Sede de Sangue escrita por A solitária


Capítulo 28
Fome




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–Pra onde acha que ela foi? -Luna pergunta olhando pra Kevin.

–Não sei, mas tenho um palpite. -Ele apontou com a cabeça para a escola.

Os dois entraram, enchergando com a ajuda das lanternas. Hora ou outra chamavam por Megan, precisavam ser rápidos em encontra-la, já estava amanhecendo e logo os alunos chegariam.

–Vamos nos dividir, você olha para aquele lado e eu pra este. -Disse Kevin e Luna assentiu, em seguida os dois se separaram.

Kevin passou pelo corredor olhando em cada sala, não havia nem sinal de Meg. Ele continuou andando, foi para outros corredores, entrou em outras salas, e ainda assim, nada.

As luzes da escola se acenderam, os diretores e professores já deviam ter começado a chegar. Kevin olhou o restante das salas o mais rápido possível e então voltou ao corredor, Luna chegou logo em seguida.

–Achou ela? -Luna perguntou.

–Não. Vou avisar Peter que ela não esta na escola.

–Será que ele a encontrou?

–Talvez. Vamos... -Kevin parou de falar e olhou para o final do corredor.

–O que foi!?

–Eu ouvi alguma coisa.

Ele correu até o refeitório, onde achou ter ouvido algo. Luna o acompanhou, assim que entraram veio a decepção, nem sinal de Megan. Havia apenas uma garota sentada em uma das mesas, cercada por um monte de livros. Ela tinha cabelos cacheados e pretos, que não tinham um comprimento tão longo. Tinha olhos pretos e usava uma maquiagem discreta.

–O que vocês dois estão fazendo aqui!? -Ela perguntou.

–Eu ia perguntar o mesmo. -Kevin respondeu.

–Sou a filha do zelador, vim junto com ele hoje pra estudar pra prova de química... É crime por acaso?

Kevin deu de ombros e já ia sair, mas então foi interrompido por Luna, que segurou seu braço sem dizer uma palavra. Ele se virou, e viu Megan parada atrás da garota, ela tinha um olhar diferente, nem parecia a mesma Megan.

Os dois sabiam o que ela queria fazer, pois olhava para aquela garota diretamente em seu pescoço. Kevin deu um passo a frente, mas logo parou, quando viu que a expressão de Megan havia se tornado ainda mais feroz.

–Você não quer fazer isso Megan. -Disse ele na tentativa de acalma-la. A garota ameaçou se levantar. -Não se mova! -Kevin a alertou -Megan... Não faça isso.

–Desculpe... -Disse Megan quando segurou a garota -Eu estou com muita fome.

Como um animal faminto ela mordeu o seu pescoço, o grito daquela garota passou por toda a escola. Meg sabia que devia parar, mas a fome falava mais alto, ela continuou bebendo o seu sangue, mesmo que a cada segundo sentisse o corpo da garota enfraquecer mais.

Com parte do rosto coberto de sangue Megan deixou o corpo da garota cair no chão. Kevin foi até ela, porém não havia mais nada que se pudesse fazer, ela já havia morrido. Megan deu um passo para trás, estava completamente assustada. Sua fome havia se acalmado, e com isso ela podia pensar direito.

–Eu... Eu matei ela... -Megan pensava alto olhando estática para o corpo.

–Megan, não foi sua culpa. -Kevin tentava acalma-la -Tenho que tirar você daqui.

–Não... Eu... Eu matei alguém.

–Vem comigo -Kevin tentou segurar seu braço mas antes que o fizesse ela saiu correndo.

–Precisa segura-la! Se o sol nascer e ela estiver andando por ai... -Kevin a interrompeu.

–Vou encontra-la, tire o corpo da garota daqui.

Em seguida ele saiu da escola, do lado de fora não foi difícil encontrar Megan, pois o cheiro do sangue da garota estava forte.

–Megan! -Ele a colocou contra a parede quando ela tentou fugir.

–Kevin, me solta...

–Eu sei que está confusa, mas precisa vir comigo agora, as pessoas vão começar a chegar e você não vai conseguir se controlar.

Ela tentou fugir, mas Kevin a segurou com ainda mais força. Ele olhou para a direita, para a calçada, ao ver as pessoas começando a movimentar a rua. Mais uma vez Megan tentou se soltar, ela olhava para aquelas pessoas, com raiva.

Kevin a puxou para mais perto de sí, então a ergueu e jogou seu torso para trás de seus ombros. Carregando-a.

–Me coloca no chão agora!

Ele prosseguiu sem se importar com as objeções de Megan, então quebrou o vidro de um carro qualquer estacionado na calçada e a colocou dentro dele.

–Kevin! Me deixa sair agora! -Ela disse quando ele começou a dirigir.

–Vou te levar a um lugar seguro.

