Ballerina escrita por Alyh


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem, beijo da tia Alyh



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Muitas pessoas tem sonhos, e eu não era diferente nesse quesito. Sempre desejei ser bailarina, porque eu sabia como me expressar com a dança, mostrando meus sentimentos escuros e até os mais lindos, como o amor. Eu conheci meu primeiro namorado na academia Dreaming, onde ele estava um nível acima de mim.

Eu logo o acompanhei e ficamos juntos até a noite em que eu morri. Quer dizer, na noite que meu maior sonho morreu, o que é quase a mesma coisa, porque sonhar é como a nossa maneira de ter um motivo para sobreviver, dia após dia.

Naquela noite fria e sem estrelas de novembro, quando eu vi o homem que eu amava beijar uma bailarina da academia rival, eu saí dobarsem olhar para trás. Nós havíamos ganhado o campeonato de balé, e eu não poderia estar mais orgulhosa de mim mesma. Eu estava atravessando a rua, chorando, mas ainda assim na faixa de segurança, e um carro a toda velocidade veio em minha direção.

Trágica historia da bailarina com a perna quebrada? Sim, com certeza. Mas eu estava com o termo "corna" adicionado ali, e isso piorava ainda mais. A dor da pancada não era tão grande quanto à dor de saber que eu não poderia mais competir, porque, depois de um ano de fisioterapia, já formada na escola, e sem nenhuma outra opção de vida, os médicos me desiludiram, afirmando que não seria possível calçar aquelas sapatilhas novamente.

Foi difícil deixar de lado a minha maior paixão. Meu maior sonho. Eu já era considerada uma bailarina profissional, mas não havia competido o suficiente. E com esse pensamento, de que eu não podia simplesmente desistir, que eu criei uma academia de balé, e me tornei professora.

Eu adorava crianças, e, por mais que não tivesse a pretensão de me casar, eu gostava de estar rodeada daqueles seres pequenos e que se dedicavam tanto. Elas eram mais comprometidas com as aulas que muitas bailarinas mais velhas.Eu trabalhava todos os dias comerciais da semana, e tinha os finais de semana para tentar voltar para o ramo.

Eu não conseguia simplesmente abandonar meu passado, por mais difícil e doloroso que fosse, treinar com um pé que já não era mais o mesmo. Nem fisioterapia havia feito o milagre de me deixar a mesma de antes.

- Oi tia! - Escutei a voz de Aimee, a mais nova, com cinco anos.Ela sempre chegava cedo demais, e ia embora tarde demais.

- Pequena! - Exclamei, me agachando para receber seu beijo tímido, em minha bochecha. A garotinha de cinco anos, cabelos lisos e castanhos, sempre sorria como se o mundo fosse um lugar perfeito, e aquilo me ajudava em dias ruins.

Ela era bem pequena, não tinha muita bochecha, era uma menina magra, mas que dava vontade de apertar. Eu não sabia como era seu cabelo, pois ele estava sempre preso em um coque, no topo da cabeça, e com a rede rosa em volta, ela tinha uma fileira de dentes de leite que enfeitavam a sua pequena boca, e seus olhos claros eram os mais inocentes que eu já havia visto.

- Tia Bi, um dia eu vou ser grande como você? - Ela perguntou, quando eu já havia me levantado, e estava indo para perto do piano preto de calda que havia ali. Eu gostava de ter a companhia dele, quando todos já haviam ido embora.

Eu era sempre a ultima a ir para casa e então eu me sentava no chão e recordava dos bons tempos. Niall, meu primeira e último namorado, gostava de ir tocar, quando éramos mais novos. Eu me recordava dele em um misto de carinho e ódio.

Ao meu ver, a pequena Aimee era perfeita. Mas para os médicos e para os pais dela, não. A pequena tinha sopro no coração, um ruído produzido pela passagem do fluxo de sangue pelas estruturas do coração. Era algo que só poderia ser curado com cirurgia, mas que não afetava em nada a vida da menina.

Ela não gostava de ficar muito em silêncio para que as outras meninas não notassem seu problema, e até havia pedido para que as aulas tivessem música de fundo. Eu fazia de tudo para elas se sentissem bem, então comecei a colocar música, juntando o clássico das sapatilhas e The Clash.

- Você vai ser uma ótima bailarina, meu amor.

- Olha tia, meu dente caiu! - Ela sorriu e eu vi seu pequeno dente da frente faltando.

- Ah, que coisa mais fofa. - A peguei no colo e a levei até a parede dos espelhos. Sorri mostrando meus dentes completos e ela me imitou, nos comparando. - Viu? Você é mais linda que eu, por mais que esteja faltando um dentinho.

- Eu coloquei embaixo do travesseiro, mas a fadinha não veio. - Ela fez bico.

- Não veio? - Perguntei, fazendo bico.

- Não. Eu falei pra mamãe, mas ela disse "eu não tenho tempo para você agora, Aimee".-Tentou imitar sua mãe.

