Já se fazia mais ou menos seis meses que eu não via o Ethan, mas sempre que algum visitante vinha para cá ele mandava um recado. Você deve estar meio perdido, é que eu esqueci de contar o que aconteceu nos últimos meses.

A Dra. Whitewood foi para um hospício, manicômio, sei lá qual é o nome. Só sei que ela deve ter enchido bastante o saco dos policiais na cadeia.

Sem a presença de Elizabeth para persuadir os integrantes da alcateia ou desobedecer as ordens de Jana, ela conseguiu colocar ordem no grupo e ainda os fez aceitar participar de uma espécie de intercâmbio para conhecer melhor a vida dos humanos. E para onde eles iam? Para minha casa é claro. Meu pai conseguiu uma ajuda do governo, já que alguns wolfbloods trabalham lá, para ajudar com os gastos do "projeto", meu pai colocou mais cinco quartos e comprou uma van para levar e trazer os wolfbloods selvagens para casa.

Mais uma novidade Rhidian mora comigo agora. Decidimos contar aos Vaughans que nós éramos meio irmãos, eles não acreditaram muito por isso meu irmão e meu pai fizeram um teste de paternidade, na lua nova é claro.

Tudo estava indo as mil maravilhas até chegar um novo wolfblood aqui para casa.

— Oi. - Perguntei abrindo a porta da Van. - Qual seu nome? - Percebi que meu pai levou três embora mais só trouxe um.

— Joe. - Ele devia ser um ou dois anos mais velho que meu irmão.

— Você é sortudo pode escolher o quarto que quiser, já que é o único. - Anunciei.

— É. A alcatéia não ta em um momento muito bom. - Joe me olhou nervoso como se não era pra ter falado aquilo.

— Ethan esta bem? - Perguntei pronta para ouvir as novidades, como Joe era o único com certeza foi pra ele que Ethan falou algo.

— Ele esta bem. - Foi só isso o que ele disse, me deixando mais nervosa ainda.

— Só isso?

— Só. - Ele fala como se aquilo fosse óbvio.

— Daqui algumas horas você e Rhidian vão sair, OK?

— Tudo bem. - Joe respondeu e saiu andando.

Saí a procura do meu pai, alguma coisa esta acontecendo e se não consegui as informações com Joe vou tentar com meu pai.

— Esta tudo bem lá na alcatéia, pai? - Perguntei o mais naturalmente possível.

— Tudo filha, por quê? - Ele perguntou levando os materiais para limpeza da van, porque era impossível não suja-la quando ele ia para a floresta.

— Só veio uma pessoa dessa vez.

— As criança que eram as mais animadas para vir aqui, já vieram todas.

Meu pai tinha razão as crianças que viam para cá eram super curiosas e ansiosas.

— Será que é só isso mesmo? - Pergunto tentando forçar um pouco mais meu pai a falar.

— Claro filha. Quando Joe voltar para a floresta e contar como é aqui, várias outras pessoas vão vir.

Nesse momento desisti de tirar alguma informação do meu pai.

— Zoe, você tem que fazer uma programação para os jovens e adultos, porque não sei se eles vão querer fazer as mesmas coisas que as crianças. - Falou Rhidian saindo de casa e indo ajudar meu pai a lavar a van.

— Tudo bem, vou pedir ajuda a Shan e ao Tom. - Disse brava.

Entrei em casa e liguei para os dois, em alguns minutos estávamos os três reunidos na sala.

— Hoje o Rhidian vai levá-lo para sair pela cidade, certo? - Perguntou Shan anotando tudo num bloco de anotações.

Concordei com a cabeça.

— Amanhã ele pode ter seu um dia na escola, já que na idade dele às aulas são muito mais chatas que quando se é criança então ele não vai querer ir mais que um dia, certo?

— Boa ideia, pois to pensando em levá-lo para assistir um show de futebol no Bernie's no domingo e não tem hora pra acabar

— Então no primeiro dia ele faz o tour pela cidade, no outro dia vai para a escola, sexta pode estudar os assuntos da atualidade comigo, Tom e Harry e sábado seu pai já pode levá-lo a cidade vizinha mais urbana.

