Sob as Asas escrita por FoxChan


Capítulo 2
Capítulo 1 - Aliados


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura...



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A festa foi até bem tarde, já passava muito do anoitecer quando só ficamos eu, Leon e Bethan, que resolveu ficar e dormir aqui.

Ela subiu comigo e eu pedi que ela me ajudasse a tirar a roupa, e me seguiu até meu quarto. Ela me ajudou e eu fui leva-la ao quarto dela, se deitou e eu me sentei ao lado dela.

– Você vai ficar bem?

– Vou sim.

– Qualquer coisa é só ir ao meu quarto e me chamar.

– Não vou atrapalhar nada?

Eu sorri.

– Não. Basta bater e esperar resposta antes de entrar.

Ela sorriu.

– Ok. Farei isso.

– Boa noite.

Ela me respondeu eu saí voltando ao meu quarto. Quando entrei encontrei Leon sentado a escrivaninha me olhando como se estivesse me esperando.

– Oi... – falei.

– Oi. O que vai fazer hoje?

Entortei a boca.

– Vou aos bairros pobres.

– Por quê? Ouviu algo?

– Na verdade sim. Ouvi durante a festa que houve três mortes lá, a noite passada.

– Quer companhia?

– Melhor não. Alguém tem de estar aqui se Bethan acordar.

– E o que eu digo se ela não te achar?

– Diga que eu estava com a cabeça cheia e fui ao jardim dar uma volta e arrume uma desculpa para ela não vir atrás.

– O que eu não faço por você...

– O que você não faz pela sua imagem – corrigi.

– Ah, não seja injusta comigo. Gosto de você...

– Corrigindo de novo. Você me deseja, e é meu amigo.

– O que resulta em eu gostar de você.

Ele veio até mim e me abraçou.

– Hoje vai ter que procurar outra – afirmei.

– Não gosto de fazer isso. Me deixa com imagem de canalha.

– Por que quer ser diferente de todos os outros homens do mundo? Não seja tão ambicioso. Nossa fachada continua intacta e o rei não vai te julgar se procurar mulheres fora do casamento. Todos fazem isso, principalmente ele.

– Por que não posso querer ser diferente? E você está implicada com o rei desde aquele jantar.

– Pode, basta deitar aí e dormir sossegado. E sim, eu estou mesmo, ele queria me levar para cama.

Ele me olhou derrotado.

– Não quero dormir.

Ele fez cara de cachorro sem dono.

– Então ache o que fazer.

Eu me livrei dos braços dele, fui ao meu guarda roupa peguei uma capa marrom escura de um pano pesado e velho, e o coloquei. Peguei algumas armas de prevenção e prendi a minha roupa.

– Não sei a que horas volto. Se não estiver aqui ao amanhecer vá atrás.

– Ok.

Eu saí e fechei a porta, deixando Leon com cara de tédio sentado na cama.

Andei silenciosamente pelo corredor, desci as escadas e segui para a porta dos fundos. Saí por ali e andei até ao muro onde tinha uma portinha, que dava a uma ruela deserta ao lado da casa. Segui meu caminho atravessando grande parte de Londres. Muitas casas ainda tinham luzes saindo da janela.

A diferença entre a parte nobre e a parte pobre da cidade era gritante. Casa como a minha aqui abrigava vinte famílias. As ruas estavam sempre cheias de lama, que cheirava a urina e fezes, às vezes a decomposição de carne de animais e pessoas mortas. Entrei pelos becos do lugar olhando tudo atentamente. Ratos andavam por ali livremente, pessoas dormiam ao chão, alguns parecia até estar mortas. Os gritos de uma mulher me fizeram correr em direção ao som, mas era só um cara tentando estupra-la. Eu peguei uma barra de ferro que estava ali e dei na cabeça dele com toda minha força, o homem desmaiou. Eu virei as costas antes que a mulher tivesse visto quem a salvou.

– Obrigada, senhor – ela gritou.

