Opostos escrita por Mari


Capítulo 4
4. Estou ferrada!




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Entro novamente na casa de Clarice e todos ali me encaram. Meu vestido devia estar mesmo muito transparente apesar de possuir a cor escura. Continuo caminhando para fora dali, não aguentaria mais nenhum minuto naquele lugar. Deixo as chaves do carro com Camille, que apesar de não ter idade para dirigir, sabia melhor do que eu mesma e queria continuar na festa custe o que custar. Ela que se virasse depois, eu estava cansada. Não acredito que Ethan conseguia me atormentar até mesmo em festas privadas da qual não foi convidado. Meus passos estão lentos e quanto mais ando pela cidade, mais longe parece o caminho de casa. Estou com frio. Minha pele está gelada e sinto meu organismo se contorcer cada vez que o vento bate forte. Eu passava minhas mãos pelos meus braços na esperança de esquentá-los um pouco. Por sorte, o vestido estava secando aos poucos e meus cabelos também. Meu pai me mataria se me visse assim. Um velho carro de cor prata se aproxima vagarosamente de mim. O desespero toma conta de cada célula do meu corpo.

Por favor, que não seja ele. Por favor. Implorava mentalmente.

Não era. As janelas do carro se abrem e vejo Dave no carro, me encarando com um sorriso no rosto. Ele era um dos novatos no colégio, mas nunca havia trocado uma palavra com o mesmo ou coisa relacionada. Mas ele parecia um cara legal.

— Oi, quer uma carona? – Encaro-o e sorrio. – Desculpe, nunca nem conversamos. Isso foi estranho. É que eu estou indo na mesma direção que você e está frio.

— Não é estranho. Na verdade é uma proposta bastante convidativa. – Sorri aliviada e agradecendo mentalmente a todos os santos existentes em todas as religiões que conheço.

— A proposta ainda está de pé. – Ele retruca. Dou a volta no carro e entro ali ainda sorrindo enquanto o mesmo me oferece seu casaco. Aceito de bom grado afinal eu estava com tanto frio que cheguei a pensar se aguentaria.

Dave liga o som de seu carro e fecho os olhos prestando atenção em sua lista de músicas por alguns minutos. Abro os olhos ao ouvir minha música favorita ecoando por todo o carro. A melodia lenta e a letra depressiva era algo com o qual eu me identificava apesar de não estar passando pelo mesmo momento que a cantoria cita. Confuso, mas é a verdade. Dave aumenta o volume de forma desnecessária e eu arqueio a sobrancelha o encarando. Ele dá de ombros como se dissesse que não se importava com o fato de acordar a vizinhança. Olho em volta e percebo que não estamos mais na cidade, na verdade, estávamos nos afastando dela. O carro estava em alta velocidade e trato de colocar o cinto de segurança antes de perguntar mentalmente o que estava acontecendo. Sinto uma de suas mãos em minhas coxas e o encaro assustada.

— Relaxe. – Ele sussurra e aperta sua mão contra minha pele.

— Dave... – Murmuro assustada. Droga. Eu só me meto em encrenca, qual é o meu problema? Tudo isso aconteceu desde que Ethan apareceu. E o pior é que parece que faz anos quando na verdade o conheci essa manhã e minha vida já se tornou um inferno. O que está acontecendo? Estou culpando um cara que pela primeira vez, não é o culpado sobre o que está acontecendo. Eu sou a culpada. Eu sou a idiota agora. Ele mais uma vez pede que eu relaxe sobre o banco do carro. Como posso relaxar com suas mãos acariciando minhas coxas? Por que não consigo me defender? Coloco minhas mãos sobre as dele, afastando vagarosamente. Ele bufa e me encara, parando o carro rapidamente. Assusto-me.

— Fique aqui quietinha. – Diz ele descendo do carro com os faróis acesos. Ajeito-me no banco e solto o cinto de seguranças encarando o local. Estava lotado de pessoas. Vários carros de cores variadas enfileirados formando uma enorme pista.

Garotas, praticamente nuas, caminhando livremente pelo local e alguns casais quase se comendo. Alguns carros estacionam ao lado do de Dave. Fico estática ao olhar para o lado e reconhecer o motorista de um dos carros. Ethan. Ele desce vagarosamente e caminha até um local onde Dave estava. Esse lugar era novo para mim e eu confesso que estava assustada e me sentindo ferrada. Abro a porta do carro vagarosamente e desço me escondendo entre as pessoas ali até me aproximar do grupo de pessoas onde Dave e coincidentemente Ethan também estava.

