[...]

Fuyumi nunca tinha se lembrado de seu avô até aquela hora. Naquela droga de hora.

“Sempre desconfie quando tudo está dando certo” Dizia ele.

Podia-se ouvir o som de seus passos batendo forte no piso de pedra dos corredores do curso para exorcistas. Suas bochechas estavam coradas em parte por causa da vergonha e em parte por causa das lágrimas grossas que escorriam dos seus olhos para a face rubra.

Sentiu-se bater contra algo e foi lançada ao chão de maneira bruta. Forçou-se a levantar o rosto e notou Luna, que estava em prantos assim como ela mesma.

...Tudo estava dando errado...

...Ah!...

...Como o destino é irônico...

[...]

[4 Horas antes]

Para Fuyumi o dia estava perfeito. Depois de uma longa, muito longa, conversa com Luna na noite anterior as duas finalmente foram dormir e acordaram cedo no outro dia. O clima de frio ainda assolava a academia, mas o sol havia derretido quase toda a neve.

Foram recebidas pelo pequeno demônio da cozinha com um delicioso desjejum, aos poucos o lugar fora ficando cheio, levando em conta que Braz e os outros continuavam por lá. Não se sabia ao certo o porquê de decidirem continuar em Assiah, mas preferiram não opor, ao que parecia Wolf e Staz estavam envolvidos em algum assunto pendente. Braz estava interessado em descobrir o porquê de Fuyumi não conseguir passar pelo portal e Liz não iria embora sem ele.

Luna e Fuyumi decidiram sair um pouco, fazia tempo que não tiravam um tempo apenas entre meninas, tirando o horário antes de ir para cama. Passaram pelo centro comercial, cuja aslojasestavam todas fechadas.

— Nos esquecemos de que ainda é feriado... as lojas estão todas fechadas. — Fuyumi disse soltando uma risada baixa.

— De qualquer modo desculpe-me de te arrastar até aqui... — disse Luna, fitando os próprios pés. A noite passada tivera falado tudo, absolutamente tudo para Fuyumi, desde sua estranha anatomia até o momento a sós com Rin no metrô. Suas bochechas se tornaram escarlates. — Eu só não sabia como iria ficar se visse Rin.

— Entendo o que quero dizer. — admitiu Fuyumi se lembrando do extremo gelo que dera em Staz graças ao incidente na festa de Natal.

— Mas... mudando de assunto... — um sorriso malicioso cruzou os lábios finos de Luna, o que deixou a mostra seus dentes brancos, cujos caninos pareciam estranhamente afiados. — [...] você e o Staz? Hm? — a morena ficou rubra quase que imediatamente ao ouvir o nome do vampiro. — Quer dizer que agora são namorados?

— Lu-Luna! N-NÃO! — a voz de Fuyumi aumentou-se em desespero — que-quero dizer... não sei. E-ele não disse nada, então eu meio que... eu meio que fiquei quieta. — Fuyumi viu as sobrancelhas de Luna se arquearem em uma pergunta silenciosa — Ok, ok. Eu admito, eu fiquei petrificada depois que ele me beijou, eu ia perguntar, juro que ia, mas...

— Entendo... — admitiu a menor, colocando suas mãos no bolso do casaco esbranquiçado. — O que pretende fazer agora?

— Não tenho certeza. Acho que quando voltarmos eu vou conversar com ele. O que acha?

— Acho bom. Eu... estava pensando em fazer o mesmo. — a voz de Luna quase se extinguiu antes da frase terminar, mas, milagrosamente, a morena ao seu lado conseguira ouvir, permitindo que um de seus típicos sorrisos doces cruzasse em seus lábios.

— Ey, Luna, eu soube que vão fazer uma exposição de artes hoje no shopping, que tal perdermos nosso tempo por lá até de tarde?

— Bom, é isso ou vamos ficar perambulando o dia todo pelas ruas nesse frio? — perguntou-se ironicamente — acho que a primeira opção está melhor para meu gosto.

Fuyumi sorriu, agarrando o pulso da amiga para irem às pressas até o shopping.

