Stairway To Heaven escrita por Bby Queen


Capítulo 1
One shot


Notas iniciais do capítulo

Agradeço eternamente à Loquitcha por ter Betado minha fanfic mesmo depois de muitos dias. Sem a betagem dela e a opinião eu não teria postado nada. Então, obrigada. E espero que vocês aproveitem a leitura.



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Estava claro, era como se uma lâmpada estivesse diretamente no rosto do rapaz, era impossível enxergar qualquer coisa. Ele sentia o corpo machucado, cada ferida parecia se alastrar, a dor de cada pequena cicatriz se intensificara cem vezes, era como ter todos os machucados reabertos e toda a dor concentrada. A luz parecia tremeluzir a cada gemido de dor, bastava saber se a escuridão que se seguiria caso a luz fosse apagada seria boa ou ruim, mas convenhamos que nenhuma escuridão é boa quando se está agonizando em dor e imóvel.

O rapaz piscou lentamente fazendo uma força desnecessária para reabrir os olhos. A luz o incomodava tanto quanto os machucados, era como estar no inferno novamente. E talvez era isso que estava acontecendo. Pelo visto, os demônios que se encarregavam da chegada estavam criativos quando se tratava da entrada triunfal. Os olhos começaram a ficar cada vez mais pesados, era como se alguém o estivesse forçando a fechar os olhos, a dor aumentou consideravelmente se tornando insuportável, a luz parecia que o cegaria a qualquer minuto, esse definitivamente era um jeito mais divertido do que apenas ter ganchos em sua pele.

Finalmente o rapaz desistiu de lutar contra o peso nas pálpebras e cedeu ao fechar os olhos junto com um último suspiro de dor. Demorou a abrir os olhos novamente, não era possível mais sentir qualquer tipo de dor, era como se tudo estivesse mais do que cicatrizado, era como se nunca tivesse existido. Sentiu a grama em seu braço, respirou fundo antes de finalmente abrir os olhos, o cheiro de maçã se instalou nele junto com a vista de um céu azul claro com poucas nuvens, lembrava-o de algo.

Ficar ali era definitivamente melhor do que ter uma luz quase te cegando.

Escutou algumas risadas ao longe, crianças correndo, cachorros latindo, sentiu a brisa fresca roçar sua bochecha, era uma tarde agradável. Ouviu uma voz um pouco mais perto, uma voz feminina, estava dando uma bronca em alguém, falava que não era certo uma moça ficar aos beijos em público, escutou, também, risadas logo depois da fala. Sentiu-se calmo e extremamente confortável entre a grama e a brisa.

− Querido? – A voz que antes estava afastada agora parecia estar ao lado do rapaz. − Está acordado?

O rapaz piscou novamente, passou as mãos pela grama que estava ao lado do seu corpo e se apoiou nelas para sentar. Assim que seus olhos encontraram a figura da mulher que estava ao seu lado, seu cérebro instintivamente aumentou a produção de seratonina.

Mary Winchester estava parada ao seu lado com o vestido amarelo de verão.

O rapaz olhou para os lados e pôde ver John recolhendo as coisas do piquenique que haviam realizado, ele se lembrava disso. Devia ter por volta dos três anos, era uma criança, nem sabia ao certo como guardara essa lembrança, havia sido um dia perfeitamente normal. Uma ida ao parque, um piquenique, ele havia dormido na grama por um tempo, sua mãe estava feliz e seu pai não estava trabalhando, isso sim era uma boa lembrança de infância.

− Vamos, rapazinho, já vai escurecer. − Mary estendeu a mão para ele.