Eu só segui meu caminho. Encontrei um velho galpão que tinha ali. Estava desocupado. Entrei, o lugar cheirava a bicho morto e estava ainda mais escuro que as ruas. Alguma coisa se mexeu ali por perto e eu me assustei. Meu coração disparou. Talvez não tivesse sido uma boa ideia entrar ali. Talvez fosse um covil de vampiros, eu não podia lidar com mais de dois vampiros por vez. Eu não queria mata-los, mas eles queriam me matar. Não tinham nada contra mim, só queriam sangue. E um humano entrando num covil deles podia ser uma ótima oportunidade de comida fácil.

Me preparei. Vi algo se mexer de novo. Droga! O que me deu para ter entrado aqui? Eu dei mais um passo em frente, então uma pessoa estava na minha frente. Uma mulher. Com um sorriso maldoso no rosto. Era um vampira, tinha a certeza. Sem tirar os olhos dela por mais de um segundo observei em volta e percebi que não havia mais nada ali além daquela mulher. Então eu a encarei. Muito lentamente eu peguei uma seringa com sangue de um homem morto e tirei a tampa. Segurei a seringa com a agulha em direção à barriga dela. Ela mostrou os dentes.

– Melhor não fazer isso – avisei.

Ela se aproximou com violência para me morder, mas assim que sentiu a agulha se afastou alguns metros.

– O que é isso?

Eu levantei a seringa e mostrei. Ela arregalou o olho e sibilou como um gato.

– Caçadora de vampiros – ela deduziu.

– Não. Caço outra coisa. Isto aqui? É só proteção.

– E o que a traz aqui então?

– O que eu caço é bem maior que você. Parece um lobisomem, mas é maior. Tem olhos vermelhos como o inferno e mata sem pensar, estraçalhando a vítima.

Ela me olhou como se eu soubesse demais. Me analisou por um bom tempo.

– Já ouvi falar de tal coisa. Dizem que é mais poderoso que qualquer criatura na terra ou no inferno. Dizem que só pode ser derrotado por um anjo.

– Então estamos todos com problemas, não? Ele pode matar qualquer criatura, incluindo você. Eu já vi vários tipos de criaturas da noite, mas nunca um anjo.

– Eu já vi um. Na Alemanha. Os únicos que estão por aqui são os caídos, de pecados menores que Lúcifer. Mas esse que conheci não tinha mais os mesmos poderes de antes de ter caído. Raramente eles ficam com eles.

– Como sabe de tudo isso? – questionei.

– Eu tenho quase quinhentos anos, já andei por muitas partes do mundo. Ouvi muita coisa. Mas eu temo essa criatura horrenda a qual você mencionou. Ouvi que ela aparece por aqui às vezes.

– Se a teme pode-me ajudar a encontrá-la. Não lhe peço nada além de ajuda para encontrar, depois eu me viro com ela.

– Por que eu te ajudaria? – ela quis saber.

– Me diga você. Por que me ajudaria?

Ela me olhou desconfiada.

– Eu ajudo. Mas só com informações. Não vou atrás dessa coisa. Eu sou Lauren Barnes – a vampira se apresentou.

– Posso te dizer meu nome, se prometer guardar segredo. Só existe uma pessoa que sabe que venho aqui.

– Claro. Não tenho para quem contar mesmo.

– Ok. Eu sou Morgan Alisha Palmers Shaw. Conhecida como Sra. Shaw. Moro no bairro nobre na maior casa da rua Premium. Se souber de algo pode me procurar lá.

– Ok.

– Se encontrar algum demônio por aqui, me informe também. Estou a procura de um demônio rastreador.

– Farei isso. Mas agora, infelizmente, tenho que ir caçar. Tenho fome.

– Claro.

– Não vai me impedir?

– Não. Preciso de você.

Ela sorriu. Então sumiu por um buraco no telhado. Eu só balancei a cabeça. Meu coração ainda estava disparado. Respirei fundo para recuperar o fôlego direito. Mesmo que eu soubesse que podia me defender, meus instintos gritavam que eu estava em perigo. Saí do galpão e continuei a andar pelas redondezas. Homens bêbados passam pela rua praguejando coisas sem sentido. Uma bonita mulher andava calmamente pela rua, bruxa. Somente bruxas andavam assim pelas ruas. Não temiam ser atacadas por homens desesperados, se livrariam deles fácil. Essa mulher tinha cara de quem tinha acabado de fazer algum feitiço, melhor não mexer com ela.