=/=

Durante o resto da manhã e parte da tarde se passaram de maneira rápida, quase como se o tempo estivesse as manipulando para levarem-nas logo para a academia. E era o que elas estavam fazendo.

— Shura-san, você sabe onde está Staz? — perguntou Fuyumi à mulher rosada.

— Acho que Yukio deu a ele a tarefa de limpar uma das classes do curso de exorcismo. Ele e Rin têm aprontado desde essa manhã.

Uma gota podia-se ser vista escorrendo pela face da mais jovem que forçava um sorriso.

“Que novidade” pensara.

— O-obrigada... — disse ao se despedir ouvindo um “hm” de resposta.

Ela não sabia, mas tudo estava sincronizado.

=/=

— Droga! — grunhiu Rin ao derrubar sem querer a vassoura e um produto de limpeza no chão.

Uma conhecida risada feminina soou por trás dele. As bochechas do rapaz tomaram um tom levemente vermelho de vergonha e se levantou rapidamente, derrubando mais três coisas no chão.

— Shi-Shiemi? — Rin perguntou levemente desesperado, olhando a loira com os orbes em espanto. A garota o olhou com uma expressão mesclada de confusão e desaponto.

— Assustei você?

O rapaz engoliu em seco, mas deu de ombros a pergunta da garota.

— Não exatamente... — ele se viu coçando a própria nuca, desconfortavelmente. — Aconteceu alguma coisa?

A cabeça da loira pareceu pender no pescoço, fazendo-a fitar o chão. “Estava Shiemi a hesitar em contar algo?” pensou ele. Rin notou a mão trêmula da garota e quase entrou em pânico novamente, quase.

— Shiemi? — preocupado, ele aproximou-se da menina. Com espanto, ele notou os olhos lacrimejados quando ela finalmente olhou para ele.

Antes que ele percebesse, Shiemi pulou para abraça-lo. Inicialmente, Rin ficou tão atordoado que nem movera um músculo, foi apenas a voz de Shiemi que o despertou de seus devaneios.

— Hoje faz exatamente 12 anos que minha avó morreu*. — admitiu-a, deixando-se soltar um soluço baixo.

Rin não disse nada, apenas a conforta, pois sabia o passado que a loira tivera com sua avó. Sabia o quão triste ela se sentia pela culpa da morte de uma pessoa que fora tão importante.

— Rin... — Shiemi o chama, se aproximando lentamente.

Sem os dois saberem, alguém os observava por entre o pequeno vão da porta.

Luna não estava aguentando ver isso, não mais. Se continuasse ali seria descoberta e ainda poderia entrar em prantos. Rendera-se e deu as costas.

=/=

Os ecos de seus passos foram ouvidos por todo o corredor. Sua visão, normalmente perfeita, estava embaçada, totalmente desfocada e seu batimento cardíaco estava descompassado.

“O que foi aquilo?” Pensou em total desamparo. Não se deu conta do que estava a sua frente até ouvir um baque e ir de encontro com o chão. Sentiu uma dor aguda na região quadril com o choque da queda.

Abriu seus olhos lacrimejados e deu de cara com Fuyumi que, assim como ela, se encontrava com as bochechas avermelhadas e as lágrimas ainda contidas em seus orbes negros, teimando em cair.

— O-o que houve? — pediu Luna tentando, inutilmente, limpar os resquícios de lágrimas em sua face.

O olhar de Fuyumi voltou-se para o chão no qual caíra e com a um fio de voz Luna conseguiu captar a voz da amiga dizendo “Staz...”.

— Você?

— Rin...

De um momento para o outro o clima no ambiente pesou muito mais do que estava há um minuto. Até as duas sentiram. Aquilo não era normal, parecia que uma força esmagadora recaíra por sobre seus ombros. Sem perceber elas estavam ofegantes e pequenas gotículas de suor escorriam pela pele de ambas.

— Fuyumi... eu acho que eu... não estou... — Luna não chegou de terminar a frase, pois apagara logo em seguida.

Fuyumi observou, com as pálpebras pesadas, a queda singela da amiga até o chão. As lágrimas sumiram, sendo substituídas por um desespero súbito. O que estava acontecendo?

Foram seus últimos pensamentos antes de se render a escuridão.