As Três Lágrimas do Youkai. escrita por Larizg


Capítulo 33
Capítulo 33 – Descontrole. (Atualizado)


Notas iniciais do capítulo

Olá, mina! Como prometido esse fim de semana temos 2 capítulos xD Até agora estou muito satisfeita com a respostas das leitoras com nosso combinado. Obrigada a todas que já comentaram até agora: Michi Swan, Laura, Aly, Sharon Apple e Nessa Tasartir! Muito obrigada gente! Vou deixar o novo capítulo com vocês e espero ver novamente seus lindo comentários xD Ah, e para aquelas que ainda não comentarão no outro, não pode ser só nesse, hein? Tem que ser nos dois kkkk ;)
Ficou meio grandinho, mas no fim mostra a mesma coisa de dois pontos de vista diferentes. Espero que gostem! xD (não cheguei a revisar, se virem um erro me avisem que conserto)
Deixo aqui duas músicas para o capítulo que sei lá, retratam bem o que houve: (a segunda eu recomendo para a parte do ponto de vista de Tsukiyo)
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A jovem o olhou e rapidamente compreendeu o motivo. Seu olhar se encheu de determinação. No instante seguinte, ela jogou as cobertas para o lado e começou a se levantar, recusando qualquer ajuda que Sesshoumaru quisesse oferecer. O youkai teve que reconhecer sua atitude.

            Os dois saíram, dando de cara com Inuyasha, a miko e os irmãos a encará-los.

            – Não pensavam em sair sem se despedir, não é? – brincou Zakuro.

            – Aqui. – Kagome entregou à jovem uma bolsa simples. – Aqui estão uma muda de roupas, alguns alimentos, bandagens e sua espada. Tentei salvar suas roupas antigas, mas elas estavam bem destruídas.

            A jovem abriu a bolsa e encarou os fragmentos de sua katana. Em seguida, olhou para a miko e sorriu.

            – Obrigada, Kagome-san. – fez uma leve mesura à todos. – Obrigada por tudo.

            – Não precisa agradecer. – falou meio ríspido Inuyasha, aparentando estar bem incomodado com a ação da jovem. – Uma dica: nunca mais ajude esse idiota aí. Estar perto dele é o mesmo que chamar por encrencas e...

            – Osuwari. – com um baque, Inuyasha foi ao chão. A miko sorria para eles. – Não precisa agradecer, Tsukiyo. Apenas volte para nos visitar, está bem?

            – Hum! – concordou a jovem.

            – E você também, tio Sesshoumaru. – Zakuro enfatizou apenas para irritar mais o youkai.

            Sesshoumaru lançou um olhar mortal a ela, que respondeu na mesma moeda. Ignorando o olhar dele, Zakuro se adiantou e abraçou a jovem. Em primeiro momento ela ficou travada de surpresa, mas logo correspondeu ao gesto.

            – Até mais, Tsuki-neechan! – falou a pequena com certo pesar.

            – Vamos nos ver de novo, Zakuro. Eu prometo. – falou ela.

Sesshoumaru viu que a jovem queria acreditar naquilo, mas algo em seu olhar temia nunca conseguir cumprir aquela promessa.

            – Tenham uma boa jornada. – desejou Sora, educado como sempre.

O rapaz esticou a mão para cumprimentar a jovem, mas ela simplesmente o abraçou como fez com Zakuro antes. Sesshoumaru percebeu Sora corar, mas corresponder ao gesto, aliviado. Em seguida, Sesshoumaru pôs a mão na cabeça de Sora, o único parente que chegava a ser suportável, e pôs-se a caminhar para longe.

Logo ele percebeu sua companheira de viagem em seu encalço.

— Tomem cuidado! – gritou a miko. – E não exagere, Tsukiyo! Ainda está se recuperando!

— Pode deixar! – respondeu a jovem acenando em despedida.

