Waisenkind escrita por HarpiahAvalon


Capítulo 3
Capítulo 3 - Traição?


Notas iniciais do capítulo

Só para esclarecer para a senhorita Vaah. O prólogo da fic disse que ela nasceu na DÉCADA DE 20. Eu não especifiquei o ano. Mas se eu disse que ela fez aniversário de 12 anos em 1942, o melhor ano para o nascimento na nossa protagonista seria 1930



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Naomi sorriu e se virou, tentando dormir. Sharon olhava sem sono para o teto do seu quarto. Os acontecimentos do dia foram muito especiais para ela, então ela ficou deitada relembrando. Um tempo depois o sono veio. Pesado e irresistível. Sharon se entregou a ele sem medo. Pena que daquele dia em diante, eles nunca mais seriam os mesmos.       Depois de alguns minutos de sono, ela começou a suar. O que era estranho porque ela nunca suava enquanto dormia, mesmo sendo nas noites mais quentes. Estava tendo um pesadelo. Talvez um dos piores da sua vida. --------- Ela estava sozinha. A grama molhou-se com uma chuva de outrora e estava prestes a chover de novo. Seus passos pareciam estar lentos porque sempre atolava os pés em trechos que a grama cedeu a um grande lamaçal. Seu desejo era lavar os pés no riacho que tinha perto de sua casa. Já havia anoitecido. Sharon estava sentindo dores no corpo todo. Talvez fossem porque ela se contorcia toda... A garota parecia queimar por dentro. Nunca ninguém tinha sentido essa sensação... Ela olhava para os lados e não encontrou vivalma. Forçando as vistas, pôde ver uma figura conhecida de mãos dadas a um rapaz que aparentava ser belo. A chuva ameaçava cair. Depois de alguns instantes, a pequena percebeu que aquela figura era sua irmã, de mãos dadas a um rapaz louro. A morena estremeceu. Era um alemão. Ela não podia ficar perto dele! E se alguém da Gestapo aparecesse? Toda a família pagaria!      Gritos queriam sair da sua boca, mas eles não tinham som. Naomi não ouvia nada. Estava mergulhada num sono profundo até demais. Sua irmã nunca teve um sono tão pesado assim. Sabia que tinha algo errado.      - Naomi! – gritava a menina para a irmã - você enlouqueceu? Mas ela parecia não ouvir. Estava surda afinal? A pequena gritava a plenos pulmões e cidade inteira acordaria se continuasse: - Pare com isso garota! Não faça isso! – Sharon chorava imaginando como a família sofreria se a Gestapo descobrisse. Até que o inevitável aconteceu: o rapaz louro sacou uma arma; e deu um tiro na cabeça de Naomi sem dó nem piedade. Os joelhos de Sharon viraram gelatina. Tudo ficou escuro. A judia abriu os olhos. A cama molhada de suor não veio da chuva que caía sem parar do lado de fora, mas denunciava a noite atribulada que tivera. Virou-se a fim de ver se a sua irmã estava bem, mas teve uma grande surpresa. A cama dela estava vazia. E o seu armário estava aberto e bagunçado. Sharon saiu de sua cama e foi em direção a ele: não havia roupas em cabide algum. Algo lhe disse para pular a janela e tentar achar a sua schwester¹ fora de casa. Dito e feito. Depois de alguns passos, viu a sua irmã, debaixo de uma árvore de mãos dadas com o mesmo louro que tinha visto em seus sonhos. Seu rosto fino ficou pálido subitamente. O primeiro intuito seria gritar, mas isso chamaria a atenção de muitos, então se sentou no chão terroso com a sua camisola branca encardida e esperou. Sharon não sabia que estava acontecendo. Suas mãozinhas estavam geladas e rígidas pelo frio que sentia, além de estar ensopada por conta da chuva. Mas ela teria uma surpresa. Naomi estava apaixonada por um rapaz alemão. Até aí tudo bem, só que naquela época era um absurdo, principalmente com os conceitos adotados de nazismo. Os dois fugiriam para Praga. Ela estalava os dedos