A Razão do Rei escrita por Andy


Capítulo 11
Capítulo 11


Notas iniciais do capítulo

Olá, leitores amados!
Eu sei, eu sei... Demorei mais de um mês para voltar a atualizar a fanfic! Que horror! Eu peço desculpas por isso. Aconteceu muita coisa na minha vida nesse mês que passou. Vivi alguns dos melhores dias da minha vida, e também alguns dos piores do ano. Viajei, realizei um sonho ou dois, depois fiquei doente... Enfim, é uma história longa demais para contar aqui, mas o fato é que eu realmente não tive como escrever para postar aqui. Eu poderia até tentar, mas não sairia com a qualidade que vocês merecem. Por isso, eu decidi que era melhor atrasar um pouquinho, mas fazer a coisa direito. Espero que vocês possam me desculpar e que tenha valido a pena! Para compensar, decidi deixar o capítulo de hoje um pouco maior. Eu ia redividi-lo, mas achei melhor deixar assim, já que vocês ficaram tanto tempo sem novidades.
Quanto ao próximo capítulo... Infelizmente, provavelmente não conseguirei postar daqui a 15 dias. Eu vou tentar, tentar muito, mas duvido que seja possível. Estamos encerrando o ano na faculdade, então os professores estão passando toneladas de trabalho. Só para semana que vem, tenho três! Por isso, está difícil arrumar tempo para escrever. Vou ter que pedir que vocês sejam pacientes comigo, pelo menos até dia 18 de dezembro, quando eu entro de férias. Mais uma vez, peço perdão por isso!
Bom, espero que a qualidade da fanfic compense tudo isso... Eu juro, estou tentando fazer o melhor que posso para vocês!
Meu muito obrigada a todos que continuam aqui! Significa muito para mim! ♥



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– Eu queria que você tivesse visto o seu pai, Legolas! – Syndel interrompeu a narração de Thranduil, entusiasmada. – Esta floresta definitivamente é dele.

– Que quer dizer? – Legolas franziu a testa.

– Quero dizer que se um dia Oropher abdicar do trono e seu pai se tornar rei... Bom, ele vai ser o rei mais poderoso que Greenwood já viu.

– O que não seria grandes coisas. Greenwood só teve um rei até agora. – Thranduil sorria de leve, com uma modéstia evidentemente falsa.

– Ainda assim.

– Mas do que vocês estão falando, afinal? – o elfo mais jovem começou a ficar impaciente.

– Deixe-me continuar a história, sim? – Thranduil deu um tapinha de leve na cabeça da esposa, como se ela fosse um animalzinho.

– Não garanto que não vou interromper. Eu adoro essa parte.

– Eu sei... Eu te conheço... – ele suspirou, resignando-se. – Bom. Então... Naquele dia, Legolas, sua mãe e eu nos aproveitamos ao máximo do fator surpresa. As pessoas no reino ainda não sabiam que tínhamos fugido. Sua mãe foi esperta e deixou um recado para os pais, dizendo que tinha ido caçar na floresta. Quanto a mim, nunca foi incomum que eu “sumisse” pela manhã e só voltasse para casa à noite, especialmente quando eu discutia com o meu pai. Nem pense em me imitar nisso, ouviu? Como a Syndel disse muito bem, esta floresta é minha.

“Bem, como eu dizia, nós nos aproveitamos do fato de que eles ainda não nos consideravam “desaparecidos” e avançamos o máximo que pudemos durante o dia. Não paramos em nenhum momento, nem para comer, nem para descansar. É claro, no final do dia estávamos ambos exaustos, especialmente porque andar fora da trilha é muito mais difícil e cansativo.

– Chega! Eu não aguento mais. – Syndel literalmente desabou ao meu lado, caindo sobre a grama macia.

Eu olhei em volta. A julgar pelo comprimento das sombras das árvores, o sol já devia estar quase se pondo. Tínhamos ganhado quase um dia de vantagem.