- Ah, mas eu sei que ela vai vir ainda. - Eu conversaria com a mãe de Aimee. Eu não gostava de saber que ela estava perdendo detalhes de sua infância por culpa de sua mãe sem tempo.

- Será que a mamãe vem na apesentração? Ela bligou com o papai. Eu ouvi os gritos. - A pequena contou.

- Ah, pequena, - a coloquei no chão e beijei sua testa. - tudo vai se acertar. Eles virão na sua apresentação sim.

Coloquei a música de fundo e me escorei na barra de ferro, esperando que as outras bailarinas chegassem. Aimee começou a dançar enquanto sorria. Ela estava de olhos fechados, e eu sabia que ela amava aquilo. Ela vestia a collant rosa e o tutu num rosa mais claro. Uma sapatilha da mesma cor, por cima da meia calça branca, e fina.

Jenny e Katherine chegaram, e suas mães acenaram para mim, logo se sentando no canto mais afastado do estúdio, onde elas podiam observar a aula. Diana e Susan, as gêmeas, vieram de mãos dadas e largaram suas pequenas mochilas no escaninho, correndo ate mim e abraçando minhas pernas. Mais cinco alunas vieram e eu pude começar como funcionaria o espetáculo de inverno.

Ensinei-as os primeiros passos, e elas tentaram me imitar, a única que fez a sequencia toda sem cair ou desequilibrar, foi a pequena Aimee. A dança era um tanto difícil, pois exigia a ponta dos pés e todos os movimentos, o que era novo para as meninas.

Eu lancei um sorriso de canto para minha pequena perfeccionista e voltei a atenção para Diana, que estava prestes a chorar. Ela adorava fazer uma birra.
A aula terminou depois de uma hora e meia, todos foram embora, mas Aimee só iria as sete, hora que a mãe dela passava para a buscar.

Normalmente nós ficávamos brincando, sentados no chão, ou ela me contava sobre como ela adoraria ser uma bailarina linda, fazendo "Quebra nozes" e que seu príncipe fosse loiro de olhos claros. Ela era um amor.

- Aimee? Vamos que já está na hora. - Era a mãe dela entrando na sala em que eu dava aula.

- Preciso falar com você, senhorita Holl. - Falei, pedindo que Aimee continuasse ali, treinando o que eu havia ensinado. - Se importa de ir até o escritório?

- Não. - Ela sorriu cansada, deu um beijo na bochecha da filha e me seguiu.
Subimos a escada, indo até a sala em que ficavam todas as fichas das meninas, os pagamentos e tida a parte de administração. Eu fazia quase tudo por aquele lugar, e, ainda sim, estava por um fio de ir a falência.

- Eu não quero, em hipótese alguma, parecer intrometida, - Abri a porta e entrei, esperando que ela me seguisse. - mas eu queria te pedir um favor.

- Pode falar. - Ela disse, sentando a minha frente, em seguida.

- Você se importaria de colocar uma libra em baixo do travesseiro de Aimee. Ela comentou que a fada do dente não veio.

- Ela está grande para esse tipo de coisa. Já falei que fada do dente não existe. Além de que eu não tenho tempo, minha vida é muito atarefada.

- Eu já disse que não quero ser intrometida, mas eu creio que ela merece sua atenção. Você devia prestar atenção na imaginação de sua filha, porque ela é a menininha mais perfeita que eu já conheci.

- Ela não é perfeita. Não quero que fique falando isso perto de Aimee. Muito obrigada pelas dicas. - Ela levantou.

- Ela merece ser mais amada. - Respondi, mas ela já havia partido. Fui ate o corredor, olhando para Aimee, da sacada de vidro e esperei que sua mãe a levasse.
Ela segurava a mão de sua mãe e contava algo animadamente, talvez sobre seu ensaio de hoje, enquanto sua mãe não prestava atenção.

Eu não queria ser mãe por não ter a certeza de que seria boa o suficiente, porém a mãe de Aimee nem parecia se importar em ser boa para ela. Meus pais eram o oposto da senhora Holl, e sempre me davam suporte e apoiavam minha fantasia. Talvez esse tivesse sido o maior erro, pois assim, eu havia ficado fissurada na ideia de ter sucesso como bailarina.

Fui para casa com dor de cabeça. As contas da academia estavam ficando cada vez mais altas e eu não estava conseguindo pagar. O dinheiro que eu ganhava lá, tinha que ser dividido em pagar o aluguel da academia, do meu apartamento, e comer.
Summer, a adorável vizinha idosa, havia deixado uma torta sob minha mesa, pois ela tinha a chave. Summer era como uma mãe, que fazia os melhores biscoitos e adorava piscar para os velhinhos do bingo. Eu havia ido, algumas vezes, no bingo de sua igreja, só para lhe fazer companhia.

Escutei meu celular tocar, de noite, e atendi na quinta chamada, o número desconhecido no visor me deixou curiosa.

- Tia Bi? - Era a voz de Aimee, e eu sabia que ela estava chorando.

- Amor, o que aconteceu? - Perguntei, apoiando meu antebraço no colchão e ligando a luz do abajur.