O Dai-youkai se permitiu uma última olhada para eles. Sora tinha os olhos brilhando pelo gesto anterior. Zakuro sorria e acenava, enquanto a miko sorria preocupada e segurava o braço do marido. Viu nos olhos de Inuyasha seriedade e preocupação, como se dissessem: “melhor cumprir com o que falou”. Sesshoumaru sustentou seu olhar um instante e logo desviou, atentando-se para o caminho a seguir.

            Os dois caminharam em silêncio, mas não era aquela quietude tensa que tinham no início da viagem, era um silêncio pacífico. Pássaros cantavam e um leve vento soprava, até o youkai teve que acolher com prazer aquele momento de tranquilidade.

            Quando o sol se aproximava a sua posição do meio-dia, Sesshoumaru optou por uma parada. Era visível que a jovem fazia grande esforço para continuar. Estava arfando e ligeiramente encolhida, e mesmo assim não soltara uma reclamação.

            – Vamos parar um momento. – ordenou ele.

            Ela pareceu querer contrariar, mas tinha consciência de sua própria condição. A jovem aceitou de bom grado e sentou-se com um leve gemido na sombra de uma árvore. Sesshoumaru logo se juntou a ela, analisando-a minuciosamente procurando sinais de maiores complicações em suas feridas. Quando nada encontrou, conseguiu relaxar e aceitou uma maçã oferecida pela jovem.

            – Hmm. Essas frutas que Kagome nos deu estão realmente deliciosas. – falou ela enquanto tascava uma mordida em sua própria maçã.

            Sesshoumaru não tinha fome, mas comeu a fruta mesmo assim, apenas para acompanhá-la. O youkai fechou os olhos e pareceu relaxar apesar de se manter atento a qualquer coisa. Em tempos de guerra, mesmo em seu próprio território, cuidado nunca era demais. Abriu os olhos, sobressaltado, quando sentiu um toque no ombro. A jovem havia encostado a cabeça no youkai e acabou cochilando.

Sesshoumaru não a afastou.

            Tinha a respiração devagar e longa. Estava cansada. O youkai não poderia culpa-la, dois dias antes ela quase morreu e mesmo que se curasse rápido, não chegava perto da cura de um youkai. Permitiu que dormisse até o sol indicar o meio da tarde se aproximando. Levemente, Sesshoumaru a sacudiu no ombro e ela despertou.

            Imediatamente, suas bochechas coraram e ela se afastou num pulo. Sesshoumaru achou graça de sua reação.

            – D-desculpe! E-eu não tive a intenção d-de... – se Sesshoumaru não fosse quem fosse, teria sorriso do modo atrapalhado e envergonhado dela.

Mas Sesshoumaru era Sesshoumaru, então a expressão não se modificou.

            – Está na hora de irmos.

            – C-certo! – concordou ela se levantando.

            O youkai cão se levantou e continuou sua caminhada. Sentiu que ela mantinha ligeira distância dele, ainda desconcertada pelo que ocorreu antes. O youkai não compreendia como aquele gesto a deixara assim quando já havia feito muito pior. Já me desafiou numa luta de espadas, mas não aguenta isso? Claramente tem as ideias do que é mais grave às avessas. Estavam saindo da floresta e começando a percorrer um campo aberto, coberto de grama, não muito longe de uma vila humana. O youkai preferiu contornar o campo próximo às árvores para não ser obrigado a passar pela vila.

            — Sesshoumaru, posso fazer uma pergunta? – começou ela.

            – Já não acabou de fazer? – retrucou ele, tirando uma rápida expressão de raiva dela.

Tal descontração, similar às brigas normais que sempre tinham, a fez se aproximar novamente, sem perceber. Sesshoumaru ficou feliz com o resultado. Assim como às vezes acontecia com ele, utilizar o pavio curto dela para trazê-la de volta à realidade era uma arma a ser explorada.

— Engraçadinho... – zombou. – Quanto tempo até chegarmos?