Eu já tinha andado por quase todo lugar e nada da criatura. Resolvi voltar para casa. Quando eu estava quase saindo do bairro pobre senti uma mão no meu ombro. Na hora meu coração voltou a disparar e eu gelei. A mão me apertou e me jogou na parede com força. Olhei e vi um homem me encarando. Tinha um sorriso nos lábio e farejava o ar o tempo todo. Hoje era lua cheia, ela só estava escondida neste momento pelas nuvens. Era um maldito lobisomem. Nesse dia mesmo em forma humana eles conseguiam sentir cheiros melhor até que um cão.

– Belo disfarce mulher, mas não te esconde do meu nariz.

Ele se aproximou como se fosse me beijar. Eu o empurrei. Ele sorriu como se dissesse que aquilo não adiantaria nada. Ele ia se transformar de volta em criatura a qualquer momento e eu estava perdida. Tinha que fazer alguma coisa agora. Tirei uma faca de prata que estava presa a meu vestido e tentei enfiar no peito do homem, mas nesse instante a lua reapareceu e ele começou a se transformar, uma mão dele bateu na minha e jogou a faca longe. Eu arregalei os olhos.

Eu já tinha passado por coisas ruins aqui, mas essa era de longe a pior. Nunca tinha estada tão perigosamente perto de uma lobisomem. Já não sabia o que fazer, meu coração parecia que ia sair pela boca, eu não tinha como me livrar daquela criatura sozinha. La no fundo, meu coração tinha esperanças de que Leon apareceria e me ajudaria, mas minha cabeça sabia bem que Leon não daria minha falta até o amanhecer, e até lá eu estaria bem morta.

Quando o homem estava completamente transformado e seu bafo era tão quente que fazia vapor no ar londrino, eu me encolhi ali e esperei a morte sem esperanças... Até que um grito agoniado da criatura me fez olhar para cima, para ver que tinha um homem ali na minha frente com um sobretudo marrom de couro e um chapéu de aba reta também de couro marrom, segurando um estaca de prata enfiada no coração do lobisomem que já voltava a ser um homem normal como sempre acontecia quando morria.

Me levantei lentamente até ficar completamente de pé, eu estava com o capuz e não tirei por nem um momento. Eu tenho certeza que nunca tinha visto esse homem por aqui. Eu o olhava de olhos semicerrados, desconfiada mesmo. Ele se virou para mim e pareceu surpreso por me encontrar completamente recomposta. Era um homem bonito de cabelos grandes até perto dos ombros, barba por fazer e olhos esverdeados.

– Você está bem? – ele perguntou em tom de voz calma.

– Estou ótima. Quem é você?

Eu nunca o tinha visto. Me lembraria de alguém como ele.

– Um obrigado, não lhe ia matar.

Por um instante me senti uma ingrata, ele tinha mesmo me salvado a vida. E eu só consegui desconfiar dele.

– Desculpe. Obrigada, por me salvar. É só que se não estou acostumada a gente como você por aqui. O que você é exatamente? – insisti.

Ele fez uma careta com minha insistência então tirou o chapéu e fez um reverencia.

– Garret Flint, ao seu dispor. Sou um caçador.

Eu o olhei de olhos arregalados. Caçador? Eu já tinha ouvido muito falar em pessoas como ele, principalmente pelas criaturas que eu procurava, mas nunca tinha conhecido um pessoalmente. Eram homens, e talvez até mulheres, que andavam por aí caçando e matando criaturas como vampiros, lobisomens e bruxas. Eu não tinha esse propósito, para mim era muito mais fácil ter a ajuda deles, meu objetivo final seria alcançado mais facilmente assim.

– Um caçador. E o que um caçador faz aqui?

Ele me olhou como se eu fosse louca.