Ela se afundou no banco, estava voltando em sí, porém ainda estava com raiva, tentou se concentrar em algo lá fora que não fosse a garganta das pessoas, porém foi em vão. E ela estava pronta para voltar a se queixar quando sentiu seu braço queimar.

–Ahh -Disse ela o afastando da janela. Porém o sol ia entrando no carro a cada segundo.

–Venha! -Disse Kevin a puxando pelo braço. Ele a levou para dentro de uma velha igreja abandonada. Então fechou todas as entradas de luz. Em seguida olhou para trás, onde Megan estava parada, encostada em uma parede. Era difícil avaliar sua expressão. Ela parecia distante.

–Eu nunca mais vou sair no sol? -Ela perguntou com os olhos vagos.

–Vai. Você vai. -Kevin segurou a cabeça dela nas mãos -Você confia em mim?

–Completamente...

–Então fique calma, isso tudo, é parte da transição. No começo tudo é mais forte, mais intenso.

–E quanto a fome?

–Você vai aprender a controlar. Eu prometo que vou te ajudar.

–Eu preciso pensar.

Kevin assentiu.

–Tudo bem. Eu vou ligar para... -Ele fez uma pausa examinando os bolsos -Droga! Devo ter deixado o celular cair.

–Ta tudo bem Kevin. -Ela se encostou em uma das colunas da igreja e deslizou até o chão -Você pode ir, contar ao meu pai, e a quem mais for necessário -Seu tom era o mais agradável possível para aquela circunstância -Eu espero você aqui.

–Não vou deixar você sozinha.

–Não precisa se preocupar, eu não posso sair. O sol é sua garantia.

–Vou ficar, não porque acho que você vá sair. Vou ficar porque me preocupo com o seu bem estar. Quando anoitecer voltamos juntos pra casa.

Megan da um meio sorriso, um tanto forçado por sinal. Então inala o cheiro de mofo da igreja, ela olha Kevin mais uma vez, os olhos pousados sobre ela, preocupados? Sim. Com certeza, não era difícil concluir.

*

–Tudo bem. Obrigado. -Disse Peter, ao falar com o assistente do Xerife. Nenhum sinal de Megan, ele havia dito.

Peter saiu da delegacia, nem sabia onde mais procurar. O celular de Luna provavelmente não estava com ela, e o de Kevin dava apenas caixa postal. Ele foi para o estacionamento e pegou as chaves do carro.

–Peter! Procurei você por toda parte -Disse o xerife, sua voz era extremamente séria, era possível sentir uma certa irritação nela -Eu sempre encobri tudo! As bolsas de sangue... O que você e os outros são. Mas eu não vou permitir que vocês causem qualquer mal a minha cidade!

–Do que esta falando!?

–Não finja que não sabe. Os corpos escondidos nos limites da floresta, alguns estão bem destroçados, mas outros estão com marcas expostas de mordidas! John está preso, sob sua custódia. Não teria como ele fazer isso. Então o que deu na sua cabeça, vai virar o irmão do mal agora!?

–Eu garanto a você, que nenhum vampiro do meu clã fez isso. Não machucamos ninguém, você sabe disso.

–Francamente Peter, não sei mais em que acreditar... -Ele se acalma por um momento -Mas se diz que não foram vocês. Então ache quem está fazendo isso!

–Claro... Pode contar comigo.

Peter entrou no carro e voltou a procurar por Megan, ainda mais preocupado.

*

Max olhava para Luna há um bom tempo, ele a observava procurando por Megan, assim como a maioria dos outros vampiros. Ele caminhou até ela devagar, e ela só o notou quando já estava bem perto.

–Max!?

–Porque o espanto?

–É que estamos... -Ele a interrompe.

–Procurando Megan.

–Sim. Portanto tem muitos vampiros por ai, e não vai ser legal se eles me virem com você.

Ele a encara um tanto perplexo, de onde vinha aquele tom?

–Desculpe. -Ela voltou a falar -É só que... Eu estou cansada de não nos assumirmos.

–Por mim nos assumiriamos.

–Não é tão simples, e você sabe. Peter e os outros ainda não confiam em você, e eles nunca te aceitariam como um deles.

–Então nós fugimos! -Havia um brilho nos olhos de Max -Fala sério, Luna. Precisamos viver nossas vidas, temos toda uma eternidade pela frente. Deixe Peter e os outros para trás, nós fugimos juntos, começamos do zero.

Ela o encarou, poderia fugir com Max? Sim, com certeza poderia. Ele era a coisa mais importante para ela, então o que estava esperando? Talvez fosse uma pequena parte dela, porém mesmo assim ela decidiu ouvir esta parte, a parte que dizia que antes de ir embora, precisava deixar Megan em segurança.

–Eu tenho que encontrar Megan.

–Isso é um não a minha proposta?

–Não... Mas... Antes de irmos embora, e deixar tudo para trás, tenho que ter certeza de que Megan está segura. -Ela olhou para os lados -Agora você precisa ir.

