Sob as Asas escrita por FoxChan


Capítulo 8
Capítulo 7 - Bela estranha


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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Então Zophiel me lançou um olhar de lado e seguiu seu caminho. Leon levou um tempo para se mover, mas então veio até mim.

– Va-vamos embora.

Ele levou a mão à minha cintura e me guiou para fora. Ao entrarmos na carruagem ele se sentou ao meu lado e colocou o braço sobre meu ombro. Eu estranhei o gesto dele. Mas na hora nada disse.

Chegamos em casa e eu me sentei no sofá. Minha mente estava a mil. Leon veio e se sentou ao meu lado colocando uma mão no meu vestido em cima da minha perna. Eu o olhei sem entender.

– O que houve com aquele negócio de ficar longe de mim?

– Nada. Eu só descobri que não importa o que você faça, eu não consigo ficar longe de você.

Ele falou aquilo com um lindo sorriso no rosto. Eu senti vontade de chorar.

– Você está bem? – ele quis saber.

– Sim. Leon, o que Zophiel disse a você?

– Zophiel?

– O Marshall.

– Ah! – ele ficou triste. – Só uma verdade.

– Que verdade?

– Ele falou exatamente isso: “Shaw, entenda, não pode protege-la como eu posso. Ela tem que ficar perto de mim, independente dos sentimentos que temos um pelo outro”. Ele estava certo, eu não posso protegê-la e hoje foi um exemplo disso. Se não fosse por ele você não estaria aqui.

– Ele não precisava jogar isso na sua cara...

– Ele precisava. Eu estava me fingindo de idiota. Ele me acordou.

Leon se aproximou de mim e me deu um selinho, como aquele nosso primeiro beijo. Eu o olhei sem entender.

– O que...? – eu comecei.

– Fingir que você não existe não vai mudar o que sinto. Eu ainda te amo, assim como ele.

Leon se levantou e seguiu em direção às escadas.

Eu levei a mão aos cabelos ainda naquele gesto de nervosismo.

– Ainda nervosa?

Eu pulei e meu coração disparou descontroladamente com o susto que levei. Olhei em direção a porta da cozinha e lá estava Zophiel encostado à parede. Lindo como sempre, com sua cartola e bengala. Ele veio até mim e se sentou ao meu lado tirando a cartola e colocando a bengala ao seu alcance.

– Estás bem?

Eu automaticamente o abracei pela cintura colocando meu rosto em seu peito. Ele me retribuiu.

– Como entrou aqui?

– Estou acostumando a ver-te entrar pelos fundos sempre que sais.

– Ah! Faz sentido. Mas por que veio aqui?

– Eu precisava de ver se estavas bem... Pareceste-me meio em choque, quando saíste.

– Eu só estava assustada.

– E com razão. Era um demônio. Ele não me disse nada, mas acho que foi mandado pelo demônio que tu caças. Eu também vim aqui por outra razão. Passei os últimos dias a estudar o livro e lembrei-me de mais uma família com o trato. A família é a Barker. Eles vivem numa fazenda não muito longe da minha. Mas se eu ficar a vigiar, o animal pode reconhecer o meu cheiro, ou coisa do género, e pode não aparecer. Precisaremos de novo daquela sua amiga vampira.

– Ok. Vamos lá amanhã. Hoje eu realmente preciso descansar – eu falei.

Ele sorriu.

– Claro, minha querida.

Ele se aproximou de mim e me beijou. Eu senti o mesmo frio na barriga de sempre. Foi um beijo suave e não muito demorado, mas já me fez querer mais. Ele se afastou se levantando, já com a bengala em mão. Pegou a cartola e colocou.

– Vou indo.

E um instante ela já tinha sumido pelos fundos. Eu me levantei e fui em direção a quarto. Quando abri a porta do quarto de visitas, onde eu andava dormindo, Leon estava lá.

– O quê?

– Eu estava te esperando.

– O que você quer?

– Dormir com você.

– Não! Leon, isso está indo longe demais. Vá para o outro quarto ou eu vou. Não estou aqui para enganar ninguém. Você já está ciente de tudo, não complique as coisas...

– Ok. Ok. Eu já entendi. Não me custa tentar. Só eu sei quão frias são as noites sozinho naquele quarto que me lembra tanta coisa boa – ele afirmou.

Ele estava disposto a me atingir com o passado de qualquer maneira. Mas isso não funcionaria. Ele saiu e eu fechei a porta. Só então tirei aquela roupa e me deitei para dormir. Não demorei a dormir, minha cabeça estava uma confusão, mas meu corpo gritava de cansaço.

