A Razão do Rei escrita por Andy


Capítulo 15
Capítulo 15


Notas iniciais do capítulo

Boo! Olá! Hahaha! Bom, temos uma decisão unânime: todo mundo que respondeu à minha pergunta no último capítulo disse que preferia que eu postasse todo final de semana. Então... *faço uma mesura* A seu serviço! ;)
Quero aproveitar para agradecer a todos os leitores-fantasma que apareceram para dar um alô no último capítulo. Só de saber que vocês estão aí, já significa o mundo para mim! Obrigada!
Aliás... Eu quero agradecer a todos vocês que leem e comentam a fanfic, especialmente àqueles que estão comigo nessa jornada, comentando todos os capítulos e tudo o mais. Especialmente nesta última semana, os comentários que recebi tiveram uma importância enorme para mim. Eu acho que nunca disse a vocês, mas meu sonho é ser escritora profissional um dia. E este ano, estou começando a trabalhar no meu primeiro livro. Mas estou passando por, digamos, uma fase difícil. Anteontem foi o pior dia. Eu estava com vontade de me jogar da janela, sério. (Mesmo que isso só fosse me fazer cair uns 10 cm e aterrisar na grama macia, diga-se de passagem.) E nesse período... Os comentários de vocês me ajudaram a me lembrar do porquê de eu fazer o que faço. O porquê de eu ter escolhido esta vida, por mais difícil que seja. A certa altura, eles foram a única coisa que me manteve firme. Eu não tenho palavras para agradecer por isso. Nada que eu diga será suficiente. Simplesmente. Muitíssimo obrigada! ♥
Ok. Sem mais enrolação... Espero que gostem do capítulo! Foi um dos que eu mais gostei de escrever, acho. Até final de semana que vem! Xoxo



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“Ao ouvi-lo, os guardas cederam e abriram passagem. Thranduil havia entreaberto os olhos e parecia tentar estender a mão para mim, embora mal conseguisse erguê-la. Ele parecia péssimo. Eu corri para ele. E quando me aproximei, meu coração pareceu parar por um instante, e uma náusea quase incontrolável subiu queimando minha garganta. Eu pus a mão sobre a boca, tentando contê-la, e o fluxo de minhas lágrimas aumentou ainda mais, coisa que eu julgava ser impossível.

Todo o lado esquerdo do rosto dele estava completamente desfigurado, destruído pelo fogo do dragão. Um olho que não mais via me fitava em meio à carne devorada pelas chamas e os ossos do crânio e da mandíbula estavam totalmente expostos. Eu senti minhas forças me faltando, e até hoje, Legolas, penso que só pode ter sido Eru a me manter consciente naquele momento. Então Thranduil falou, praticamente sussurrando:

– Syndel... Se... Seus pais... – ele fez uma longa pausa, em que ficou me olhando, e eu temi que o pior tivesse acontecido, mas ele subitamente começou a respirar rápido e falou de uma vez: – Eu sinto muito. – depois disso, ele fechou os olhos novamente, sua respiração enfraquecendo até se regularizar e, aparentemente, começar a enfraquecer ainda mais.

– Thranduil! THRANDUIL! – eu chamei, mas ele estava inconsciente.

Oropher pôs as mãos pesadas sobre os meus ombros e eu me virei para ele, desesperada:

– Ele precisa de cuidados. Rápido! Imediatamente!

O rei estava completamente abatido. Uma sombra parecia estar sobre ele. Ele ergueu os olhos para os guardas que carregavam a maca de Thranduil:

– Corram. Levem-no para a ala médica, imediatamente. O resto de nós e eu acompanharemos Syndel.

– Eu não vou me separar dele! – eu me opus.

– Você não pode correr rápido o bastante e nem tomar uma montaria nesse estado. Serão só alguns minutos. Mas para Thranduil, isso pode significar muito. – suas palavras foram duras, mas eu sabia que ele tinha razão e não discordei. Os guardas então levaram seu pai às pressas, enquanto o resto de nós seguia atrás, tão rapidamente quanto nos era possível.