Ele assentiu, e a beijou rapidamente. Depois de se virarem de costas um para o outro, Max voltou a falar.

–Ajudaria na sua busca -Luna se virou de volta para ele -Se eu dissesse que vi Megan e Kevin entrando na igreja?

–Que igreja!?

–A única igreja abandonada desta cidade.

Luna sorriu.

–Obrigado!

*

–Sua vez.

–Hum... O que entra na água e não se molha? -Disse Kevin.

–Essa é fácil... A sombra.

–Você é melhor que eu nisso.

Megan deu um meio sorriso, aquela era a centésima charada? Ela já havia perdido a conta, eles tentavam matar o tédio, porém isso ficava difícil em uma igreja empoeirada. Kevin ainda estava deitado em um dos bancos, enquanto ela ainda estava sentada, encostada em uma das colunas.

–O que vai acontecer quando eu sair daqui?

–Vai aprender a se controlar.

–E se eu não aprender?

–Você vai.

–E se não conseguir?

–Você tenta de novo, e de novo. Você tem a eternidade pra aprender, e eu pra ensinar.

–Você acha que meu pai vai ficar bravo?

–Não. Claro que não. Ele também vai te ajudar.

Megan suspira, E se levanta. Ela caminha pela igreja, olhando ao redor. O tédio era quase palpável. Quando chega até a porta ela se vira novamente para o lado dos bancos, e anda, ate o final deles, e então faz isso de novo e de novo.

–Acho que vai ser bom, não é? -Ela diz, e Kevin a olha confuso -Digo... Viver pra sempre. Eu posso viajar, e fazer tudo o que sempre quis fazer. -Ela se senta ao lado dele.

–Sim, será ótimo. Principalmente a parte em que vamos estar juntos. Sem morte, e sem nada que nos impeça de ficar juntos.

–Você promete? -Diz ela com um brilho nos olhos, o brilho que só Kevin conseguia tirar de seus olhos.

–Eu prometo nunca desistir de nós.

Ela sorri, o fazendo sorrir de volta, em seguida seus braços estão em volta dela, a abraçando forte. Talvez devesse dar uma chance a tudo isso, Megan pensava, afinal ela tinha Kevin, e nada mais os impediria de serem felizes juntos.

–Ai estão vocês! -Diz Luna, entrando na igreja.

Os dois se levantam ao mesmo tempo, com um susto. Luna segurava algo nas mãos, parecia um tipo de tecido.

–Já não era sem tempo. -Kevin fala poucos instantes depois -Mas como nos achou?

–Eu... Eu procurei, assim como os outros estão procurando.

–E o que é isso? -Ele olhou para o tecido nas mãos dela.

–Isso. É uma capa. Como ainda é dia, Megan vai ter que usar pra sair daqui.

–Que classe... -Megan ironiza -Ta bem... Agora me tirem dessa igreja antes que eu me converta.

Luna a envolve na capa, e então a tira da igreja. Kevin dirige até a casa de Peter, quando eles entram ele está no telefone. Só que assim que os vê desliga, e envolve Megan em um abraço apertado.

–O que aconteceu? Você está bem? Onde você estava? -Ele a enche de perguntas.

–Eu... -Ela não sabia quais palavras usar, como contar que havia se transformado?

–O que houve? -Ele pergunta aflito.

–Eu me alimentei.

Peter passa as mãos pelo cabelo, preocupado. Seu olhar vai para Kevin e Luna.

–Como isso aconteceu!?

–A culpa não foi deles. -Megan responde, fazendo Peter a encarar novamente -Eles tentaram me impedir, mas... Não houve tempo. A culpa é... Toda minha. -Ela abaixa os olhos.

–Está tudo bem. -Ele a abraça novamente.

–Eu preciso de um banho... Vou subir. -Diz Megan e então da um forçado meio sorriso. Ela não queria ficar sozinha naquele momento.

Ela sobe até o quarto e tranca a porta. Parte dela se sentia deslocada, mas havia uma outra parte que parecia ter vivido apenas quando ela se transformou. Essa era a parte que clamava por sangue. Esta parte queria mais do que apenas uma vítima... Porém se havia uma coisa que Megan tinha certeza, era de que se desse ouvidos a sua sede de sangue, ela se tornaria um monstro.

–Quantos foram?–Megan ouviu seu pai dizer, sua audição havia acabado de melhorar.

–Foi apenas uma... Uma garota da escola.–Kevin respondeu.

–Você tem certeza!?

–Tenho. Ela não esteve longe de mim. Porque a insistência?

–O xerife mencionou ataques de vampiros. Está pensando que é algum vampiro do nosso clã.

–Nós não atacamos pessoas... Eu diria que era o John mas... Temos ele sob controle.

–Essa é a parte que me preocupa. Há outro clã em Groovery Born.

Megan se afasta. Ela mal se importava com os ataques... Sua mente estava confusa. Ela vai direto para o chuveiro, tudo o que queria era um banho.


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