Durante todo aquele dia, Leon me tratava como sempre foi, antes de todo esse problema começar. À noite, quando me troquei para sair, ele nada disse. Foi o único momento em que ele pareceu estranho. Mas eu nada podia fazer.

Saí pela porta dos fundos, e, como sempre, Zophiel estava lá. Nos cumprimentamos e seguimos caminho. Fiquei olhando em volta para ver se via Flint, mas nem sinal dele.

Quando estávamos quase no bairro pobre, vimos em uma praça um grupo de pessoas muito diferentes das da cidade. Em volta deles havia um monte de pessoas locais olhando. Quando estávamos quase passando por elas começou uma música um tanto estranha para mim. Quando olhei em direção às estranhas pessoas, vi uma linda mulher de cabelos muito claros começar a dançar. Zophiel mudou seu rumo e foi em direção àquele grupo de pessoas. Eu o segui sem entender. Ao chegar lá vi que o quanto aquela mulher era deslocada naquela lugar. Ela tinha longos e lisos cabelos loiros e olhos azuis, com pele muito branca, enquanto os outros integrantes do grupo tinham cabelos negros, olhos castanhos e pele morena. A mulher que dançava usava uma roupa linda, porém, aqui, considerada promiscua. Era uma saia rodada até aos pés, uma sandália toda aberta sem salto e uma blusa muito curta que só tapava a região dos seios e os ombros, todos muito coloridos, ela usava um lenço de igual beleza e cores para dançar. Tinha uma graça impressionante em seus movimentos. Ficamos ali na parte central do círculo olhando a mulher até que ela parou, sorrindo lindamente.

Foi naquele instante que Zophiel deu um passo à frente das pessoas que estavam ali e jogou o capuz para trás, revelando seu rosto. Ninguém da plateia pareceu reconhecê-lo, e a dançarina não tinha visto o que ele fez, pois tinha se virado de costas. Foi quando ele chamou.

– Rahmiel?

Ela se virou de cenho franzido. Então um sorriso muito lindo surgiu no rosto dela. Ela correu em direção a Zophiel e pulou nele. Eu podia jurar que ambos iam cair, tamanha foi a velocidade em que ela bateu nele, mas isso não aconteceu, mesmo com toda a força do impacto Zophiel não deu sequer um passo para trás. Ela o abraçou pelo pescoço e deu um carinhoso e demorado beijo na bochecha dele.

– Zophiel, que saudade... Achei que não encontraria ninguém aqui.

Ela o soltou e ficou ali de frente para ele.

– Eu também. Mas desde quando estás aqui?

– Um ano depois de ti – ela respondeu.

– Mas, porquê?

– Bom... Pela mesma razão, posso dizer. Mas eu não me apaixonei por um humano como tu, apaixonei-me pela cultura humana. E com isso negligenciei o meu trabalho, o meu castigo foi ser mandada para cá; no início foi bem difícil, mas depois… acho que estou feliz assim – ela contou.

– Cuidado com a tua felicidade...

– Eu sei – ela concordou. – Alias, tu estás duro como pedra.

A garota esfregou o ombro que bateu contra Zophiel.

– Não mudei muito – ele informou.

– Quer isso dizer que ficaste com os teus poderes?

Ela parecia impressionada com isso.

– Sim, alguns...

Zophiel assentiu. A garota sorriu, feliz.

– Nossa! Como esperado de ti. Mas... – ela ficou triste. – Eu não pude. Não suportei a dor de trazê-los. Perdi quase tudo. Exceto o meu poder único.

– Ainda consegues trazer amor, Rahmiel?

– E vê-lo. Com bem mais esforço do que antes, mas ainda posso.

Zophiel sorriu.

– Já está bom, não crês?

– Sim. Aliás... Eu vi o que fizeram com a tua amada logo depois que vieste para cá, mas... estás apaixonado... Ainda?

Zophiel sorriu lindamente.

– Não... De novo.

Rahmiel sorriu, e com certeza esse foi o sorriso mais lindo que já vi no rosto de uma mulher.

– Quem é ela? Preciso de conhecê-la.

Zophiel me olhou, parecia me indagar se eu me sentia confortável com isso. Eu assenti, então ele me estendeu a mão. Eu segui até ele, mas não peguei a mão dele, mesmo porque ele a recolheu quando me aproximei. Eu tirei meu capuz e olhei para a mulher. Ela era a forma feminina perfeita de Zophiel. A única diferença entre eles era essa, Rhamiel era de uma feminilidade inacreditável, com uma voz suave e beleza inigualável. Já Zophiel tinha aqueles traços masculinos e lindos, a voz às vezes me parecia um trovão, mas não tinha a agressividade de tal. Eram perfeitamente iguais e ao mesmo tempo opostos.