– Como assim? Londres é uma das cidades mais assoladas com criaturas, eu vim atrás delas.

– Mas vocês não trabalham de graça. Alguém o chamou – conclui.

– Eu também preciso comer, meu bem. Mas eu não estou aqui a pedidos, eu estou aqui por que eu tenho um objetivo maior, além de só ser um caçador.

– E posso saber qual é?

– Basta você saber que caço algo maior. Muito maior que essas simples criaturas...

– Algo grande, cheio de maldade, com olhos mais cruéis e malignos que o próprio inferno, algo que lhe fez mal no passado – completei.

Ele ficou me olhando assustado, então deu um sorriso de lado encantador.

– É por isso que está aqui também – ele adivinhou.

– É, mas tenho métodos mais simples e discretos que os seus, eu sou uma mulher de família além de tudo – contei.

Ele agora ria abertamente.

– Nunca salvei alguém que valesse tanto a pena.

Eu sorri. Bom, se ele era um caçador não adiantava eu querer fugir dele, ele descobria tudo que quisesse sobre mim facilmente só me seguindo.

– Talvez. Já vou te avisando, tem uma vampira no centro que está me ajudando a encontrar esse animal que procuro, trate de não matá-la. Não existe nada mais eficaz para encontrar uma criatura do que uma criatura.

– É amiga de uma vampira?

– A partir de hoje sim, e não me atrapalhe que eu não te atrapalho. Agradeço muito por me salvar, mas isso não muda meus objetivos...

– Que são iguais aos meus. Podemos fazer isso juntos...

– Não confio em você o suficiente ainda. Quem sabe com o tempo. Agora tenho de ir para casa.

Me virei e segui meu caminho. Ele logo caminhava ao meu lado.

– Eu te acompanho.

Eu nada disse. Andamos um bom tempo em silencio, mas ele parecia incomodado com isso. Me pareceu uma pessoa agitada, que não consegui ficar quieta muito tempo.

– O que foi que houve com você para caçar essa criatura? – ele perguntou.

– Matou meus pais, quase dois anos atrás. Desde então eu tento entender o que houve.

– Foi mesmo comigo, mas eu pirei na época e acabei com a vida que tenho hoje. Essa de caçador. Antes eu era só um garoto humilde, cujo pai ficou rico de repente. Quando ele morreu tudo perdeu o sentido e eu surtei, isso fazem cerca de oito anos, mas agora eu me estabilizei e encontrei na minha profissão uma forma de me manter em ordem – ele contou.

– Sinto muito.

– Tudo bem, agora está tudo bem. Mas eu não vou ter paz até mandar aquela criatura de volta ao inferno.

– Nem eu. Mas é mais complicado do que eu imaginei de início. Não que eu vá desistir por isso.

– Eu morro antes de desistir – ele afirmou.

Depois disse voltamos ao silencio, que ele quebrou outra vez.

– Alias, qual seu nome?

– Morgan Shaw.

– Muito prazer, Morgan.

– Prazer – respondi.

Nisso entramos na ruela lateral a minha casa onde tinha a porta que eu usava, parei em frente a ela e ele também parou me olhando sem entender.

– Por que...?

– É aqui que eu fico – afirmei.

Ele então levou a mão ao meu capuz eu o jogou para traz tão rápido que eu nem tive tempo de protestar. Nisso apareceu a gola do meu vestido e o penteado de festa, que eu não tinha tirado. O caçador parou me olhando com olhos arregalados e a boca semiaberta como se estivesse encantado.

– O que foi?

Ele demorou um pouco para responder.

– Nada, nuca vi tanta beleza. Nunca tive tanta vontade de me perder nos olhos de alguém.

Fiquei meio sem graça com o que ele disse, sem reação, sem saber o que dizer. Não era comum as pessoas me falarem coisas assim, muito menos estranhos.

– Eu... Tenho que ir. Boa noite, Flint. Nos vemos por aí.

Me virei sem esperar e entrei, já fechando a porta.

– Boa noite – ouvi um resposta atrasada.