– Vem... – eu me abaixei para que Syndel subisse nas minhas costas. – Eu conheço um lugar aqui perto onde podemos passar a noite. Pelas estrelas, como você pesa!

– Sorte sua eu não ter forças o suficiente para te socar. – ela murmurou, e eu ouvi a risada em sua voz.

A muito custo, porque eu também estava completamente exaurido, consegui levá-la algumas centenas de metros adiante, até...

– A árvore grande! – Syndel interrompeu de novo. – Pelas estrelas, Thranduil, você precisa me contar onde fica aquela árvore!

– Nem pensar. Segredo de Estado.

– Eu já tentei voltar lá milhares de vezes, Legolas, mas simplesmente não consigo achar!

– É, tudo o que ela consegue é se perder. Milhares de vezes. – Thranduil ganhou um tapa no braço por essa. – É verdade!

– Mas que árvore é essa? – Legolas se impacientava muito facilmente quando era mais jovem.

– Era uma árvore enorme, que ficava escondida atrás de umas samambaias gigantes. O tronco dela era completamente oco e tinha um buraco grande, que quase parecia uma porta. Dava para entrar e dormir lá dentro, e ficar completamente escondido de qualquer um que passasse. Mesmo que a pessoa estivesse procurando, era difícil que ela conseguisse te ver. – Syndel explicou. – Sem falar que aquela árvore tinha um cheiro perfeito! Eu queria tanto saber de que espécie ela é...

– Acho que ela é a única da espécie. Nunca vi outra. – Thranduil comentou.

– Então ela ainda existe?

– É evidente que sim.

– E você ainda se recusa a me levar lá de novo.

– Também é evidente que sim. – ele abriu aquele sorriso sarcástico, sabendo perfeitamente o quanto ele irritava a esposa.

– Eu te odeio.

– Eu sei. – ele beijou o alto da cabeça dela. – Bom, de volta à história... Syndel e eu passamos a noite na árvore grande. Ali perto havia um lago com vitórias-régias enormes e azuis, que eu sabia que eram comestíveis. Nós fizemos uma fogueira e assamos algumas.

– Que infelizmente tinham gosto de pergaminho velho. Mas nada é perfeito.

– Comentário muito relevante. Enfim. O sol já tinha se posto havia muito tempo quando as árvores me avisaram de que Oropher tinha mandado a guarda começar uma busca. Mas pelo visto ele não tinha ideia de qual direção tínhamos tomados, porque mandou elfos em todas as direções, tanto para o sul quanto para o norte, tanto para o oeste quanto para o leste.

– Por que as árvores te avisaram? – Legolas interrompeu.

– Esta floresta, particularmente as árvores do sul, amam o seu pai, Legolas. – Syndel explicou. – Eu não sei explicar a relação que eles têm. Eu chego a sentir ciúmes.

Thranduil apenas sorriu e puxou a esposa para mais perto de si, encostando o rosto nos cabelos dela. Ele amava o perfume de Syndel mais do que tudo. Não muito tempo depois, ele tornou a olhar para o filho, assumindo novamente aquela expressão austera que sempre usava ao falar com ele:

– No dia seguinte, nós acordamos bastante cedo e começamos logo a andar. Não tínhamos mais uma vantagem tão grande em relação à guarda, que tinha andado a noite inteira sem parar e agora descansava a umas duas horas de distância de nós.

“Tínhamos acabado de contornar as montanhas da Floresta Verde, e eu comecei a guiar Syndel mais para o leste, seguindo uma linha diagonal. Eu sabia que isso tomaria mais tempo, mas também sabia que os elfos da guarda conheciam menos aquele lado da floresta.

Permanecendo fora da trilha e tomando o cuidado de acelerar o passo quando tivemos que passar pela Estrada Principal, conseguimos permanecer a uma distância segura de nossos perseguidores, dos quais só tínhamos notícia através do que me contavam as árvores. Infelizmente, é claro, nossa boa fortuna não ia durar muito mais tempo.

