Opostos escrita por Mari


Capítulo 8
8. Meu Mundo




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Encaro-me pela última vez no espelho. Fazia um bom tempo em que não via uma imagem tão iluminada na qual eu podia verdadeiramente chamar de reflexo. Meus cabelos possuíam uma cor castanha bastante escura, praticamente negra, mesmo se vista de bem perto. Meus olhos eram castanhos claros e brilhavam animados ao gostar do que via. Meu corpo era mediano, quase sem curvas. Era magro e minúsculo quase que os de uma boneca. Aquilo fazia eu me sentir prepotente, fraca. E ao mesmo tempo pareciam esperar por um porto seguro para se proteger. Eu usava uma blusa simples de cor cinza; uma calça jeans de cor branca e minha velha jaqueta de couro marrom. Uma sapatilha preta cobria grande parte dos meus pés. Eu estava com medo, não vou negar, Ethan não queria me contar aonde iríamos e, por precaução, decidi escrever uma carta para o meu pai dividindo meu dinheiro com a família. Pareceu idiota, mas qual é, estou me borrando de medo.

A cada passo que eu dava para fora de casa, meu coração saltava bilhões de vezes seguidas. Claro que, antes, arrumei a cama do meu quarto, jogando vários travesseiros embaixo da coberta para que meu pai não soubesse que eu saí. A única que provavelmente descobriria era Camille, mas no outro dia exigiria um suborno em troca de seu silêncio, e, diferente dela, eu tinha minha economias guardadas. Corri rapidamente até a casa de Ethan. O mesmo já estava encostado em seu carro, batendo os pés rapidamente na calçada demonstrando a ansiedade que sentia. Assim que me viu, seu velho sorriso de lado se mostrou presente, juntamente com suas covinhas bem definidas. Não pude deixar de sorrir também, ignorando por alguns segundos meu pequeno surto e pavor.

– Não vai dizer aonde vai me levar? – Perguntei encarando seu carro de cor preta. Era luxuoso e parecia bem caro para um garoto que... Bem... Morava em uma casa simples e vivia de forma humilde.

Ele ficou calado, caminhando até o outro lado do carro, abrindo a porta pra mim. Respiro fundo, pensando mais uma vez se eu deveria entrar ali. Mas não adiantava. Metade de mim dizia que era seguro estar a ali enquanto a outra metade me mandava fugir. Por algum motivo desconhecido, decidi enfrentar cara a cara o meu medo. Entro no carro e espero Ethan entrar também. Seguimos o caminho calado. Algo me dizia que eu sabia onde estávamos indo. Na verdade eu conhecia muito bem aquele caminho apesar de, a última vez em que vim, estava apavorada. Encaro a floresta sombria enquanto nos afastávamos.

– Onde estamos indo? – Repito a pergunta pela segunda vez lhe arrancando apenas um sorriso de seu rosto. Droga, eu quero respostas, não sorrisos educados. – Ethan. – Tento chamar sua atenção. Ele faz uma virada bastante perigosa e coloco os cintos de segurança no meio do susto. Ethan entra em um pequeno caminho de terra. Eu sabia que conhecia esse lugar.

“– Fique aqui quietinha. – Diz ele descendo do carro com os faróis acesos. Me ajeito no banco e solto o cinto de seguranças encarando o local. Estava lotado de pessoas. Vários carros de cores variadas enfileirados formando uma enorme pista. Garotas, praticamente nuas, caminhando livremente pelo local e alguns casais quase se comendo. Alguns carros estacionam ao lado do de Dave. Fico estática ao olhar para o lado e reconhecer o motorista de um dos carros. Ethan. Ele desce vagarosamente e caminha até um local onde Dave estava. Esse lugar era novo para mim e eu confesso que estava assustada e me sentindo ferrada. Abro a porta do carro vagarosamente e desço me escondendo entre as pessoas ali até me aproximar do grupo de pessoas onde Dave e coincidentemente Ethan também estava.

– Vamos logo com isso. Tem uma garota no meu carro esperando por mim. – Diz Dave com um sorriso sacana e eu engulo em seco. Todos ali pareciam ser amigos dele então, como pedir ajuda ou tentar fugir?

Eu mal sabia onde eu estava e não queria me ferrar mais. Todos seguravam bastante dinheiro nas mãos e entregavam a Ethan que contava vagarosamente as notas. Reviro os olhos. Será mesmo que vou precisar pedir ajuda desse garoto? Ethan assentiu como se o dinheiro que recebeu estivesse bom. Dave sorri e vira os calcanhares, pronto para voltar ao carro. Arregalo os olhos, correndo desesperada para o carro. Dave entra alguns segundos depois”.

