The Sound Of Silence escrita por Veridis Quo


Capítulo 1
-And no one dare..Disturb the sound of silence...




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“Hello darkness, my old friend..I’ve come to talk with you again. Because a vision softly creeping, left its seeds while I was sleeping…And the vision that was sleeping. And the vision that was planted in my brain…Still remains within the sound of silence..”

As pessoas ficam ansiosas por silêncio de vez em quando. Quando o som se torna intenso demais nos carros lá fora, misturado a gritos de crianças empolgadas e risadas altas no ar, há quem deseje o silêncio. Total silêncio. Não há nada audível, nada palpável a não ser o som de sua própria respiração rasgando os pulmões e lhe deixando vivo. Não se pensa nada, não se acredita em nada, não se pensa em nada. Somente o som do silêncio. Com o tempo, três horas ou mais, este mesmo som começa a lhe deixar surdo, seus tímpanos não aguentam mais. Porque no silêncio há solidão, embora aja dez mil pessoas ou mais na sala. Elas parecem não se importar com o que você está passando, elas parecem não dar a mínima. Só há você e aquele silêncio do qual te arrependes de ter desejado, pairando na garganta, causando engasgo e sangramento.

“In restless dreams I walked alone...Narrow streets of cobblestone. ‘Neath the halo of a street lamp, I turned my collar to the cold and damp. When my eyes were stabbed by the flash of a neon light, that split the night, and touched the sound of silence..”

Porém, depois de algumas horas a mais, talvez onze ou doze...Você começa a fazer amizade com o som do silêncio. A escuridão em seus tímpanos começam a se tornar ainda intensas, entretanto, você não consegue deixar de inclinar a cabeça para o lado e procurar algo bom em tudo aquilo. Se ninguém se importa, talvez o silêncio seja o suficiente para deixa-lo insano e já sente aquela loucura tomar conta de suas entranhas. Não há nada. Consegue ouvir o som se esgueirando pelas paredes, engolindo seu corpo, te trazendo pra baixo, para uma poça cheia de melancolia e sentimentalismo. Silêncio. Na sua infância talvez você tenha medo disso, de estar em um abismo sem som algum. Agora você quer ir, porque o silêncio está se comunicando contigo, afagando seus ouvidos, seus cabelos e pescoço, como as mãos invisíveis, como o vento escuro de pântanos pegajosos.

Depois de dias, você começa a se questionar a existência de luz lá fora, se tudo que você viu até agora foi real ou sonho. Tudo parece distante, e você esquece da sua cor preferida ou do abraço de alguém amado. Porque tudo isso parece sonhos e você sempre esteve lá, nas paredes escuras silenciosas. Alguém passa um prato de comida pela pequena portinhola quase colada no chão e você se arrasta para comer apenas por pura necessidade, já que não sente o gosto nas papilas gustativas. O garfo paira por algo não identificável e a medida que o alimento desce pela garganta, você não se pergunta como sabe comer. Porque também pode estar sonhando que está comendo. Não sabe mais quando está acordado ou dormindo, já que quando abre os olhos está tão escuro quanto estar com os mesmos fechados. O chão é gelado e quando você se deita, imagina estrelas silenciosas. Dizem que a explosão de uma estrela é silenciosa, não há som, não há som nas galáxias. Você estaria em uma? Não se lembra das estrelas e quando tenta falar não sai palavras, porque está tão acostumado ao silêncio que o único som do qual consegues emitir é ele e nada mais. Começa a se esquecer da sua idade, e do sol. A sua pele clama por sol, por algo quente, e pode senti-la descascando desidratada, mendigando por luz. Mas para quê clamar por algo que você não conhece mais? Ignora o modo que seus malditos cotovelos estão pedindo por atenção e seus joelhos doloridos praticamente não sustentam os pesos das suas pernas, você não consegue se levantar, porque aquela comida não é a suficiente para lhe dar forças. Não sabe mais se é físico, se é emocional, se é psicológico. É somente o silêncio. Quando adormece, parece que está acordado, e perde a noção das horas. Não sabe que dia é hoje. Porque as horas também parecem efeito de um sonho maldito. Entretanto, quando fecha os olhos de novo, pode ver ruas estreitas feitas de paralelepípedos molhados, e a luz da lua. Está frio, você saiu daquelas paredes mas o silêncio ainda reina, vendo mil pessoas conversando sem dizer uma palavra e ouvindo sem escutar. Há compositores escrevendo canções sem compartilhá-las, já que na cidade que você anda ninguém ousa interromper o som do silêncio.