Dean se levantou, correu até a mulher e recusou a mão, grudando-se às pernas dela. Mary estranhou a reação, porém, apenas sorriu e relaxou as mãos nos pequenos ombros do filho. Ao se separarem, Dean sorriu abertamente para mãe e pegou sua mão, era real de mais para ser uma lembrança apenas. Ele e Mary se aproximaram de John que tinha a cesta em mãos, e assim que estavam ao lado do homem ele trocou com a esposa, entregando a cesta e tomando o filho pelos braços o erguendo e o colocando em seus ombros. John e Mary trocaram um selinho rápido e Dean sorriu ainda mais abertamente, deram-se as mãos enquanto o pequeno rapaz se segurava nos cabelos do pai e caminharam em direção à saída do parque em que estavam.

O cenário mudou. Dean não estava mais nos ombros do pai e sua mãe não estava mais ao seu lado, não estavam no parque. Mary preparava sanduíches na bancada enquanto Dean estava sentado na mesa olhando-a com atenção e extremamente quieto para ver se conseguia ouvir o que falava ao telefone. Ouviu algo sobre seu pai não poder voltar hoje, sua mãe parecia abalada, então o pequeno Dean levantou-se e caminhou até a mulher a abraçando pela cintura em seguida.

− Ficará tudo bem, mamãe.

− Sim, querido. − Mary enxugou as bochechas com as costas da mão e sorriu. − Por que você não volta a se sentar? Vou terminar os sanduíches e os levo para você.

Dean concordou e soltou a mulher, sorriu gentilmente e voltou para mesa. Sentia-se extremamente feliz por estar com sua mãe novamente, e se sentia responsável por seu pai não poder aparecer essa noite também. Era uma via de mão dupla e o garoto dirigia no meio.

Mary se aproximou com um prato e se sentou à frente do garoto empurrando delicadamente os sanduíches para o filho. Dean comeu calmamente sempre sorrindo para a mãe e limpando a boca quando ela ria baixinho para não deixar o garoto encabulado, mas Dean conhecia essa mania, terminou de comer e deu um beijo demorado na bochecha da mãe, apertou os ombros da mulher e sorriu novamente. Provavelmente sua produção de seratonina estava indo à loucura naqueles momentos. Soltou a mulher e se afastou em direção para à sala.

Ao entrar na sala pôde perceber coisas diferentes, como suas roupas e o fato da porta estar sendo aberta. Para sua sorte Mary ainda estava presente, assim como John. Eles haviam acabado de chegar com um pequeno embrulho feito de pano nos braços, Mary sorria extremamente feliz e John parecia cansado, mas também carregava um semblante feliz. Mary sentou no sofá e chamou Dean com a cabeça para que ele se aproximasse.

− Aqui, − ela disse sorrindo ainda encarando o pequeno nos braços. − Esse é seu irmão. Estenda os braços.

− Mary, Dean ainda é muito pequeno.

− Não seja tolo, Dean nunca machucaria Sam. − Mary sorriu e acomodou Sam nos pequenos braços de Dean.

Lágrimas encheram os olhos do pequeno garotinho que era Dean agora. Encarou os pequeninos olhos de Sam que estava em seus braços, o bebê tinha um sorriso encantador no rosto e as minúsculas mãos se mexiam dentro do manto.

− É seu trabalho cuidar dele. Está entendendo, Dean? − John perguntou. Dean apenas assentiu com a cabeça e fechou os olhos sentindo a mãozinha de seu irmão em sua bochecha. A essa altura lágrimas já escorriam pela pequena face do menino.

Ao abrir os olhos agora ele estava dentro do Impala, à sua frente apenas a estrada. Tomou um susto ao ouvir a voz de Sam chamar seu nome. Olhou para o espelho retrovisor, seu corpo agora tinha dezessete anos, abriu a porta e saiu do carro. Sam estava com uma caixa de fogos de artifícios na mão, ele tinha uns doze anos, era tão diferente da última lembrança, e algo em Dean o fez ficar infeliz pelo simples fato de saber que Mary não estaria mais em suas lembranças.