Rahmiel me olhou com o mesmo sorriso de antes.

– Olá. Eu sou Rahmiel, anjo do amor... Bom, eu fui – ela se apresentou.

Eu retribui o sorriso que era quase impossível de resistir.

– Eu sou Morgan, uma simples humana.

– Está errada. Nenhuma simples humana chama a atenção de um anjo, nem mesmo dos decaídos. A Morgan é especial – Rahmiel afirmou.

– Quem sou eu para descordar – falei.

Ela riu.

– Bom, eu reparei em outra coisa, se não se importam. Percebi que não se tocaram, porquê?

Zophiel deu um sorriso de lado.

– Não é uma boa ideia. Se é que me entendes – Zophiel comentou.

Ela sorriu compreensiva.

– Entendo, mas, infelizmente ou felizmente, só teoricamente.

Zophiel e eu rimos.

– Talvez seja melhor para ti assim – Zophiel aconselhou.

– Não sei. Ainda não vi tudo que quero ver por aqui.

– E quanto tempo pretende ficar? – questionei.

– Não sei bem, mas o grupo falou algo sobre um ano.

– Hum. Onde te vais hospedar? – Zophiel quis saber.

– Não sei. Eles devem procurar algum lugar para acampar.

– Você quer fazer isso? – perguntei.

– Não tenho outra opção e desde que cheguei aqui, não conheço outra maneira de viver.

Zophiel sorriu.

– Eu posso-te mostrar outra forma. Mas só se prometeres permanecer comigo até que eles partam.

Ela sorriu.

– Bom, vou falar com eles. Mas acho que não se importarão.

– Ótimo. Eu tenho algo a fazer por aqui, mas quando voltar passo por aqui e venho buscar-te, ok? – Zophiel informou.

– Claro – ela se virou para mim. – E não precisa de ter ciúmes.

Eu sorri para ela.

– Não tenho.

Ela sorriu e voltou correndo aos amigos.

Zophiel e eu colocamos o capuz de volta, atravessamos a multidão que continuava ali e logo estávamos em nosso caminho para o galpão de Lauren.

– Todos os anjos são loiros de olhos azuis? – perguntei.

Ele riu.

– Não. Os olhos são sempre azuis, mas os cabelos não são sempre loiros. Na verdade, a maioria dos anjos tem cabelos negros. Esse padrão foram os humanos que criaram.

– Entendo. Mas então eu é que tive sorte em encontrar dois anjos com esse padrão?

Zophiel riu de novo.

– Mas sendo Rahmiel, isso não poderia ser diferente.

– O que você que dizer? – fiquei sem entender.

– Bom, Rahmiel é minha irmã.

– Hein? Irmã? Mas vocês anjos não são todos irmãos?

– Sim, deixa ver se te consigo elucidar. Rahmiel e eu fomos criados juntos. Seria como dizer que somos gêmeos.

– Entendi. E existem muitos assim?

– Não, não devem chegar a dez que podem ser chamados assim.

– Isso é bem interessante.

Ele só sorriu.

Nós seguimos até chegar ao galpão. Lauren estava lá, como se nos esperasse. O companheiro dela estava por lá, mas nas sombras.

– Lauren?

– Olá, - ela abriu um sorriso. – Fico feliz em vê-la bem.

– Obrigada... Bom, temos um novo nome.

– Eu já esperava. Qual é?

– Barker. Nos avise, vou tentar não me machucar.

Ela riu.

– Claro. Te direi tudo que acontecer de suspeito.

– Muito obrigada.

– Não se preocupe. Se você realmente conseguir se livrar daquela criatura, eu poderei viver com mais paz.

– Entendo... Acho que vou voltar – afirmei.

– Qualquer dia te faço uma visita.

– Faça sim. Flint não te incomodou mais não, não é?

– O caçador? Não, ele anda meio sumido. Deve fazer mais de duas semanas que não vejo.

Eu olhei Zopheil, que me retribuiu sério.

– Está certo. Até mais, Lauren.

Sorrimos uma para outra e eu voltei pelo mesmo caminho de onde vim.

Eu percebia que, mesmo querendo disfarçar, Lauren temia Zophiel tanto quanto temia a criatura, mas a diferença é que a criatura sentia prazer em matar qualquer coisa, anjos eram mais na deles, ainda mais os decaídos. Andavamos de volta a onde Rahmiel estava.