— Vamos logo com isso. Tem uma garota no meu carro esperando por mim. – Diz Dave com um sorriso malicioso e eu engulo em seco. Todos ali pareciam ser amigos dele então, como pedir ajuda ou tentar fugir?

Eu mal sabia onde eu estava e não queria me ferrar mais. Todos seguravam bastante dinheiro nas mãos e entregavam a Ethan que contava vagarosamente as notas. Reviro os olhos. Será mesmo que vou precisar pedir ajuda desse garoto? Ethan assentiu como se o dinheiro que recebeu estivesse bom. Dave sorri e vira os calcanhares, pronto para voltar ao carro. Arregalo os olhos, correndo desesperada para o carro. Dave entra alguns segundos depois.

— Já pode me levar para casa agora? – Pergunto com uma pontada de medo da resposta.

— Poxa, quer mesmo ir agora que a diversão vai começar? – Ele retruca com uma nova pergunta sorrindo sacana e voltando a apoiar as mãos em minhas coxas, ligando o carro e saindo dali rapidamente. Retiro sua mão imediatamente. Encaro a paisagem lá fora tentando inutilmente esconder meu medo. Ele para após entrar em uma estrada de terra, desliga o carro e me encara. – E a diversão começa agora.

Suas mãos vão para meu rosto e me puxam para perto do seu me dando um beijo longo. Mordo sua língua quando a mesma pede passagem. Quero sair dali. Grito e abro a porta do carro, mas o mesmo me puxa de volta e rasga parte do meu vestido, passando sua mão por entre o vão de meus seios.

— Me solta. – Grito enquanto sua outra mão acariciava minhas coxas, perigosamente, próximo à área mais íntima.

— Você fica linda assustada. Relaxe. – Sussurra ele mais uma vez e eu percebo que estou chorando quando ele enxuga uma de minhas lágrimas.

Fecho os olhos esperando que aquilo acabe rápido e por sorte, mal começou. Sinto a porta do carro abrindo e eu vou de encontro ao chão lamacento. Levanto-me ainda meio zonza e encaro o carro. Era Ethan. Suspiro, aliviada. Ele não era amigo de Dave. Eu estava enganada, só podia. Ethan tira Dave do carro com uma força da qual mal sabia que ele possuía, seu olhos cinza demonstravam ódio enquanto Dave era jogado no chão. Ethan fecha o punho e dá um forte murro em Dave. Por que ele não revidava? Era como se não conseguisse. Afasto-me um pouco e agarro minhas pernas, me escondendo entre as árvores. Ethan se levanta e chuta o estômago dele com força, mais vezes do que posso contar.

— Eu não sabia que ela era sua namorada cara. – Murmura ele entre gemidos de dor. Ethan me encara sereno, como quando ainda estávamos dentro da piscina e me sinto segura de novo.

— Ela não é minha namorada. – Ele volta sua atenção para Dave que tentava fugir sem sucesso. Ethan segura seu pescoço e bate sua cabeça no tronco da árvore, deixando-o desacordado. Como alguém pode sujar as mãos assim? Aquilo me assustava ainda mais. Estava eu ainda segura com Ethan? A pergunta martelava minha cabeça. Mas continuava ali agarrada em minhas pernas. Ouço um barulho de tiro e abro os olhos, que até então estavam fechados, encarando o local. Dave estava no chão e uma enorme poça de sangue cercava seu rosto e blusa. Levanto-me assustada e corro tropeçando em meus próprios pés para bem longe dali. Sinto alguém me segurar pelos quadris e vejo que é Ethan de esguelha.

— Me deixa em paz, por favor. – Estou chorando de soluçar. Nunca havia assistido a morte de ninguém. Ele continua me segurando e eu caio vagarosamente ficando praticamente mole em seus braços.

— Vai ficar tudo bem. – Ele sussurra. Empurro-o rapidamente.

— Você o matou. Como tudo vai ficar bem? – Pergunto apontando para o corpo de Dave.

— Com certeza iria ficar ótimo se eu não tivesse vindo aqui te defender. De nada. – Diz ele com desdém caminhando em direção ao eu carro de cor preta.

— O que está fazendo? – Pergunto seguindo-o.

— Eu vou embora. – Murmura.

— Vai deixar o corpo dele aqui? – Na verdade eu queria perguntar se ele iria me deixar ali.

— Vou. Pode ficar com o corpo dele se quiser. – Diz ele sorrindo. – A não ser que queira me pedir carona. – Ele entra no carro e o liga ainda me encarando. Esse babaca estava me desafiando. Encaro o corpo de Dave pela última vez antes de entrar no carro.


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