freneticamente como se fosse algum tique nervoso, e sentia que algo ruim ia acontecer. E aconteceu. Vários soldados brotaram do nada. Só então Naomi percebeu a emboscada: o rapaz por quem tinha se apaixonado era da Gestapo. O rapaz por quem tinha feito as suas tardes sem graça mais coloridas que um arco-íris comum a tinha traído da pior maneira possível. Ele tinha exposto a sua família. Isso significaria que todos perseguiriam seus entes queridos. Em seguida o rapaz louro atirou na cabeça da judia mais velha e deu uma ordem para os outros: - Nehmen Sie die anderen. Lassen Sie niemanden entkommen!² - ele gritava e os outros respondiam com um ‘Heil Hitler!’ dito com orgulho e prazer.      Só então Sharon viu como eles não tinham coração. Um dia, ao ficar por detrás da porta do quarto dos pais, ouviu a menção do termo “Judenfrei” (que quer dizer Livre de Judeus) e que talvez a sua cidade ficasse dentro daquele regime doentio. Todas as vezes ao sair de casa, Sharon e sua família tinham que colocar estrelas-de-Davi de um pano amarelo com a palavra JUDE cravada, porque eram assim facilmente reconhecidos pelos alemães. Logo, ficavam proibidos de fazer quaisquer coisas que se destinavam apenas aos seres de raça ariana, contribuindo para uma sociedade dividida e odiada.      O golpe que a Gestapo tinha acabado de aplicar era este: ver como as judias obedeciam as leis e se comportavam perante elas. A escolhida para o golpe foi por acaso a Naomi, linda judia dos cabelos castanhos. A conclusão foi a seguinte: A Alemanha colocou uma regra: Nenhum relacionamento entre etnias diferentes. Se algum infringisse a regra, significaria a ‘permissão’ de puni-los. E macabramente foi isso o que fizeram: A cidadezinha de Nove Mesto ficaria Judenfrei. Livre de Judeus. Pra sempre.      “Socorro!”      Ela queria gritar, mas sua boca não emitiu som algum. Suas pernas correram o mais rápido possível até a sua casa, e pulou até a janela de seu quarto como se fosse um simples obstáculo: -Mama, Papa, Steh auf³ - ela sacudia os pais, deixando-os assustados e sonolentos.      - O que diabos deu em você menina? – indagou o pai esfregando as mãos nos olhos – Onde está a sua irmã que não vê uma coisa dessas? É o dever dela cuidar de você e...      - Papa – ela interrompeu o pai, deixando-o em silêncio – Gestapo.      O patriarca da casa saltou de sua cama esquecendo o sono que sentia, enquanto ajudava a sua esposa (que também tinha se levantado às pressas) arrumar uma trouxa de roupas:      - O que vamos fazer? – a judia disse estas palavras com lágrimas quentes brotando dos seus olhos.      - Você vai fugir – disse Elisheva – Prefiro morrer a ver algo acontecer com você. Onde está sua irmã?      - Ela... – Sharon não conseguiu completar a frase, mas seus pais já sabiam o que queria dizer.      - Vamos logo. – disse o pai enquanto abria a porta dos fundos carregando uma trouxa de roupa que já estava semi-preparada, contendo um dinheiro ganho com o suor do teu rosto, alguns pedaços de pão, frutas velhas e peças de roupas mais quentes.      Tarde demais. Quando deram ao primeiro passo porta afora, os nazistas estavam parados em frente a eles, com um sorriso doentio. Sharon abraçou sua mãe. Porque talvez seria o último. ------------------------ Foto de uma das estrelas que os judeus da Alemanha nazista usavam:http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/c/c9/Judenstern_JMW.jpg/180px-Judenstern_JMW.jpg


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Notas finais do capítulo

schwester¹ - Irmã.
Nehmen Sie die anderen. Lassen Sie niemanden entkommen!² - Peguem todos, não deixe ninguém escapar!

Espero que gostem. Acho que desta vez não demorei tanto a atualizar