Oropher sempre teve bons guardas. Eles não demoraram a perceber que aonde quer que estivéssemos indo, não estávamos seguindo nenhuma trilha. Assim, eles se dividiram em grupos menores, de dois ou três elfos e começaram a se espalhar, saindo da trilha em todas as direções. Eles também adotaram um regime de revezamento, em que enquanto alguns grupos descansavam, outros avançavam e vice-versa, de modo que eles não ficavam todos parados em nenhum momento. Syndel e eu sabíamos que ia ficar muito mais difícil fugir deles.

Eles nos alcançaram ao cair da terceira noite. Sua mãe e eu estávamos em mais um de meus esconderijos quando os ouvimos. Estávamos no subsolo, numa espécie de caverna cuja entrada é um buraco no chão. É um lugar pequeno, quente e abafado, mas impossível de encontrar à noite. Durante o dia, ele parece uma toca de algum animal. Syndel e eu estávamos deitados ali, comendo umas frutas que tínhamos recolhido pelo caminho, quando ouvimos um grupo de três guardas passarem no solo logo acima de nós, com pisadas fortes. Tudo havia mudado.

Na manhã seguinte as árvores me disseram que estávamos cercados por todos os lados, embora os guardas estivessem agora muito à nossa frente, ou muito atrás de nós. Eles estavam perdidos por estarem fora da trilha e confusos, sem fazerem a menor ideia de onde podíamos estar. Graças aos meus caminhos secretos, nos procurar era como tentar seguir a trilha do vento. Não havia sequer uma pegada para guiá-los. Mesmo assim, nos precisávamos ser cautelosos. Eles estavam literalmente por toda a parte.

Decidi mudar de estratégia e passei a conduzir sua mãe pelas minhas “trilhas aéreas”, isto é, por trilhas no alto das árvores.

– Foi horrível! Você não sabe o que é isso, Legolas! Ficar se pendurando de árvore em árvore, como se fôssemos macacos. E todo aquele musgo, me fazendo escorregar e quase cair o tempo todo!

– É, ela é um desastre completo nas árvores.

– Mas como? Nós atiramos do alto das árvores. Você me ensinou a subir em árvores, mamãe!

– Ah, mas uma coisa é subir numa árvore e ficar nela. Outra coisa bem diferente é ficar passando de uma árvore a outra. E correndo!

– Mas nós fazemos isso também, mamãe. Somos elfos da floresta.

– Mas não do jeito que o seu pai estava fazendo. Não naquela velocidade. E ele só escolhia as árvores mais cobertas de musgo e parasitas!

– Para abafar o som das nossas pisadas, é claro. – Thranduil estava achando graça da maneira como Syndel falava.

– E ia abafar o som da minha queda também? Porque você bem sabe que quase aconteceu!

Thranduil riu.

– Eu sei. Eu tive que carregá-la por boa parte do caminho, Legolas, até ela ver que isso estava nos atrasando e parar de reclamar.

– Mas ainda reclamo. Tinha que ter outro jeito! – Syndel cruzou os braços, irritada.

– Certo, certo... – Thranduil fez pouco caso, como se os dois tivessem tido aquela mesma discussão milhares de vezes, e ele tivesse desistido de convencê-la. – Enfim, o fato é que nós permanecemos na trilha das árvores por mais três dias. De vez em quando, nós víamos elfos lá embaixo. E homens, também. Estávamos passando ao lado e às vezes por cima das vilas deles. Chegamos até a pisar em um ou dois telhados, uma vez. Mas permanecíamos invisíveis nas folhagens das árvores que faziam de tudo para nos proteger.