— E o domingo do futebol? - Pergunta Tom triste.

— Ah é verdade eu esqueci. O que achou Zoe? - Perguntou Shan mostrando as anotações para mim.

— Ta bom. - Falei sem nem olhar para o bloco de anotações.

— O que ta acontecendo Zoe? Por que você esta tão triste? - Pergunta Shan.

— Eu acho que está acontecendo alguma coisa na alcatéia e não querem me contar.

— Deve ser um assunto bobo. - Falou Tom.

— Eu odeio a sensação de que sou excluída, só porque nunca fui a alcateia selvagem.

— Zoe, que idiotice essa. - Falou Shan

— Agora que nossas alcateias estão em paz novamente, os wolfbloods vivem transitando entre elas. Sempre contando as novidades e eu nunca sei de quem eles falam.

— Lembra que seu pai prometeu te levar lá? - Perguntou Tom.

— Isso já faz cinco meses. Já não acha que dava tempo?

— Mas daqui a pouco ficamos de férias. - Continuou Tom.

— As vezes o Rhidian vai ou a Maddy vem. Por que nunca eu?

— Talvez Elizabeth tenha voltado. - Explicou Shan.

— Por que Ethan não me falou?

— Talvez ela tenha chegado agora e seu pai tava querendo fazer uma surpresa pra você esperando chegar as férias pra te levar.

— Talvez seja por isso que ele não me mandou nenhum recado. - Disse feliz por não ser nada de mais. - Mas se é por causa dela ele não vai mandar mais notícias! - Falei ficando triste de novo.

— Talvez vendo as mudanças lá na floresta ela mude de ideia. - Falou Shan.

— Duvido. - Disse Tom sem pensar e quando olhou para mim completou - Mas minha opinião não importa.

***

Acordei quase caindo, mas consegui chegar no banheiro e vi as olheiras enormes que estavam no meu rosto. Dava pra perceber que não tinha dormido bem, não parei de pensar no Ethan e na alcateia.

— Você esta horrível. - Comentou Rhidian quando me viu.

— A escola é tão ruim assim? - Pergunta Joe nervoso.

— Não. Só não dormi bem essa noite. - Falei depois bocejei.

— Você tem certeza que vai para a escola hoje? - Perguntou Rhidian.

— Claro. Não vou perder o primeiro dia de aula do Joe. - Disse tentando tirar a atenção de mim.

— É uma data muito especial mesmo, o primeiro que vai lanchar com a gente.

Joe sorriu, seus dentes eram tortos, mas seu sorriso não deixava de ser bonito.

— E aí? Prontos para a escola? - Perguntou meu pai ainda de pijama.

— Você vai assim? - Pergunto.

— Olha pra você Zoe. Você ta pior do que eu. - Falou meu pai debochadamente.

Olho para ele incrédula.

— Pai! - Exclamo brava.

— Você sabe que é brincadeira. Você é linda, puxou o pai é claro.

Revirei os olhos. Sabia que meu pai estava tentando me animar, talvez estivesse conseguindo.

— Vamos para a escola ou não? - Pergunto pela primeira vez animada no dia.

***

Era a hora do lanche e como agora eu e Rhidian éramos oficialmente irmãos, eu não sentava mais com ele já que isso poderia ser muito solitário. Então agora eu sento com a Laureen e o Allan.

Laureen tinha terminado com seu namorado, o Bob, e tinha achado sua próxima caça, Allan, mas ele conhecia ela por isso estava vendo até onde Laureen ia para ficar com ele. Ele só se esqueceu de uma coisa Laureen sempre ganha.

— O que você vai fazer nas férias, senhorita? - Pergunta Allan mordendo um pedaço do seu pão.

— Talvez eu vá viajar ou cuide dos visitantes - Digo apontando para o Joe.

— Ele é lindo, né? - Fala Laureen sem pensar e depois fica vermelha.

— Não exagera, Laureen. - Fala Allan evidentemente com ciúmes.

Minha amiga percebe isso nele e aproveita para deixá-lo com mais ciúmes.