Fui para casa o mais rápido que pude. E me senti muito aliviada quando entrei pela porta dos fundos de casa. Tinha sido um dia um pouco mais agitado que o normal. Mas eu já tinha tido noites piores, pensando bem talvez não. Flint me intrigava, e agora eu tinha uma dúvida. Contava ou não a Leon, sobre ele?

Eu subia as escadas calmamente. Era melhor eu ir dormir. Amanhã eu tinha que levantar cedo. Depois eu me decidia sobre isso. Quando cheguei ao quarto encontrei Leon sentado à escrivaninha dormindo sobre os livros que antes devia estar lendo.

Eu fui até ele e coloquei a mão sobre seus ombros.

– Leon?

– Hmm?

– Vem deitar na cama. Vai ficar com dor no pescoço assim.

Ele se levantou e se jogou na cama. Eu fui tirar as roupas.

– Morgan? Eu vou sair amanhã, assim que acordar, para a fazenda de Reece para pegar as sementes que comprei dele.

– Ok.

Assim que terminei de me trocar fui me deitar. Nisso Leon já dormia outra vez.

Eu nem acordei quando ele saiu. Fui acordar mais tarde com alguém batendo na porta.

– Morgan? Posso entrar? – Bethan perguntou.

– Claro.

Ela entrou com um sorriso nos lábios.

– Bom dia – ela desejou.

– Bom dia. Dormiu bem?

– Sim, muito bem. Você que parece ter dormido tarde ainda está na cama.

– É eu demorei a pegar no sono. Mas está tudo bem. Me ajuda a me vestir?

Ela sorriu.

– Claro.

Olhei pela janela e vi que o dia parecia escuro como a noite. As nuvens no céu estavam num tom cinza muito escuro e ventava muito. Vinha um temporal.

Eu segui até o biombo, que ficava perto da janela que estava aberta. Eu tirei minha roupa e soltei meu cabelo. Bethan trouxe toda roupa que eu ia vestir. Foi então que a porta se abriu.

– Senhora? O Sr. Hughes está aqui – Dana, uma das empregadas, falou.

– Deixe-o entrar.

Ouvi a empregada ir e Kyle entrar.

– Oi, Kyle – eu falei sem olha-lo.

– Oi, Morgan. Onde está o Shaw?

– Leon foi a casa de Reece buscar umas semente. Não sei se ele vai demorar.

Eu ia começar a me vestir quando, com uma rajada de vento muito forte, o biombo caiu me deixando totalmente à mostra para Kyle. Ele arregalou os olhos de uma maneira que achei que ia saltar das orbitas. Eu estava completamente nua. Kyle ficou paralisado e não tirava os olhos de mim, vi desejo consumir seus olhos em segundos. Era como se ele nunca tivesse visto uma mulher nua na vida. Era como se meu corpo o hipnotizasse.

Bethan correu até a cama e trouxe o lençol onde eu me enrolei.

Kyle voltou a si assim que me cobri e corou violentamente. Bethan também estava constrangida com o acontecido, mas eu não. Era como se aquilo não fizesse diferença. O olhar de desejo que ele me lançou me agradou de certo modo.

Naquele instante de silencio Leon surgiu na porta, bem atrás de Kyle.

– O que está acontecendo aqui? Hughes? O que faz no quarto com minha mulher só de... Lençol?

– Leon? Foi um acidente – eu disse.

Mas Leon não pareceu me ouvir, ele olhava Kyle como se fosse mata-lo.

– Leon Shaw? – eu o chamei em tom de advertência.

Então ele me olhou.

– Morgan? – ele disse.

– Foi um acidente. Kyle estava perguntando por você quando uma forte rajada de vento entrou pela janela e derrubou o biombo. Não estava acontecendo nada demais. Tanto que Bethan está aqui.

Eu fiz um gesto para que Leon viesse para perto de mim.

Ele o fez, seguindo em minha direção. Mas ainda olhava desconfiado para Kyle.

– Podem sair? Preciso conversar com Leon – eu falei.

