Já fazia duas horas desde que Anne havia partido, e Andrew ainda estava abraçado a seu corpo chorando, os homens de Ethan já se preocupavam com a provável volta da loira como zumbi. Andrew parecia não se importar.

E como o esperado a loira voltou. Vi seus dentes irem de encontro ao pescoço do homem que parecia não lutar mais pela própria vida, corri em direção a eles e segurei o pescoço da errante que um dia havia sido Anne.

– Não, deixa ela me morder! – disse Andrew tentando tirar as minhas mãos.

– Alguém pode me ajudar aqui? – eu disse já sentindo que iria soltar a agora zumbi.

Emily se aproximou rápido e com uma força que eu quase desconhecia, puxou Andrew de uma vez só para trás, até que ele soltou Anne. Como eu previ, eu também soltei.

Ela tinha dificuldade, mas conseguiu se levantar.

– Me dê uma arma. – eu disse para Ethan, e ele me entregou uma que estava em sua cintura.

– Não! – Andrew tentava se levantar para me impedir, mas era segurado agora, além de Emily, por Mike e Evan.

Eu olhei uma ultima vez nos olhos daquela que um dia tinha sido Anne, ela me olhou de volta. Me senti tremer, mas sabia que tinha que ser firme.

– Me desculpe! – foram as ultimas palavras que eu disse, antes de vê-la correr para me atacar, e uma bala sair de minha arma direto para sua cabeça.

Ela estava finalmente, e realmente morta. Andrew chorava muito, eu nunca esperei um dia vê-lo naquele estado. Ele se abraçou a Emily, e abaixou a cabeça em seu colo, eu acho que por pena, ela o abraçou de volta.

Todos estavam em um completo silêncio, até que Ethan se manifestou.

– Vão cavar uma cova para o corpo, vamos dar um enterro digno á moça! – ele disse para um de seus homens.

E o mesmo obedeceu prontamente, mas não antes de cobrir o corpo da loira com um lençol. Acho que para que as crianças não tivessem que encarar aquela cena, que era na verdade era dura para qualquer um.

Me sentei ao chão, ainda parado no exato lugar de onde atirei, sentia uma magoa no coração, e uma vontade enorme de chorar, eu havia perdido mais uma pessoa que já significava algo para mim. “Algo” é uma palavra tão vaga... Mas, esse “algo” eu sei que se tornaria amor, compreensão e respeito.

O apocalipse é cruel, mas era irônico como Anne não havia partido para um zumbi, e sim para um velho que se acha foda, mas na verdade é um tremendo idiota, a morte dela foi quase estupida, para aquela que um dia se mostrou para mim uma pessoa tão doce, e que com certeza não merecia algo assim.

Eu não queria e nem ia chorar, primeiro porque não daria esse gostinho a aquele velho, e segundo porque acho que Andrew parecia estar muito mal, e eu não achava que ele ficaria bem de novo tão cedo, e nosso grupo precisava de um líder.

Ainda éramos um grupo, apesar estarmos com aquelas pessoa, eu sentia que por alguma razão aquilo era temporário.

– Posso falar com você? – Ethan se aproximou de mim, e eu me levantei. – Em particular.

O segui até um canto do enorme galpão.

– Ainda não sei o seu nome! – ele começou.

– Jake! – eu respondi simplesmente, não estava para papo.

– Bom Jake, me doí dizer isso, mas temo que você e seus amigos, tenham que partir.

– O quê?

– Escute você obviamente esta tendo problemas com Dave, e apesar de você achar que estar certo, ele chegou aqui primeiro.

– E se só eu fosse embora, ele tem problemas só comigo. – falei em um tom mais desesperado do que gostaria, afinal eu queria sim ficar ali, mas não se tivesse que implorar.

– Eu sinto muito, mas também temo que ele faça represálias contra alguém do seu grupo que permanece aqui.

– Você esta se ouvindo? – eu disse agora de uma forma grosseira, decidi que se era para nós sairmos, não seria pela porta dos fundos.

– O quê? – ele disse um pouco assustado.

– Esse homem é perigoso, você mesmo acabou de dizer que ele pode causar represarias, não teme que ele faça algo contra o seu grupo?

– Ele não faria, ele já esta aqui há alguns dias, e não havia feito mal a ninguém até vocês chegarem.

