As Três Lágrimas do Youkai. escrita por Larizg


Capítulo 50
Capítulo 50 – Tempos de Guerra.


Notas iniciais do capítulo

Olá, mina!!! Tudo bem?! Passei parra deixar mais um lindo cap para vocês. Essa semana eu, sem nenhum grande motivo, reli algumas partes da fic e acabei me inspirando. Acho que me apaixonei por ela de novo. Notei que houve uma grande evolução na relação de Sesshoumaru e Tsukiyo até agora e senti necessidade de refletir um pouco sobre isso. Dessa forma, o capítulo de hoje é mais parado e reflexivo, praticamente um de transição, mas eu espero que gostem =)



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Com a palavra final de Sesshoumaru, todos se levantaram e começaram a sair. Sesshoumaru ansiou para que todos andassem logo. Seu braço queimava e começou a tornar-se difícil não expressar nada. Arashi foi a primeira a sair, puxando Tsubasa consigo. Shiro trocou algumas palavras com Suiryu, acenou para Sesshoumaru com a cabeça e seguiu o casal para fora. Hiryu se levantou e lançou um olhar indecifrável para Sesshoumaru antes de se retirar da sala. Aquilo não havia terminado e Sesshoumaru sabia.

Ao seu lado, Tsukiyo ameaçou se aproximar para lhe falar, mas para a sorte do Lorde, Suiryu a interceptou. O estrategista se aproximou da jovem e educadamente perguntou:

– Tsukiyo-san, imagino que esteja cansada de sua viagem, mas gostaria que me auxiliasse a compreender a estrutura do castelo e os terrenos ao redor o mais breve possível. Poderia me acompanhar para discutirmos os detalhes? Prometo não tomar-lhe muito tempo.

A princípio, a jovem pareceu surpresa com o pedido. Ela olhou meio perdida para Sesshoumaru, mas assim que seus olhos se cruzaram, uma determinação tomou seu rosto. Confiante, ela voltou-se para o youkai de vestes negras.

– Tenho uma condição para isso. – impôs.

– O que seria? – perguntou Suiryu com um leve ar curioso sobre a máscara indiferente.

A jovem sorriu travessa e respondeu.

– Que de agora em diante, me chame apenas de Tsukiyo.

Aquilo pegou Suiryu de surpresa, fazendo-o soltar uma exclamação. Apesar da dor que sentia, Sesshoumaru não pode deixar de se divertir. Não era sempre que via o estrategista esboçar qualquer emoção livremente. O Lorde se pegou imaginando como iria Suiryu reagir à maneira espontânea da jovem. Bem, eles conviviam com outros generais tão espontâneos quanto, mas Tsukiyo conseguia fazer os outros agirem assim.

Pelo menos com ele, ela conseguira...

Depois de se recompor, Suiryu acenou com a cabeça e guiou-a até a saída. Sesshoumaru observou a saída dos dois. Ele sabia que Tsukiyo estava tentando se fazer útil. Não que precisasse provar mais nada para ele, era apenas sua maneia de ser. Odeia ser um fardo... Outra onda aguda de dor percorreu seu corpo e, agora que estava sozinho, ele se permitiu emitir um gemido, encolhendo-se sobre si e agarrando o ombro. Ele sentiu a respiração ofegar e o suor escorrer pela testa.

Sesshoumaru olhou pela porta e percebeu que já estavam o final da tarde novamente. Faria um dia desde que dormira pela última vez, mas parecia uma eternidade. Tudo acontecera muito rápido: o ataque de Nisshoku, a constatação do sequestro de Zakuro, a revelação de Tsukiyo, a reunião... Ele não iria admitir, mas sabia que tudo isso o exaurira. Tudo o que queria agora, era relaxar numa banheira e descansar. Precisava se recuperar antes que alguém percebesse seu estado.

Desejando ir em direção ao quarto, Sesshoumaru se levantou com dificuldade e foi escorando-se na parede até chegar à saída. Para seu infortúnio, uma insistente figura vermelha o esperava do lado de fora do salão. Hiryu tinha os braços cruzados sob o peito e encostava-se na parede com o olhar determinado. O ruivo se virou para implicar com amigo, mas travou diante da visão de Sesshoumaru.