“No segundo dia, percebemos que o número de elfos da guarda começou a aumentar. Era como se de alguma forma eles tivessem descoberto que direção nós tínhamos tomado e estivessem seguindo todos para lá. Não sei bem como isso aconteceu. Talvez os guardas que tinham ido para o norte tivessem atingido os limites da Floresta Verde e retornado, e Oropher estivesse apostando que nós tínhamos ido para o sul.

– Pai! – Syndel parou de súbito e eu a puxei no exato momento em que o guarda olhava em nossa direção, seus olhos de um azul pálido quase cinza se estreitando enquanto ele tentava ver através das folhas escuras da árvore em que estávamos. Mesmo que eu saiba que isso é impossível para um elfo, ele parecia ter envelhecido nos últimos dias.

Syndel tinha fechado os olhos, enterrando o rosto em meu peito, prendendo a respiração. Eu podia sentir o coração dela batendo forte e não demorou muito para que as primeiras lágrimas molhassem a frente da minha roupa. O pai dela finalmente desviou o olhar, balançando a cabeça como que para espantar uma ideia.

– Por ali! – ele comandou, apontando para frente. Logo ele e seus homens tinham desaparecido.

Eu ajudei sua mãe a se recostar no grosso tronco da árvore e afastei os fios de cabelo que tinham grudado em seu rosto com as lágrimas. Ela soluçou e evitou meu olhar.

– Shh... – eu sussurrei. – Você ainda quer fazer isto? – ela não respondeu. – Syndel. – eu pus a ponta dos dedos em seu queixo e tentei fazer com que ela olhasse para mim, mas ela afastou minha mão. – Eu vou entender se você quiser voltar agora. De verdade. – ela apenas balançou a cabeça, e eu me calei. Esperei uma eternidade até que ela olhasse para mim.

– Eu vou sentir a falta dele. – foi tudo o que ela conseguiu dizer, antes de começar a chorar de novo.

Eu a abracei.

– Eu te amo. – eu beijei o alto da cabeça dela, e deixei que ela chorasse em meu peito até que tivesse esgotado suas lágrimas.

– Eu nunca tinha ouvido você falar disso... – Syndel se virou nos braços do marido e estendeu a mão para tocar o rosto dele.

– Foi um dos momentos mais difíceis para mim. Eu estava a ponto de te pegar no colo e te levar de volta para casa.

– Eu também te amo. – ela continuava a acariciar o rosto dele. – Eu nunca cheguei a te dizer isso naquele dia.

– Não precisava. Suas lágrimas estavam gritando isso para mim.

Legolas assistia à conversa dos dois em silêncio. Desde criança, ele sempre gostara de observar como os olhos dos dois se enchiam de amor ao olhar um para o outro. Ele esperava algum dia amar alguém daquela forma.

Depois de uma longa conversa silenciosa que o filho não ousou interromper, Thranduil voltou à sua narração:

– Tudo aconteceu muito rápido, no fim da tarde do quarto dia.

“Eu calculava que faltava pouco para atingirmos o limite sul da floresta e já começava a me preocupar com o que faríamos quando tivéssemos que despistar os guardas de meu pai em campo aberto. Estava concentrado nisso, me movendo quase automaticamente por aquele caminho tão conhecido, quando Syndel me chamou, uns cinco metros atrás de mim.

– Thranduil, espere!

Eu parei onde estava, esperando que ela me alcançasse, quando ela de repente pisou em falso. Nós estávamos a pelo menos dez metros de altura. Ela gritou, esquecendo completamente da proximidade dos nossos inimigos. Eu saltei de onde estava e agarrei um galho ainda verde, jovem e flexível. Ele se dobrou com o meu peso e eu consegui segurar sua mãe pouco mais de dois metros antes de ela atingir o chão, freando sua queda. Infelizmente para nós, o galho que eu tinha segurado era muito fino e quebrou quando teve que suster o peso dela também. Eu só tive tempo para proteger a cabeça dela com a mão livre, antes que nós caíssemos com tudo no chão úmido e coberto de húmus.