Quando chegamos à ala médica, Thranduil estava cercado por elfos que se agitavam em torno dele, suando frio e falando muito e muito alto. Ao nos ver, uma das médicas pediu que saíssemos, eu, Oropher e a rainha. E eu me preocupei com o olhar que ela me lançou. Era como se pedisse desculpas. Eu me agitei e tentei lutar contra Oropher, que me segurava para impedir que eu entrasse lá. Por fim, um dos médicos pôs um pano embebido em algum tipo de erva sobre o meu nariz, e eu senti meus músculos relaxando enquanto a consciência pouco a pouco me deixava...

Quando acordei, pouco mais de meia hora depois, demorei a entender o que tinha acontecido. E então me lembrei, de súbito, e me levantei rápido demais. Fiquei tonta e precisei me apoiar com as duas mãos na beira da cama para não cair. Logo que recuperei o equilíbrio, me apressei em direção à ala médica.

Chegando lá, preocupei-me com o silêncio que envolvia o local. Oropher e a rainha estavam a um canto, conversando em voz baixa. A rainha chorava, e isso me alarmou. Foi o rei quem me viu primeiro:

– Syndel!

– Majestade! – eu me adiantei até eles, lançando um olhar rápido para a cortina que cobria a porta do local onde eu sabia que estava Thranduil, ou pelo menos esperava que estivesse. – O que aconteceu?

– Eles... – ele engoliu em seco e pela primeira vez eu vi medo, medo de verdade nos olhos dele, que eram sempre tão orgulhosos e confiantes. Ele parecia estar escolhendo as palavras. – Eles tentaram de tudo, minha querida...

Eu comecei a chorar imediatamente.

– Mas...?

– Bom, eles conseguiram retardar... Retardar... – ele não conseguiu dizer mais nada.

– NÃO!! – eu gritei, me desesperando. – Não, não, não!

– Syndel... Por favor... O bebê... Você não pode... – Oropher estava completamente sem jeito, e eu vi uma lágrima finalmente escorrendo pelo canto do olho dele.

– Não, tem que haver outra forma! Eles não devem ter tentado tudo! – eu me recusava a aceitar. – Athelas! Athelas! Vocês tentaram Athelas? Eu tenho certeza...

– Eles tentaram tudo, Syndel... Tudo mesmo...

– Não é possível, não...! Vocês chamaram todos os médicos do reino?! Os melhores?! Todos?! – eu estava gritando, e não me importava que estivesse numa ala médica. Eu estava completamente apavorada, todo o meu mundo parecia estava desabando. Eu sentia que era eu quem estava morrendo.

– Todos. Está além de nossa capacidade... Além de tudo o que conhecemos... O fogo dos dragões do norte...

– Ninguém de Greenwoods esteve no norte, esse é o problema! – de repente, foi como se uma luz iluminasse meus pensamentos, e eu acredito que isso tenha vindo dos Valar. É a única explicação. – Nós precisamos de alguém que tenha conheciment... Mestre Elrond!!! – eu gritei ainda mais alto, subitamente compreendendo tudo. Agarrei o braço de Oropher e o sacudi. – Mestre Elrond! Precisamos chamá-lo! Agora!!

O rei pareceu assustado por eu estar agarrando-o daquele jeito. Ele olhou fundo nos meus olhos, e eu pude ver que ele compreendeu o mesmo que eu. Por isso, me assustei quando seu semblante enrijeceu e ele puxou o braço.

– Não.

– O... O quê...?

– Não. Está fora de cogitação.

– Mas... Eu tenho certeza... Mestre Elrond com certeza pode ajudar! Ele é melhor que qualquer médico que Greenwoods possa ter...

– Não, eu já disse! Ninguém de Greenwoods irá a Valfenda. – ele me deu as costas, voltando aonde a esposa estava.

– O SEU FILHO VAI MORRER!!! – eu perdi completamente a cabeça. – Você não percebe? Você vai deixar esse orgulho estúpido matá-lo??? – eu já não me preocupava com pronomes de tratamento. Eu já não sentia respeito algum por ele.

– S-Syndel... – a rainha estendeu a mão para mim, mas deixou-a cair, impotente.

Oropher se virou lentamente para mim, e ele parecia ter subitamente envelhecido mil anos. Apesar disso, seus olhos estavam frios quando ele falou:

– Thranduil vai morrer. De qualquer forma. Ainda que eu permitisse que fossem lá incomodar Mestre Elrond, jamais conseguiriam voltar a tempo.

– Mas você precisa tentar! Oropher, por favor...! – eu já não falava mais tão alto. Parecia-me novamente que a minha própria vida se esvaía.

