeu que eu não morro?

Mas no meu pescoço não tem uma mão. O que está ali é aveludado e negro, cheio de spikes: uma coleira.

- O QUE É ISSO? – grito puxando a coleira e percorrendo meus olhos pela corrente para ver até onde vai.

Será que estou presa na cela?

Mas não é na cela que estou presa. Estou presa ao cara de olhos dourados. Ele tem a mesma reação que a minha.

- Hades?! – ele questiona furioso.

- Dome essa garota – sibila Perséfone.

- Quanto mais rápido você se comportar, mais cedo estará livre – meu pai se dirige a mim e eu rosno.

- Tanatos, lhe desejo boa sorte – diz Perséfone – realmente não desejo que passe a eternidade com essa pirralha, mas lhe aviso: será difícil.

Então o nome dele é Tanatos.

Ele puxa o pulso e a corrente me puxa junto, me derrubando no chão. Quando consigo me levantar, lhe dirijo um olhar de fuzil.

- O quê diabos pensa que está fazendo? – pergunto me esforçando para não rosnar.

Ele puxa a corrente de novo. Meu pai ri e sai da cela, levando consigo a madrasta infernal.

Permaneço parada tentando dar um tempo para que meu cérebro processasse a informação.

- Tenho trabalho a fazer – Tanatos finalmente diz abrindo a cela e saindo.

Trabalhe mesmo, vagabundo. Mas não me arraste junto!

- Por que é que eu tenho que ir com você? – pergunto indignada.

- Calada.

- Não sou nenhuma cachorra – grito puxando a corrente e ele quase cai pra trás.

- Mas age como uma – ele sibila e encurta a corrente.

Por que ele pode encurtar e aumentar a corrente, enquanto eu preciso estar em volta dele o tempo todo até ele querer me distanciar?

Chegamos a uma planície cheia de tufos de grama negra. Torço o nariz. Detesto admitir, mas gosto daqui.

Tanatos viaja nas sombras e me arrasta junto. Só que ele pode voar. Eu não.

Ele abre suas asas gigantes e negras e paira enquanto eu grito.

- VOCÊ É A MORTE EM PESSOA, MAS EU NÃO! TÁ QUERENDO ME MATAR?! – digo tentando parar de gritar histérica.

- Você não morre – ele diz dando de ombros e mergulha no vento.


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