– Bem vinda ao meu mundo. – Sussurra ele e eu engulo em seco. Esse lugar de novo não. Balanço a cabeça várias vezes e algumas lágrimas estúpidas insistem em cair. Por que justo agora eu tinha que me lembrar do estúpido do Dave? – Ei. - Ethan chama minha atenção e eu o encaro. Ele solta o cinto de segurança que o prendia e se vira pra mim. Uma de suas mãos percorre meu rosto, limpando algumas lágrimas que trilhavam um caminho por todo o meu rosto. Era impressão ou seu olhar demonstrava revolta?

– Ethan, por favor, me leva embora? Eu sei que brigamos no começo e que você não me deve nada, mas, por favor, qualquer coisa menos isso... Por favor... – Sussurrei e senti seus braços envoltos de minha cintura. Ele estava me abraçando. E meu corpo? Bem... Era como se finalmente tivesse encontrado seu porto seguro.

Ethan segura minhas mão firmemente.

– Não há nada demais aqui. Vai ver... – Diz ele sorrindo de lado.

Ele sai do carro e caminha até o outro lado, para abrir a porta para mim. Levanto e encaro o lugar pela segunda vez. Era uma área enorme, que provavelmente tinha dono. E ao que indica nenhum ali era o real dono do lugar, vários carros posicionavam alinhados montando uma grande pista que, até onde eu tinha visto, não tinha fim. Sinto mãos firmes segurando as minhas, em seu perfeito encaixe. Vejo que é Ethan me guiando até um grupo de amigos. Eles conversavam, dando risadas sem fim, até perceber a presença de Ethan. Ou melhor, nossa presença.

– Ethan. – Gritou um garoto ruivo de barba por fazer e de porte médio.

– Adam. Como será a corrida de hoje? – Perguntou abraçando seu provável amigo.

– Como sempre, com uma pequena vaga para o campeão. – Falou alto dando uma risada após um arroto.

– Está bêbado. – Sussurro para mim mesma, mas, ele pareceu ouvir ao me encarar.

– Quem é essa? – Pergunta Adam curioso me encarando de cima abaixo.

– Meu amuleto da sorte. – Murmura Ethan me encarando com um sorriso.

– Porra, se esse é o seu amuleto, podia dá-la para mim porque o que não lhe falta é sorte meu caro. Eu poderia até dizer que você é a própria sorte em pessoa, mas vejo que tem inspiração para isso. – Diz Adam dando risada. Reviro os olhos.

– Não repare muito, por mais que doa bastante nela saber disso... Ela bastante revoltada. – Sussurra Ethan e eu lhe dou um tapa por impulso. Aquilo faz ambos rirem ainda mais. Idiotas.

– Quanto é hoje? – Ethan muda de assunto, pegando várias notas de cem.

– Cinco mil. Logan quis dobrar o preço acreditando que iria ganhar hoje. Eu também acreditava nisso, mas porque achava que não iria vir hoje. – Diz Adam batendo nas costas do amigo e lhe entregando uma cerveja. Nossa. Mal o vi pegando a garrafa. Arregalo os olhos. Adam grita um homem cujo nome era Marcel. O cara era incrivelmente grande. Sua pele era bem morena e seus olhos de um tom claro impressionante. Ethan joga uma quantia bem gorda para o cara que sorri e aponta para a pista. Ele deve ser o cara que organiza tudo aqui.

– Você vem comigo? – Pergunta Ethan sorrindo. Encaro o carro dele e os outros que já se posicionavam na pista. Engulo em seco.

– Nem morta. – Falei alto. Ele sorri de lado e quando finalmente ia até o carro, uma garota loira de olhos da cor negra se aproxima com um sorriso branco e iluminado estampado no rosto. Ela era alta, usava um vestido curto, mas era impressionante a forma que não conseguia ser vulgar nele.

– Eu posso ir com você Ethan? – Pergunta ela. Ah! Finalmente algo irritante nela. Que voz é essa garota? Não conseguia parar de encará-la. Por que eu estava brava? Ethan me observa e ri. – Ah! Por favor? – Insiste ela.

– Entra no carro Heather. – Diz ele alto. Ela dá uma gargalhada estrondosa e sai quicando até o carro.

Ethan se aproxima vagarosamente de mim até estarmos perigosamente próximos, mas eu estava brava demais para pensar em qualquer outra coisa.