— Pouco mais de um dia. Se continuarmos nesse ritmo e pararmos a noite, chegaremos lá de manhã.

— Entendo...

Sesshoumaru conseguiu perceber um tom de decepção e tristeza em sua voz. Olhou-a de relance e perguntou curioso:

— O que vai fazer depois?

A jovem pareceu considerar a pergunta um instante, suspirou e voltou-se para frente, não conseguindo encarar o youkai.

— Continuarei meu caminho. Apesar de tudo, ainda não perdi as esperanças... não tenho direito de perdê-las, na verdade. – fez uma pequena pausa. – Voltarei ao meu objetivo inicial.

Sesshoumaru sentiu certo desconforto ao ver a determinação que a jovem tinha em buscar uma salvação para esse cara. O youkai até compreendia, mas diante desse estranho sentimento que o deixava inquieto, Sesshoumaru preferia não sentir simpatia por esse tal de Akarin.

Entretanto, nunca se reusaria a ajudar a jovem se isso significasse deixá-la feliz.

— Fala do lugar que disse que estava procurando? – perguntou ele lembrando-se do que a jovem já havia dito.

— É... isso. – disse surpresa. – Agora que já sabe tudo, posso dize o que é. Existe uma lenda sobre a existência de uma espécie de pedra das almas. Tamashi no Kakera é como a chamam. Dizem que possui poderes que purificam a alma e foi dela que Midoriko tirou a ideia para criar a Shikon no Tama. Dizem que ao contrário dessa cópia, a original não pode ser contaminada, então acredito que é única forma de curar a alma de Akarin.

Sesshoumaru ouvia tudo com atenção. De fato, conhecia a Shikon no Tama, graças a sua batalha contra Naraku, e pôde presenciar o poder da joia que manteve o garoto humano, Kohaku, acordado no próprio inferno. Imaginar que aquela era apenas uma cópia chegava a ser surpreendente.

 – Tudo não passa de uma lenda. – continuou meio desanimada. – Mas acho que não perdi toda a esperança, afinal, Shikon no Tama era apenas uma lenda até Naraku a encontrar, não é?

Ela deu um sorriso fraco. Sesshoumaru se perguntou se ela realmente existia e, se existisse, como poderia encontrá-la. Se fosse real, quem poderia dizer onde fica? Absorto em seus próprios pensamentos, Sesshoumaru levou alguns segundos para perceber que a jovem havia parado de caminhar. Estava apoiada em uma árvore, a face contorcida em agonia.

— S-sesshou...maru. – falou com dificuldades, indicando a vila com o olhar.

Estavam agora passando a alguns metros da vila, ainda buscando contorná-la pela parte de cima da colina. Direcionando um olhar rápido para o lugar, Sesshoumaru percebeu que havia um grupo de ladrões atacando a vila pelo outro lado. Quando um cheio férrico o atingiu, o Dai-youkai descobriu, tarde demais, do que se tratava.

Era o cheiro de sangue que vinha das vítimas da vila.

Imediatamente Sesshoumaru estendeu o braço para a jovem, mas num lampejo, garras cortaram seu antebraço. O youkai travou, completamente perplexo. O ferimento não era sério, já começava a se curar, mas o que o parou foi a visão da própria jovem.

Já não era mais a pessoa que conhecia.

Suas feições haviam mudado. Os olhos tornaram-se vermelhos, as presas e garras estavam em evidencia e apenas sons guturais saiam de sua boca. A energia que emanava chegava a ser superior da que apresentou em sua luta contra Koba e definitivamente mais assassina. Olhando para aquela... Fera, Sesshoumaru viu-se olhando para a fúria em pessoa, tamanha sede de sangue.

Fez menção de se aproximar novamente, mas outro golpe o fez recuar antes pudesse acertá-lo. O youkai entrou em guarda esperando o próximo movimento da criatura, mas ela disparou em direção da vila. Droga! Sesshoumaru avançou atrás dela e surpreendeu-se com a velocidade com que ela corria. Agilidade sempre foi o forte dela, mas sua velocidade, agora, se equivalia a vários Dai-youkais que Sesshoumaru conhecia.