– É a minha última palavra, Syndel. Nenhum elfo deixará Greenwoods hoje.

– Seu... Seu MONSTRO!!! – eu o empurrei com tudo o que restava de minhas forças e saí correndo dali, tanto quanto minhas pernas inchadas conseguiam. Ninguém ousou me seguir ou tentar me parar.

As minhas lágrimas não cessavam, e eu corria sem rumo, guiada apenas pela vontade de fugir, de continuar correndo. Tudo o que eu sabia era que a pessoa que eu mais amava no mundo, o pai do meu filho, estava morrendo. E que a única pessoa que podia fazer algo a respeito se recusava a fazê-lo.

Quando dei por mim, estava de volta ao meu quarto. Eu me atirei na cama, tomando o cuidado apenas de proteger minha barriga e abracei o travesseiro com que Thranduil geralmente dormia. Ele tinha o cheiro dele. Eu comecei a chorar ainda mais, compulsivamente, mal conseguindo respirar.

– Eu te odeio, Oropher Verdefolha! –joguei o travesseiro longe, com toda a minha força. Ele bateu no armário do outro lado do quarto e caiu no chão. E então, Legolas, eu senti você se agitando dentro de mim como nunca tinha acontecido. Você já havia chutado algumas vezes, é claro, mas nunca se agitado daquele jeito. Era como se a minha raiva estivesse passando para você. Eu acho que, de alguma forma, você também se sentia perturbado com tudo aquilo.

Então eu procurei me acalmar e comecei a cantar para você. Eu sabia que não podia ficar muito nervosa, que poderia fazer mal a você. E Thranduil jamais quereria que qualquer coisa lhe acontecesse. Ele te amava, ele te ama mais do que tudo. Mesmo que tenha uma forma estranha de demonstrar isso, hoje em dia. Por isso, e por te amar muito também, eu tentei ficar calma e comecei a pensar em uma solução.

Passei horas sozinha ali, no quarto, sem que ninguém ousasse me perturbar. E em dado momento eu percebi: tinha que ser eu. Se ninguém ia fazer nada, eu faria. Eu não ia simplesmente ficar ali, quieta, enquanto o amor da minha vida morria. Eu não ia cruzar os braços e deixar o meu filho se tornar um órfão antes mesmo de nascer. Eu era uma princesa agora, mas isso não queria dizer nada. Eu sou, sempre fui uma guerreira. E então eu arquitetei um plano. Você não se lembra, é claro, mas eu falei baixinho com você o tempo todo. E de vez em quando você chutava e se mexia. Eu acho que você concordava com a minha loucura.

Ao cair da noite, a rainha veio falar comigo. Nem sinal de Oropher.

– Você comeu o jantar que mandamos lhe trazer? – ela perguntou, pousando um copo d’água no móvel ao lado da minha cama.

– Sim. Tanto quanto pude. Estou sem fome. – respondi.

– Eu sei, eu também. – ela suspirou. Seus olhos estavam inchados de tanto chorar, e continuavam úmidos, exatamente como os meus. – Mas o bebê... Você precisa tomar conta dele. – ela acariciou minha barriga suavemente.

– Eu sei. Estou me esforçando. Thranduil ia me matar se soubesse que eu não tinha comido.

Ela riu de leve, sem humor:

– Ele é tão superprotetor, não é?

– Com certeza. Ele não me deixava em paz um segundo.

Nós duas ficamos quietas, num silêncio triste. Eu estendi o braço sobre o lado da cama em que Thranduil devia estar. Estava gelado.

– Procure dormir, querida. – ela passou a mão pelo meu rosto. – Amanhã é outro dia... Quem sabe o sol não nos traga boas novas?

– Quem sabe, não é...? – eu tentei sorrir para ela, mas não acho que tenha conseguido. – Boa noite.

– Boa noite. – ela soprou a única vela que ainda iluminava o quarto e saiu na escuridão.

Eu esperei por mais algumas horas, até ter a certeza de que todos estariam dormindo no palácio. Então saí da cama e tentei vestir minhas roupas de caça. É claro, elas não serviram. Tive que me contentar com um vestido, embora não me agradasse a ideia de sair pela floresta vestida daquele jeito. Peguei apenas o essencial. Não queria carregar peso. Por fim, peguei a Terror, a espada que seu pai havia me dado.