– Só para você saber... – Sussurra ele perto do meu ouvido. – Ela só vai comigo, porque você não quis. Aguente as consequências.

– Como se houvesse alguma consequência nisso tudo... – Murmuro bufando.

– Qual é? Consigo ver o ciúme estampado em seu rosto. Você fica linda brava. – Diz ele dando uma gargalhada e arrancando a minha pulseira de meu pulso, correndo até o carro.

– Ei. Ethan. – Grito alto correndo até ele. Mas era tarde demais. Ele já estava no carro. Suas mãos seguravam firmemente a pulseira e ele deposita um beijo ali, antes de se posicionar na pista diante dos outros carros. Heather não conseguia tirar o sorriso do rosto. Eles se merecem. Um carro se aproxima de mim. Sua cor era branca, mas não era tão diferente do carro de Ethan.

– Você vem? – Pergunta o garoto abrindo a janela do carro.

– Logan... – Murmura Adam se aproximando. – Ethan não vai gostar disso.

– Que se ferre o Ethan. – Me interfiro, entrando no carro do tal Logan. Ele não era tão feio. Seus cabelos eram de cor bronze e seus olhos possuíam uma cor castanha, mas bastante clara. Ele liga o carro, indo em direção ao local onde os carros estavam estacionados. Não sei se foi por implicância, mas ele abriu a janela que estava em frente ao carro de Ethan como se quisesse que ele me visse ali. Ethan abaixa a janela do carro também. Me encara bufando e eu sorrio.

– Só pra você saber... – Digo imitando sua voz grossa. – Estou aqui com ele para recuperar minha pulseira.

Ethan sorri. Conseguia ver de longe Heather bufando, e por algum motivo, aquilo enchia meu ego.

– Quer mesmo a pulseira de volta? Conseguiria mais rápido fazendo o circuito a pé do que com esse idiota. Sai daí vai. – Diz ele tentando esconder o ciúme.

– Quem disse que é ele quem vai dirigir? – Eu estava enlouquecendo? Só pode. Ele arregala os olhos e eu encaro Logan. – Sai. – Grito e ele sorri nervoso saindo dali enquanto me posicionava no banco do motorista. Logan entra no passageiro. Lógico que ele não me deixaria sozinha aqui.

– Você só pode estar brincando... – Murmura Ethan bufando, mas ao mesmo tempo, querendo rir. Ele queria caçoar de mim. Sorri ligando o carro, aquecendo o motor. – É sério sai daí. - Logan parecia se divertir com a cena que presenciava, ao contrário de Heather. – Qual o seu propósito ao me desafiar? – Pergunta ele.

– Qual é, dá pra ver o ciúme estampado na sua cara. Você fica lindo bravo. – Sorri vitoriosa, mas rapidamente fiquei muito vermelha. Eu disse aquilo mesmo?

Uma garota quase nua caminha para o meio da pista.

– Atenção. – Posiciono meu pé no acelerador. O medo tomando conta do meu organismo. Eu nunca tinha feito isso antes. Encaro os retrovisores. – Preparar. – A garota levanta uma pistola para cima e eu respiro fundo. Onde eu fui me meter? Encaro Ethan que sorriu de lado. Ele sabia que eu estava apavorada. Escondo o medo e fecho a cara. Eu pretendia por o pé no acelerador para não tirar mais, mesmo que dê câimbras ou coisa do tipo. – Já. – Grita ela atirando para o alto.

Tudo aconteceu muito rápido. Meu pé praticamente afundava sobre o acelerador e eu corria em uma rapidez da qual jamais conhecia, sem nunca tirar os olhos de Ethan que estava ao lado de mim. Ou ele estava com medo de eu me machucar, ou queria me irritar. O carro da frente, que possuía uma cor vermelha vibrante já estava muito próximo de mim, então mudo de marcha e passo por três carros seguidos. Não conseguia parar de sorrir. O idiota do Ethan estava lá atrás. Olho para o lado vendo um carro de cor preta. Por que eu sempre comemoro antes da hora? Tento prestar atenção na frente e vejo uma enorme curva. O que eu faço agora?

– Tente os nitrogênios... – Murmura Logan no banco de trás.

– Como? – Pergunto.

– No banco do passageiro, tem um fundo falso. Abra-o e aperte todos os botões e gire a alavanca do nitrogênio para ligá-lo. Isso ajuda na rapidez do carro. Confie em mim. – Diz ele.

