A loira tamborilava agitadamente os dedos em cima da mesa. Como queria que o sinal batesse naquele maldito momento. Alicia queria saber o porquê de seu sumiço; Vinni também. Ela não queria lidar com aquela pressão, não agora. Não hoje. Pensou enquanto mordia os lábios nervosamente. Os ponteiros marcavam cinco para as oito. Respirou fundo e se encolheu na cadeira, cerrando os punhos discretamente.

Vinicius estava igualmente ansioso. Havia algumas reações que ele precisava digerir e entender, e sabia que isso só seria possível se beijasse novamente a noiva do Chucky. O que estava o intrigando, porém era o fato da menina parecer querer o mesmo e ainda sim tentar de seu jeito, fugir dele. Ele arqueou a sobrancelha, olhando de soslaio para trás e lá estava ela, sua querida e psicopata noiva o encarando. Mas é óbvio que assim que percebeu o flagra,Manuela desviou voltando a encarar o professor. Vinni crispou os lábios, imitando-a e olhando para a frente.

Estava claro que os dois possuíam alguns pendentes a tratar e, assim que o sinal batesse ele tentaria resolve-los de uma vez.

Conforme os minutos iam passando, o desespero da Lohmann ia aumentando. Estavam perigosamente pertos do intervalo e ela sabia o que aquilo significava: um confronto. É, o maldito ia querer confrontá-la por sua fuga e fazer acusações infames, talvez até algumas insinuações. Ela realmente não estava com cabeça para aquilo.

8:05. O sinal tocou anunciando o inevitável intervalo e, como já era de se prever os alunos correram para fora da sala de aula. Alguns em grupinho, outros de capuz e praticamente tropeçando nos próprios pés. Vinicius levantou-se e esperou pacientemente pela loira, que apareceu com a morena tira-colos ele arqueou a sobrancelha e utilizando o tom mais educado possível, exclamou.

– Se incomoda se eu roubar sua amiguinha por uns minutos? – antes que a patricinha pudesse abrir a boca para dizer algo, ele puxou Manuela pelo pulso. – Onde foi que você se meteu garota?! – indagou em tom irritadiço, assim que chegaram ao corredor onde ficavam os armários. Prensou-a contra o armário preto, que obviamente pertencia a ela.

– Isso não é da sua conta, Albers. – rebateu tão furiosa quanto ele. Tentou empurrá-lo, mas ele a segurou pelo pulso. – O que pensa que está fazendo? Me solta! – bradou desejando que ele fosse menos atraente, assim ela não sentiria vontade de beijá-lo ao invés de arrebentá-lo por inteiro.

– Ah, eu não solto não. – os olhos amêndoas dele brilhavam ferozmente. – Não até você me dizer a verdade. – acrescentou.

Ela estreitou os olhos, pensando que talvez ele sofresse de um grave distúrbio mental.

– Verdade? Sobre o que? – ela sustentava uma expressão irritada no rosto. E isso só serviu para deixar Vinicius ainda mais excitado e curioso.

– Sobre o seu sumiço. – ele voltou a prensá-la contra o armário, agora colando ambos os corpos. Os rostos estavam a centímetros de distância. – Você sumiu porque gostou do beijo. – concluiu, levando uma mão até o rosto alvo e um tanto corado da garota. – Não foi?

Ela não tinha respostas para aquilo, limitou-se a desviar os olhos para qualquer direção que não fosse ele. Mas o loiro era persistente, segurou com firmeza seu queixo obrigando-a voltar encará-lo.

– Quem cala, consente. – ele sorriu triunfante.

Manuela revirou os olhos e suspirou fundo.

– E se eu tiver gostado do beijo? – indagou.

– Ah bom... – o sorriso tornou-se malicioso. A Lohmann precisou se controlar para não agarrá-lo. Aquele sorrisinho era o seu inferno particular. – Não tem problema, eu também gostei. Na verdade acho que deveríamos repetir a dose. – e aproximou-se ainda mais da garota, que prendeu a respiração.

– Hoje não, babaca. – ela sorriu de maneira diabólica e, antes que ele percebesse as suas intenções a loira chutou com vontade, seus testículos,o fazendo soltá-la de seu aperto. Ele caiu, segurando o Jr. Enquanto ela preparava-se para sair correndo.

Mas então um envelope azul caiu do armário dela, e a garota viu-se obrigada a abri-lo, curiosa.

– Mas que porra.... – Manuela arregalou os olhos, enquanto Vinicius se contorcia no chão, com lágrimas nos olhos. Tirou de dentro do envelope uma espécie de carta.

– Você vai me pagar, maldita. – praguejava o rival, com os dentes trincados. Ela o ignorou plenamente e voltou a se escorar no armário, para ler a carta.

Um rosto lindo e um sorriso encantador
E um jeitinho de falar que me pirou
Que me pirou o cabeção”

Eu não acreditava em amor à primeira vista, até encontrar você meu anjo de olhos verdes.E sim, para que você saiba, foi amor a primeira vista. Eu me apaixonei completamente e de forma irreversível por você. No momento em que te vi, soube que minha vida nunca mais seria a mesma.

Com carinho, seu admirador secreto.

As pupilas de Manuela arregalaram-se mais do que Vinicius julgava ser possível. Ela mordeu os lábios, que porcaria era aquela afinal de contas? Algum tipo de pegadinha? Enfurecida, não pensou duas vezes antes de amassar a carta e rasgar o envelope.

– Humpf. – ela suspirou fundo, passando as mãos pelos cabelos. Por mais que odiasse admitir, aquela maldita carta havia conseguido balançá-la. Mas não deixaria isso transparecer. Ainda mais na frente de um ogro detestável como Albers.

– Cartinha do namorado, Lohmann? – ele sorriu com ironia. – Ele deve ser um cara muito romântico pra você ter rasgado a carta e tal.

Ela revirou os olhos.

– Eu não tenho namorado. E... – respirou fundo. – O cara que me escreveu isso é um imbecil. Eu não sou como as outras garotas. Não me impressiono facilmente. – sorriu com sarcasmo e dera-lhe as costas, correndo na direção do refeitório. Precisava urgentemente encontrar Alicia.

Vinni, que continuava deitado no chão, franziu o cenho. Aquela garota era a mais enigmática, problemática e irritante que ele já conhecera. E no entanto, a mais gostosa e difícil. respirou fundo. Aquele seu plano de admirador secreto ainda ia acabar mal, ele podia prever isso. Mas já que começou... Iria até o fim. Precisava ver com os próprios olhos a reação da loira ao saber que era ele quem estava por trás das cartas.

Ah. Ia ser sensacional.