A Bella e o Monstro escrita por Leprechaun


Capítulo 11
Capítulo 11


Notas iniciais do capítulo

Estou num limbo de total abstinência de C.M.I.*, sinto muito!

[i] *criatividade, motivação e inspiração



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Edward olhou para Jasper, que pressionava o ombro ferido com os dedos, e cortou uma tira da própria camisa.

— Sinto muito. Fui um péssimo guardião — disse, envergonhado. — Sinto tê-lo desapontado mais uma vez.

Com a mandíbula contraída, Edward se aproximou para verificar o ferimento. Ele parecia furioso.

— Você viverá. — falou rispidamente, pressionou o pano sobre a ferida. — A bala penetrou na carne, mas não atingiu o osso.

— Não deve se culpar — tranquilizei Jasper, tentando manter a voz firme. — Estamos vivos e isso é uma benção.

Edward emitiu um som baixo, antes de rasgar outro pedaço da camisa e amarrar o braço de Jasper.

— Consegue segurar as rédeas? — perguntou.

Abri a boca para protestar, mas engoli as palavras ao vê-lo endireitar o corpo para atender ao pedido do patrão. Olhei para a estrada e, em seguida, para o corpo de Laurent, para logo desviar o olhar.

— O que fará com ele? — perguntei.

— Vou amarrá-lo para que seja enterrado quando chegarmos a Forks. Suba na carruagem que logo a seguirei.

— E o que fará com Jasper?

— O que acha que eu posso fazer? Mutilá-lo? Chicoteá-lo? Por um erro que ele não cometeu? O culpado fui eu por não ter previsto as circunstâncias. Eu deveria dar um chicote para que você me açoitasse por tê-la deixado correr perigo.

Aturdida pelas palavras dele, meneei a cabeça várias vezes, desejando não ter dito nada. Edward estava furioso consigo mesmo.

— Não deve se sentir culpado — disse, com firmeza. — Laurent escolheu se vingar. Você não é responsável pela decisão dele. Certamente...

Edward deu um passo à frente, apertando os olhos.

— Você é minha, Bella. Devo poupá-la.

— Poupar-me? — perguntei, confusa. — Como assim?

— Vá para a carruagem, agora. — Ele desviou o olhar.

Ao sentir um vento frio, percebi que, enquanto estava aquecida, Edward estava apenas de camisa rasgada. Fiz menção de tirar o casaco, mas fui impedida.

— Não tire o casaco. Quero você aquecida.

O tom de voz não admitia discussão. Apertando os lábios, eu o estudei, o rosto bem esculpido e tenso, e os lábios apertados. Por fim, suspirei, e comecei a caminhar em direção à carruagem. Jasper abriu a porta pra mim, e entrei no veículo. Após um instante, o rapaz subiu no banco do condutor.

Rígida no banco, ouvi um gemido e um baque, acompanhado por sons de corda e tábuas. Devia ser Edward amarrando o corpo de Laurent atrás da carruagem.

Depois de alguns momentos, ele entrou, acomodando-se no banco oposto ao meu e mantendo a expressão indiferente.

— Você está bem? — perguntou, os olhos brilhando.

— Sim — eu apenas sussurrei.

Edward se curvou e colocou a mão dentro do bolso do casaco que eu ainda vestia, tirou uma pequena lata redonda e a entregou a mim. O fitei, confusa, sentindo cheiro de menta.

— Quando eu era... — Ele apertou os lábios. — Quando eu era criança, minha mãe sempre tinha uma lata de balas. E sempre me dava uma quando eu me machucava. Ela dizia que balas eram boas para curar pequenos ferimentos e que se eu comesse algo doce, não sentiria dor. — Suspirou, sem dizer mais nada.

Percebi que aquela confissão lhe fora penosa. Com cuidado, peguei uma bala e a coloquei na boca, agradecida pelo conforto estranho que ele oferecia.

Sentir-me feliz por ele ter partilhado aquilo comigo e tentei imaginá-lo criança, correndo livre pelos campos e pela praia.

Nós ficamos em silêncio enquanto percorríamos o trajeto até Forks. Assim que a torre da igreja foi avistada, pensei que logo passaríamos pela hospedaria de meu pai e senti uma grande tristeza me invadir.

Me mexi para ver melhor e meu joelho raspou no de Edward. Ele ficou tenso, mas não se moveu. Apenas nós olhamos, intensamente.

— Por favor — pedi suavemente. — Apenas deixe-me dizer a papai que está tudo bem. Permita que eu o tranquilize...

— Você acha que ele pensa em você?

— Sim, acho — respondi com veemência. — E desejo tranquilizá-lo.

— Durante meses e anos intermináveis, sonhei em tirar a tranquilidade dele e agora você me pede para tranquilizá-lo. — Tamborilava os dedos sobre a coxa. — Não posso. Sou um homem de palavra, minha Bella.

— Sim, eu acredito.

