Regis um menino no espaço escrita por Celso Innocente


Capítulo 1
Sequestro


Notas iniciais do capítulo

Uma surpresa diferente na vida de um menino pobre e sonhador.



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Meia hora antes do meio dia, do dia vinte e cinco de Março do ano um mil novecentos e oitenta, na Escola Estadual de Primeiro Grau Marcos Trench, na cidade de Penápolis, estado de São Paulo, Brasil, América do Sul, planeta Terra, sistema Solar, desta mesma Via Láctea, soara o sinal, indicando o final das aulas, para aquele período do dia.

Eu, nove anos de idade, recém-completado, branco, com cabelos e olhos castanhos, cursava a terceira série do primário. Saíra da escola, com bolsa escolar marrom, tipo valise, na mão direita, usando um short em tergal, azul marinho; um calçado tipo tênis da Alpargatas, em lona, azul escuro e solado branco (quer dizer: seria branco se não estivesse encardido de terra, devido às artes de menino sapeca); uma camisa (não camiseta) também em tergal, branca, com único bolso, no lado esquerdo do peito com as letras G E M T bordada em linha também azul marinho. Acompanhado por Elizabeth, minha colega de classe e companhia, desde o pré-primário. Ela, uma garota de minha idade, usava uma saia também de tergal azul marinho, que chegava até a metade da coxa e uma blusa idêntica à minha camisa, salvo pelos botões, os quais, enquanto os das camisas dos meninos ficava do lado direito o das meninas era do lado esquerdo. Ela, morena clara, cabelos negros, lisos, longos e muito bonita; acho que a mais bonita de toda a escola.

Seguíamos sempre juntos, de volta à nossas casas, distante aproximadamente três quilômetros.

Subimos à Rua Jacomo Paro e ao adentrarmos à Rua Mato Grosso, que era cheia de entulhos e sem pavimento asfáltico, atrás da Casa Anjo da Guarda, lhe convidei:

— Beth, vamos atravessar pelo aeroporto!

— Por quê? — Perguntou-me ela, espantada.

— Por nada! Eu só queria passar por lá! Não precisa ter motivos!

— E você acha que isto é convite que um menino faz a uma garota?

— Por que não?

— Quem você pensa que eu sou Regis?

— Uma menina bonita! — Afirmei rindo.

— Obrigada pelo bonita! — Insinuou ela séria. — O que você pretende?

— Por quê? — Gesticulei sem entender nada.

— No aeroporto tem mato!

—Tem trilhas!

— Continua tendo matos!

— E o que tem isso?

— Muita coisa! — Disse-me ela brava.

— Por favor, Beth, não pense mal de mim!

— Quem você pensa que eu sou pra andar no mato com meninos?

— Desculpe-me, não estou pensando nada!

— Quer ir por lá, que vá você! Eu irei pelo caminho de sempre!

— Você não se importa, se eu for por lá?

— Claro que não! Eu não mando em você!

— Então tchau! Vá direto pra casa!

— Afinal de contas, o que você vai fazer no mato?

— Apenas atravessá-lo! Tchau!

Ela seguiu o mesmo caminho de sempre e eu, por outro, em busca de aventuras, atravessando pelo aeroporto, que realmente era cercado por denso matagal que até encobria meus um metro e trinta centímetros de altura.

Ao estar aproximadamente no centro daquele campo cerrado, percebi um forte zumbido que fazia lembrar um tipo de motor, vindo do alto. Olhei para cima e avistei um estranho objeto, que se aproximava muito rápido. Quis sair correndo, mas não consegui; estava paralisado por aquela visão, que: ou eu estava dormindo, ou era bem real.

O objeto pousou suavemente; quer dizer: ficou levitando a uns dois metros de altura, a uns quatro metros de distância. Era um desses objetos que o homem diz: óvni. Um verdadeiro disco voador. De qualquer forma, algo muito grande e bonito, nas cores: preta e dourada.

