400 dias de inverno. escrita por Júlia Dama


Capítulo 14
Capítulo 14


Notas iniciais do capítulo

Tô viva! Desculpem pela demora x.x



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E assim que ele afastou os seus lábios dos meus, ficou parado, quieto. Soltou o riso em um suspiro e deu um beijo na minha testa. Eu não esperava que ele fosse fazer isto, eu acho um gesto tão doce, tão carinhoso, mas foi inesperado. Isso me agradou, e muito. Então abracei, fiquei com o rosto encostado no seu peito onde eu conseguia sentir seu cheiro perfeitamente. Questionei-me se naquele momento ele sentiu o que eu senti, se ele gosta de me abraçar ou de estar ali comigo entre os seus braços. Eu queria vê-lo quebrando aquela quietude interminável e me dissesse o que eu gostaria de ouvir. Que tirasse essa minha dúvida e só me deixasse certezas. Talvez estivesse com vergonha como fica em muitas situações, mas era comigo com quem ele estava lidando. Eu não era mais uma estranha. Eu era uma amiga na qual convivia com ele todos os dias e já havia decorado as duas músicas favoritas de tanto ouvi-lo cantar. E o que era pra ser um simples beijo, fez com que todas as minhas preocupações desaparecessem e meu dia estava completo. Nem duas barras enormes de chocolate me deixariam tão satisfeita. Ele se afastou, riu, e com cara de quem estava ficando bêbado, e disse:


– Oh moça, não me acorde, estou embriagado.

Minha risada ecoou em meus próprios ouvidos, fiz cara de como quem não entendeu e o pedi que me explicasse. Dei um apertão no seu abdômen e pedi que falasse algo.

–Annabelle, não me agrida. Tenho contato com as autoridades e não seria legal pra você eu ter que chama-las.

– Autoridades... O Guardinha que fica do lado da loja de ração de cavalo?

– Exato!

– Oh, agora eu me assustei.

Para provarmos nossa imensa maturidade, propus uma corrida até a laranjeira que ficava em uma distância boa, não era tão longe. Eu não sabia se corria ou se eu ria de Anthony tentando correr, parecia que as pernas dele tomaram vida própria e estavam fazendo aquilo sozinhas. Assim que cheguei à árvore, ele chegou logo atrás de mim, quase tendo um ataque.

– E viva o sedentarismo! -falei ofegante.


– Eu perdi porque meu tênis não estava calçando como deveria. - se levantou do chão onde havia se sentado e limpou a calça. - Eu corria muito na escola.


– Então vamos de novo!

– Se você voltar e pegar meu pulmão, eu juro tentar.

Continuamos no caminho de casa, mas antes de chegarmos Jeremy veio correndo ao nosso encontro. A blusa polo azul deixava ele mais jovem do que era. Fez um suspiro de alívio quando nos viu e perguntou se estávamos bem, e se vimos alguém.

– O que aconteceu? - perguntei

– Mataram mais um menino. Meu deus, vocês não imaginam como fiquei preocupado...

– Falaram na TV ou no rádio?

– Escutei no radio, minutos atrás. Não sabem quem é o menino porque quem o matou arranhou e machucou todo o rosto do coitado.

Agora sim posso dizer que estou completamente preocupada. - E onde acharam o corpo?

– Na frente da antiga estação, outra vez. Por favor, vamos pra dentro de casa.

Fomos os três, Jeremy na frente e eu com Anthony logo atrás. Eu estava com medo e sentia que Anthony também, o que era de se esperar, afinal, até agora mataram somente garotos. Estava assustada por mim e por ele.

Chegamos em casa e minha mãe estava com a janta quase pronta, e insistiu para que eles ficassem conosco. Então, antes de sentarmos à mesa, tomei um banho porque minha calça trazia teias de aranha da casa da árvore.

Sentado de frente para Anthony, meu pai perguntou o que fizemos durante a tarde.