– Eu gostaria de fazer uma coisa com você, mas, com certeza, não é conversar – Kyle comentou sem pensar.

Leon saiu do meu lado na hora, foi tão rápido para chegar a Kyle que eu nem tive tempo de chama-lo.

– Repita o que disse, Hughes! Repita!

Leon pegou Kyle pelo colarinho e o tirou do chão.

– Eu... De-desculpe-pe... Eu... Não... Ti-tive... Intenção de... Ofende-lo – Kyle falou assustado e sufocado pelo aperto.

Eu levantei o lençol até o meio das minhas coxas, para poder andar mais rápido e fui até eles.

– Solte-o. Leon! Desde quando esse tipo de coisa te incomoda? Você nunca teve ciúme de mim assim. Solte-o.

Leon o fez. Mais ainda bufava de raiva.

– Suma daqui! – ele gritou.

– Mas...

– Seja lá o que for que tem a dizer, deixe para amanhã. Não quero ouvir nada de você agora!

Kyle tinha a expressão mais arrependida que já vi. Ele se virou e saiu de cabeça baixa.

– Por que fez aquilo? – eu o perguntei de boca aberta.

– Eu... Eu... Não sei!

Ele gritou como se extravasasse a raiva, se sentou a cama. Bethan estava lá no fundo do quarto encostada à parede com as mãos na boca e os olhos arregalados. Mas ela não me preocupava, só estava assustada.

– Não estou te entendendo, Leon.

– Eu também não entendo. Mas quando pensei em você sendo tocada por outro homem, me deu uma raiva tão grande. Sendo Kyle então piorou tudo. Ele está sempre por aqui, muitas vezes fica sozinho com você. Você não faz ideia do quão linda você é, o quanto esse seu corpo atrairia um homem. Não existem muitas mulheres como você, na verdade eu nunca vi uma igual. Pelo mesmo vestido se pode ver, nem suas irmãs são como você.

Depois desse discurso dele cheguei à conclusão que não era boa ideia contar sobre Flint, não por agora.

– Você sabe muito bem a razão disso, Leon. Só você sabe o que me custou ficar assim. E ser bonita nunca foi a intenção.

– Sei que não. Mas foi uma consequência. E não gosto de pensar em você nas mãos de outro.

– Mas eu nunca estive nas mãos de outro, Leon. Agora se acalme. Aceite as desculpas de Kyle e faça as suas. À noite conversamos direto.

Como eu podia contar a Leon que ontem um homem me salvou e depois me disse aquelas coisas nos fundos, se ele estava nesse descontrole? Isso era sem chance, eu não ia falar de Flint com ele por agora, não ia mesmo. Só serviria para me arrumar mais dores de cabeça.

Eu me virei para Bethan, que agora só observava nossa conversa. Ela olhava o próprio corpo como se analisasse a afirmação de Leon. Ouvi ele se levantar e sair fechando a porta. Eu peguei a mão de Bethan e a puxei para sentar ao meu lado na minha cama.

– Não fique assustada – eu disse a ela.

– Não estou assustada. Estou... Impressionada. Kyle e Leon sempre se deram tão bem, nunca os imaginei brigando. Se bem que isso não foi bem uma briga. Foi mais o Leon querendo bater e Kyle rezando para não apanhar.

Eu senti vontade de rir do que ela disse, mas não o fiz.

– Bom, me sinto melhor sabendo que está bem. Agora melhor eu me vestir. Não posso ficar andando por aí de lençol.

Ela sorriu.

– Tem toda razão. Melhor que se vista. Vou lhe ajudar.

Vesti algo mais simples. Amarrei meu cabelo em um coque, cabelos soltos não eram bem vistos para mulheres de respeito. Assim que terminei de me vestir rumei para porta.

– Morgan? – Bethan me chamou.

Eu parei e me virei para ela, que estava parada perto da cama com a cabeça baixa.

– Bethan?

– Eu sou feia?

– O que? Que bobagem é essa?

Me lembrei do que Leon disse e senti vontade de mata-lo.

– Sou ou não? – ela insistiu.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por lerem!



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