A adrenalina corria em minhas veias, e eu me levantei de um salto, sem dar tempo a mim mesmo para sentir nenhuma dor pela queda.

– Syndel, você está bem? – eu me abaixei e passei o braço pela cintura dela para ajudá-la a se levantar.

– E-estou... Ai. Acho que estou. – ela levou a mão às costelas do lado esquerdo. Estava tremendo.

– Tem certeza?

Ela arregalou os olhos:

– CUIDADO! – rapidamente, ela me empurrou para o lado e se afastou. Uma flecha passou voando entre nós, desaparecendo entre as árvores atrás dela.

Eu desembainhei a espada e empurrei Syndel na direção contrária à que estávamos indo e de onde tinha vindo a flecha. Eu sabia que indo por ali estaríamos voltando para o interior da floresta, mas eu não ia nos levar direto para o inimigo.

– Corra! – sua mãe disparou para onde eu tinha apontado, mas eu percebi que ela cambaleava. Parecia estar sentindo dor.

Não demorou muito para que déssemos de cara com um grupo de elfos da guarda. Havia cinco deles e o capitão era um dos meus amigos. Eu estranhei que um novato estivesse ali. Meu pai devia ter colocado todos os elfos disponíveis atrás de nós.

– Thranduil! – ele exclamou. – Graças às estrelas! – ele sacou a espada e se voltou ameaçadoramente para Syndel. – Afaste-se dele, sequestradora!

– Eu pareço alguém que foi sequestrado, seu idiota? – eu me coloquei entre ele e Syndel. Enquanto isso, ouvi outro grupo de elfos da guarda chegando atrás de nós. Estávamos praticamente cercados, mas eu percebi uma brecha na barreira deles, do meu lado direito. Syndel fez um movimento quase imperceptível, e eu soube que ela também havia notado. – Agora deixe-nos passar. Isto é uma ordem.

– O quê? – ele parecia confuso.

– Eu disse “deixe-nos passar”, Suiadan. Agora!

– Infelizmente, Alteza... – ouvi a voz grave de um elfo da guarda atrás de nós e me virei para encará-lo. Eu não sabia seu nome, mas ele tinha me salvado de um grupo de orcs quando eu era criança, ganhando uma cicatriz no lado direito do rosto, a qual ele se recusava a ocultar com magia. – ...nós temos ordens do próprio Oropher para levá-lo de volta ao palácio. Agora.

– É? E se eu me recusar? – eu mantinha a espada pronta. Sua mãe estava logo atrás de mim, de costas, vigiando o outro lado.

– Eu receio que essa não seja uma opção.

– Eu sou seu superior. – movi a espada ligeiramente para o lado, fazendo um sinal para Syndel. Ela moveu o pé para trás, indicando que estava pronta.

– Não nestas circunstâncias, meu senhor. Oropher é superior a todos nós.

– É? Então você pode mandar o meu pai... Ir. Se. Ferrar. – eu praticamente soletrei a última frase.

– O quê?

– SYNDEL, AGORA! – sua mãe se abaixou enquanto eu girava a espada, fazendo com que os elfos da guarda se afastassem de nós com um salto. A brecha na barreira deles ficou ainda maior, e Syndel e eu corremos por ali. Os outros nos seguiram imediatamente após se recuperarem do choque.

Syndel sacou o arco e começou a atirar para trás, tentando fazer com que eles mantivessem distância, mas ela estava errando por uma margem grande demais para assustá-los.

– Aaah! – ela ofegou, e se deixou cair de joelhos, levando a mão às costelas. Eu voltei aonde ela estava e me pus em guarda.

– Você consegue ficar em pé de novo?

– Sim. – a voz dela era um choramingo, mas ela se pôs em pé bravamente e pôs uma flecha no arco.

– Acho que você quebrou alguma coisa, não foi?

– Eu estou bem. Posso continuar.

– Ótimo.

Os guardas nos alcançaram.

– Venha conosco, Alteza! Não há por que continuar com isso.

