Ficamos longos minutos encarando aquelas portas metálicas, temendo e esperando que elas se abrissem o que não aconteceu.

A palavra cura pairou em minha mente, mas de que adiantava? Aquele lugar estava tomado, o melhor que podíamos fazer é dar costas e seguir em frente.

Voltamos para os carros e agora estávamos definitivamente sem rumo, abandonamos um dos veículos e arrumamos tudo que tínhamos, incluindo os galões com gasolina reserva, no outro que parecia estar em melhor estado.

Nenhum de nós se atrevia a dizer nem uma palavra, era quase inacreditável o que acontecera. Acho que meu coração nem suportava mais tantas perdas, eu não gostava de Andrew, mas ninguém merece morrer sendo devorado vivo. Mike havia se tornando um grande amigo, além de ter dado a sua vida para salvar o resto de nós, eu nem poderia colocar em palavras o que sentia por eles. George eu não conhecia bem, mas era grato a ele por mostrar humanidade e permitir que nus juntássemos a seu grupo. Sam e Kaio eu não conhecia quase nada, mas sabia que eram boas pessoas por nos aceitarem e nos protegerem mesmo sendo estranhos aos seus olhos.

Eu sentia uma dor horrível. O choro alto de Lucy era a única coisa além do motor que se podia ouvir.

Kevin tomou o volante, nenhum de nós se sentia apto a dirigir, mas ele tomou a iniciativa. Eu estava ao seu lado na frente, enquanto Lucy e Emily estavam atrás.

A paisagem passava rápido, devido a velocidade do carro. Foi quando um baque se foi ouvido. Kevin parecia estar perdendo o controle do carro.

– O que esta fazendo? - gritou Emily vendo os movimentos estranhos que o carro fazia.

– Eu perdi o controle! - gritou o homem de volta.

Não tardou, pouco depois da discussão, o carro deu seu primeiro giro, fazendo o pneu cantar alto, logo em seguida o carro capotou.

Senti minha cabeça bater contra o teto, e tudo escureceu.

(...)

Meus olhos pesavam, sentia gosto de sangue em minha boca, meu corpo inteiro doía. O carro capotou, mas acabou por terminar com as rodas no chão, olhei em volta, ainda com a visão embasada.

– Você esta bem? - uma voz feminina surgiu em meio ao silêncio.

– Estou eu acho. - respondi ainda confuso.

Me esforcei, e quando virei meu pescoço para trás, vi que era Emily quem me encarava. Com a testa ferida.

– E você? - indaguei, já sentindo a dor se amenizar.

– Estou bem, só que minha cabeça doí. - ela disse pousando a mão na testa.

– E Lucy?

A vi se arrastar em direção a loira e pousar a sua mão em seu peito.

– Esta viva! - anunciou. - E Kevin?

Soltei meu cinto de segurança, que por sorte não estava preso, e me esquivei sobre Kevin. Passei minha mão por debaixo de seu nariz, e depois medi o seu pulso, e constatei... Não estava vivo.

– Esta morto! - eu disse friamente, afinal a única coisa que eu sentia por aquele homem era ódio.

Ficamos em silêncio por alguns instantes.

– Consegue se soltar? - falei olhando para a morena.

– Sim. - ela disse desprendendo o cinto e abrindo a porta do carro.

Eu fiz o mesmo, mas antes de sair, eu peguei a arma de Kevin.

Fui em direção ao lado de Lucy, e abri a sua porta, vi Emily surgir atrás de mim.

– Lucy... Lucy... - eu dava pequenos tapas em seu rosto.

Ela nada respondia.

– Amor fala comigo. - insisti.

– Ai... - ela gemeu abrindo levemente os olhos.

– Eu estou aqui, olha pra mim. - eu continuei, e ela me olhou.

– Jake... Amor... - ela murmurou.

– Sou eu amor, vamos acorda, precisamos sair daqui! - eu disse observando alguns errantes surgirem no horizonte.

– Eu não posso anjo. vi lágrimas brotarem em seus olhos. - e ela começar a chorar.

– O quê? Por quê? - eu estava assustado, o que a impedia de se levantar e ir em frente comigo?

– Minhas pernas, eu não as sinto. - ela chorava mais.

– Não tem problema, eu carrego você eu. - anunciei já fazendo o movimento de lhe ajeitar em meus braços.