Se a distância fosse maior ele a teria alcançado, mas ela entrou na vila que já se tornava um campo de batalha entre os saqueadores e os moradores. Desnorteado, Sesshoumaru observou a jovem possuída atacar a todos que cruzavam seu caminho, fossem os moradores, fossem os bandidos. Ele avançava na tentativa de alcançá-la, mas as pessoas que corriam de um lado para outro, somados à velocidade com que ela corria dificultavam sua situação. Não podia usar Bakusaiga, pois não queria machucá-la. Precisava se aproximar pessoalmente.

Em algum ponto a multidão se esquecera do próprio combate para se dispersar e tentar fugir da jovem. o Dai-youkai a viu entrar numa rua paralela, um beco. Chegando em frente à entrada, Sesshoumaru só teve tempo de ver uma mão ensanguentada descendo e acertando um mulher humana, matando-a num só golpe.

Um grito agudo ecoou em meio ao caos!

Uma garotinha se espremendo no canto do beco berrou por sua mãe, que caiu com um baque no chão, imóvel. A jovem avançou para a criança, apreciando a presa indefesa gritar, com um sorriso psicótico estampado no rosto. Ela avançou, mas Sesshoumaru foi mais rápido interceptando o golpe. O youkai não o fez pela menina, pouco se importava com a vida da humana. Ele o fez pela jovem que nunca se perdoaria se assassinasse uma criança. A Fera parecia irrefreável, Sesshoumaru segurava seu pulso e não conseguiu se defender de um ataque no ombro.

Percebendo que precisaria de mais poder para pará-la, Sesshoumaru liberou seu yoki e investiu contra ela, pressionando-a na parede contrária. O antebraço a segurava junto à parede e a mão livre agarrava os pulsos dela acima da cabeça, junto ao muro. Ela se contorcia tentando sair, mas Sesshoumaru a segurava firmemente.

Apesar da situação, estava impressionado com a quantidade de força que tinha que usar para segurá-la.

— Pare com isso! Droga! – gritou ele. – Acorde logo, essa não é você!

Nenhum efeito. Ela se debatia e tentava acertar Sesshoumaru.

— Pare com isso, Tsukiyo! TSUKIYO!

De repente, ela parou, como que respondendo ao chamado de seu nome. Era a segunda vez que Sesshoumaru a chamava pelo nome. Da outra vez, ela estava inconsciente em seus braços à beira da morte. O youkai gostou de pronunciá-lo, da sensação do som nos lábios.

Afastou tais pensamentos. Precisava se concentrar na situação. Ela parecia travada, atordoada. A face perdera a fúria para tornar-se vazia.

— Tsukiyo, acorde. – falou baixo, quase numa súplica.

O corpo dela amoleceu e se Sesshoumaru não a estivesse segurando teria desabado no chão. Com receio, ele a colocou sentada e soltou devagar.

Lentamente ela abriu os olhos e o encarou, ainda meio aturdida.

— Sesshoumaru... Você disse meu nome! Você...

O sorriso que começou a se formar em sua face se extinguiu. Ela olhou atentamente para Sesshoumaru. O olhar percorreu pelo corpo do youkai, parando onde a roupa se encontrava rasgada e avermelhada. Com a expressão vazia, ela olhou para as próprias mãos tingidas de carmim. O youkai percebeu que ela tremia levemente, o olhar perdera qualquer brilho. A atenção dos dois foi atraída pelo choro da criança humana que estava congelada no mesmo lugar.

Antes que pudesse impedi-la, Sesshoumaru viu Tsukiyo caminhar perdida em direção à criança. Ela estendeu a mão para acalmar a pequena. A criança deu um tapa instintivo em sua mão e gritou, correndo dali até se perder pela vila.

