— Você... — Ele fez uma pausa dramática — ...ainda gosta muito dele, não é, Sakura?

O vento sopra forte e um momento de silêncio é feito.

— É... Ainda gosto dele...

...

Há três anos e meio atrás, Haruno Sakura, Hyuuga Hinata, Uzumaki Naruto, Haruno Sagi e Uchiha Sasuke estavam brincando no parque do bairro onde moravam, era o lugar típico que crianças e adolescentes costumavam frequentar aos finais de semana, e nas férias escolares de meio de ano.

— Naruto, você é um idiota, sabia? — Gritava Sakura morrendo de rir.

— N-Naruto cuidado... — Clamava Hinata com a voz tímida e bochechas coradas.

— Relaxa Hina! Eu vou subir nessa árvore rapidinho e desprender a nossa pipa!

— Desse jeito você vai acabar caindo, Naruto! — Sagi olhava preocupado para cima da árvore.

— Vocês não têm mais o que fazer não? — Reclamou Sasuke sentado debaixo da árvore.

— Sasuke tem razão, Naruto! Desce daí! — Sakura parou de rir e de repente assumiu ar de séria.

— Ah Sakura, por que você concorda com tudo que o Sasuke diz? — Perguntou Sagi com uma curiosidade genuína.

— Sagi, quer cuidar da sua vida?

— Affff que estresse, só perguntei!

— E eu só respondi! — retrucou mostrando a língua.

— Vou dar uma volta por aí... — Sasuke se levantou e saiu andando se afastando do grupo.

— E-Eu vou com você Sasuke, espera!

— OLHA, ENTÃO ISSO É UM ENCONTRO? — Berrou o Uzumaki que já estava bem alto na escalada, sentado em um galho próximo a pipa presa.

— Você só fala bobagem, Naruto! Nós só vamos caminhar, algum problema com isso?

— NENHUM, SENHOR DAS TREVAS — Sua voz saiu mais trêmula do que debochada, como pretendia, o olhar intimidador do Uchiha o fitando lhe deu um arrepio tão intenso que o fez se segurar no galho com medo de cair.

— Então vamos indo, Sasuke? — Chamou Sakura toda empolgada, com um sorriso que ia de orelha a orelha.

— Tudo bem, vamos.

— Voltem logo, já está quase escurecendo. — Avisa Sagi, que por ser o mais velho estava cuidando dos outros, o que para alguns de seus colegas parecia um fardo, mas para ele, era sempre bom estar perto da irmã e de seus amigos, eles eram mais divertidos e sinceros e não passavam o tempo tentando fingir ser adultos — que claramente, garotos de 16 anos não eram.

— AAAAAAAAAAAAaaaaaaah *PUFT*

Naruto por fim cai da árvore como uma fruta madura. Hinata que mal consegue formular uma palavra com o susto, corre desesperada para ajudá-lo, junto com Sagi que o advertia "Naruto seu idiota falamos para você não subir aí!", "Ai, desculpa... Ai, essa doeu!".

Um pouco mais à frente, já longe das árvores e chegando em um campo de flores a céu aberto, Sasuke e Sakura caminhavam em silêncio.

— Eh... Sasuke, queria te dar uma coisa... — Sakura tira uma corrente que estava pendurada em seu pescoço, escondida por baixo da sua blusa.

— Sério? E o que seria? — Mesmo em seu tom indiferente como sempre, seu olhar demonstrava certa curiosidade.

— Essa corrente... Bom, o pingente de coração se divide no meio e... e eu tenho que dar uma parte para uma pessoa muito especial para mim... e... — Ela já estava ficando corada.

— Hum... Então por que você não dá isso para a Hinata? Ela é sua melhor amiga, se não me engano...

O comentário a pegou de surpresa, nas mais de cem simulações de conversas que havia criado em sua cabeça, ela já esperava uma recusa, mas ele não havia dito nem sim, nem não, então instintivamente desviou o olhar para uma flor evitando demonstrar seu turbilhão de confusão.

— ..., porém se você quer me dar a outra metade eu aceito. — Ao perceber seu olhar, ele completa a frase com um sorriso leve.