– Não. - gritou. - Sinto uma dor horrível na coluna, se você me mexer, pode quebra-la.

Suas palavras me fizeram arrepiar.

– O que quer dizer? eu já sentia as lágrimas brotarem em meus próprios olhos.

– Eu te amo muito, e sempre vou amar. Desde o primeiro momento em que eu te vi.

– Eu também te amo, mas pare de se despedir de mim. - minha voz já estava engasgada com o choro.

– Desde o momento em que eu te vi, até o momento em que observei que se apaixonou por outra pessoa. - um pequeno sorriso brotou em seus lábios.

– Não sei do que esta falando! - sentia meu coração mais apertado.

– Precisa ir sem mim. Eu sinto muito.

– Não. - eu gritei. - Não vou te perder de novo, podemos dar um jeito.

– Se me mover, eu vou morrer, só que de dor. Eu preciso que faça mais que ir embora sem mim, preciso que me mate. - disse já com o rosto coberto de lágrimas.

– Ficou louca? Eu jamais faria isso com você. - gritei já deixando o desespero tomar conta de mim.

– Terá alguém melhor do que eu ao seu lado, eu tenho certeza disso, precisa fazer isso por seu próprio bem. - lançou seu olhar para Emily que ainda estava atrás de mim.

– Eu não posso. - já sentia minha voz engasgada.

– Então Emily faz.

– Eu não posso. - a morena já chorava também.

– Você precisam me ajudar, eu estou sofrendo. - a loira suplicava, eu podia sentia a dor em seu tom de voz.

– Nós podemos dar um jeito, temos que dar um jeito. - sentia meu coração apertado, não tinha a menor ideia do que podia fazer.

– Me dê uma arma, eu mesma faço. - ditou a loira firme. - É o meu ultimo pedido Jay.

Eu pensei, e me sentia em um beco sem saída.

– Se afasta Jake, eu dou a arma pra ela. disse Emily me surpreendendo.

– O quê? Você concorda com isso? - meu tom era mais raivoso do que eu gostaria.

Os zumbis estão se aproximando, e ela esta sofrendo Jake. argumentou á morena.

– Tudo bem. - eu baixei a cabeça, me dando por vencido, e entregando a arma para Emily. - Eu te amo. - disse pela ultima vez beijando sua testa.

Me afastei cerca de cinco passo. Ouvi alguns sussurros.

Cuida bem dele. a voz de Lucy disse ainda engasgada pelo choro.

Logo senti a mão de Emily tocar meu ombro, me virei e a puxei para um abraço apertado, seu rosto se afundou na curva do meu pescoço, e foi quando o estrondo do tiro cortou o silêncio.

Depois de alguns instantes, ainda na mesma posição, a morena se pronunciou.

–Temos que sair daqui, eu vou pegar a arma, e os suprimentos no carro.

Ela disse e se dirigiu ao carro, os gemidos dos errantes que se aproximavam estavam bem mais altos. Dezenas deles surgiam no horizonte.

Vamos sair daqui! eu disse secando as lágrimas e pegando a arma ainda suja de sangue.

(...)

UM MÊS DEPOIS.

Eu e Emily havíamos nos acertado, nossa relação não tinha rótulos, eu sabia que ela estava se apaixonando por mim e eu por ela, depois do que aconteceu com Lucy, nós demoramos a voltar a nos aproximar, mas em uma noite acabamos por nos entregar aos nossos sentimentos. Estávamos em um carro que encontramos abandonado na estrada a cerca de três dias, desde que Lucy morreu, nós não tocávamos nesse assunto, e por incrível que pareça não encontramos mais nenhum sobrevivente no caminho. De repente o carro começou a engasgar e parou.

– Merda! - eu esbravejei.

– Vamos! - disse a morena já apanhando a sua mochila com suprimentos e deixando o veiculo.

Já estávamos acostumados com isso, afinal ao longo desse tempo já perdemos cerca de três carros.

A morena se aproximou de mim e entrelaçou a nossas mãos, eu tratei de pegar a mochila que ela carregava, e foi quando uma horda de zumbis se foi avistada ao longe.

– Eu te protejo e você me protege? - a morena me lançou um olhar sugestivo.

– Com certeza.

Corremos na direção contrária daqueles que um dia foram humanos, mas que agora não passavam de criaturas asquerosas. Com uma única certeza: Nós nunca estaríamos seguros, mas até a morte, teríamos um ao outro.

FIM