E aí eu fiz uma das maiores loucuras da minha vida: abri a janela e pulei. Eu sabia que havia uma boa árvore ali, mas calculei mal a distância e por pouco consegui me segurar. Quase mato a nós dois. Fiz mais barulho do que pretendia e tive que me esconder entre os galhos. Eu vi, apavorada, quando a luz do quarto real se acendeu e Oropher abriu a janela para olhar. Seus olhos vasculharam a escuridão, e graças aos Valar não me encontraram. Por fim, ele desistiu, fechou a janela e apagou a luz. Meu coração estava disparado, e eu esperei longos minutos antes de ousar continuar.

Finalmente, com muito esforço, consegui chegar ao chão e me dirigi ao caminho que Thranduil tinha me mostrado muitos anos antes, o caminho secreto que levava para fora da Vila da Nobreza. Saindo por ali, consegui evitar os guardas. Mas eu sabia que haveria mais deles. A minha única chance de passar despercebida era sair da trilha e adentrar na floresta. Muito a contragosto, eu fiz isso.

Inicialmente, tentei encontrar aquela vala perigosa que levava ao lugar em que Thranduil e eu havíamos nos beijado pela primeira vez. Mais por sorte do que por competência, eu a encontrei. Aliás, eu quase caí nela. Foi quando quase morremos pela segunda vez, Legolas. De qualquer forma, fiquei feliz por encontrar aquela vala, porque eu sabia que se eu a seguisse, ela me levaria para o oeste, direção na qual Valfenda ficava. Eu não sabia ao certo o que faria uma vez que estivesse fora da Floresta, mas não havia tempo para parar e pensar. Pensando nisso, acelerei o passo, e me lembrando do rosto de seu pai e da expressão de Oropher quando disse que eles haviam conseguido “retardar”, logo comecei a correr.

Mas o destino não queria me ajudar, e subitamente, não sei como, a vala simplesmente desapareceu. Eu entrei em desespero e tentei procurá-la, mas não conseguia encontrar nem sinal dela, e nem de nada que eu conhecesse. Eu sabia que ainda estava na Floresta Verde, mas tudo ali me parecia estranho. Tentei olhar para o céu, na esperança de que as estrelas me guiassem, mas não conseguia ver nada além das densas copas das árvores. Eu me sentei no chão, em desespero, pensando no que poderia fazer a seguir. Mas de repente, o rosto de Thranduil em agonia invadiu meus pensamentos de novo, e eu não suportei mais ficar parada. Levantei-me de uma vez, escolhi qualquer caminho e comecei a correr por ele, implorando em pensamento a Eru para que guiasse meus passos.

E acho que Ele fez isso... De certo modo.

Porque eu não havia corrido muito, quando tropecei numa raiz de árvore e perdi o equilíbrio. Só tive o tempo de colocar os braços em volta da barriga, protegendo-a como podia antes de cair com tudo para frente. Felizmente, caí em algo macio.

– Ai! Mais o que é isso? Saia de cima de mim, seu bicho cabeludo! – uma voz que me era completamente estranha resmungou, e eu me levantei tão rápido quanto pude, assustada.

Passei as mãos por minha barriga em desespero, tentando verificar se algo havia acontecido comigo ou com você. Nada doía, exceto meus pés e minhas pernas, por causa da longa corrida, então eu deduzi que estava tudo bem e suspirei aliviada.

– Está tudo bem, meu filho, está tudo bem... Estamos bem.

Eu ouvi quando a voz estranha sussurrou algo em uma língua que eu não conhecia, e de repente uma luz fortíssima se acendeu. Ele a apontou direto para o meu rosto, e eu estreitei os olhos.

– Uma elfa?! – ele pareceu surpreso. – O que faz uma elfa aqui, tão ao sul? – ele abaixou a luz para tirá-la de meu rosto. – E prenha! – ele arregalou os olhos esbugalhados, olhando para mim.

– Você disse sul? – eu não respondi, porque as palavras dele me apavoraram. Eu não podia estar indo para o sul! Eu me abaixei, finalmente perdendo o ânimo, e comecei a chorar, deixando que o desespero tomasse conta de mim.