– Ah, humn, Anna me mostrou a casa da árvore. - segurou o riso - É.

– Aliás, ela está mais inteira do que eu imaginava que estaria. - falei.

Quando acabamos a janta, todos ficaram sentados no sofá conversando, com exceção de Anthony e eu que ficamos lavando a louça. Ele me contou sobre a ultima escola que frequentou, como eram horríveis os uniformes e a comida de lá. E se existe uma coisa que define se a escola é boa ou não, é a comida. Ela tem a obrigação de ser boa, caso contrario tudo fica ruim.

– Será que seu pai desconfia do que esta acontecendo entre nós dois?

– E o que exatamente esta acontecendo, Anthony?

Tentou esconder as bochechas vermelhas com o prato - Não, não, não. Continua lavando a louça, sem perguntas. Shhhh... Só me responde.

– Se você continuar corando toda vez que ele perguntar sobre você passear comigo, bem provável que sim.

E então, depois do dia ter sido aproveitado, me deitei. Não me questionei mais sobre Anthony, me convenci que se for pra acontecer novamente tudo vai cooperar. Ou não, porque eu não acreditava nessas coisas, continuo não acreditando, mas foi o bastante para me convencer.

O despertador do meu celular é tão barulhento que parece competir com a voz da minha mãe me chamando e mandando-me desligar “a merda do despertador". Desta vez meu pai acordou mais cedo porque o dia iria ser longo e eu o ouvi dizer que tem que comprar algumas coisas a mais. Meu fusca custou ligar novamente, mas depois que começou a andar não tinha lomba que o parasse. Esqueci-me de dizer, o uniforme da escola que minha mãe havia comprado pra mim era uma camiseta bem confortável, era de uma só cor então os corredores pareciam cheios de formigas cinzentas com detalhes pretos pelo corpo. Alison me avistou do final do corredor e veio me encontrar, ela estava com os olhos totalmente avermelhados.


– Bom dia Anna! Você ficou bem no uniforme. - enganchou seu braço no meu e disse que a sala ficava no último corredor.

– Bom dia, Alison. Desculpa, você fumou maconha ou estava chorando?

Ela riu - Meu deus, claro que não. Alergia da maquiagem nova, descobri hoje de manhã. Triste. Mas então, você conhece Scott de onde? Vi ele falar com você no final da aula quando eu estava esperando para entrar no ônibus.

– Ah, estudamos na mesma escola uma vez. Por quê?

– Muitas meninas morrem de amor por ele. Eu entendo, ele é bonito, mas é ignorante. Só fala mesmo com meninas bonitas, caso contrário ele da um jeito de ignorar. Conheço-o porque foi eu quem ajudou ele quando ele chegou aqui, vamos dizer... Destruído.

– Sei que ele é assim, mas ajudou como? Por que destruído?

– Até onde eu sei, ele brigou feio com uma menina. A menina deveria ser um monstro, porque ele chegou aqui esfolado e com o rosto bem machucado. Isso que já fazia umas duas semanas da briga. Então o ajudei a se achar aqui dentro da escola e conhecer algumas pessoas, ele estava se excluindo de tudo. Eu poderia me arrepender um pouco porque ele é meio ignorante com tudo agora, mas eu fiz o certo.

– A garota monstro sou eu. - sorri e pisquei - Eu tive meus motivos para fazer isso, e me surpreende ele ter ficado desse jeito no início. Não me importo de você e TJ saber sobre isso, afinal, já passou e vai ser bom pra minha reputação daqui também.

Arregalou os olhos pra mim. - Você é a Balboa? Caramba, umas pessoas falaram disso e eu me apavorei. Bom, vai ser uma ótima reputação. - riu e me puxou para a porta da sala, quase que não consigo chavear meu armário.

