Novos Começos escrita por Tenshikass


Capítulo 21
Capítulo 21 - A peça dentro da peça. (Ato I - Cena II)


Notas iniciais do capítulo

AVISO: Neste capítulo, temos novamente a aparição de diálogos da peça Sonho de uma noite de verão, de Shakespeare. Por serem citações, estarão destacadas entre aspas e em preto e itálico.



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...

Ouvi um barulho no andar de cima e desliguei a TV. Para minha sorte, Sagi resolveu ir dormir na casa de Naruto por conta de um jogo de vídeo game — que eu supunha dessa vez ser verdade — e mamãe estava de plantão no hospital. Pensei em ficar na sala e a qualquer sinal de perigo correr para fora, mas não ouvi mais nada, só alguns grilos no jardim do lado de fora. Me enchi de coragem e resolvi subir para checar, não sem antes me armar com uma faca da cozinha. Subi as escadas devagar fazendo o mínimo barulho possível, estar de meias ajudava muito. Avancei pelo corredor e esperei do lado de fora da porta do meu quarto e nada — eu poderia me trancar lá caso o invasor estivesse em outro cômodo. Girei a maçaneta devagar e fui abrindo.

— Oi. Não devia estar assistindo TV até tão tarde.

Sasuke estava em pé na minha frente do outro lado do quarto, encostado no parapeito da minha janela, iluminado apenas pela luz da lua entrando pela janela.

— Meus deuses. Você ficou maluco? — Falei enquanto mostrava a faca na minha mão.

— Você tem que fechar a janela à noite, é perigoso.

— Vocês é que tem que parar de invadir meu quarto pela janela! — Falei fechando a porta atrás de mim, logo em seguida fiquei nervosa de estar sozinha no quarto com ele, era completamente diferente da presença de Naruto e eu estava vestindo apenas um hobby de seda por cima da lingerie.

— Eu vim te entregar. — Ele esticou o envelope em branco para mim, não fazia mais sentido em deixá-los de forma sorrateira.

— Sasuke, eu preciso... — Comecei a dizer quando peguei o bilhete da mão dele, eu precisava contar sobre o beijo.

— Você beijou o Itachi.

— O que? Como? Ele te disse? — Por um momento senti raiva por achar que o Uchiha mais velho pudesse ter se vangloriado para ele e acho que ficou nítido em meus olhos.

— Calma, não mate ele ainda. — Ele disse e me deixou ainda mais confusa. — Eu vi e ouvi vocês na oficina...

— Sasuke... — Congelei, eu não sabia se o quarto estava girando ou se meu mundo estava caindo, mas tive que me sentar na cama. Eu contar-lhe sobre o beijo era uma coisa, ele ter visto era outra totalmente diferente.

— Não precisa dizer nada, eu não estou com raiva de você nem nada assim... Talvez com ciúmes, admito. — Ele foi tão direto que eu nem acreditei. — Mas eu entendi que foi como você escolheu encerrar tudo, não tem nada a ver comigo, com a gente — meu coração quase parou com a ênfase —, fica tranquila.

Ele me olhava intensamente e eu sabia que estava sendo sincero, relaxei um pouco.

— Obrigada por entender. — Ele assentiu.

— Não se preocupa, agora não vai demorar muito mais. Durma bem. — Ele falou e passou pela janela, se equilibrou no grande galho da árvore e desceu tão rápido que mal pude acompanhar seus movimentos quando corri até a janela.

Fiquei olhando seu vulto se afastar e um sorriso se formou em meus lábios, eu ainda não sabia dizer se estava sonhando, mas se estivesse, não queria acordar nunca mais.

— “Não vai demorar muito mais.” — Repeti devagar suas palavras. — O que você está aprontando, Uchiha Sasuke?

Abri o bilhete — não eram mais recortes de jornais e sim sua letra.

Enquanto as palavras escorregavam pela minha língua,

Elas soaram estúpidas.

Se esse velho coração pudesse falar,

Diria que você é a única.

 

De: S.U.

(Ps.: minha cola acabou; essa é a penúltima música)

— Ah, Sasuke! — eu ria e chorava — Tá tudo bem! Eu não ligo mais, agora eu sei! — Ele estava se desculpando pela noite antes do jantar, quando me disse que não se importava e me fez achar que estava com a Karin. Eu conhecia aquela letra, já estava traduzida, mas era uma das primeiras que ele e Naruto começaram ensaiando enquanto aprendiam a tocar guitarra.

— Misunderstood, do Bon Jovi. “Incompreendido”, até que encaixa bem... — Me joguei na cama, já era quase uma da manhã e eu não sabia se realmente conseguiria pegar no sono depois de tudo o que acontecera, muito menos depois de ele ter estado dentro do meu quarto.