“Fools – said I – you do not know…Silence like a cancer grows..Hear my words that I might teach you. Take my arms that I might reach to you. But my words like silent raindrops fell. And echoed in the wells of silence..”

“-Tolos! – Você se ouve dizer, partindo o som ao meio – Vocês não sabem que o silêncio é como um câncer que cresce! Ouçam o que eu posso dizer, tomem os braços que eu possa lhe estender!”

Mas então, ninguém ouviu suas palavras, porque estavam ocupados demais adorando a um Deus do qual você não conhece. Quando acorda, sua testa molhada de suor está quase afirmando que você saiu daquelas paredes e começou a correr. Mas não. Você não saiu e permanece ali preso. O silêncio mostra isso. Quando vira o corpo em direção a portinhola, sente que outro prato de comida está ali. Arrasta a mão e volta a mastigar o pão duro e sem gosto, doendo na garganta quando engole. A água quente no copo lhe alivia e você volta a se deitar, já que ficar sentado cansa. Há somente o silêncio.

Depois de meses, você tenta lembrar do seu nome. Não consegue. Porque raciocina que as pessoas nunca tiveram nomes, já que as cidades são silenciosas e você não precisa falar. Se esquece da textura da grama, da água gelada nos seus cabelos desgrenhados e do alívio que é vestir roupas limpas. Como uma criança você tenta dizer alguma palavra e não consegue, pois o silêncio tapa a sua boca tal qual a mãe que repreende o filho depois de um palavrão. Seus olhos de vez em quando choram ainda que saibas da ausência de tristeza. Porém, ela está impregnada em você. Começa a julgar-se dramático e mal amado quando se deita para outro lado do chão frio e desliza os dedos por algo que deve ser uma parede. Cutuca o cimento e imagina de que é feito tudo aquilo, já que se esqueceu dos tijolos e tinta. Por um momento seus dedos enfraquecem e o pulso volta até o chão duro e frio. Pousar a mão naquela parede exigiu muita força. Dorme novamente e não sonha, ainda julga estar sonhando quando acorda. Mais meses se passam e o que era seu amigo agora se torna seu carrasco. Você não aguenta o silêncio e começa a gritar. De repente a garganta dói demais e até mesmo a comida passada pela portinhola lhe enjoa, porque não há uma maldita luz naquele lugar. Se levanta, cai, rala os joelhos e sente o cheiro do sangue pela primeira vez na vida, lambendo-o e vendo o quanto ele é diferente. Começa a chorar e a rir muito alto, arranhar as paredes e fazer de tudo para o silêncio ir embora. Não o suporta e quando ele tenta afagar seus ouvidos você se revolta, porque está cansado. Se não houver vida além daquelas paredes, que você possa viver a sua falando e cantando coisas desiguais, sem sentido, músicas infantis, frases de livro que vem a sua cabeça tal qual um vento, você nem sabe o que está dizendo. Quando não há nada mais para ferir, você sente a sua pele rasgar quando atraca as suas unhas fracas nos braços e coxas, gritando para não deixar o silêncio vir e lhe partir no meio novamente.

“-As palavras dos profetas estão escritas nas paredes do metrô e nos corredores da casa!” – Você grita e aquilo não faz o maior sentido, pois mesmo que grite muito alto, tudo aquilo parece um sussurro pro silêncio forte. De repente lembra daquele sonho do qual teve a meses atrás, ou seria anos? Séculos? Todos parecem estar distantes demais e você parece a única pessoa existente na face da terra, sendo alimentada por sonhos e nunca por comida palpável. Você começa a se desesperar e se questionar o porque disso tudo, se tudo aquilo é um vácuo sem fim e seu espírito paira por lá sem casa, sem ninguém para voltar. O abandono, a melancolia. Se arrasta pelo chão e bate nas paredes procurando derrubá-las com a própria força e não tendo mais nada exceto os cotovelos sangrando de esforço. Cai para trás e chora alto, não há nada e você está sozinho. Alguém lhe abandona ali e você sente raiva desse alguém do mesmo jeito que sente raiva do silêncio.