– Sesshoumaru, o que...?!

O Lorde o interrompeu ao tropeçar graças a sua visão turva. Hiryu rapidamente o amparou e olhou-o mais preocupado. Sesshoumaru, entes que ele pudesse fazer qualquer pergunta ou que qualquer outra pessoa pudesse vê-lo, exigiu.

– Leve-me... para meu quarto. – a voz saiu rouca, mas não perdeu o toque autoritário.

Ainda em choque, Hiryu passou um dos braços de Sesshoumaru pelos ombros e apoiou a cintura do Lorde, levando-o para o quarto. Eles atravessaram o corredor que levava à suíte de Sesshoumaru e ao chegarem, o ruivo colocou o amigo sentado no futon no meio do quarto.

– Espere um pouco, eu vou ch...

Quando Hiryu fez menção de sair, Sesshoumaru agarrou seu pulso. O Dai-youkai, apesar da careta de dor, tinha os olhos ferozes e determinados. Como eram amigos há séculos, o youkai dragão compreendeu rapidamente o desejo do Lorde e, por hora, decidiu aceitá-lo. Com um suspiro preocupado, Hiryu caminhou até a mesa de Sesshoumaru e apoiou as costas nela. Olhava para Sesshoumaru entre o preocupado e o ansioso, mas sabia que ele só falaria quando quisesse, então, cruzou os braços e esperou.

Sesshoumaru por sua vez, sentiu as dores passando aos poucos até ser capaz de se recompor. Limpando as gotículas de suor da testa com as costas da mão, ele acreditou que era hora de encarar o inevitável. Devagar, ele retirou a armadura e a parte superior do quimono, ficando apenas com as típicas calças brancas. Ouviu o amigo soltar uma exclamação de surpresa e o encarou sério.

Hiryu tinha os olhos arregalados e a boca entreaberta. Sesshoumaru não podia culpa-lo.

– O que...? – começou o ruivo sem conseguir terminar.

A mancha negra de Sesshoumaru havia se espalhado. Com pesar, o Lorde constatou que de seu ombro direito, se espalhara por todo o braço chegando até a metade do antebraço, além de cobrir todo seu peitoral esquerdo junto a algumas costelas abaixo. Ele também sabia que a mão estava completamente negra e só não parecia por casa do feitiço de camuflagem que mandara colocar.

– Tsc. Está se espalhando mais rápido do que pensei. – falou praticamente para si mesmo.

Sesshoumaru apoiou as mãos no chão atrás de si e inclinou levemente as costas. Deixou tombar a cabeça para trás e encarou o teto do quarto. Que irritante... Pensou ao refletir sobre tudo o que tinha que fazer. Isso só irá me atrasar. Ele suspirou e finalmente encarou Hiryu. Os últimos raios de sol do dia entravam pela janela e pareciam dar vida aos cabelos vermelhos do ruivo. Seus olhos, porém, estavam abatidos e preocupados.

– Sesshoumaru, o que houve? – sua voz era baixa e intensa.

O Lorde encarou o amigo com seus olhos âmbar refletindo o dourado do sol. Sem nada dizer, ele se levantou e foi até a janela para encarar o pôr-do-sol atrás das longínquas montanhas. Sesshoumaru não queria que ninguém soubesse, mas não tinha outra maneira. Ele próprio precisaria de ajuda para manter isso em segredo, além disso, se tivesse que confiar em alguém quanto a isso, estava feliz que fosse com Hiryu.

– Eu estou morrendo. – falou sem delongas.

Uma leve brisa instalou-se no local selando um silêncio pesado no quarto. Hiryu tinha os olhos arregalados e olhava para as costas do amigo, que não conseguiu encará-lo.

– Não brinque com isso. – Hiryu forçou um sorriso e sua voz parecia frágil. – Sesshoumaru, essa sua piada não tem graça. Diga logo a cura dessa sua marca preta que...

– Hiryu. – interrompeu Sesshoumaru. Sua voz porém não subiu um tom sequer, era baixa e séria.

Diante da fala definitiva do Lorde, Hiryu pareceu perder as forças. Ele se deixou escorregar até o chão e apoiou a nuca na mesa.

– Não pode ser... – seu olhar era completamente perdido.