– Acha que ele está bem? – peguntei a Zophiel.

– Os ferimentos que ele tinha não pareciam letais – ele respondeu.

– Tomara que esteja bem.

Ele só concordou com a cabeça.

Nós seguimos caminho.

Zophiel e eu fomos até onde Rahmiel estava. Ela nos esperava com um sorriso no rosto e uma trouxa nas mãos. Ela nos acompanhou até perto da minha casa. Eu entrei lá e deixei um bilhete na mesa de cabeceira onde Leon dormia e saí. Depois nós três entramos na carruagem de Zophiel que nos esperava, percebi que não era Edkiel o cocheiro.

Assim que nos sentamos, Zophiel e eu num banco, Rahmiel à nossa frente. Zophiel do nada colocou o braço sobre meus ombros. Era como se ele demonstrasse que a presença de Rahmiel era diferente, era confiável. Fomos em silêncio, mas eu via que Rahmiel estava se remoendo de vontade de perguntar algo. Ela encarava as próprias mãos e Zophiel olhava pela janela e provavelmente nem tinha notado isso nela.

– Pode perguntar? – eu falei.

Rahmiel me olhou com os olhos arregalados.

– Como sabe?

– Está escrito na sua testa?

Ela levou a mão à testa assustada sem entender. Zophiel e eu rimos e ela corou sem graça.

– É só modo de dizer. Eu quis dizer que era óbvio que você quer saber algo...

– Ah! Bom... Eu só queria saber... Não é casada?

Zophiel e eu nos entreolhamos, sérios.

– Sim, minha irmã. Ela é casada.

– Mas isso não é errado por aqui?

– É, Rahmiel. Mas tu que és, ou mesmo fostes, o anjo do amor deverias entender que casamento não é sinônimo de amor – Zophiel afirmou.

Ela se voltou para mim.

– Não ama o seu marido?

– Não, Rahmiel. Eu amo seu irmão.

Ela sorriu fracamente.

– Mas isso pode gerar problemas para vós dois... Para Zophiel, eles podem...

– Pare, Rahmiel – Zophiel a cortou.

– A decisão de nos amarmos não foi nossa. E agora, já está feito, é impossível para mim ficar longe dela. Não te preocupes conosco, o destino está nas mãos do Pai.

– É a ele que temo – Rahmiel falou.

– Eu não, nunca temi o meu Pai. Temo os meus irmãos, alguns muito mais poderosos do que eu. Mas não vou deixar que me tirem a felicidade de novo. Não por inveja. Apelarei ao Pai, se necessário.

– Papai, já não nos ouve.

– Tu não tens orado com toda a tua fé – Zophiel afirmou sério.

Rahmiel o olhou assustada e então baixou a cabeça.

– Acho que estás certo.

Depois disso o silêncio reinou ali. Chegamos a casa e descemos.

– Sabe por que a Morgan está aqui?

– Morgan... Belo nome.

– Obrigada.

– Bom... Achei que ela vinha para ficar contigo.

Ele franziu o cenho. Eu estava aguardando o que ele tinha dizer, pois não sabia também. Eu pensava o mesmo que Rahmiel.

– O que também não deixa de ser verdade. Mas bom, como vais ficar aqui por um ano, e nós somos demasiado parecidos, serás a minha irmã que veio da França. Mas para isso terás de te portar como alguém da nobreza. Espero que não te importes...

Rahmiel negou com a cabeça e ele continuou.

– Por isso, Morgan está aqui. Ela vai instruir-te; como vestir as roupas, como te deves comportar. Não sei se tens conhecimento, mas eu sou uma pessoa muito chegada ao rei deste país, então uma irmã que me veio visitar requer uma festa para que eu a apresente à sociedade e ao próprio rei. Entendes?

Rahmiel sorria.

– Isso parece-me bastante interessante.

– Ok. Eu sou Anthony Marshall. Morgan é Morgan Shaw, antes disso, Morgan Palmers. O marido dela é Leon Shaw...

– É estranho ouvir-te falar assim. O marido dela...

– Mas é o que ele é. E ele sabe de tudo, agora sabe.

– Ok. E como vou-me eu chamar?

– Samantha Marshall.

– Bom. Acho que posso fazer isso – Rahmiel falou.

– Está certo. Então vamos começar com a roupa. Mostra-lhe, Morgan. Naquele quarto em que tomaste banho há vários vestidos no guarda-roupa.

– Ok – eu concordei.

Eu segui para lá e Rahmiel veio atrás de mim.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado!



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