- Eles estão bigando, glitando. - Ela falava errado quando chorava, pois sua língua ficava enrolada. Eu podia escutar os gritos ao fundo.

- Hey, minha pequena, se acalme. Cante para mim, por favor. - Pedi, não sabendo o que fazer, mas sentindo o desespero dela.

- Eu cansei Hayden! Eu não vou mais tolerar isso! - A mãe de minha pequena gritava ao fundo.

- Eu não canto bem, tia Bi.

- E você quer o que, Aline? Você sabia de tudo isso quando se casou comigo! - O pai de Aimee gritou de volta, parecendo mais que estressado.

- Tia Bi, me tira daqui. - Ela voltou a chorar e meu coração apertou.

- Eu vou pra casa do meu irmão. - Era a voz da mãe da pequena Aimee.

- Você pode ir, mas saiba que eu vou lutar pela minha filha, caso queira o divórcio. - O tal Hayden gritou e então eu ouvi um barulho alto de porta batendo.

- Aimee, meu amor, eu prometo que vou cuidar de você assim que possível.

Escutei passos e então Aimee colocou o telefone em algum lugar.

- Aimee, nós vamos no tio Zack, venha comigo, pequena. - Sua mãe a chamou e eu escutei o soluço da pequena.

Eu queria poder cuidar de Aimee porque ela me lembrava muito de quando eu era pequena. Ela desejava ser perfeita, e se dedicava para receber tal título. Aline não sabia o quão maravilhosa era a filha que tinha, e isso me incomodava.

- Papai vai junto? - Talvez a mãe dela arrumava uma mala de roupas da pequena, ou só estava sentada na cama, olhando para a filha com olhar inexpressivo.

- Não, amor, ele não vai. Vamos ficar um bom tempo na casa do tio Zack. - Sua mãe respondeu, e eu pensei no quão chateada ela estava. - Mas eu sei que você ama o mano da mamãe.

- Ele me deixa cedo na tia Bi. Não tem cliança nenhuma lá quando ele me deixa. - Contou.

- Mas você gosta dela, não é? - Perguntou ela, e eu ouvi um barulho de zíper. Ela estava fechando a mala e elas iriam partir.

- Gosto. Ela é minha outa mamãe. - Meus olhos encheram de água.

O que eu sentia por aquela pequena bailarina era retribuído e isso me deixava mais feliz impossível. Mais do que nunca, eu protegeria Aimee de tudo e qualquer coisa, levando em conta que eu sabia que ela aceitaria todas as oportunidades de crescer naquele ambiente.
Nós compartilhávamos da mesma paixão, e eu sentia como se ela fosse uma versão pequena de mim.

Desliguei o telefone e voltei a dormir. Eu estava realmente cansada. No outro dia fui cedo para a academia, daria aulas durante toda a manhã, e na minha última aula do dia, Aimee chegaria. Mas ela não foi naquele dia. E nem nos dois que se seguiram. Eu estava preocupada.

Não tinha nada relacionado com perder uma fonte de dinheiro, mas sim sobre a saúde e bem estar dela. Pensei no que faria, se devia ligar para o número de Aline, mas pensei que ela só diria que estava ocupada e que não tinha tempo de levar sua filha para aulas sem proposito algum.

Eu estava arrumando minhas coisas para voltar para casa, e recebi uma ligação da qual eu não me agradei. Aimee estava no hospital.
Eu não pedi maiores informações e então liguei para Louis, meu melhor amigo, e pedi que me levasse ao Tourty Hospital, que ficava do outro lado da cidade. Eu não tinha dinheiro para pagar tanto assim por um taxi.

Ele chegou na academia em poucos minutos, e então sem e perguntar nada, ele me levou. Eu chorei o caminho inteiro, não sabendo oque minha pequena tinha.

- Eu vou descer com você. - Louis disse, quando passamos pela guarda do hospital. O estacionamento não estava lotado, para minha sorte, então logo eu e ele seguimos para a recepção. Encontrei a mãe dela e o pai em uma sala de espera. Cada um chorava em um canto, e um cara que não me era estranho, estava ao lado de Aline.

- Senhora Holl? - Perguntei, com Louis ao meu encalço. Eu não conseguia desviar os olhos dele, o estranho tão conhecido.

- Ela está bem. Depois da segunda parada cardíaca.

Tampei minha boca, que estava aberta e tentei não chorar. Voltei para perto de Louis, que me abraçou sem perguntar mais nada e fechei os olhos com força. Quando os abri novamente, uma dor na perna me fez quase gemer e então eu soube.

- Zack Melark. - Eu falei, olhando para ele e sentindo meu peito subir e descer varias vezes, buscando ar. As lágrimas desceram deliberadamente, sem que eu nem tivesse de piscar para que elas abandonassem meus olhos.

- Sim? - O homem não tão desconhecido perguntou.

- Você não lembra de mim, não é? - Mordi meu lábio inferior e quase fiz sangrar. Eu odiava aquele homem com todas as minhas forças.


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