Sesshoumaru permaneceu em silêncio, esperando o ruivo absorver a situação. Ele próprio estava tentando fazê-lo, era primeira vez que pronunciou essa sentença em voz alta, e suas palavras tinham um peso definitivo que ele relutava em aceitar. O Lorde inspirou fundo e virou-se para o amigo que permanecia sentado no chão, olhando-o desolado. Sesshoumaru caminhou calmamente até seu futon e sentou-se nele, retirando suas espadas e colocando-as no chão ao seu lado.

– Foi Nisshoku? – perguntou Hiryu, recobrando-se levemente. – Porque temos um grande problema se ele lhe fez isso...

– Não. Não foi ele. – Sesshoumaru recolocou a parte de cima do quimono, encobrindo a mancha negra. – Ganhei isso quando enfrentei Mayonaka no inferno.

– Inferno?! Você voltou para lá?! O que aconteceu? – o olhos do amigo se arregalaram um instante. – Não me diga que Tsukiyo mor...

– É uma longa história...

Então, Sesshoumaru começou a narrar todos os acontecimentos desde que deixara o shiro com a jovem. Contou da visita à mãe, da ida ao inferno, da batalha contra Nisshoku e do objetivo de Tsukiyo. Ele não se sentia confortável a revelar parte da história da garota, mas era necessário para o entendimento do motivo daquela jornada. Porém, ele deixou de mencionar alguns detalhes ligeiramente importantes, como o fato de que a Tamashi no Kakera era, até o momento, a única maneira de salvá-lo; também não revelou que Nisshoku e Akarin, a quem a jovem queria salvar, eram a mesma pessoa; e mais importante, não revelara que o motivo de fazer tudo aquilo era pelo que sentia por ela.

Sesshoumaru em momento nenhum falou de seus sentimentos, mas sabia que Hiryu era perceptivo e cedo ou tarde descobriria. Que seja mais tarde, então. Concluiu.

O youkai dragão escutou a tudo atenciosamente, interrompendo vez ou outra para perguntar. Logo a narrativa chegou ao fim e Sesshoumaru aguardou a resposta do amigo àquilo tudo. Hiryu permaneceu pensativo por alguns segundos, e por fim, concluiu:

– Então é por isso que apressou a batalha. Se a guerra se prolongar, você pode não ser mais capaz de lutar.

O youkai de cabelos prateado concordou com a cabeça.

– É uma das razões.

– Certo. – seu olhar tornou-se incerto. – Quanto tempo?

Os olhos vermelhos fogo de Hiryu pousaram na região da marca. Sesshoumaru abriu a boca para responder, quando percebeu que algo em si se aquietava com essa resposta. Mesmo assim, ele se forçou a dizê-lo.

– Não muito. – sem perceber, sua mão já estava no ombro completamente manchado de preto. – Está progredindo mais rápido do que imaginei. Piora com a liberação de yoki, então terei que guardar tudo para usar em batalha.

Já usei mais do que deveria contra Nisshoku. Pensou amargamente antes de suavizar seu interior. Ao menos valeu a pena. Ela ainda está aqui...

Hiryu franziu a testa diante da perspectiva pessimista.

– Quem pode nos fornecer a cura? Tem que haver uma.

O olhar do amigo era determinado e Sesshoumaru agradeceu internamente por isso. A que existe eu não posso usar. Retrucou consigo mesmo. A única alternativa restante seria a incerta sugestão de Satori. Ao menos era melhor do que nada.

– Há uma feiticeira no limite leste destas terras. Dizem que é famosa e não deve ser difícil encontra-la. Não sei se será útil, mas é nossa melhor chance.

– Eu mesmo irei busca-la. – afirmou com convicção, não deixando espaço para negativas.

– Eu o mandaria de qualquer jeito. – provocou Sesshoumaru sabendo o quanto o Hiryu odiava tarefas extras.

Sua resposta trouxe o usual sorriso à face do ruivo.

– Vou cobrar extras.

– Pagarei em saquê.

O rapaz se levantou usando os joelhos de apoio e olhou para Sesshoumaru com um sorriso travesso.

– Só se for da sua adega.

Sesshoumaru retribuiu o olhar de desafio.

