Os ombros sustentam o mundo

Leva o cigarro até a boca e traga. Já está quase fumando o filtro mas não se importa. Johanna é mais ou menos como o sol nesse movimento de levantar a mão e estourar lentamente todo o seu sistema respiratório. Resplandecente. Katniss se pergunta, então, como ela pode olhar para Johanna sem ficar cega? Sua alma carece tanto de luz que nem mesmo o sol lhe é capaz de iluminar completamente, quanto mais queimar; ao contrário, ilumina e escurece em iguais proporções. Toda luz faz sombra. Fumaça. A fumaça que empesteia o lugar todo e borra a realidade. O colorido cinzento de sonho.

Katniss pensa que Johanna tem os mais belos olhos tristes de toda Panem. E o mundo já está mesmo tão explodido. Não importa realmente, importa? Quando Johanna lhe oferece um cigarro, ela aceita. Você tem fogo?, pergunta numa voz quebrada e baixa, mas forte; forte, mesmo assim. Johanna pisca e no seu sorriso há uma sombra da curva do velho sorriso provocador. Da velha Johanna. Lógico que tenho, uma pausa, seus olhos são brilhantes, com quem você acha que está lidando? Katniss tem vontade de responder: com você. Mas se cala e seu rosto é duro. Prim que foi uma fogueira que subiu ao céu e levou seu sorriso. Mas Johanna não se importa e acende um fósforo — um bater de cílios e um toque cansado de mãos que não querem ir embora. A noite é tão silenciosa. Fica comigo hoje? A pergunta é de Katniss e some na fumaça. Fico.