– Ele matou a minha amiga, e nós é que temos que sair? – já estava quase gritando, e atraindo alguns olhares.

– Eu sinto muito, mas vamos lhes dar suas armas de volta e munição, e ainda uma boa quantidade de suprimento.

– Tudo bem, se você quer assim, que assim seja. – joguei meus braços para o alto em sinal de rendição.

Voltei para o meu grupo, e agora Andrew estava encostado em um canto, com a visão perdida no horizonte.

– Ele quer que vamos embora! - Evan disse, me fazendo perguntar se ela havia ouvido a conversa.

– É isso, disse que Dave chegou primeiro e que antes disso não havia causado problemas, vão nos devolver nossas armas, e dar um pouco de suprimento. – eu falei rápido.

Eles se olharam, vi Emily soltar um suspiro pesado.

– Se não nos querem aqui, não tem porque ficar. – disse a morena já se levantando.

– Ela tem razão, não tem porque ficar, ainda mais que agora aqui sempre vai ser o lugar onde Anne morreu. – disse Mike olhando para Andrew enquanto dizia a ultima parte da frase em forma de sussurro.

– Tudo bem, peguem as suas mochilas, e se tentem levantar o Andrew, precisamos sair antes do meio dia para ganharmos tempo. – eu disse voltando a ir em direção a Ethan.

Ele estava conversando com um homem, e assim que me aproximei ele parou.

– Sim? – disse me olhando como se eu fosse um empregado lhe interrompendo em uma reunião.

– Nós vamos daqui a pouco, dá pra providenciar o que me prometeu. – eu disse seco, esperando uma resposta rápida, para que pudéssemos ir.

– Eu consegui um carro para vocês. – ele disse sorrindo, como se fosse a melhor noticia do mundo.

– Que bom! Muito obrigado por nos expulsar, mas arrumar um carro. – eu disse sorrindo irônico, e o dos lábios dele sumiu.

– Me des... – mas antes que pudesse começar a falar de novo eu o interrompi.

– Não precisa... Esta fazendo o que pensa ser certo. – o fitei agora sério.

– Tudo bem, vou agilizar o enterro da sua amiga, para não atrasar mais vocês! – ele disse dando costas e rumando para fora do galpão.

Novamente fui em direção ao meu grupo, lhes contei sobre o carro e pareceram satisfeitos.

Passou cerca de uma hora, e o carro, as armas e os suprimentos estavam todos já preparados para nossa partida, já era cerca de nove da manhã.

Estávamos ao redor do buraco que seria a cova de Anne, algumas das pessoas que eram do grupo de Ethan estavam lá, mas pedimos especificamente para ele manter o Dave longe. Não gostava de dizer “Dave” era muito impessoal para uma pessoa ao qual eu odiava, mas também não queria o chamar de senhor, afinal ele não merecia tal respeito. “Velho” era perfeito.

Ethan disse algumas palavras, lágrimas foram derramadas, de nós todos, até de Evan que parecia agora a mais durona para mim. E até eu mesmo não pude me segurar.

Andrew pediu para ficar um minuto sozinho com o corpo antes que ele fosse enterrado, e tenho que admitir que fiquei um tanto impressionado com o tamanho de seu amor por Anne, e me senti um tanto mal por Emily que um dia o amou, em seguida foi traída e trocada, e teve que assistir os dois serem felizes enquanto ela ficava cada vez mais amargurada.

Depois de alguns minutos nos aproximamos, e por incrível que pareça, pelo menos para mim, o emburrado permitiu que ela fosse enterrada sem fazer uma cena.

Depois disso fomos até o carro, que era simples, mas estava em bom estado. Ethan disse para tentarmos a resistência do norte, que apesar de terem perdido contato ainda podia estar de pé. Ele nos deu um mapa.

Apesar da fraca esperança, decidimos tentar. Eu estava ao volante, Emily ao meu lado, Andrew atrás de mim, Evan atrás de Emily e Mike no meio, apesar de suas reclamações não se podia fazer nada, afinal eu teria que pedir o agora muito calado Andrew ou a muito estranha Evan para se mexer, e isso não ia acontecer.

Então assim seguimos calados e rumo ao desconhecido.