– Não mesmo. Deixem-nos em paz. Digam a meu pai que foi tarde demais, que nós fugimos para além dos limites da Floresta. As árvores confirmarão o que vocês disserem. Oropher nunca saberá.

– Está sugerindo que todos nós cometamos traição, senhor?

– Exatamente.

– Thranduil! – Voronwë, meu outro amigo, tomou a frente. – O que você está fazendo?

– Lutando por minha liberdade, mellon*.

– Syndel! – uma elfa bela, de cabelos prateados e olhos de um verde claro como o de folhas jovens abriu caminho entre os guardas que nos cercavam. Ela segurava uma espada, e em suas costas uma aljava estava completamente vazia, o que me fez crer que os elfos da guarda deviam ter entrado em conflito com os homens da floresta.

– Mamãe! – por um instante pareceu que Syndel ia correr para os braços dela, mas parou onde estava.

– Syndy... O que você fez, filha?

– O quê? – a voz dela me disse que ela estava a ponto de cair no choro.

– Sequestrando o príncipe? Ou fugindo com ele, que seja, segundo o que dizem os rumores? Como você pôde? – a expressão no rosto da elfa era puro nojo. – Você nos envergonha, a mim e a seu pai.

– Syndel. – eu chamei.

– M-mamãe...

Syndel. – eu chamei de novo, com mais gravidade. – Não deixe que ela te machuque.

Sem dizer uma palavra, Syndel deu as costas para a mãe e disparou na outra direção, tirando os guardas de seu caminho com um chute, pegando-os de surpresa.

– Syndel! – a mãe dela fez que ia segui-la, mas eu estendi a espada a três centímetros de sua garganta, impedindo-a.

– Você não vai a lugar nenhum. – eu falei, com bastante calma, mas ciente de que minha raiva escapava para minha voz. Eu passei os olhos pelos guardas à minha frente. – Nenhum de vocês vai segui-la.

– Posso contar essa parte? Você não estava lá para ver... – Syndel interrompeu.

– Claro, vá em frente.

– Obrigada. – Syndel pegou a mão do marido e entrelaçou os dedos aos dele. – Eu ouvi os gritos e as imprecações atrás de mim quando Thranduil sozinho começou a lutar com todos aqueles guardas, minha mãe entre eles. Eu sabia que o certo seria voltar lá e ajudá-lo, mas eu simplesmente não conseguia. Meus pés pareciam se mover sozinhos para frente, impulsionados pela dor em meu peito, que era muito mais forte que a dor nas costelas.

“Eu não conseguia pensar em mais nada, só em me manter em pé, em movimento e respirando. Tudo o que eu queria era me afastar daquilo tudo. Quem sabe assim eu acordasse no dia seguinte e descobrisse que nada daquele pesadelo tinha sido real. Mas o cansaço e a dor logo me venceram, e eu parei encostada em uma árvore para recobrar o fôlego.

Permaneci ali, parada, o arco escorregando em meus dedos suados, até que minha respiração voltou ao normal e o silêncio à minha volta se tornou completo. Eu já devia estar muito longe da batalha que acontecia lá atrás. A dor no lado esquerdo do meu corpo e a culpa e a preocupação por ter deixado Thranduil para trás me atingiram com toda a força e eu gemi baixinho.

– O que foi que eu fiz?

O som de um galho seco estalando chamou a minha atenção e eu me virei de uma vez, erguendo o arco. A pontada em minhas costelas me fez ofegar. Naïf estava à minha frente, o arco também armado e apontado para mim.

– Então eu finalmente te encontrei. – o tom de voz dela me fez lembrar da Viriya. Nunca me esqueci o refluxo que me subiu ao ouvi-la falando daquele jeito.

– Naïf. – deixei que meu nojo transbordasse em minha voz. E pensar que ela era minha segunda melhor amiga, até antes daquele incidente.