Uma ranhura em formato oval se formou de repente na parte inferior do estranho objeto, formando assim o que seria a porta, se abrindo lentamente e deixando cair até a uns trinta centímetros do solo, uma escada de cinco degraus, feita a principio como se fosse estanho derretido, que se solidificou rapidamente, permanecendo prateada. Na entrada daquele estranho objeto apareceu um vulto humano, trajando riquíssimas vestes de seda azulada. Quando pensei em fugir, o ser me chamou:

— Pare, Regis!

Parei, olhando para ele, que me ordenou, fazendo gestos com o dedo indicador:

— Se aproxime.

Não sei por que, mas ao contrário de que mamãe sempre me aconselhou, de não me aproximar ou falar com estranhos, obedeci a sua ordem. Quem era aquele estranho em forma de humano que sabia meu nome? Ao me aproximar da escada, ele me ordenou:

— Entre, por favor!

Permaneci parado por alguns segundos, depois lentamente, talvez hipnotizado, subi os degraus e adentrei naquele estranho veículo. A escada subiu rapidamente, me fazendo assustado a olhar para trás e ver a porta se fechar também rapidamente. Agora eu me encontrava dentro de uma grande sala. O homem, moreno, cabelos escuros, curto e bem penteado, de uns vinte e cinco anos de idade, me saudou:

— Bem vindo à bordo, Regis!

— Q... Quem é... o senhor? — Perguntei assustado. — Como sabe meu nome?

— Meu nome é Tony e eu sei tudo sobre você, não apenas seu nome!

— Como assim? De onde o senhor veio? Do espaço?

— De um planeta chamado Suster!

— Suster!... Outro planeta?

— Isto mesmo! E é pra lá que estamos levando você!

— Estão me levando? Em quantos são vocês?

— Aqui na nave? Ou em nosso planeta?

— Na nave?

— Apenas dois!

— E esse troço?... Já tá voando?

— Desde que a porta se fechou!

— Não pode ser! Eu quero descer! Abra essa porta!

— Impossível Regis! Já estamos muito longe de sua Terra! Já estamos fora do seu sistema solar!

— Não pode ser! — Duvidei. — Acabei de entrar!

— Aqui dentro, o tempo é diferente de seu tempo lá fora. Esta nave viaja a milhões de quilômetros por hora!

— Só tenho nove anos, mas não sou tão bobo! — Neguei convicto. — Nada do mundo pode voar a milhões de quilômetros por hora!

— Não soube me expressar, Regis! — Riu o homem zombeteiro. — Milhões de quilômetros por minuto! Aliás, por segundo.

— Por acaso, hoje li em meu livro de ciências, que não existe nada no mundo, capaz de voar a mais do que quatro mil quilômetros por hora.

— A luz viaja a um bilhão e oitenta milhões...

— A luz pode até ser... — Concordei gesticulando.

— Nossa nave cria um efeito que seus cientistas dirão, dobra de espaço e tempo. É o mesmo que esticássemos o espaço atrás de nós e o encolhêssemos à nossa frente, deixando a nave seguir protegida por uma imaginária bolha gigantesca.

— Não fui eu quem escrevi meu livro de geografia e ciências!

— Seu livro não sabe nada! — Riu o homem. — No espaço sideral não existe gravidade, portanto não existe atrito e o tempo é bem diferente do seu!

— O que?

— Esqueça atmosfera terrestre, ionosfera, troposfera, estratosfera e tudo mais o que você aprendeu sobre espaço e tempo. Como já lhe disse: estamos fora de seu sistema solar.

— Mas por que vocês estão me se... seques...trando? Eu sou um menino pobre! Não tenho dinheiro pra dar a vocês!

— Nós queremos você, não o seu dinheiro! Seu dinheiro em meu mundo é lixo!

— Mas por que vocês me querem? — Senti as lágrimas molhando meu rosto. — O que irão fazer comigo?

— Não tenha medo! — Me abraçou o homem. — Nada de mal vai lhe acontecer!

— Como não? Ir pra longe da minha casa, não é mal?

— Você será um garoto feliz conosco.

— Eu não quero ir!

— Mas não tem querer! Já estamos indo! A milhões de quilômetros por minuto!

As lágrimas aumentaram. Joguei minha bolsa escolar no piso, virei-me ao que seria a tal porta daquela nave e mesmo não havendo nenhum sinal dela por ali, espanquei fortemente o local gritando:

— Não quero ir! Me deixe descer!