– O quê? N-Não chore! Não chore! Oh, pelos poderes... Virgínia! Virgínia, faça alguma coisa! – eu não sabia com quem ele estava falando, até que uma coruja apareceu voando e me trouxe um lenço. – Isso, isso, assoe... Agora me conte, o que aconteceu, minha jovem? Em que posso ajudá-la?

– Deixe-me adivinhar... Era Radagast, o Castanho! – Gandalf riu, imaginando o desespero do velho amigo naquela situação.

– Era. – Legolas riu também, e os hobbits o acompanharam. – Ele vivia mais ao sul da Floresta Verde, além dos limites do reino, e Oropher fazia pouco caso dele, julgando-o louco. Apesar disso, o mago acabou sendo de muita ajuda para minha mãe...

Aquele homenzinho estranho, que depois eu acabei descobrindo ser na verdade um mago que há muito tempo vivia na Floresta, ouviu a minha história e sentiu pena de mim.

– Mas você nunca conseguiria ir e voltar de Valfenda a tempo, a pé e com esse barrigão!

– E-Eu sei... – eu ainda soluçava, mas não conseguia mais chorar. – M-Mas eu p-precisava tentar... E-Eu não podia f-ficar só olhando enquanto Th-Thranduil... – eu escondi o rosto no lenço que a coruja havia me dado.

– Calma, calma... – ele passou a mão pelos meus cabelos, meio sem jeito.

– Vo-Você pode p-por favor só m-me mostrar para qu-que lado fica o oeste?

– Absolutamente!

– Por qu...?

– Eu não vou só te mostrar para que lado fica o oeste! Imagine, eu jamais poderia deixar uma dama como você fazer uma loucura dessas, percorrer o ermo sozinha e à pé, ainda mais grávida!

– Se você não me ajudar... – eu me esforçava para conter os soluços. Me pus de pé. – Eu irei s-sozinha. Mas vai levar mais t-tempo.

– Ah, esses jovens... Nunca escutam, nunca escutam, Virgínia. – a coruja piou do alto de uma árvore. – Eu quis dizer que você não vai sozinha, e nem a pé. Venha comigo. – ele se virou e começou a andar. – Ande, venha! – sem muita escolha, eu o segui.

Nós não andamos muito, e logo chegamos a uma clareira.

– Acho que há espaço o bastante. Tomara que sim. Encoste ali, querida. – eu obedeci, me encostando a uma árvore. E então ele assoviou bem forte, e o eco de seu assovio ecoou por milhas e milhas, ou assim pareceu.

Por alguns instantes, nada aconteceu, e eu comecei a achar que Radagast era mesmo louco. Mas de repente a floresta se encheu com um estrondo que parecia o de vários cavalos trotando juntos. E quando eu pisquei, a clareira estava cheia do que pareciam ser lebres gigantes, animais que eu nunca tinha visto em parte alguma. Radagast sumiu no meio delas. Eu fiquei sem reação diante daquilo.

– Mas quantas vezes eu tenho que repetir que não sou assento? – o mago se esforçava para sair debaixo de uma das lebres, que tinha sentado em cima dele. Ela se levantou e fez uma expressão como se pedisse desculpas. – Sempre você, não é, Trudy? – ele fez carinho nas orelhas dela. – Escutem, meninas! Vou explicar tudo.

Então ele resumiu a minha história para as lebres, fazendo mimicas estranhas. Algumas vezes, eu simplesmente não pude evitar rir, mas fiz o que pude para disfarçar. Não demorou muito e ele havia concluído.

– Então, será que vocês conseguem levá-la o mais rápido possível para Valfenda? Ela precisa muito da ajuda de vocês. – as lebres fizeram um barulho estranho e começaram a bater os pés traseiros. – Ah, eu sabia que podia contar com vocês!

De repente, surgiu do meio das árvores um veado, que puxava uma corda com a boca. Eu fiquei encantada com a inteligência daqueles animais. Eu já havia visto muitos animais inteligentes na floresta, inclusive já havia conversado com muitos deles, é claro, mas nunca daquela forma.

– Ah, obrigado! Venham, meninas, vamos nos preparar. – e ele começou a prender as lebres com aquela longa corda, arrumando-as em formação. Foi então que eu percebi que ao fim da corda havia uma espécie de trenó. Depois de prender a última corda, ele me chamou: – Por favor... – ele fez uma mesura, indicando que eu devia subir naquele trenó. Havia espaço para apenas um.