– Não exagere. Mas pode pegar da Arashi, ela sempre acaba com meus vinhos. – se por um instante tudo pareceu voltar ao normal, foi por um breve momento. A realidade voltou a bater na porta. – Ache-a logo. Não posso esconder essa mancha se continuar se espalhado e ninguém, ninguém mais deve saber sobre ela.

– Não se preocupe, eu já sabia que pediria sigilo. Não é como se o “grande” Sesshoumaru fosse permitir que seu cabelo ridículo se tornasse preto. A única coisa que te faz parecer um youkai é essa cor de cabelo, sem ele, seria um frágil humano. Acho que não gostaria disso, não é? – brincou. – Seremos só eu, você e Tsukiyo a saber disso.

– Ela não sabe.

Hiryu que ia em direção à saída, travou de surpresa.

– Não?! Sesshoumaru, por q...?

– Ela não deve saber. – seu olhar adquiriu um brilho perigoso que não deixou alternativa ao ruivo que não aceitar. – Fui claro?

Hiryu suspirou.

– Se assim desejar... – ele deslizou a porta para sair. – Vou buscar sua feiticeira. Me espere pela manhã.

Sesshoumaru concordou com a cabeça e pôs-se de pé também. O ruivo se voltou por um instante e pareceu querer dizer algo, mas não o fez. Por fim, seu olhar preocupado deixou o de Sesshoumaru e ele avançou para a noite. Ainda de costas, ele murmurou baixo para si mesmo, mas sabendo que o Lorde escutaria.

– Não morra, Sesshoumaru.

Não pretendo. Pensou mesmo que incerto. Sesshoumaru encarou a noite que se instalara no mundo enquanto contava sua história para Hiryu. A escuridão era misteriosa e isso era atraente. Era, contudo, também o que despertava temor nos vivos. Pela primeira vez, Sesshoumaru pensou verdadeiramente no conceito de morte. Ela era como a noite, em que não se pode ver além, medonha e atrativa.

O brilho das estrelas tentava em vão ofuscar a escuridão e chamavam o olhar daquele Dai-youkai que contemplava o céu.

E você, Rin? Tornou-se uma estrela em meio a misteriosa escuridão da morte?

O Lorde não sabia quanto tempo ficara divagando até ter sua atenção chamada por uma voz esganiçada e chorosa.

– Sssessshoumaru-ssaamaaa!! O senhor, retornou!

O pequeno sapo veio correndo com seu cajado de duas cabeças e se prostrou aos pés do Lorde.

– Não sabe o quanto desejei que retornasse em segurança, meu Lorde! Eu fico feliz q...

– Jaken. – interrompeu ríspido. – Prepare-me um banho, imediatamente.

– Certamente, meu Lorde. – ele fez outra reverência antes de sair.

O pequeno servo partiu e Sesshoumaru se viu sozinho novamente. Ele lançou um olhar indecifrável para o brilho da noite e recolheu-se em seu quarto, abraçado pela escuridão.

__________________________XXXXX____________________________

Tsukiyo saiu do salão, seguida por Suiryu, mas logo foi ela a guiada pelo estrategista até uma sala abarrotada de pergaminhos. A jovem soltou um leve assobio ao ver a quantidade de papeis espalhados pela mesa e prateleiras. Fora isso, a sala possuía três cadeiras e uma mesinha lateral, também completamente encoberta.

– Está tendo bastante trabalho, Suiryu-san... – pensou em voz alta.

– Tempos de guerra são assim. – respondeu indiferente, enquanto vasculhava uma das pilhas.

– Hmm. – exclamou pensativa.

O youkai de vestes negras retirava pergaminho após pergaminho, até puxar um com a borda verde. O estrategista empurrou os pergaminhos da mesa com as costas do braço e desenrolou aquele que segurava. Tsukiyo se aproximou e viu do que se tratava. Era um mapa da região onde o castelo de Kouhen se encontrava. Ele era pouco detalhado e deveria servir principalmente para apontar distâncias ou localizações.

Suiryu apanhou uma pena longa e sentou-se na cadeira atrás da mesa. Em seguida, ele dirigiu seu calculista olhar para Tsukiyo.

– Como pode ver, esse é o mapa do local onde o castelo de Nisshoku se encontra. O que eu preciso é que me diga detalhes da região para que eu monte o melhor plano de invasão possível.