Tsukiyo estava travada ainda com a mão estendida. A jovem caiu de joelhos e olhou em choque para a mulher morta ao seu lado e em seguida para as próprias mãos que agora tremiam convulsivamente. Repentinamente, ela abraçou a si própria e dos lábios escapou um grito que feriu a tarde que se encerrava.

Gritou até perder o fôlego.

Sesshoumaru sentiu algo quebrar dentro de si ao ver o desespero dela. Diante de tal cena, ele sabia que nada poderia fazer. Não havia como consolar ninguém de algo assim.

Ao menos, não naquele momento.

Quando o grito sessou, Sesshoumaru se aproximou. Tsukiyo não chorava, tinha a face inerte, perdida, seus olhos pareciam opacos. Os braços pendiam soltos ao lado do corpo e parte dos cabelos escondia a face. O youkai sentiu algo doer ao ver tal expressão na jovem. Desejou profundamente fazer algo, mas não tinha ideia de como fazê-lo.

O youkai a pegou por um dos pulsos e falou:

— Tsukiyo, vamos sair daqui. – sua voz continha tamanha suavidade que surpreendeu o próprio youkai.

A jovem não pareceu notar, continuava com a mesma expressão vazia. Ela se levantou e permitiu-se ser guiada para longe por Sesshoumaru. Caminharam pelas ruas da vila para logo sair dela. Estava tudo silencioso. Corpos se amontoavam no chão e o cheiro pútrido de morte invadia o nariz.

Sesshoumaru já estava acostumado com cenas do tipo, afinal, era a mesma cena de guerra que vira diversas vezes. Já viu a mesma cena com aliados e com inimigos, mas de alguma forma aquela cena em especial mexeu com ele. Não era uma cena de guerra, era a imagem de um massacre, provocado por alguém que não tinha controle de suas próprias ações. Com exceção da garotinha humana, ele não sentiu a presença de outra pessoa.

Todos na cidade foram mortos pela jovem. Os poucos sobreviventes fugiram para longe.

Ele olhou de soslaio para ela, que o seguia calada. Continuava estagnada com a mesma expressão perdida, olhando vez ou outra para algum corpo caído no chão.

Apertaram o passo até se verem fora da vila, do outro lado do campo, onde nem mesmo o vento pudesse trazer o cheio daquele local. Sesshoumaru parou e na mesma hora, Tsukiyo deixou-se cair de joelhos novamente. Ela não olhou para Sesshoumaru, encarava a grama a sua frente.

Ele sentou-se na sua frente, buscando qualquer contato visual que lhe indicasse o que fazer ou o que se passava pela cabeça dela, apesar de não ser algo difícil de imaginar. A imagem de Inuyasha veio a sua mente. O hanyou lhe avisara, mas ele fora tolo o suficiente para pensar que daria conta de qualquer infortúnio. Nunca pensou que o descontrole poderia ser tanto e tão repentino.

Agora, a jovem estava daquele jeito e ele não conseguia parar de se culpar.

— Me desculpe...

Foram as palavras que lhe escaparam como um sussurro. Por um instante, Tsukiyo levantou seu olhar para encará-lo, mas logo abaixou a cabeça novamente. De repente, ela impeliu o corpo para frente e Sesshoumaru sentiu a cabeça dela encostar-se a seu peito. Instintivamente, o youkai a puxou para perto e envolveu-a com os braços. Colocou o queixo apoiado levemente sobre o alto da cabeça dela e sentiu as mãos do jovem agarrarem seu quimono.

O Dai-youkai se permitiu ficar ali, tentando oferecer suporte a ela. Sentia que Tsukiyo ainda tremia levemente, mas ela não derramou qualquer lágrima. Parecia presa num estado catatônico.

Sesshoumaru olhou para o horizonte a sua frente. A noite já surgia, e surgia completamente escura. Como se o próprio céu se compadecesse da tragédia ocorrida, não havia nenhuma luz. Não havia lua. Não havia estrelas. Apenas nuvens negras que devoravam qualquer resquício de luz do dia que restava.