Um tanto hesitante, eu fiz o que ele falou e tentei me acomodar o melhor que pude, sentada ali. Não era muito confortável, mas ainda era melhor do que correr.

– Segure-se bem firme, ok? Se se sentir enjoada ou qualquer coisa do tipo, peça para elas pararem. Elas entendem muito bem a língua comum. – eu assenti. – Não se preocupe. Com essas lebres no comando, você vai estar em Valfenda em menos de dois dias. E não vai haver orc ou qualquer ser capaz de te pegar. Quando eles piscarem, você já estará longe.

– Eu não sei como te agradecer, Radagast.

– Não é necessário, não é necessário. Eu sei que vocês elfos são muito bondosos com todos os animais da Floresta. Raramente comem carne, graças aos poderes. Eu não poderia pedir por mais do que isso.

Eu sorri, me sentindo um pouco culpada. Eu sempre fui uma das maiores caçadoras do reino.

– Muito bem, meninas! Cumpram sua missão! Mas tomem cuidado com ela, hein? Ela está esperando um filhotinho.

As lebres murmuraram diante dessa informação, se é que lebres murmuram, e pareceram contentes.

– Vão! – Radagast gritou, e as lebres partiram.

Eu nunca vi nada mais rápido que aquelas lebres, Legolas. Não existe comparação para elas. Eu precisei fechar os olhos, porque não conseguia suportar a força do vento eu meu rosto. Meus cabelos pareciam que iam ser arrancados. Se eu não estivesse tão desesperada, correndo contra o tempo, teria pedido para as lebres irem mais devagar. Mas não havia tempo para isso. Então eu simplesmente fechei os olhos, confiei nelas e esperei pelo melhor.

Muito antes do que eu podia esperar, nós havíamos passado dos limites da Floresta Verde. E em campo aberto, as lebres pareciam ir ainda mais rapidamente. Quando o sol amanheceu, a floresta já havia desaparecido atrás de nós. Era muito mais do que eu jamais conseguiria se estivesse sozinha, a pé. Em meu íntimo, eu agradeci a Eru por aquilo.

Mais ou menos ao meio-dia, nós paramos numa colina à sombra de uma faia para que as lebres pudessem descansar e eu pudesse comer. Havia um pequeno lago ali e muita vegetação, de forma que elas também puderam beber e comer. Não nos demoramos muito, e os animais logo se mostraram dispostos a continuar. Eles foram muito gentis, esperaram que eu me acomodasse direitinho no pequeno trenó e logo se puseram a correr na mesma velocidade que antes. Antes que o sol se tivesse posto por completo, eu consegui divisar os contornos das altas torres de Valfenda.

A lua tinha acabado de surgir no céu quando finalmente as lebres pararam diante dos estupefatos guardas de Mestre Elrond. Eu desci da carruagem e me apresentei a eles, que ficaram surpresos ao me ver. Eu resumi a história para eles, que já me conheciam, e eles agiram rapidamente. Enquanto um foi providenciar, comida, água e abrigo para as lebres de Radagast, outros dois me acompanharam e me levaram à presença de Mestre Elrond.

O senhor de Valfenda me recebeu e ficou muito comovido com minha história. Ele gostava muitíssimo de Thranduil e de nosso povo, cujas baixas não haviam sido poucas. Lady Arwen caiu no choro assim que ouviu sobre o que havia acontecido.

– Eu imploro, meu senhor... Se houver algo que o senhor possa fazer pelo meu marido, por favor... – eu estava chorando novamente.

– É claro que eu ajudarei, Lady Syndel. – ele me estendeu um lenço, e seus olhos estavam cheios de bondade. – Não sei o quanto poderei fazer, pois os ferimentos do jovem Thranduil me parecem muito graves, pela sua descrição, mas farei tudo o que estiver ao meu alcance. Eu só espero que Oropher me receba e aceite minha ajuda.

– Eu tenho certeza de que ele aceitará ao vê-lo, meu senhor. Oropher é orgulhoso, mas ama muito o único filho.

– Eu espero que tenha razão, princesa. – ele sorriu, tentando me acalmar. Mas logo depois franziu as sobrancelhas: – Mas diga-me, como a senhora conseguiu chegar aqui tão rapidamente? São muitas milhas separando Valfenda de Greenwoods.

Eu ri:

– O senhor gosta de lebres?


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