Ela concordou e se aproximou.

– O que exatamente deseja saber?

– Primeiro, a região ao redor do castelo.

Ela desceu o dedo até a uma parte do mapa e iniciou sua explicação o mais detalhadamente possível. Contou que o castelo permanecia no limite entre um bosque, local pelo qual se infiltrou da última vez e um campo aberto cortado por um rio. A jovem falou também de todos os cômodos, saídas e entradas do castelo. Não eram muitas, devido ao tempo que lá passara, mas o estrategista pareceu satisfeito. Ele fazia anotações a todo o momento na lateral em branco do pergaminho e Tsukiyo percebia pelo brilho em seu olhar que milhares de ideias cruzavam aquela mente numa velocidade espantosa.

Quando finalmente acabaram, Tsukiyo se recostou na cadeira e inspirou profundamente. Estava cansada daquilo, mas ao mesmo tempo feliz por sentir-se útil. Já era noite e o cômodo era inundado apenas pela luz de velas e lamparinas das paredes.

Suiryu então enrolou novamente o pergaminho e deixou-se cair na cadeira. Ele franziu a testa enquanto massageava as têmporas com seus longos e pálidos dedos, os olhos mantinham-se fechados e eram contornados por profundas olheiras. Ele está cansado. Pensou Tsukiyo com ternura ao ver que Suiryu estava se sobrecarregando com todo aquele trabalho. Estava desempenhando não só sua própria função, como fora obrigado a de Sesshoumaru também.

Está tendo bastante trabalho, Suiryu-san...

Percebendo o olhar da garota sobre si, Suiryu parou um instante e com sua expressão indiferente agradeceu.

– Obrigada pelas informações. São essenciais. – num gesto gracioso, ele apontou indicou à saída para ela. – Está livre para descansar.

– Fico feliz em ser útil. – falou ao se levantar e um sorriso carregado de preocupação tomou-lhe a face. – Você deveria descansar também.

Se ele estava surpreso com a sugestão da garota, não pareceu notar. A face era a mesma máscara de sempre, mas o olhar cansado o entregava. Sem mais nada a dizer, ela levantou e se dirigiu a porta, olhou uma última vez para a sala abarrotada de pergaminhos.

Tempos de guerra são assim.

– Suiryu-san. – falou ela, atraindo a atenção do youkai que já se debruçava em outros documentos. – Eu... espero que essa sala nunca mais seja encoberta por tantos pergaminhos assim de novo.

Isso significaria tempos de paz. Um sorriso sonhador tomou a jovem.

Sem esperar pela reação do estrategista, ela se virou e avançou pelos corredores até se dar conta de que não sabia exatamente onde estava indo. Só havia estado no shiro uma vez e nunca o explorou completamente. Lembrava-se de fazer um tour com Jaken, mas a verdade era que ficara tão distraído com o local em si que nem prestara atenção no pequeno sapo. Fez menção de ir até o quarto de Sesshoumaru, que sabia onde era apenas porque era bem no centro do shiro, com portas com detalhes em dourado, mas a verdade era que estava cansada e confusa.

Não falaria nada, mas seu corpo ainda sentia o peso de carregar a Tamashi no Kakera. Ela só queria dormir até recuperar suas forças. Além disso, não sabia como encarar Sesshoumaru depois do que lhe falara.

Vou lutar pelo que eu quero.

As palavras dele não paravam de ecoar na sua mente e o local que seus lábios tocaram-na, parecia ainda estar quente. Ela não podia negar que não sentia o mesmo, mas estava verdadeiramente dividida. Por mais que tentasse pensar que estava salvando Akarin por pura honra e para manter seu juramento, sabia que seu coração ainda o desejava. Ela ainda o sentia palpitar apenas com seu nome ou com imagens dos anos passados. Contudo, não podia negar também que seu coração não amasse Sesshoumaru. Como aquele youkai arrogante, frio e presunçoso conseguiu conquista-la ainda era um mistério. Um sorriso escapou dela. Talvez porque ele não seja bem assim...