Naquela noite iria chover...

—_________________________XXXXX____________________________

Quando o cheiro de sangue a atingiu, tudo se apagou.

Tsukiyo se viu imersa numa infinita escuridão. Estava sozinha e no mais completo silêncio. De repente, gritos começaram a surgir ao longe e imagens se formaram a sua frente. Eram cenas de um massacre, em que uma fera bestial destruía tudo a sua frente. Homens avançavam contra a criatura, mas ela parecia imparável matando todos ao seu redor.

Tsukiyo podia sentir sua ira. Sentir o sangue tomando conta de suas mãos, como uma assinatura que a sentenciava culpada para sempre. No fundo ela sabia:

Ela era a fera descontrolava que assolava a vila.

A Fera entrou num pequeno beco e Tsukiyo olhou horrorizada quando ela avançou para uma mulher e criança.

— Não! Pare! Por favor, PARE!

Tsukiyo gritava em vão, nada a escutava naquela imensidão. Sentiu as lágrimas escorrerem pela face quando a Fera assassinou a sangue frio a mulher. A jovem fechou os olhos e sentiu se sugada cada vez mais para o vazio. Não havia volta depois disso. Havia matado mais uma inocente. Uma mãe, diante de sua filha.

Sentiu o corpo ficar dormente e cair no nada. Já não havia sons. Não havia imagens. Não havia nada. Tsukiyo percebeu que era exatamente isso que queria: nada. Ali não tinha desespero, tristeza, dor... não havia nada. Talvez seja melhor assim, pensou, desistindo de tudo e mergulhando com alívio no vazio. Naquele momento desejou se entregar por completo à Fera, apenas para não sentir mais nada.

De repente, um som a alcançou ao longe. “... logo, essa não é você” A voz lhe era familiar, mas não sabia de quem. Ela simplesmente afastou o pensamento quando escutou novamente, mais alto e claro que antes: “Pare com isso, Tsukiyo!” A menção de seu nome a fez despertar do torpor.

Conhecia essa voz!

Sesshoumaru!

Ele a havia chamado pelo nome! Uma espécie de alegria a preencheu. Como pude simplesmente me esquecer dele?! Tsukiyo percebeu uma luz ofuscante surgir a sua frente. Hesitou por um momento. Aceitar essa luz significava voltar ao sofrimento, à dor, e Tsukiyo não sabia se aguentaria passar por tudo de novo.

TSUKIYO!

O chamado desesperado de Sesshoumaru por seu nome a fez se mover. Ela estendeu a mão para a luz e tudo ficou branco. Tsukiyo fechou os olhos diante do brilho ofuscante. Quando os abriu, estava sentada e Sesshoumaru estava na sua frente. O youkai parecia despido de sua máscara por um segundo e ela viu o desespero dar lugar ao alívio em sua expressão.

Ela estava de volta. Ele a havia trago de volta.

— Sesshoumaru... Você disse meu nome! – foi a primeira coisa que conseguiu dizer. – Você...

Sua fala morreu quando seus olhos caíram para as feridas do youkai. Já se cicatrizavam, mas a roupa permanecia rasgada e vermelha. E o pior de tudo: ela sabia quem as havia feito.

Ela havia atacado e ferido Sesshoumaru.

Sentiu algo se rasgar dentro de si. A culpa que a consumia parecia cada vez maior. Primeiro os pais; depois homens inocentes; uma mãe diante da filha; e agora Sesshoumaru... Sou um monstro! Tsukiyo olhou para as próprias mãos. Estavam novamente tingidas de vermelho. Aquele maldito vermelho vivo. Sangue fresco, que não era seu.

As imagens da chacina pularam na sua mente. E ela sentiu o desespero e culpa destruindo-a por dentro, mas antes que algo mais pudesse acontecer, ouviu um leve choro. Olhou para o lado e viu a garotinha das imagens. Estava encolhida, chorando.