− Vem, vamos. − Sam falou antes de tomar a frente seguindo para dentre algumas árvores. Dean o seguiu por poucos passos até uma clareira grande. Seu irmão mais novo se ajoelhou no chão apoiando a caixa e pegando dois fogos. - Trouxe o isqueiro? − Ele perguntou olhando curioso para Dean.

Dean tirou o isqueiro do bolso do casaco.

− Cara, eu não vejo isso há anos. − Ele comentou examinando o objeto.

− Acende isso. − O irmão mais novo sorriu de canto.

Sam entregou um para Dean, o mais velho ascendeu primeiro o de Sam e depois o próprio. Se lembrava tão bem disso.

Um barulho um tanto quanto alto surgiu e logo as faíscas coloridas iluminavam o céu escuro.

− Julho de 1996. − Ele comentou em um sussurro.

− Papai nunca nos deixaria fazer isso. − Sam falou sorrindo para o irmão. − Obrigado, Dean.

O pequeno Sammy passou seus braços na cintura do irmão e o apertou, Dean suspirou profundamente e abraçou os ombros do garoto, apertou os olhos rapidamente e sorriu para o irmão quando o mesmo o soltou. Observou o mais novo ir até a caixa de fogos e acender os mesmos com o velho isqueiro, Sam se levantou depressa e correu em direção ao irmão. Observaram lado a lado a pequena queima do dia de Independência, e naquele caso particular a independência também estava no fato dos dois irmãos estarem sozinhos. Ambos os garotos sorriam abertamente, entretanto, apenas Dean possuía lágrimas nos olhos. Sam corria e comemorava abaixo das faíscas dos fogos que antes brilhavam no céu. O rapaz mais velho passou a mão nos olhos marejados e voltou a observar o irmão antes que aquela memória também acabasse.

O breve piscar de olhos de Dean fez com que as coisas mudassem, Sam não estava mais ali, nem a caixa de fogos, ou qualquer rastro daquela memória, era apenas ele e a clareira vazia. Dean passou as mãos pelos olhos evitando que chorasse mais e voltou para o Impala, pegaria a estrada como fizera anos antes. Entrou no carro e ligou os motores, não tinha ideia para onde ir, apenas dirigiu em frente.

Não estava mais no Impala, estava em um galpão abandonado, dezenas de símbolos desenhados nas paredes e no chão, Bobby estava senta à sua frente com uma cara entediada, Dean passou a mão pelo rosto, ouviram barulhos vindo do telhado, se levantaram acompanhando com os olhos as telhas que se mexiam inquietas.

− Calma, talvez seja só o vento. − Dean disse, mais para se acalmar do que qualquer outra coisa. Tentativa falha, pois assim que terminou a frase as lâmpadas estouraram e as portas do galpão foram abertas bruscamente.

Um homem adentrou o local, Dean o conhecia, se lembrava quem ele era, passou pelas armadilhas desenhadas no chão e conforme adentrava o local o resto das lâmpadas estouraram. As balas não o pararam, Dean foi até a mesa e pegou a faca de demônio que tinha ali, encarou o homem com sobretudo e nada disse, mesmo assim a resposta veio.

− Eu sou aquele que te agarrou firme e te tirou da perdição. − A voz do homem era firme mesmo que seu olhar parecesse confuso.

Dean nada respondeu novamente, apenas enfiou a faca no peitoral do homem conforme a memória, nada acontecera, o homem apenas tirou a faca ainda encarando Dean, Bobby e o rapaz trocaram olhares. Bobby ergueu a barra de ferro que tinha em mãos e atacou o homem, porém ele segurou a barra com apenas uma mão e se virou para encarar Bobby, tocou levemente com a ponta dos dedos em sua testa e Bobby agora estava desmaiado no chão.

− Nós precisamos conversar, Dean. − O homem se virou novamente para Dean. - A sós. − Dean se abaixou para checar se Bobby ainda estava respirando, olhou novamente para o homem. − Não se preocupe, seu amigo está bem. − Ele dissera. Dean não respondeu nada. − Eu sou Castiel. − Mais uma vez nenhuma resposta. − Eu sou um anjo do senhor. − Dean se levantou do chão e sorriu para o anjo, com certeza não era igual à memória original. Castiel andou até ele e tocou sua testa, dando um breve aceno antes.