Depois de mais alguns meses você está jogado no chão sem esperança alguma. O fogo que se acendeu no momento de revolta se apagou quando viu que, não adianta as suas ações, sempre se resumirá ali. Começa a ignorar a comida na portinhola e o estômago machuca roncos exigentes por alimento e você ignora, pois se for somente algo etéreo e evanescente, para quê dar atenção as suplicias de seu corpo que você nem se lembra como é? Não diz mais nada, não se move, e o silêncio volta a afagar seus ouvidos e como um pedido de desculpas, tu se voltas:

“-Olá escuridão, minha velha amiga. Vim conversar com você de novo...Porque uma visão um pouco arrepiante deixou sementes enquanto eu dormia. E a visão que foi plantada em meu cérebro, ainda permanece dentro do som do silêncio.”

E o silêncio parece lhe desculpar, porque está perto de você. Seus olhos estão se fechando e você não sabe se está indo dormir ou se está acordando, pois o som de uma porta feita de aço se abre, ali no canto da portinhola. Você berra e se esconde nos próprios joelhos porque a luz fere seus olhos, e de repente lembra do seu nome e o que está fazendo ali. O silêncio se vai como grilhões sendo levados embora e agora sabes o que os escravos sentem no momento de libertação. Durante meses você foi escravo do silêncio e agora está livre. Junto da luz há um grupo de homens, como em seus sonhos, e uma mulher vestida de branco lhe ergue pelas axilas como um bebê e você se aconchega a ela. Há um perfume de lavanda no ar e há lágrimas nos seus olhos. Ela cuida de suas feridas e parece suspirar, dizendo para que você cesse o choro, que está tudo bem agora e vai para casa. Começa a lembrar da sua casa e do cheiro da comida da sua mãe, do abraço do seu pai e do pelo macio do seu cachorro. Se lembra dos seus colegas, dos seus amigos, da sua cama. O silêncio é deixado.

“And the people bowed and prayed..To the neon God they made. And the sign flashed out it’s warning. And the words that it was forming…And the sign said: - The words of the prophets are writer on the subway walls. And tenement halls..”

-Interessante... – Diz um dos homens – Quanto tempo vocês deixaram aqui?

- 12 meses, senhor. – Respondeu a mulher de branco do qual lhe tinha nos braços – Estava em muita revolta com os outros pacientes e decidimos tomar a decisão da solitária. Acredita que agredia os médicos e até mesmo a mim? Parece que esse ano serviu de muitas mudanças, está doce como um bebê.

Um homem de branco, atrás do que falou primeiramente, se aproxima da mulher com você no colo e afaga seus cabelos.

-Isso foi uma crueldade.

-Foi algo que precisamos fazer. A família deixou o paciente aqui para ser tratado, doutor. – Outro homem fala lá atrás – E nossos métodos são nossos métodos. O silêncio enlouquece mais do que o barulho.

Você sorri, ri. É verdade. Você sabe que é verdade.

-Que este caso não seja comentado com ninguém. – Ele afaga seus cabelos novamente – E não citem a solitária. Com o tempo esquecerá, afinal, tem esquizofrenia. Falaremos que é fruto de sua imaginação.

-Levamos ele para a sala, doutor? –Pergunta a mulher que lhe tem no colo.

-Obviamente. E feche esta porta. Não colocaremos mais ninguém aqui.

E então a luz no corredor se intensifica e você procura se esconder dela. – Não vai lhe machucar...- Sussurra a enfermeira amavelmente. Sim, ela é uma enfermeira – É somente luz.

É somente a luz.

E ela parece medonha.

O burburinho de outros como você é ouvido, e eles são tão insanos como estavas no silêncio. E então você percebe que a mente deles é tão silenciosa quanto aquela solitária, e estão presos em paredes. Paredes que tentam sair todos os dias.

Porque o barulho não pode enlouquecer.

O que enlouquece...É o silêncio.

“And whispered in the sound of silence...”


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