Sem controlar os próprios movimentos, Tsukiyo começou a se aproximar. Queria se desculpar. Dizer que sentia muito. Que não foi sua intenção. Que não foi sua culpa... Mas as palavras não se formavam. Porque no fundo ela sabia: a fera era uma parte de si. Ela era a fera e a fera era ela.

A culpa era dela...

Num estado de transe, estendeu a mão para a menina que lhe deu um tapa e correu para longe, gritando. Tsukiyo limitou-se a olhar novamente para as próprias mãos.

Então tudo transbordou.

Toda a culpa, a raiva de si, o desespero, o medo... tudo. Ela caiu de joelhos e soltou um grito contendo tudo, tentando expulsar todos aqueles sentimentos para fora. Berrou até acabar o fôlego. Nada adiantou: tudo continuava lá, devorando-a por dentro. Quebrando seu espírito pedaço por pedaço.

Mal percebeu quando Sesshoumaru se aproximou e segurou-a pelo pulso.

— Tsukiyo, vamos sair daqui.

Talvez aquele gesto e o chamado de Sesshoumaru por seu nome foi a única coisa que a impediu de se perder no vazio novamente. Ou talvez ela não achasse ser digna de deixar de sentir aquilo que sentia. Ela merecia sofrer. Merecia estar daquele jeito. Do contrário, se permitisse a si mesma afundar no nada, estaria manchando a memórias daqueles que matara.

Não, ela merecia sofrer por eles.

Então Tsukiyo apenas deixou de pensar. Sabia que não caíra no vazio porque sentia o peito se dilacerar. Permitiu a Sesshoumaru guiá-la para fora dali. Olhou para os corpos no chão enquanto passava e gravou cada rosto que pôde encontrar. Querendo ou não, lembrar-se-ia desse dia pelo resto de sua vida. Aqueles seriam os rostos que iriam atormentá-la em seus piores pesadelos. E ela os abraçou, aceitando-os.

Ela merecia...

Chegaram numa pequena colina. Quando percebeu a parada de Sesshoumaru, desmoronou no chão. Não tinha forças para andar. Queria ir o mais longe possível, fugir daquilo tudo, mas não podia.

— Me desculpe... – ela ouviu Sesshoumaru dizer.

Ela o olhou por um instante e viu tristeza e culpa nos olhos do youkai. Tsukiyo queria desesperadamente dizer que ele não tinha culpa de nada e não precisava se desculpar. Mas assim como as lágrimas, as palavras não saíam.

O youkai sentou-se à sua frente e Tsukiyo compreendeu que sua presença ali era o que a mantinha sã. Impeliu o corpo para frente até a cabeça tocar o peito do youkai. Sentiu os braços dele a envolverem e por um instante sentiu-se bem. Queria dizer que a culpa não era dele, mas não conseguiu. Sabia que estava sendo egoísta em querer consolo depois de tudo que fez, mas se agarrou a ele com todas as forças.

Ela precisava daquilo.

Ficaram daquele jeito um tempo, até que Tsukiyo sentiu os primeiros pingos de chuva molharem sua cabeça. Ela se afastou um pouco apenas para conseguir encarar o céu. Água caía e escorria por sua face. Tsukiyo desejou que chuva pudesse lavar sua alma. Que a limpasse de si própria. Encarou as nuvens escuras e soube:

O céu estava chorando...

Chorando pelos tempos de guerra. Chorando pela vila destruída. Por aqueles que perderam as vidas. Pelos inocentes. Pelos órfãos. Pela culpa que Sesshoumaru sentia.

Chorando por Tsukiyo, que não conseguia chorar.


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Notas finais do capítulo

Meio triste e desesperador esse capítulo, hein? Faz parte... quero saber se ficaram com o coração na mão tanto quanto eu ao escrever =)



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