Tão perto e tão longe... — enxuguei minhas lágrimas — Eu acho bom que a última música valha a pena eu não ter o segurado aqui hoje, Uchiha. — Fechei os olhos e sorri desacreditada da minha própria ousadia, mas eu esperaria — eu o esperei por anos sem sequer saber que era correspondida, agora que eu sabia, eu esperaria um pouco mais.

...

Eu espero, veementemente, que vocês tenham revisto seus conceitos de dois dias atrás. — O professor Jiraiya olhava especificamente para Sagi, Itachi, Sasuke e Gaara — Não podemos perder tempo com suas brincadeiras de fogo adolescente — se ouviram algumas risadas baixadas — no mínimo cinco de vocês aqui já passaram da idade de se formar, se não levarem a peça a sério, vão passar mais um ano presos no ensino médio e eu vou garantir isso pessoalmente. Estamos entendidos?

SIM, PROFESSOR. — Todos disseram em uníssono.

— Ótimo. Hoje vamos para a segunda cena do primeiro ato. No palco: Choji, Konan, Hidan, Sasori, Lee e TenTen. — Chamou Kakashi — E vamos ao contexto da cena de hoje: Acontece a conversa descritiva sobre a peça de comédia que será apresentada no casamento de Teseu e Hipólita. É aqui que vocês se reúnem e descobrem o tema e seus personagens, tomando a decisão de fazer o ensaio no bosque, o mesmo local que os apaixonados Lisandro e Hérmia decidiram se encontrar para fugir na cena anterior. Ok? Vamos começar.

[Cena II — Atenas. Um quarto da casa de Quince. Entram Quince, Snug, Bottom, Flauta, Snout e Starveling.]

CHOJI — “Está aqui toda a nossa companhia?”

KONAN — “Será melhor chamardes um por um, de acordo com a lista.”

CHOJI — “Aqui está o papel com a indicação do nome de todos os que em Atenas foram considerados capazes de representar o nosso interlúdio, diante do duque e da duquesa, na tarde do dia do seu casamento.”

KONAN — “Primeiro, Peter Quince, conta-nos o enredo da peça; depois, lê o nome dos atores, para entrarmos logo no assunto.”

CHOJI — “Ora bem, a nossa peça se intitula: A mais lamentável comédia, a mais cruel morte de Píramo e Tisbe.”

KONAN — “Uma bela peça, é o que vos digo, divertida. E agora, meu bom Peter Quince, fazei a chamada dos atores, pela lista. [...]”

CHOJI — “Respondei à medida que eu for chamando. Nick Bottom, tecelão!”

KONAN — “Presente. Dizei qual seja a minha parte e prossegui.”

— Você é um homem e tanto, hein, Konan! — Hidan gargalhava com a amiga interpretando Bottom e alterando sua voz para isso.

— Isso aqui é teatro, idiota, personagens, interpretação, seu cérebro já chegou a registrar o que é isso? — Sagi se intrometeu levantando-se do lugar em que estava sentado na primeira fileira da plateia.

— Senhor Yagakure! — Jiraiya repreendeu Hidan.

— Foi mal aí, velhote. — disse e apontou o dedo do meio para Sagi.

— Ora seu... — Jiraiya bufou, mas se conteve. — Continuem.

CHOJI — “Vós, Nick Bottom, estais inscrito para o papel de Píramo.”

KONAN — “Quem é Píramo? Amante ou tirano?”

CHOJI — “Amante, que se mata galantemente por questões de amor.”

— Não era pra ser uma comédia? — Pensou Sasori alto demais.

— É o humor de Shakespeare, meu querido, agora silêncio. — Jiraiya colocou as duas mãos nos ombros do ruivo, colocou tanta pressão nas mãos que Sasori achou que o professor o lançaria do palco se ele abrisse a boca.

KONAN — “Para sua execução será forçoso derramar algumas lágrimas. [...] Contudo, ficaria melhor no papel de tirano; daria um Hércules de mão cheia, um rompe-e-rasga de partir um gato em dois. [...]”

— HAHAHAHAHA, IMAGINEM UM HÉRCULES MAGRELO E DE PEITÕES! — Berrou Hidan.

— Hidan — quando ele se virou para a direção da voz de Konan já era tarde, um sapato atingiu seu rosto em cheio, o susto, mais do que a força, o fez cair sentado no chão.

— Aiiiii, caralho maluca, essa doeu.

— Que ótimo, agora cala a porra dessa boca. Podemos continuar? — Todos estavam perplexos, incluindo os professores — exceto o Haruno que ria na plateia —, mas como ninguém disse nada, Choji limpou a garganta com um pigarreado e continuou.

CHOJI — “Francisco Flauta, remenda-foles.”

— Mas que droga. — disse Hidan — o Flauta — se levantando.

HIDAN — “Presente, Peter Quince.”

CHOJI — “Tereis de ficar com Tisbe.” — O garoto alto e de cabelos castanhos começou a rir.

HIDAN — “Quem é Tisbe? Cavaleiro andante?”

CHOJI — “É a mulher que Píramo deve amar.” — A essa altura todos riam no teatro, até Kakashi — e exceto Jiraiya.