— Sério?! — Exclamou Sakura erguendo a cabeça surpresa.

— Aham... A não ser que você queira mesmo dar ele para a Hinata...

— Não! Na verdade, quero dar a você porquê... — Constrangida não termina a frase.

—Tudo bem, não precisa dizer nada. Apenas me dê.

Então Sakura separa o coração e dá uma parte para Sasuke, suas mãos tremiam, e o tremor se espalhou por todo o seu corpo quando sentiu a mão do Uchiha tocar a sua.

— É, acho que precisarei de uma corrente para colocar isso. — Ele segurava o pingente no ar e observava os detalhes com cuidado.

— Eu tenho uma aqui, quer?

— Ah, tudo bem... "ela planejou isso, não foi?" ... Precisamos ir, está escurecendo. — Ele colocou o pingente na corrente, e o pendurou no pescoço.

— É verdade, vamos logo. — Sakura sai andando na frente.

— Ah... Sakura... quero retribuir o presente!

— N-não! Não precisa, quer dizer, só de você ter aceitado já é um presente pra mim!

— Não, insisto em lhe fazer algo.

— O que, por exemplo?

— Eu... posso te dar um apelido? "não tinha nenhuma ideia mais tosca, Uchiha? qual é"

— Hã? — Pergunta Sakura confusa.

— Um apelido dado por um amigo é uma coisa que fica para a vida toda... "eu sou péssimo nisso"

Por um instante, ela poderia jurar que o viu corar, mas era difícil distinguir o real da imaginação, de tanto que sua cabeça girava em pensamentos e seu coração batia acelerado, apenas uma única coisa soava clara em sua mente, e era uma questão.

— Ah sim... e qual seria o meu apelido? "será que ele também é apaixonado por mim?" — Ela mal consegue esconder sua satisfação.

— Rosinha. "e o prêmio de mico do ano vai para..."

— Rosinha? — Repete dando gargalhadas.

— Gostou? Não sou muito bom nesse tipo de coisa. "é óbvio que não, onde eu estava com a cabeça?"

— Adorei, Sasuke! — Na empolgação acabou pulando em cima dele dando um abraço de urso.

— Tá bom, sem abraços, Rosinha, está me amassando todo.

— Ah desculpa, hahaha, vamos indo?

O caminho de volta foi igualmente silencioso, mas com uma troca de olhares incessante entre os dois. Quando chegaram ao portão do parque, encontram Sagi e Naruto brigando e Hinata sentada em um canto sozinha, provavelmente exausta dos dois garotos.

— Eiiii Sagi, Naruto! Parem com isso estão parecendo dois animais! — Berrou a Haruno se metendo entre os dois e separando a briga.

— Idiotas. — Diz Sasuke.

— Ei, Sasuke! O que é isso no seu pescoço?! — Pergunta Sagi.

— Uma corrente, tá cego?

— Eu sei que é uma corrente, mas porque só meio coração? Eu não tinha reparado antes.

— A outra metade está com a Rosinha. — Ele aponta para o pescoço de Sakura.

— AHÁ! Eu sabia, dattebayo! — Grita Naruto.

— Sabia O QUE, tonto? — Grita Sagi de volta.

— A Sakura e o Sasuke estão namorando!

— Isto é só um símbolo de amizade, não estamos namorando. — Afirmou muito sério.

— É isso mesmo Naruto! Bem que eu queria que fosse algo mais... — Cochichou a segunda parte da frase para que ninguém a ouvisse.

— O que disse mana? — Sagi surgiu ao seu lado a rondando como se fosse um morcego.

— N-Nada não!

— E porque "Rosinha"? — Hinata fala timidamente, enquanto se levanta e sacode algumas folhas da roupa.

— Eu queria retribuir o presente então coloquei esse apelido nela, Hina.

— É um apelido legal! Podemos te chamar assim também, Sakura?

— Claro Hina, seja meu par "azulzinho" — Brincou a Haruno, enquanto passava as mãos pelos fios de cabelo preto-azulados da Hyuuga.

— "Estressadinha" combina mais com você, Sakura! — Naruto fala enquanto gesticula com os braços.

