400 dias de inverno. escrita por Júlia Dama


Capítulo 12
Capítulo 12 - Pura classe.




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Os dois meninos que foram um dos motivos da minha última expulsão estavam me encarando, eu tava louca pra sair correndo dali, mas seria um pouco humilhante agora que já me viram. Os dois me fitavam com cara de quem queria rir, o mais velho tentava parecer autoritário para me provocar outra vez, mas ele não passa de um idiota, covarde. Boatos que essa raiva dele é porque ele é gay e os pais não aceitam, não duvido de nada. Alison e TJ não paravam e falar sobre os colegas da turma, como cada um era e se eram pessoas com quem valia a pena começar uma amizade, mas eu estava mais preocupada em achar uma porta que me tirasse dali antes de cruzar com os dois. E antes que isso acontecesse...
— Anna, venha conhecer os meninos! — o que? Sem chances, fingi que queria vomitar e virei o corredor em direção a qualquer lugar que me servisse de refugio.
Perdida entre os corredores fui perguntando onde ficava a sala que eu teria aula, e por sorte um menino me mostrou. Estavam todos sentados nas suas classes, eu cheguei correndo e como sempre nada basta para mim, derrubei a lixeira que estava do lado da porta com um chute. Pedi desculpas e sentei-me à mesa atrás de TJ e do lado de Alison. Os dois me interrogaram se eu estava bem, eu assenti. A professora de geografia era um doce, tinha os cabelos amarrados e era pequena, baixinha, o que a fazia parecer mais adorável. Ela explicava a matéria com cautela e dava-nos toda a explicação necessária, dando pra perceber bastante diferença entre ela e o professor de matemática. A aula nos rendeu duas páginas do caderno com um texto ditado. Tentei olhar para o rosto de todos os meus colegas, a maioria me fez achar que eu estava na turma certa. Não pareciam ser o tipo de pessoas que gostam de arrumar briga. Era do que eu estava querendo me afastar.
No final da aula, antes de entrar para o carro e ir para casa decidi comprar um refrigerante. O estacionamento da escola era bem vigiado, eu não me preocupava muito com meu fusca. Enquanto eu contava o dinheiro, alguém surgiu na minha frente falar comigo. Era Scott, para meu desprazer.
— Anninha, quanto tempo.
— Annabelle, é Annabelle. — contei até três — O que foi?
— Nada, vim dar as boas-vindas à aluna nova — debochou.
— Quanta gentileza, que exemplo de pessoa. Pode me dar licença? — tentei ser educada, eu não queria confusão, repeti cinco vezes antes de entrar aqui.
— Claro que pode, Annabelle. — cedeu espaço — Não crie confusões, mocinha. — e saiu rindo.
Momento desagradável e desnecessário. Ultima vez que o vi estávamos na sala da diretoria, eu escutando sermão e ele com o nariz sangrando. Apesar de não ter sido algo que uma menina deva fazer, eu gostei. Eu era mais descontrolada, não gostava de ser contrariada e muito menos provocada. Algumas vezes me chamavam de Balboa, me comparando ao “Rocky Balboa” por causa do soco que eu dei em um menino na rua da escola. Não era pra menos, eu tinha meus motivos. Mas graças a deus esse apelido não veio comigo, acho que nem Scott lembra, nem ele nem Marcus - melhor amigo dele – que sabe ameaçar, mas tem medo de uma abelha. E eu posso afirmar isso com certeza, o vi gritar quando estava perto de duas delas no ano retrasado.
Peguei meu refrigerante e fui entrar no carro, mas antes recolhi um papel que estava grudado no para-brisa do meu carro. Sentei no banco, joguei minha bolsa para o banco de trás e li, ele dizia: “Bem-vinda, Balboa”. E no canto do pedaço de papel um coração, e o nome de Marcus. Era só o que me faltava. Eu não vou me estressar. Não vou me estressar.
Acelerei e segui para casa, não tinha nada de trânsito então eu cheguei num pulo. De um mês pra cá, vários cavalos vieram e temos muito mais trabalho, meu pai até contratou mais um ajudante que os treinasse. Os donos gostaram do lugar e meu pai estava lucrando bastante, sem contar que adora tudo isso. Anthony também, ele vem praticamente todos os dias com Jeremy. E quando entrei em casa minha mãe já perguntou como foi a aula, se eu conhecia alguém e quando falei sobre os dois meninos ela balançou a cabeça negativamente, como eu esperava, e disse:
— Anna, eu não quero ser chamada de novo por causa de briga.
— Hoje eu falei com Scott e não fui grossa, ponto pra mim.
— Eu estou falando sério, aja como uma menina com classe e chega de tentar bancar o machão, tudo bem?
— Machão, santo exagero hein. Eu sou uma menina com classe. Ta vendo isso aqui? — apontei para o meu corpo e balancei o cabelo — É pura classe.
Ela riu e disse que eu não prestava, e nisso Anthony chegou.
— Então a senhorita pura classe esta na mesma escola que os metidos a macho?
— Exatamente. — afirmei — Pura classe.
Ele chegou perto de mim e cochichou — Um dia eu quero ver você brigando, então, se rolar uma briga simples, me chama ok? Mas não quero que se meta em encrenca séria com meninos.
Ri e concordei, já minha mãe escutou e falou que não sabia qual o pior, se era ele ou eu. Os cavalos estavam comendo, então, fomos para o campo, bem longe, caminhar.
— Eu não sei você, mas eu já caminhei bastante hoje, então, por favor, dê passos mais lentos. — falou, esbaforido.
— Eu quero ir até aquela árvore enorme lá, está pertinho. Quem sabe minha casa da árvore esteja lá ainda, faz uns dois anos que não vou vê-la.
— Você tem uma? Todas as minhas tentativas foram um fracasso.
— Não duvido. — ele me olhou, ofendido — Brincadeira.
— Continua com essas brincadeirinhas aí, continua...
— Ahhhh, que menino sensível!
Pulei nas costas dele, e pedi que fosse rápido. “Quero ver esses músculos fortalecidos” eu repetia, e ele não sabia se ria ou se tentava correr. Por fim, chegamos, e ela ainda estava lá. Bonita, forte, e os meus desenhos ainda dentro dela, alguns caídos, mas estavam lá. O convidei para subir, e lá da janelinha se via uma imensidão de verde, de tantas flores nos galhos das árvores. Anthony estava com os olhos admirados da paisagem, e eu, admirando ele.


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