— Calma menino! — Pediu tal homem, tornando me abraçar calmamente. — Tudo ficará bem!

— Nada está bem! Quero voltar pra casa!

— Imagine-se em um bonito passeio pra se estudar ciências prática!

— Mas quem são vocês? Como falam a minha língua?

— Nós não falamos sua língua! Você é quem fala a nossa!

— Mas eu falo Português!

Retirou de seu pescoço, uma correntinha azulada, contendo uma minúscula caixa em formato oval, dourada, dependurada, colocou-a sobre minha cabeça, deixando-a pendurada em meu peito, dizendo:

— Use isto!

— Pra que serve?

—Com ela você entenderá qualquer linguagem falada pelo homem, em qualquer lugar do Universo.

Acariciei aquele objeto de metal precioso, como se fosse algo sagrado. O homem me chamou:

— Vamos conhecer o Rud, na cabine da nave.

Sem nada falar, porem ainda assustado e cauteloso, apanhei minha bolsa e acompanhei aquele homem. Entramos em um pequeno corredor e depois de alguns passos, paramos diante de uma porta transparente esverdeada, que se abriu sozinha. Entramos, Tony sentou-se em uma poltrona transparente, feita, assim como a porta, talvez de acrílico, enquanto eu permaneci de pé, mesmo porque ali só existiam duas daquelas poltronas. O tal Rud, moreno de uns vinte e cinco anos, também trajando vestes de seda, estava diante de um painel contendo dezenas de botões, de cores predominantes em azul muito claro e preto; diante do Mecanismo, que fazia aquele enorme disco se mover pelo espaço ou tal vácuo, embora aparentava estar parado.

Ao nos ver entrar, girou a cadeira em cento e oitenta graus, e rindo gozador, insinuou:

— Ora, vejam só, se não é o nosso garoto Regis!

— Nosso garoto Regis!— Exclamei admirado.

— Isso mesmo! — O confirmou. — Se você soubesse há quanto tempo estamos esperando por este momento!

— Tempo! Nosso garoto! Esperando esse momento! — Exclamei. — Quer me explicar melhor?

— Claro! — Interferiu Tony. — Quantos anos você acha que eu tenho?

Rud voltou aos comandos da máquina.

— Uns vinte e cinco! — Respondi. — Por quê?

Rud riu zombeteiro e completou:

— Cinco mil anos, mais ou menos! Perdi a conta!

— Acha que acredito nisso?

— Tem que acreditar, pois é a verdade! — Insinuou Tony.

— Cinco mil anos... é muita coisa!

— Mas é verdade! — Disse Rud, sério.

— Vocês já teriam morrido!

— Acontece que somos imortais! — Riu Rud.

— Não existe imortal! — Neguei fazendo careta. — Só Deus!

— Talvez já vivemos no paraíso!

— No paraíso não tem disco voador!

— E essa carinha de lágrimas? Dá pra limpar?

— Como vocês sabiam que iam me encontrar, naquele mato no aeroporto, a essa hora?

— Nós traímos você pra lá! — Explicou Tony.

— Como assim?

— Dominamos sua mente...

— Ninguém domina a mente de ninguém! — Interfe-ri duvidando.

— Como a cobra Naja faz com sua presa? — Ironizou o tal Rud.

Balancei os ombros como a não compreender.

— Fizemos você ir até aquele local! Ao pousarmos, fizemos você ficar paralisado. A seguir, fizemos você entrar nesta nave.

— Eu não entendo! — Insisti. — Sou apenas um moleque! Por que vocês me querem?

— Você não é um moleque! É um menino! E é por isto mesmo que o queremos! — Explicou Rud. — Só queremos você! Não o trocaríamos por qualquer outro!

— Por que não?

— Porque você é o nosso menino! — Explicou Tony. — Desde o seu nascimento, esperamos ansiosos por este momento. Você não pertence à Terra!

— Mentira! — Neguei assustado, com novas lágrimas. — Eu nasci na Terra! Tenho pai, mãe e cinco irmãos!