— E "cara quebrada" combina com você! — Sakura parte para cima do Uzumaki, mas Hinata tenta segurá-la pelo braço.

— Vamos embora, gente! — Sagi chama os garotos que já estavam entrando em outra discussão e agora Sasuke segurava Naruto pela camiseta. "São todos uns idiotas mesmo".

Em certo ponto do caminho o pequeno grupo se dividiu e cada um seguiu para sua casa. No dia seguinte à tarde, todos estavam reunidos de novo, menos Sasuke que estava junto com seu irmão mais velho Uchiha Itachi, que era da mesma idade de Sagi.

— Olha lá, gente, é o Sasuke! — Sakura apontou, toda animada.

— Bom, eu e Hina vamos soltar outra pipa. — Naruto segurou a mão da Hyuuga e saiu correndo a levando.

— Então até depois, Sagi! Rosinha! — Gritou Hinata se despedindo e tentando acompanhar o ritmo de Naruto.

— Até, Hina!

— Vamos até lá? — Chamou Sagi.

— Tá, claro! — Ela mal podia esperar para ver o garoto que gostava usando seu presente.

Sasuke estava parado atrás de um muro baixo, próximo aos banheiros do parque. Quando os irmãos Harunos estavam se aproximando do local, ouviram uma conversa entre ele e seu irmão mais velho, Itachi.

— Sasuke, por que está usando essa corrente ridícula?

— Foi a Sakura quem me deu. — Sasuke fitou Itachi, e tentou soar indiferente.

— Então tira isso e joga fora.

— Por que eu deveria?

Os dois irmãos viviam em uma relação de idolatria, do mais novo pelo mais velho, e do abuso desse sentimento pelo mais velho. Sasuke sempre tentava agradar e copiar a personalidade rebelde do irmão, com medo da rejeição dele.

— Ah, então quer dizer que você gosta dela é? Pensei que tinha dito que ela era um saco, uma pedra no seu sapato...

— E eu disse!

— Então você não tem palavra, está usando um presente dela...  — Itachi zomba com um tom de provocação.

— Eu tenho palavra sim!

— Então prove, — Insiste Itachi — jogue a corrente fora!

— Claro. — Sasuke olhou ao redor, retirou a corrente e a atirou nos arbustos.

— Esse é o meu irmãozinho, agora sim! Provou que está crescendo.

— Tanto faz... aquilo não era importante.

Quando Sakura viu aquela cena, lágrimas escorreram por sua face e ela caiu de joelhos no chão.

— Sakura... Calma. — Sagi se abaixa e a abraça.

— E-eu pensei que... ele...

— Espera aqui, eu vou até lá-

— Não! — ela se levanta, agarra seu braço e afunda o rosto em seu peito — Não vai. Me promete uma coisa, Sagi?

— O que? — Ele a encara sentindo seu coração se partir quando ela vira o rosto para olhá-lo, não era só uma paixonite boba como ele já suspeitava, ela realmente gostava muito dele.

— Ninguém vai saber do que aconteceu aqui... E do que eu sinto pelo Sasuke...

— C-Claro como quiser Sakura... — O Haruno achava difícil isso dar certo, pela proximidade de todos eles, mas não fazia ideia do que fazer ou falar, apenas ficar ao lado de sua irmã e concordar.

...

— Eu sabia... — Sagi quebra o silêncio, mas sem encará-la, ele ainda não sabia se qualquer coisa que dissesse a ela seria o certo, ou o suficiente, nos últimos três anos ela evitou ao máximo estar nos locais que o Uchiha estivesse, e quando se encontravam, a tensão era palpável, e fora seus problemas familiares. Ele não fazia ideia de como ela guardava tudo dentro de si sem explodir, mas talvez a crescente no seu humor áspero pudesse vir daí.

— Vamos logo Sagi, não queremos chegar atrasados. — De repente ela o olhou e sorriu — O passado ficou para trás! Quero viver o presente... E se não andarmos logo, perderemos a chance de um futuro! — Conclui brincando.

— Claro, você tem razão, vamos! "Ela disfarça tão bem, pelo menos se tornou uma atriz nata".