Edward era implacável e até cruel, mas, ainda assim, estranhamente gentil comigo.

— Mas até um homem de palavra às vezes muda de opinião.

Ele desviou o olhar, antes de responder:

— Por duas décadas, meu caminho foi selvagem e muitas vezes traiçoeiro. Ainda assim, mantive vivo meu objetivo.

Eu conhecia o objetivo dele. Edward queria destruir meu pai, talvez até matá-lo de modo lento e terrível.

— O que acha que meu pai fez a você? Ele é um homem decente. Um bom pai...

Minha voz falhou ao notar o olhar de incredulidade estampado no rosto de Edward e conclui que decência e bondade eram questões de opinião. De nada adiantaria atiçar a raiva dele.

— Diga-me por que o odeia tanto. Um fardo se torna mais leve quando partilhado.

— Não concordo. Alguns fardos não podem ser minimizados. — Ele recostou-se no banco e fechou os olhos, suspirando. — Você me confunde. Sua inocência, sua bondade, sua coragem. Eu não esperava gostar de você.

Ele não esperava gostar de mim? E eu esperava odiá-lo. Aonde aquilo nós levaria?

Edward endireitou a cabeça e abriu os olhos, e eu não me lembro de ter visto um olhar tão indiferente e sem emoção na vida.

— Você ameaça meu objetivo, Isabella. Faz com que eu me esqueça de onde devo ir. Se você amenizar minha vingança, estarei perdido. É a minha estrela do Norte, minha bússola na tempestade. É tudo que eu tenho, tudo que posso ser. Não há nada para mim a não ser meu ódio.

Eu seria a sua bússola, pensei.

Eu desejava respostas, mas, apesar de ele aplaudir minha coragem, me acovardei em pressioná-lo.

— Por favor — sussurrei. — Não preciso falar com ele, apenas envie Jasper para dizer que estou bem.

Pela janela, vi a hospedaria e pensei em papai, servindo no bar. Precisava acreditar que ele pensava mim, que se preocupava comigo.

— Se ele tivesse me matado... Laurent ... você teria deixado meu pai esperando meses sem fim por notícias minhas ou teria lhe dito...

— Não seria nem mais e nem menos do que ele merece. —Edward riu. — Que justiça perfeita o destino lhe reservaria, justiça que ele negou a outro.

Não compreendi o significado daquelas palavras e desisti de pedir explicação ao ver a mandíbula retesada e as mãos cerradas.

De repente, Edward bateu no teto da carruagem. Jasper parou o veículo e foi até a porta.

— Dê-lhe alguma coisa pessoal, um lenço, uma mensagem... — Recostou-se de novo no banco, suspirando, como se tivesse sacrificado uma parte de si mesmo com aquela concessão.

Meu coração se encheu de alegria, tanto por ele ter se suavizado o suficiente para me conceder aquilo quanto pela esperança de conseguir dissuadi-lo de perpetrar aquela vingança, que eu não sabia ainda qual era. Eu precisava dissuadi-lo. Não apenas para salvar papai, mas para salvar Edward também.

— Obrigada.

Em um impulso, venci a distância que nós separava e apertei a mão dele. Percebi que Edward me olhava confuso e com cautela, antes de desviar o olhar.

Procurei por um lenço no bolso da capa, mas não encontrei. Meus dedos se fecharam ao redor do botão do paletó de Edward. Não tinha nada para enviar a papai e parecia muito inapropriado mandar aquele botão. Tampouco queria me afastar do objeto. Era algo que pertencera a ele e que queria manter perto de mim. Notei que ele estava absolutamente quieto, parecendo que nem respirava.

— Não é necessário. Diga-lhe apenas que estou sendo tratada com gentileza.

Jasper olhou especulativamente na direção de Edward.

— Vá — ele ordenou. — Faça o que ela está pedindo.

— Sim, senhor. — Fechou a porta da carruagem e se afastou na direção da hospedaria.

Então, Edward finalmente me olhou, os olhos semicerrados, apertados.

— Faço isso por você, Bella, e não sei explicar o motivo. — A expressão endureceu ao detectar a esperança nos meus olhos. — Não me interprete mal. Charlie Swan conhecerá dias e noites de tormento. Conhecerá o verdadeiro sofrimento do corpo e da alma. Hoje, tocado por sua inocência e honestidade, ofereço a ele uma pequena concessão.

Meneei a cabeça, sem ousar dizer nada, preferindo saborear o fato e não pressioná-lo mais.

Momentos depois, Jasper retornou à carruagem e nós partimos . Sentei-me na beirada do banco, aproximando-me da janela, e vi papai na frente da hospedaria. Ele olhou na minha direção e virou o rosto, achei tê-lo visto cuspindo no chão. Perturbada, cruzei os braços sobre o peito e vi a hospedaria se afastar. Logo em seguida, a sombra da Mansão Pattinson surgiu diante de nós, solitária, com o vasto oceano ao redor.


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