— Você só nasceu na Terra! Mas não é de lá!

— Mentira! Me levem de volta!

— Calma! — Pediu Tony. — Visitaremos meu planeta! Continuaremos esta aula de ciências avançada, falaremos de astronomia, depois veremos o que fazer.

— E quando chegaremos a seu planeta?

— Em novecentas e cinquenta e sete horas de viagem! — Explicou Tony[1].

— É uma longa viagem! — Disse Rud. — Você precisará descansar. Vá com Tony.

Acompanhei Tony, que me levou a outra parte do disco. Entramos em um quarto diferente: as paredes eram douradas, as duas camas azulada, feitas de um material, que parecia acrílico e forradas por ricos tecidos de, talvez lã. A parede enfeitada por espelhos sobrepostos.

Assim que entramos, ele me disse alegre:

— Aqui será seu aposento durante a viagem! Não precisa ter medo, pois nada de mal o assustará. Pode descansar sossegado!

Abriu um armário com muitas roupas, semelhantes às minhas e disse:

— Confeccionamos algumas roupas iguais às suas e trouxemos, pois a viagem é muito longa e acredito que você vai querer vestir outras.

Tomou a bolsa escolar de minhas mãos e a acomodou na parte superior do armário, fechando-o, depois dirigiu-se à porta para sair, mas resolvi perguntar-lhe assustado:

— Por que vocês estão me levando pra lá? O que farão comigo?

— Só lhe daremos amor! Pode acreditar!

— Como posso acreditar nisso? Vocês estão me tirando de meus pais!

— Você é nosso garoto! Já disse! E é muito bonito também!

— Êpa! Sou homem oh!

— Homem não pode ser bonito? — Brincou ele.

— Não sou garoto de vocês! Eu nasci na Terra!

— Mas nós o amamos!

— Nós quem? Quantos são vocês?

— Cerca de três bilhões e quatrocentos milhões de habitantes. Todos falam a mesma língua e todos te amam igualmente.

— Todos sabem meu nome?

— Naturalmente!

— Como pode ser? Onde fica seu planeta?

— Na Via Láctea mesmo! Sabe o que é Via Láctea?

— O nome de nossa galáxia!

— Muito bem!

— Sabe o que significa Via Láctea? — Perguntei com leve sorriso.

— Como assim?

— O significado desse nome!

— Não! Não sei! — Negou ele surpreso.

— Caminho de leite! – Insinuei com a cara de maior inteligente do mundo. Foi bom aprender alguma coisa na escola.

— Parabéns! – Acho que ele quis me cativar. – Nosso planeta está a oitenta e sete anos-luz da sua Terra! Você sabe quanto é oitenta e sete anos-luz?

— Nem imagino!

— Sabe quanto é um ano luz?

— Também não!

— Sabe o que é ano luz?

Acenei negativamente com a cabeça.

— É à distância percorrida pela luz no período de um ano terráqueo. Pois bem: um ano luz é igual a nove trilhões, quatrocentos e sessenta bilhões e quinhentos e trinta e seis milhões de quilômetros. Imagine oitenta e sete anos luz!

— É muito longe mesmo!

— Vir de nosso planeta ao seu para buscá-lo, está nos custando o equivalente a mais de duzentos milhões de cruzeiros! Isto se fosse calcular no seu dinheiro brasileiro!

— Mas nosso dinheiro é lixo pra vocês! — Exclamei com sorriso maroto.

— Estou só comparando! — Corrigiu Tony.

— Nossa! Não teria sido melhor economizar todo esse dinheiro?

— Não! Você vale muito mais do que isso!

Finalmente dei um leve sorriso animado e insinuei:

— Não sabia que era tão valioso!

— Pois pra nós você é! Boa viagem!

E se retirou me deixando sozinho. A porta se fechou e eu, ainda muito assustado pulei sobre a cama para talvez, pensar no que estava ocorrendo.

CLICK e assista ao book-trailler desta estória.

[1] E este tempo não era o mesmo baseado na Terra.


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Notas finais do capítulo

Um livro cativa o leitor nas primeiras pginas.Comente sobre o que precisa ser melhorado.



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