— Se Joe continuar em Stoneybridge, eu não me importaria em nada de não viajar com meus pais nessas férias. - Laureen está virada para Joe, mas observa Allan pelo canto do olho.

Eu não gostava de segurar vela, mas quando era com esses dois era só risada. Pensei por que eu ainda não tinha sentado com eles antes?

***

Joe e Tom viraram amigos inseparáveis, o wolfblood tinha adorado futebol e isso era tudo que Tom precisava para não parar de falar por muito tempo, por isso os dois saíram para conversar. Rhidian foi com meu pai ao supermercado comprar algumas coisas que estavam faltando. O que me deixava sozinha em casa.

Peguei meu Ipod e para mudar um pouco o repertório escolhi Story of my life do One Direction.

Written in these walls are the stories

That I can't explain

I leave my heart open

But it stays right here empty for days

She told me in the morning

She don't feel the same about us in her bones

It seems to me that when I die

These words will be written on my stone

And I'll be gone gone tonight

The ground beneath my feet is open wide

The way that I've been holdin' on too tight

With nothing in between

The story of my life, I take her home

I drive all night to keep her warm and time

Is frozen (the story of, the story of)

The story of my life I give her hope

I spend her love

Until she's broke inside

The story of my life (the story of, the story of)

Escritas nessas paredes estão as histórias

Que eu não consigo explicar

Eu deixo meu coração aberto

Mas ele fica aqui vazio por dias

Ela me disse de manhã

Que, por dentro, não sentia o mesmo que eu

Parece que, quando eu morrer

Isso estará escrito na minha lápide

E eu vou embora esta noite

O chão em que eu piso está aberto

Eu tenho me segurado com muita força

Mas não há nada aqui

A história da minha vida, eu a levo para casa

Dirijo a noite toda para mantê-la quente e o tempo

Está congelado (a história da, a história da)

A história da minha vida, eu dou esperança a ela

Eu uso o amor dela

Até ela ficar quebrada por dentro

A história da minha vida (a história da, a história da)

Ouço batidas na porta e só de sentir o cheiro meu coração dança dentro do meu peito. Abro a porta e abraço a pessoa que esta lá fora sem nem olhar direito, pois sei exatamente quem é.

— Oi. - Ethan diz, a melhor coisa que eu ouvi em meses. Seu cabelo estava maior do que antes e mais bagunçado do que o normal, devia ter crescido uns dez centímetros, pois agora em vez de bater no seu nariz bato no seu queixo.

— Estava morrendo de saudade. - Digo com um sorriso enorme e bobo estampado no rosto.

— Eu também. - Ele diz feliz, mas logo sua expressão muda para tristeza. - Tenho que te contar uma coisa.

— Tudo bem. - Digo nervosa, mas o puxo para dentro e nos sentamos no sofá.

— Minha vó morreu. - Ele diz com os olhos brilhando.

Fico quieta, eu sabia como era perder alguém que se ama, mas não sabia o que falar. Isso me fez lembrar de quando minha mãe morreu, eu fiquei uma semana sem falar nada, mas eu tinha Rhidian do meu lado e era isso que Ethan precisava, não do Rhidian, mas sim de alguém forte como ele e eu ia fazer esse papel.

— Tudo vai ficar bem. - Digo abraçando Ethan forte.

— Ela tinha voltado fazia um mês, estava fraca, mas não sabia que tudo ia acontecer tão rápido.

Olho para ele, não o aguento ver tão triste e frágil.

— Você quer ficar um tempo aqui? - Pergunto, pois eu não queria chegar perto do lugar onde minha mãe morreu.

Ele confirma com a cabeça.

Dou outro abraço nele, mas dessa vez também dou um selinho.

— Você chegou numa boa hora, estou de férias. - Falo louca para mudar de assunto.

Um sorriso se forma nos seus lábios.

Ethan me puxa mais para perto de si e me da um beijo que compensa todos esses meses afastados, me afasto um pouco sem fôlego.

— Por que você só me beija quando o Rhidian não ta? - Pergunto sorrindo maliciosamente.

— É que eu sou esperto. - Ele responde e me puxa para mais um beijo.