Culpa. Era esse o sentimento que invadia o peito de Grissom. Ele se culpava pelo que estava acontecendo naquele momento com sua equipe. A aflição e a preocupação eram visíveis em seu belo rosto. Sobre seus ombros parecia estar um peso de uma tonelada.

Ele estava reunido com sua equipe – ou pelo menos com parte dela – na sala de convivência do Laboratório de Criminalística de Las Vegas. Faltavam apenas dois integrantes: Sara Sidle e Nick Stokes. Agora Gil já sabia o que havia acontecido com cada membro de seu grupo. A ciência do que realmente havia acontecido estava longe de deixa-lo despreocupado. Pelo contrário, saber o destino das pessoas queridas, uma muito mais que a outra, o deixava ainda mais aflito.

Lembrava-se muito bem de ter chegado à cena do crime – pensando melhor, nem sabia como havia conseguido chegar lá tamanha era sua preocupação – e ter encontrado o capitão Jim Brass, seu amigo e companheiro de trabalho, juntamente com seu pessoal. Eles já haviam isolado toda a área. Viu assombrado o carro do laboratório que Nick e Sara usaram, completamente destruído do lado do condutor. E se conhecia Sara do jeito que julgava que a conhecia, seria ela quem estaria do lado do motorista. Recordou-se com um sorriso triste nos lábios que ela sempre pedia para dirigir.

Dirigiu-se a passos lentos para o lado que queria observar. Brass nem tentou acompanhá-lo, pois sabia que o amigo precisava enfrentar aquela fase sozinho. Seria dolorido, ele tinha consciência, no entanto mascarar uma dor não era o melhor remédio. O coração de Grissom batia descompassado ante a expectativa da descoberta. Rezava baixinho para que tudo estivesse bem com sua esposa e que ela estivesse naquele maldito carro. Ferimentos no corpo cicatrizavam-se bem mais rápido que os de alma.

Ao ver o rosto tão conhecido, fez com que Grissom sentisse um misto de alegria e tristeza. Ele não esperava ver o homem de cabelos negros recém-desperto do desmaio. Ao vê-lo no banco do motorista ainda zonzo, sua esperança ruiu. Se Nick estava ali machucado, Sara era quem estava desaparecida. Onde diabos ela teria se metido naquele estado e depois de um acidente?

— Você está bem Nick? – Grissom perguntou com sincera preocupação.

Ele assentiu afirmativamente.

— Consegue contar-me o que aconteceu? – Grissom propôs.

— Não consigo lembrar-me com muita exatidão. Lembro apenas que nós saímos do laboratório no carro para nossa cena de crime e depois escutei o barulho de uma batida e o carro rodou. Depois tudo não passa de um clarão e escuridão.

— E a Sara, Nick? Você sabe da Sara? – Grissom indagou inquieto.

— Tive a impressão de que dois homens a tiravam do carro. Era da ambulância, não era? – ele respondeu ainda confuso.

— Não, Nick. Não era da ambulância – Gil negou.

— Me perdoe, Grissom! Não pude fazer nada para impedi-los – Nick desculpou-se com a voz embargada.

— Não se preocupe Nick. Pegaremos o desgraçado que fez isso com vocês – Grissom garantiu. Era uma promessa. E ele não costumava quebrar as que fazia.

Nick foi conduzido por uma ambulância para o hospital municipal, com uma leve concussão na cabeça e uma luxação no braço esquerdo.

De volta à realidade, Grissom olhou para cada um de seus subordinados e declarou:

— Este caso é nossa prioridade. Quero o empenho de todos para prendermos quem fez isso.

— Eu tenho pena de quem fez isso – comentou Warrick.

— Por quê? – indagou Greg.

— Porque mexeram com a pessoa errada. Grissom vai mover céus e terra para encontrar Sara e colocar essa pessoa atrás das grades.

Dirigiram-se para a cena do crime a qual não ficava muito distante do Laboratório. Greg agachou-se e fotografou uma marca de pneu.

— Encontrei uma marca de pneu – ele anunciou para os outros que logo se aproximaram – Pelo tom do asfalto queimado, a pessoa acelerou assim que viu o carro de Nick e Sara.

— Parece que a pessoa que fez isso sabia muito bem o que estava fazendo. Isso é coisa de profissional. Provavelmente ela observou quem entrou em cada carro e acelerou quando viu o carro onde Sara e Nick estavam – argumentou Catherine.

Os pensamentos de Gil giravam a mil. Seu coração falhou uma batida ante o real significado das palavras de Catherine. Uma lágrima rolou em sua face. Quem em nome de Deus iria querer sequestrar uma mulher grávida? Com que propósito?

— Isso quer dizer que a Sara era o alvo. Isso não foi por acaso – ele comentou.

— Em algum momento você achou que fosse? – indagou-lhe Cath.

Ele não respondeu.

— Acho que devemos analisar os casos em que você e a Sara estiveram envolvidos. Talvez encontremos alguma pista – propôs Warrick

— Certo! Vamos fazer isso – ele concordou. De repente um membro de sua equipe propor algo que cabia a ele fazer, pareceu-lhe certo. Não sabia se teria forças para suportar aquela investigação. Não quando ela envolvia sua esposa.

–o-

Distante dali Sara conhecia sua raptora. Ela quase não percebeu quando a mulher entrou no pequeno quarto em que se encontrava.

— Ora, ora, ora! Se não é a famosa Sara Sidle quem temos por aqui – ela baixou seu olhar do rosto de Sara para sua barriga volumosa – E vejo que não está sozinha – disse-lhe a voz conhecida – Satisfeita com seus novos aposentos? Sei que não é o que você está acostumada, mas foi tudo o que consegui arranjar. Arrumei tudo com muito carinho.

— Você é louca! Tira-me daqui – ela exigiu.

— Me tira daqui! – ela imitou a voz de sua refém - Pobre Sara! Você não está em condições de exigir nada – ela falou entredentes.

— Sua louca! Por que você me trouxe para cá? – perguntou Sara.

— Para acabar com você! Quando você não existir mais, nem esse bebê que você está esperando, Grissom terá olhos para mim. Eu o farei feliz – ela explicou com um brilho de loucura nos olhos.

— Bia, me escute!

—Não quero escutá-la! Você é a culpada por Grissom não reparar em mim, por ele não me amar e deve pagar por isso – Bia gritou.

— Você não sabe o que está dizendo Bia! – Sara tentou argumentar temendo o que a amiga de Beth pudesse fazer com ela e seus filhos.

“Socorro Gil! Venha nos salvar!” ela rogou em silêncio.