Eu não confiava. Mas morreria de qualquer jeito então levantei o fundo falto do banco e apertei todos os botões antes de girar a alavanca. O carro correu em uma rapidez impressionante e fiz a curva facilmente de forma horizontal, assim como Ethan. Eu era boa nisso. E confesso que estava gostando de tudo. Estávamos muito próximos do ponto de chegada e só precisava passar mais dois carros. Um de cor verde. E Ethan. Meu verdadeiro alvo. Afundo meu pé no acelerador com mais força, como se aquilo fosse possível, e fecho os olhos torcendo para que tudo tivesse dado certo. Abro os olhos ao ouvir a gritaria de todo mundo presente ali. Saio do carro e ouço os rumores. Logan também sai sem conseguir parar de sorrir.

– O que aconteceu? – Perguntei para ele. Meu pé estava dando câimbras terríveis e um formigamento horrível.

– Empatou. Nunca houve um empate. – Grita ele animado.

– Empatei com quem? – Pergunto. Olho para o lado e vejo Ethan sorrindo ao se aproximar. Lógico.

– Você é boa. – Murmura Heather e dou o sorriso mais falso de toda a minha vida. Ethan não parava de sorrir para mim. Reviro os olhos. Marcel se aproxima com o dinheiro em mãos encarando a nós dois.

– Terão que dividir. – Sussurra.

– Não quero dinheiro sujo. Quero minha pulseira de volta. – Murmuro. Ethan pega todo o dinheiro e guarda no bolso. Ele iria revidar quando o barulho da sirene de policia atinge nossos ouvidos. Ethan segura minha mão me levando em direção ao carro. A polícia já estava ali prendendo todos no local. Ponho o cinto de segurança enquanto ele pisava fundo no acelerador de volta a cidade. Fecho os olhos e abro após um tempo percebendo que havia tirado um pequeno cochilo. Já estávamos perto da minha casa. Ethan estacionou na esquina para não haver problemas.

– Você é competitiva quando está com ciúmes. – Vocifera. Ele queria mesmo me irritar. Sorrio.

– Você também não é diferente. – Sussurro.

– Errado minha cara. Ethan sempre é competitivo. – Diz alguém no banco de trás e dou um pulo ao ver Adam. Como ele foi parar ali? - Vocês dois são tipo... Uau! Na mesma sintonia. Agora entendi o porquê a chama de sorte.

Ethan sorri encarando meus olhos arregalados. Solto o cinto de segurança.

– Viu? Meu mundo não é tão ruim assim. – Diz ele ignorando seu amigo. Sorrio. – Admita. – Acabamos dando uma risada.

– Não. Seu mundo não é tão ruim assim... Mas talvez eu diga isso porque faz um bom tempo em que não sei o significado da diversão. – Digo baixinho. – Acho melhor eu ir.

Corro para casa, subindo pelas escadas e entrando pela janela do meu quarto dando de cara com Camille.

– Como pôde? – Pergunta Camille.

– O quê? – Devolvo a pergunta me fazendo de idiota.

– Você foi com Ethan para as pistas de corridas ilegais da cidade e não me chamou. - Murmura.

– Que idiotice, por que eu... – A pergunta irônica se prende em minha garganta ao ver a foto que Camille possuía no celular. Suzanna. Como ela estava lá e eu não a vi? Na foto estava eu e Ethan, de mãos dadas rumo ao seu grupo de amigos. Sorrio feito uma boba...

– Sempre me deixando de fora da diversão. Me conta o que aconteceu... – Diz ela rindo e eu acabo rindo também.

–Vai dormir Camille. – Murmuro.

– Não, por favor...

– Vai dormir. – Repito sorrindo e deitando na cama após arrancar a roupa e ficar somente com a blusa cinza.

– Eu sou cunhada do cara mais lindo desse mundo. Posso gostar disso se ele tiver algum amigo bonito. – Sussurra ela e eu lhe jogo um travesseiro na cara dando risadas. Nunca pensei que o mundo dele fosse tão divertindo. Quando não envolve mortes, claro.


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Notas finais do capítulo

Férias, sua linda, me possuaaaa :3 Finalmente né galera, os estudantes merecem Hahahaha!
Um agradecimento especial à Miss Nutella e à Livia Maciel que comentarão o último capítulo...
Espero que gostem desse capítulo divo!

A T E N Ç Ã O: Esse capítulo está betado. Por favor, me informe se encontrar algum errinho ortográfico. Alguns passam despercebidos considerando o fato de que somente eu estou betando. Obrigada!

Beijão.