Nem fodendo! — Exclamou Hidan.

— Yagakure, por favor, algum problema com o seu papel? — Kakashi tentava segurar o riso.

— Por que eu tenho que ser o caralho de uma mulher? É só eu ser o botão e ela a flauta. — disse apontando para Konan.

— Bottom, — o corrigiu Kakashi — mas assim onde estaria o desafio? A comédia?

Na puta que pariu, quem sabe.

— Yagakure eu não vou aceitar isso aqui, você me entendeu? — o professor ficou sério — Sua falta de educação é inadmissível, mas você tem uma escolha: se calar e aceitar o seu papel, assim, se formando finalmente, ou você pode sair desse palco e dar adeus mais uma vez ao seu diploma do ensino médio. E então?

Hidan passou a mão por seus cabelos platinados, ergueu a cabeça para cima e pareceu ponderar sobre sua decisão — algo que definitivamente nunca o fazia.

— Eu vou fazer essa merda de papel, — Kakashi o fulminou com o olhar — quer dizer, eu vou fazer o papel, tudo bem. — Ele revirou os olhos.

— Que bom, para você. — Jiraiya se pronunciou. — Prossigam.

HIDAN — “Ora, por minha fé, não me deis papel de mulheres; a barba já me está a apontar”

— Te empresto uma gilete depois, querida. — Sagi gritou da plateia arrancando risos de todos, menos de sua irmã mais nova, que estava sentada ao seu lado e lhe deu um tapa nas costas, o fazendo se sentar. Hidan apenas se virou e fez um gesto com o dedo passando por sua garganta para dizer “você está morto”.

CHOJI — “Pouco importa; representareis de máscara, ficando ao vosso arbítrio falar com voz tão fina quanto quiserdes.” — Chouji se esforçava para segurar o riso, já que Hidan o olhava ameaçadoramente. — “Robim Starveling, alfaiate.”

TENTEN — “Presente, Peter Quince.”

CHOJI — “Robim Starveling, tereis de fazer o papel da mãe de Tisbe. Tom Snout, caldeireiro.”

LEE — “Presente, Peter Quince.” — O garoto de cabelos pretos em forma de tigela e grandes olhos pretos assustou um pouco a plateia e seus colegas no palco com uma energia demasiadamente exagerada — ainda mais que a de Naruto e Sagi — ele praticamente gritara sua fala.

CHOJI — “Vós, o pai de Píramo; eu, o pai de Tisbe; a Snug, marceneiro, tocará o papel do leão. Penso que desse modo fica bem arranjada a comédia.”

SASORI — “Já está escrita a parte do leão? Se a tiverdes aí, dai-me logo, por obséquio, que eu sou um tanto lerdo para aprender as coisas.”

— E não é que você é mesmo lerdo, moranguinho? HAHAHA — Hidan gargalhava enquanto bagunçava o cabelo de Sasori com a mão.

— Ca-cala a boca, Hidan. — O ruivo corava, também havia prestado atenção nesse detalhe quando leu o roteiro, seu personagem batia mesmo com sua personalidade “zen”.

CHOJI — “Tereis de representá-la ex tempore; por consistir tudo apenas em rugir.”

KONAN — “Dai-me, também, o papel de leão. [...] Hei de rugir de modo tal, que o duque exclamará: Que ruja outra vez! Que ruja outra vez!”

CHOJI — “Se o fizerdes por maneira muito terrível, incutireis pavor na duquesa e nas demais senhoras, a ponto de soltarem gritos, o que seria mais que suficiente para nos enforcarem a todos.”

TODOS — “Para nos enforcarem. As nossas mães perderiam os filhos.”

CHOJI — “Mas, senhores, aqui tendes os papéis. Suplico-vos, peço-vos e concito-vos a aprendê-los para amanhã à noite. [...]”

— Caralho, quantos “vos”. — Hidan se queixou e ninguém fez menção de dar-lhe atenção.

 CHOJI — “Procurai-me no bosque do palácio, a uma milha da cidade, logo que a lua sair. Aí ensaiaremos; [...] peço-vos que não falteis.”

KONAN — “Lá estaremos para ensaiarmos a peça por maneira obscena e corajosa. Esforçai-vos; sede perfeitos. Adeus.”

CHOJI — O encontro é junto do carvalho do duque.”

KONAN — “É quanto basta. Ou vai ou racha!”

[Saem todos.]

Todos aplaudiram.

— Não graças a todos, mas, a maioria de vocês, foi um bom ensaio. Continuem se empenhando em seus papéis e treinem um pouco suas feições, sintam mais as falas, é tudo o que tenho a dizer. — falou Jiraiya.

— Vou de encontro as palavras do professor Jiraiya, então nos vemos aqui no próximo ensaio na semana que vem. Vejo vocês amanhã na aula. Dispensados. — Finalizou Kakashi.

...


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ler ♥



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