O professor de geografia era quase igual o de matemática, ignorante. Tinha pouco cabelo, e os que tinha eram loiros, então não fazia muito diferença porque quase não aparecia. Ele era menor que eu e não colocava medo, pelo menos não em mim. Porém a aula foi interessante, rendeu umas piadas do professor, as quais eu não esperava. E mesmo elas sendo de mau gosto que ele direcionava a algum idiota da sala, alguns alunos riram. Quase no final da aula ele olhou pra mim e disse:

– Ah, você é a aluna nova. Parece que já fez amizades aqui. - olhou para Alison e voltou a falar - Pena que os antecedentes não são dos melhores.

Não é possível... - Está querendo dizer o que, professor?

– Ah, maioria dos professores já sabem o que fez você ter que mudar de escola, não seja tola.

– Humn, interessante. Isso quer dizer que vão ficar de olho em mim?

– Claro que não, ninguém vai perder tempo fazendo isso.

– Foi o que eu pensei. - meu sorriso ficou mais debochado do que eu esperava, infelizmente.

Percebi que os alguns colegas meus cochichavam olhando para mim, provavelmente sobre o motivo de eu ter mudado de escola. Eu não iria dar a eles o prazer de saber disso e depois espalhar pra toda a escola. Bom, muitos já devem saber, afinal a escola é uma revista de fofoca gigante, sempre tem informações passando pelos corredores.
Estávamos em agosto, era verão, quase outono e as aulas estavam recém no começo. Isso me desanima. Porque ate mês passado eu estava com Anthony desde cedo da manhã, até a noite, agora chego em casa e já esta quase no fim da tarde. Única coisa que eu gostava naquele lugar eram as aulas de basquete que o professor de educação física colocou em prática no começo das aulas.
No horário do almoço, comi o que trouxe de casa, fiquei conversando com Alison e uma menina que ela me apresentou, mas depois de uns quarenta minutos elas foram encontrar com seus namorados. Eu não tinha nenhum bloqueio em fazer amizades, mas a maioria do pessoal de lá estava preocupado demais com suas companhias. Fui caminhar lá fora, dentro do pátio da escola. A amiga de Alison e o namorado tentavam quebrar as leis da física, acho que nem uma formiga passava por meio deles. Desagradável ver isto. Perto do banco, havia uma arvore enorme, e linda. Não sei o nome e nem origem, só sei que era cheia de flores e florzinhas bem minúsculas, de cor amarela.

– Eu queria saber o nome dela, é bonita. Queria ter uma assim em casa. - um menino surgiu do meu lado, ele surgiu do nada, do nada mesmo!

– Que susto! Jesus! Hmnn, é muito linda sim. Eu não te conheço, certo?

– Não foi de propósito. Eu não sei se você me conhece. Eu sou o Conor.

– E meu nome é Annabelle.

– Ai meu deus eu sabia que conhecia você, não acredito! Caramba, não se lembra de mim?

– Eu não to lembrando. - eu deveria estar assustada.

– Fala sério? Escolinha, pique esconde, nariz quebrado.

– Espera... AHH MEU DEUS, QUANTO TEMPO!!. - quase pulei nos braços dele, havíamos estudado juntos há uns 11 anos atrás. - Você mudou muito, cresceu demais. E ta fazendo o que aqui?

–Humn, estudando? É o que todos vêm fazer aqui, não é? Mas enfim, como andam as coisas? E sua mãe?

– Andam ótimas. Meu pai está com o negócio de cavalos e minha mãe esta ótima também. Você ta morando onde??

–Eu to... - Conor foi interrompido pelo alarme de emergência da escola, nos pediram que para ir ao auditório.

Bom, fomos liberados mais cedo porque o filho da diretora foi assassinado. A causa do assassinato ainda não é clara, mas foi mandada uma mensagem pra ela informando que o filho estava na estação de trem, irreconhecível. Esta cidade esta mais evitada que casa mal assombrada. O pior é que moro perto da estação e fico preocupada com Anthony. Falando em Anthony, liguei pra ele e perguntei se estava tudo bem e depois fui pra casa o mais rápido que pude pra aproveitar o dia que eu iria perder na escola.


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