– Uma sequestradora, Syndel? É isso que você se tornou? Logo você, que sempre foi a mais moralista de todas? Tcs, tcs, tcs... – eu não conseguia responder, por mais que quisesse. As palavras simplesmente não vinham. – O que a Aurial diria se te visse agora? Que decepção seria para ela! A menininha que ela escolheu, que ela ensinou como se fosse sua irmã mais nova. A garotinha que ela escolheu para ser sua pupila...

Não ouse falar da Aurial! – eu cuspi, furiosa. Meu corpo inteiro tremia de ódio e eu retesei mais a corda do arco. Ela me imitou nisso.

– Traidora! É isso o que você é! Você se aproximou do príncipe para sequestrá-lo, não foi? Onde ele está?

Eu apenas ri. Não podia acreditar no que ela estava dizendo.

– Tudo isso por uma vingancinha estúpida! Você nunca deixou de culpá-lo, não foi?

– Naïf, você é tão tola que eu não consigo nem ficar brava com você. – eu abri para ela minha melhor imitação do sorriso sarcástico de Thranduil.

– O quê?

– Thranduil e eu somos amantes! – eu praticamente gritei para ela. Assisti à expressão no rosto dela oscilar com a surpresa, e depois seus olhos queimarem em ódio. Foi então que eu compreendi. Ela sabia. Sempre soube. Só precisava de uma confirmação. – E você... Você. Está. Morrendo. De. Inveja! – eu exclamei lentamente, deixando que minha surpresa e o divertimento que ela provocava falassem por mim.

Então Naïf atirou. Mas eu nem precisei me mover, porque uma espada veio voando e atingiu a flecha dela em pleno ar, despedaçando-a. Com a surpresa, ela abriu os braços, e eu aproveitei a chance para atirar no arco que ela segurava na mão esquerda, e felizmente o acertei em cheio, destruindo-o. A dor que o movimento me exigiu me fez soltar um “Aah” que eu não pude conter, mas eu logo recuperei a postura e armei outra flecha, apontando-a para a testa da elfa agora desarmada.

– Como assim? De onde aquela espada veio? – Legolas franzia as sobrancelhas, incrédulo.

– Fui eu quem a lançou. – Thranduil respondeu. – Eu consegui despistar os guardas lá atrás. Tive que deixar alguns desacordados, mas eu tinha a vantagem de conhecer o terreno, enquanto eles nem sequer sabiam para onde se virar para retornar ao palácio. Foi difícil escapar dos olhos deles, mas assim que eu consegui, comecei a seguir as indicações das árvores, indo atrás de sua mãe. Eu estava me aproximando quando vi Naïf fazer seu disparo, mas não ouvi nada da discussão de antes. Joguei a Fúria quase que instintivamente, nem tinha certeza de que a pessoa em quem ela tinha tentado atirar era a Syndel.

“Quando eu cheguei ao local onde elas estavam, encontrei uma Syndel trêmula com a arma apontada para sua ex-amiga.

– Syndel! – ela olhou apenas brevemente para mim, parecendo não me reconhecer, e voltou os olhos para Naïf.

– Vamos, Syndel, atire! – a outra gritou. – O que está esperando? Atire! Eu sou a única coisa que te impede de viver seu romancezinho! Anda, atire! – ela apontou para a floresta à esquerda dela. – Não há mais ninguém neste lado da floresta! Eu sei, porque eu me afastei dos outros, desobedeci às ordens do capitão e me perdi.

Syndel não disse nada, mas estreitou os olhos para ela.

– Atire! – ela riu, parecendo ter enlouquecido. – Traidora! Assassina! Vamos! Atire! – ela apontou para a própria testa. – Bem aqui! Atire! Ande, me mate! E vá viver com o homem dos seus sonhos, bem longe daqui!

– Syndel...! – eu chamei, mas ela não estava ouvindo.

– Vocês dois se merecem! Ele matou a Aurial, e você vai me matar! Não é lindo? – ela riu novamente, desta vez mais forte.