Abriu os olhos lentamente, estava na sala com Jo, Ellen, Sam, Castiel e Bobby.

Sam e ele estavam sentados mais afastados, o anjo bebia doses de alguma coisa alcoólica com Ellen, Jo e Bobby na pequena mesinha no canto da sala. Parecia um clima ameno para estar antes do último dia na terra, antes da batalha contra Lúcifer. Todos estavam tranquilos, riam, Cas até parecia um humano, um bem neurótico, estavam em família depois de um tempo afinal.

Dean viu Jo indo em direção à cozinha e foi atrás dela antes dando uma boa olhada em todos que sorriam na sala. Passou pelo portal que dividia a sala e a cozinha. Estava na antiga sala de Bobby sentado no sofá entre Sam e o dono da casa, estavam assistindo um filme. Dean se lembra perfeitamente desse dia, fora um dos poucos dias tranquilos − ou um dos poucos que eles resolveram ignorar as coisas que existiam fora de casa − para se divertir no último ano que Bobby passou na terra. Tinha pipoca e Doritos na mesa, algumas cervejas e uma garrafa aberta de Scott barato, uma boa noite na família reduzida. Deu leves tapinhas no joelho de Bobby e se levantou indo em direção à cozinha para buscar mais cervejas.

E assim se seguiu, entrou em várias memórias com Sam, Kevin, Cas, até o maldito Crowley entrou em suas lembranças, sempre que o rapaz fazia menção de deixar o cômodo a memória era trocada por uma mais recente. Essa agora não era uma lembrança feliz, ou a primeira vez que vira alguém que o deixara feliz, ou um momento especial que dividira com alguém, era o momento de sua morte.

Aos cinquenta seis anos Dean finalmente fora morto por uma das monstruosidades que ele tanto caçava. Observava agora o momento em que caíra nos braços de seu irmão mais novo, a última pessoa que viu antes de dar o último suspiro. Ouvia os gritos desesperados do irmão e sentia lágrimas rolarem por suas bochechas assistindo tudo aquilo. A luz da sala tornou-se incômoda, mais forte, os olhos de Dean queriam se fechar, mas ele precisava ver aquilo até o último momento.

Finalmente fechara os olhos e agora aparecera em uma sala branca com apenas uma porta grande e metálica. Sentiu uma mão em seu ombro e se virou, seu amigo Cas estava ao seu lado ainda vestindo Jimmy Novak, o anjo deu um sorriso terno.

− Oi, Dean. − O anjo o olhou nos olhos.

− Cas, − a voz de Dean era embargada por conta do choro. − O que você está fazendo aqui?

– Depois de tudo que nós passamos, depois de tudo que eu fiz por você, depois de tudo que você fez por mim você não acharia estranho que fosse outra pessoa á abrir a porta para o céu para você?

Dean voltou o olhar para o anjo, ele não havia parado de chorar ainda, Castiel passou a mão pela bochecha de Dean tentando limpar as lágrimas do homem. Eles sorriram um para o outro e Dean puxou o anjo pelos ombros para um abraço. Quando se soltaram Castiel tinha um brilho nos olhos. Dean assentiu com a cabeça e soltou completamente o anjo deixando-o livra para abrir a porta.

Cas olhou em volta de Dean e tudo que ele carregara com ele até ali, todas as memórias que ele havia passado, todas as pessoas que Dean gostaria de rever em seu céu, girou a maçaneta cuidadosamente e abriu a porta vagarosamente.

Finalmente Dean Winchester descansaria entre pessoas que o amavam e nada, nem ninguém iria incomoda-lo. Finalmente Dean Winchester estaria em paz.


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