Era incrível o quanto haviam mudado desde que se conheceram. Antes, brigavam por quase tudo, mas não era nada de significativo. Eram brigas criadas apenas para provocar o outro enquanto continuavam com o jogo em busca de informações. Mas depois, trocaram tanto sobre o passado de cada um que passaram a se entender melhor. As brigas infantis cessaram e deram espaço para momentos mais dramáticos. Tsukiyo até que sentia falta das brigas sem sentido, porque agora, quando brigavam, era algo que realmente machucava. Não tinha como ser de outro jeito, eles passaram tanta coisa juntos.

Parece que aquela época de jogos infantis foi há milênios, mas não deve passar de dois meses que nos vimos a primeira vez...

Quando se deu conta, Tsukiyo se viu em frente ao jardim privado de Sesshoumaru, o mesmo local que interagiu verdadeiramente com os generais da última vez. Um sentimento saudosista tomou conta dela. Os momentos que passara ali a lembravam dos que teve anos atrás com os amigos. Era feliz aqui, como outrora fora feliz ao lado dos amigos.

Ela olhou para a cerejeira que começara a perder as flores e se perguntou desde quando começou a considerar aquele lugar um lar. Seus olhos, involuntariamente, subiram para o céu iluminado por diversos pontos brilhante.

Esse sentimento, de estar de volta ao lar... É meu ou é seu,... Rin?

Seus devaneios foram cortados por uma pequena criatura.

– L...er Tsukiyo. – o esforço para soar descontraído do pequeno, arrancou um sorriso dela. Ele pigarreou e se aproximou. – Seu banho já foi preparado, conforme as ordens do Lorde Sesshoumaru.

– Sesshoumaru?

– Sim. Após preparar-lhe o banho, meu Lorde ordenou-me para preparar o seu.

– Obrigada, Jaken. – ela olhou uma última vez para o alto e começou a se aproximar do pequeno sapo que a aguardava no corredor. – Para dizer a verdade estou meio perdida por aqui ainda.

Quando finalmente se recompôs, ele desaprovou-a com uma carranca.

– Francamente, não prestou atenção em nada da última vez? Prece que perdi meu tempo precioso a guiando pelo shiro para nada aprender.

– Perdão, Jaken. – ela riu.

Ele suspirou e começou a guia-la de volta ao seu quarto. Chegando, ela entrou e encontrou o local arrumado, com um futon recém-lavado e vapor saído da porta lateral, que dava no cômodo com a banheira. O cheiro de sais de banho preenchia o ar e Tsukiyo respirou fundo para sentir a fragrância doce. Só conseguia pensar em quanto se entrar suja e o quanto queria entrar naquela água morna e relaxar.

Ela se virou para o pequeno youkai que fazia uma reverência na porta.

– Muito obrigada, Jaken.

Ele pareceu levemente embaraçado com o elogio e desviou o olhar. O pequeno sapo começou a fechar a porta dos aposentos dela, quando parou um instante e sem encará-la disse:

– Fico feliz que tenha voltado a salvo.

Antes que ela tivesse tempo para responder, ele fechou a porta, e pelo barulho dos passos, havia se afastado rapidamente.

– Ele é fofo quando quer. – Tsukiyo se pegou com um sorriso no rosto.

Em seguida, ela despiu as roupas, já danificados em vários lugares. Olhando para a sujeira e os pequenos buracos nela, Tsukiyo suspirou. Vou perguntar se ainda tem as roupas de miko de Kagome que deixei aqui. Bom... amanhã farei isso.

Exausta, tanto fisicamente quanto mentalmente, Tsukiyo relaxou na banheira coberta de espumas. Ela obrigou-se a afastar qualquer pensamento para que sua mente relaxasse.

É, também vou deixar isso para amanhã...

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Já haviam se passado algumas horas desde que Hiryu deixara o shiro. O youkai voava pela noite, sustentando por longas asas vermelhas de dragão, que sempre evocava quando estava com pressa. Uma parte de sua mente concentrava-se apenas em achar a feiticeira, enquanto a outra não conseguia tirar a última conversa com o amigo da cabeça.

Nunca imaginara ver Sesshoumaru naquele estado. Hiryu sempre temera pelo coração de Sesshoumaru, que julgava sua maior e única fraqueza, mas nunca imaginou que o youkai sucumbiria por algo físico como aquilo. Sempre indiferente e orgulhoso, o Lorde parecia quase intocável em batalha, com uma força que amedrontava exércitos e às vezes, até ao próprio Hiryu.

