Opostos escrita por Mari


Capítulo 2
2. Feia.




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/502046/chapter/2

— Vamos logo. – Gritava minha irmã me puxando rua abaixo. Por que mesmo decidi ajudá-la? Ah! Claro. Porque sou uma ótima irmã, ao contrário do que ela pensa. Camille segurava minhas mãos com força, enquanto eu tentava inutilmente andar devagar. A casa de Olívia e Suzanna era um pouco longe da nossa, mas era próxima ao mercado, então íamos quase todos os dias, acompanhada de nossa mãe. Aposto que, com a chegada desse garoto, Camille nunca mais vem com a companhia dela.

Cumprimentei todos do bairro, sorrindo educadamente enquanto minha irmã mal os olhava, ela estava com pressa. Seus olhos brilhavam. Ela era um pouco diferente de mim. Havia puxado mais a minha mãe, com cabelos caramelados e olhos castanhos. Era morena e um peso bem proporcionado. Passou a ser assim – com esse jeito histérico e idiota de ser – quando suas amigas passaram a usar salto, maquiagem, celular e principalmente, quando passaram a ir a festas. O jeito agora é aturar. Quando viramos a esquina, ela parou de correr e de me puxar desesperadamente também. Ela queria parecer que não estava interessada ou coisa do tipo.

Seus passos agora eram firmes e ela praticamente desfilava sobre a calçada. Em poucos segundos, ela já se aproximava do garoto. Ele possuía cabelos negros e seus olhos, um tom cinza impressionante. Era raro pessoas com olhos dessa cor. Camille praticamente endurece ao passar perto do garoto e eu a sigo tão devagar quanto ela, temendo que a mesma faça alguma besteira. Viro o rosto e encaro-o de esguelha, ele levanta o rosto e seus olhos se encontram com os meus. Havia algo misterioso em seu olhar, algo tão misterioso que te dá uma leve vontade de ir descobrir. Que idiotice. Ele dá um sorrisinho de lado, fazendo com que eu me arrepiasse. Viro o rosto, tentando não olhá-lo mais. Harry aparece atravessando a rua e se aproximando de mim com um sorriso no rosto.

— Olá Sophie, alguma novidade sobre meu emprego? - Pergunta ele sorridente me entregando uma de suas sacolas, repleta de compras. Encaro Camille que já havia até entrado na casa de Suzanna e me fuzilava com o olhar pela janela. Dou de ombros, afinal eu não tinha intenção de entrar na casa do garoto. Sigo Harry que ia em direção a sua cozinha. O local estava repleto de caixas, menos a cozinha que já estava organizada.

— Oh! Na verdade eu vim visitar uma amiga. Olívia. Ela é sua mais nova vizinha. – Murmuro deixando a sacola de compras sobre o balcão.

— Ainda são amigas? – Ele dá uma risadinha. – Sinto muito querida. Pensava que veio me dar informações.

— Tudo bem. – Sorri. Fiquei encarando ele guardando as compras e mordi o lábio inferior. – Sei que meu pai não lhe pediu nada, mas eu tenho quase certeza de que ele precisará de seus dados pessoais.

— Está certa. É mesmo. – Diz ele após refletir sobre o assunto. – Vou anotar em um pedaço de papel. Fique à vontade querida.

— Será que eu posso beber um pouco de água? – Murmuro. Meus lábios estavam secos. O homem sorri e assentiu com a cabeça. Caminho até um copo que estava sobre uma bandeja de prata, colocando um pouco de água. Ouço um barulho estranho, como se alguém estivesse próxima de mim. Tenho vontade de rir, afinal, não tem ninguém comigo. Olho para trás somente para ter certeza. Ele estava ali. Seus olhos me encaram de cima abaixo, observando cada detalhe de mim. Continuo encarando-o com as sobrancelhas arqueadas.

— Feia. – Ele sussurra.

— O quê? – Pergunto rindo de nervoso. Isso é sério? Tudo bem que nunca me senti bonita ou coisa relacionada, mas aquilo havia me irritado.

— Foi isso mesmo que ouviu... Feia. – Ele sorri, mostrando suas covinhas. Pego minha bolsa que, até então, havia deixado em cima do balcão e saio da cozinha, caminhando até a sala de estar onde Harry ainda escrevia algumas informações.

— Aqui está querida. – Diz Harry me entregando uma folha dobrada e seu sobrinho aparece no batente da porta ainda rindo. Idiota.

— Obrigada Harry. – Sorri educada e sai dali rapidamente. Eu estava com raiva. Corro para a casa de Olívia e entro ali, sendo puxada pela minha irmã assim que bato na porta. Conseguia sentir o olhar pesado do garoto sobre mim e isso me irritava ainda mais.

— Conte-me tudo. – Diz Camille ao lado de Suzanna, que me encarava com os olhos brilhando.

— Não tenho o que contar. – Comento.

— Como assim? Ele entrou na casa.

Bufo e caminho até a escada subindo alguns degraus.

— Olívia não está aqui. – Comenta Suzanna fazendo uma careta. Desço as escadas e vou em direção à porta.

— Então eu vou embora. – Digo irritada.

— Como é? – Pergunta minha irmã.

— Eu vou embora. – Vocifero aos gritos já abrindo a porta.

— Você é a pior irmã do mundo. – Murmura pela segunda vez nesta manhã.

— Se continuar usando a palavra irmã nessa mesma sentença, aí sim eu serei a pior irmã do mundo para você. E não reclame depois. – Grito fechando a porta e correndo para bem longe dali. Como eu podia estar tão brava. Era só um idiota querendo fazer de mim o motivo de uma piada sem graça. Minha irmã sai correndo implorando para que eu a esperasse enquanto eu caminho sem olhar para trás. Eu sabia que o garoto estaria ali. Provavelmente estava rindo da minha cara, pois sabia muito bem que foi ele que provocou essa raiva em mim. Camille finalmente me alcança e fica me humilhando até o caminho de casa. Mordo o lábio inferior para não magoá-la dizendo coisas que provavelmente não fossem do seu agrado, afinal, ela não tinha culpa. Chegamos em casa em uma rapidez impressionante e Camille decide ficar na sala conversando com nossa mãe, entro em meu quarto em fúria, dando de cara com Olívia.

— O que faz aqui? – Perguntei.

— O mesmo que você iria fazer na minha casa. O que foi? Está irritada? – Pergunta ela se aproximando.

— É o seu vizinho bruto. – Digo extremamente brava.

— Oh! O delinquente tem uma mania muito idiota de levar os amiguinhos para casa. Suzanna morre de amores e fica na sacada tentando observar o garoto enquanto eu tento inutilmente dormir. Está vendo essas olheiras? É culpa dele. Já não gosto muito desse cara. – Comenta brava, apontando para as enormes olheiras que possuía em seus olhos.

— Irá à festa de Clarice hoje? – Pergunto encarando meu vestido que provavelmente havia acabado de chegar e estava sobre minha cama. Precisava mudar de assunto.

— Claro. É a festa do ano. Só a Clarice sabe dar uma festa decente. – Diz ela se aproximando. –Esse vestido é perfeito.

— Eu também adorei o vestido. – Sorri encarando-o.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!