O corpo de Syndel se retesou ao ouvir o nome de Aurial, e ela puxou mais a corda.

– Syndel, não...! – eu tentei interferir, mas minha voz parecia não sair.

– E você dizia que o odiava! Falsa! Você se lembra de quando disse para nós que se pudesse, você o mataria? Dissimulada! Eu acreditei em você! – os olhos dela se encheram de lágrimas. – Para mim, ele nunca olhou...

Fez-se um silêncio constrangido, enquanto Naïf começou a soluçar, olhando para baixo, parecendo completamente infeliz. Ela murmurava alguma coisa, mas eu não consegui entender. De repente, ela ergueu a cabeça e começou a gritar novamente:

– Ele matou a Aurial!! Ele matou a sua melhor amiga, sua mestra, que você roubou de mim! E agora você quer roubá-lo de mim também! Anda! Me mate, sua infeliz! Me mate e vá viver com ele e com sua culpa bem longe daqui! Me mate! Atire! Você sabe que você quer! Me mate! Eu sou a única coisa entre você e seus sonhos, não sou? – ela fez uma pausa para respirar. Quando tornou a falar, quase parecia ter voltado ao normal, não fosse por suas palavras: – Nós éramos amigas... Mas nunca mais poderemos ser outra vez. Vamos, acabe com isso. Atire. Eu não vou tentar escapar.

Eu olhei para sua mãe. Os olhos dela estavam cheios de lágrimas e apesar de sua expressão determinada, era fácil notar que ela estava sofrendo. Mas a despeito disso eu soube que ela estava disposta a fazer aquilo. Por mim, por nós, ela estava disposta a matar. A matar aquela elfa, que tinha sido amiga dela desde quando ela era criança. Ela estava disposta a viver com aquela culpa, sabendo que jamais seria capaz de se perdoar por aquilo. Sabendo que a Aurial jamais a perdoaria também. Mas ela estava disposta a passar por tudo aquilo. Por amor a mim.

Eu jamais poderia permitir que ela fizesse uma coisa dessas.

– BASTA! – eu gritei, no tom mais autoritário de que fui capaz, para fazer com que Naïf se calasse. Ela fez isso, e deu um passo para trás, assustada. – Basta. Syndel, baixe esse arco.

Ela não se moveu.

– Syndel... Você não quer fazer isso. – ela continuou sem se mover. – Syndel, já chega. Você sabe que você não quer fazer isso. Já basta. – ela ainda não se movia, mas as lágrimas começaram a escorrer por seu rosto. Ela estava respirando mais forte. Lentamente para não assustá-la, eu me movi até me colocar entre ela e Naïf. Comecei a me aproximar dela bem devagar, sempre falando: – Eu não quero que você faça isso. Você não é uma assassina. Fazer isso partiria seu coração. O coração que você deu para mim. Eu jamais poderia permitir que ele se quebrasse assim. – eu chegava cada vez mais perto. Ela parecia ver através de mim, ainda concentrada em Naïf. – Você não é assim. Você sabe que não. Eu, Aurial, sua mãe... Nós sabemos que você não é assim. Você não quer fazer isso. – nessa hora, a ponta da flecha dela tocou a minha testa. Eu ergui a mão para segurá-la. – Você não precisa fazer isso, meu amor.

E então sua mãe desabou. Ela deixou cair o arco a seus pés e eu tive que me adiantar para segurá-la, para que ela própria não caísse também. Ela me abraçou e começou a chorar, soluços fortes sacudindo todo o seu corpo.

– Shh... Eu estou com você. Vai ficar tudo bem. – eu ouvi os elfos da guarda se aproximando, mas não tentei fazer com que sua mãe se levantasse e desisti de fugir. Eu não ia fazer com que ela passasse por aquilo de novo.


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Notas finais do capítulo

* “Mellon” significa “amigo” em élfico.