E justamente agora... Pensou triste ao se lembrar do brilho nos olhos do amigo a encarar a jovem que misteriosamente caíra em seu mundo. O ruivo era muito perceptível e logo percebeu a postura e as trocas de olhares entre Sesshoumaru e Tsukiyo. Algo havia mudado entre eles, pois, ao mesmo tempo em que pareciam mais próximos, Hiryu notou haver um abismo entre eles. Quando soube da condição de Sesshoumaru, concluiu que era isso que se tratava. Ao não contar aquilo a ela, Sesshoumaru criara uma distância entre eles. Mas também havia a questão do salvamento daquele tal de Akarin.

Não era difícil concluir que a jovem amava esse homem, afinal, estava disposta a ir ao inferno por ele. E Sesshoumaru, por ela. Mas Tsukiyo não enganava o ruivo, ele sabia exatamente o que significava o brilho nos olhos amarelos toda vez que olhava para Sesshoumaru. Ela estava dividida e ele sabia disso.

Talvez mais tarde falaria com ela, mas não tinha tanta certeza se deveria. Se até mesmo Sesshoumaru a ajudara a salvar esse outro homem, o que ele poderia fazer? Até mesmo o orgulho e egoísta, Sesshoumaru, estava desistindo dela para que seja feliz com outro. Mas por quê? Seria porque o amigo pensava que seus dias realmente estavam contados?

Sesshoumaru, vou querer uma resposta depois? E de Tsukiyo também...

Não iria força-la a nada, mas também não queria vero amigo com o coração partido de novo. Bem, com isso ele se preocupava depois, primeiro tinha que arrumar uma forma de manter Sesshoumaru vivo.

Finalmente via o amigo feliz de novo e não deixaria que morresse.

Sem se importar com a hora, Hiryu foi invadindo os vilarejos pelo caminho e fazia questionamentos sobre o paradeiro da feiticeira. Nem sempre usou de métodos pacíficos, mas naquela altura, ele não se importava de aterrorizar alguns aldeões para salvar Sesshoumaru.

Depois da quarta vila, ele recebeu a informação de que a tal feiticeira vivia um pouco ao leste, próxima da fronteira, não muito longe dali. Bastaram mais algumas horas de voo para achar uma cabana simples no meio da floresta. Do local emanava uma energia diferente e ele não teve dúvidas. Desceu ao solo e irrompeu pela porta.

Um brilho surgiu do interior da cabana e disparou em direção à Hiryu. O youkai foi rápido e sacou a espada, defendendo o golpe. A força o fez recuar alguns passos, mas o ruivo tinha os olhos brilhando de seriedade e aa cada momento que demorava mais a completar essa missão, mais irritado ficava. Mesmo o poderoso golpe que tentara o atingir, não o abalou.

– C-como você...? – uma mulher se levantou da cama em meio ao cômodo escuro. – Quem é você?! O que quer aqui?!

Ele notou quando ela tentava alcançar uma espécie de cajado na parede e avançou rapidamente segurando seu pulso. Sentiu-a paralisar de medo e, devido a situação desesperadora que estava, não se importou.

– Sou Hiryu, líder do clã dos dragões e general do Lorde dessas terras. E você, minha cara – olhou fundos nos olhos verdes assustados da mulher. – vem comigo.

Ele a viu engolir um seco e concordar levemente com a cabeça, sem opções. Hiryu afrouxou o aperto com que a prendia e informou-lhe que as habilidades dela eram requisitadas. Olhando-a pegar diversos frascos e colocá-los numa bolsa com pressa, Hiryu se arrependeu um pouco por ser muito duro. Eu me desculpo pelo caminho. Suspirou.

Ele sabia que só estava agindo assim porque o desespero bateu a porta. Inspirou fundo e procurou se acalmar. Nada bom acontecia quando estava com a mente afoita. Quando se deu por si, a mulher o esperava com a mochila carregada, abraçando o cajado de formar receosa.

Ele indicou que saísse, e assim ela o fez.

Aguarde-me, Sesshoumaru. Já estou voltando...


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