As Três Lágrimas do Youkai. escrita por Larizg


Capítulo 17
Capítulo 17 – Descontrole. (Atualizado)


Notas iniciais do capítulo

Olá, gente!!! Passei aqui para deixar mais um capítulo para vocês. =) Fiquei muito feliz de terem colocados nos últimos comentários as suposições e opiniões de cada uma. Algumas ideias estão certas e outras erradas, mas o simples fato de me terem as apresentado em deixou muito satisfeita por ter leitoras tão espertas xD
Infelizmente terei uma noticia ruim hoje: no próximo final de semana não teremos capítulo. Razão: além de estar atolada com provas durante a semana, farei uma pequena viagem no fim de semana, então não terei como escrever =/ Já peço desculpas adiantadas a todas e busquei fazer um capítulo um pouco mais que o normal como compensação. Espero que gostem...



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Tsukiyo continuava receosa de falar mais sobre si mesma, mas depois do show que fez em frente de Sesshoumaru, não havia muito mais o que pudesse fazer. Aquele pesadelo mexeu tanto consigo, a ponto de se derreter em lágrimas em cima do youkai. Ficou realmente surpreendida por Sesshoumaru não tê-la afastado em momento algum. E mais ainda com a proposta silenciosa dele:

            Desabafa...

            No início ficou confusa, nunca esperaria tal atitude dele, mas logo compreendeu que era uma tentativa de confortá-la. Talvez esteja errada ao seu respeito. Ela sorriu de leve e agradeceu internamente por Sesshoumaru fingir desinteresse. Isso tornava tudo mais fácil. Por onde devo começar?, ponderou. Mesmo com tudo, ela não queria revelar demais, portanto escolheu com cuidado o que diria.

            À medida que pensava no passado, as memórias voltavam vívidas para sua mente. Desta vez não chorou, já havia derramado lágrimas o bastante por um dia, mas não pôde esconder a tristeza na voz.

            Deu um longo suspiro e começou desabafar. Tsukiyo acreditava que lhe faria bem dividir esse fardo. Até então, apenas seus antigos amigos sabiam. Mas Sesshoumaru a havia salvado tantas vezes que merecia saber...

            Devagar ela foi contando e com isso, revivendo cada momento novamente.

Flashback...

            Tsukiyo corria feliz até os braços do pai que acabava de voltar para casa. Ele tinha um sorriso no rosto e os braços abertos para abraçar a filha. Usava um roupão vermelho e um quimono verde por cima. Sem o menor esforço, ergueu a pequena e a abraçou. Ele olhou naqueles pequenos olhos amarelos, tão parecidos com os dele, e falou com a voz macia e calma de sempre.

            – Voltei.

            – Hum! – concordou a menina. – Bem vindo de volta!

            Tsukiyo deu-lhe um doce beijo na bochecha e desceu de seu colo, correndo de volta para dentro da casa. A moradia era simples, com dois quartos, uma sala e cozinha. Não que não pudessem ter uma casa maior, afinal, Rihan era o herdeiro de um poderoso clã de youkais.

 Era justamente por isso que não poderiam ter nada escandaloso.

            Quando Rihan escolhera Cheri como sua esposa e ambos tiveram Tsukiyo, seu pai, Kouhen, o considerou um traidor do próprio sangue por se casar como uma hanyou. Desde então os três vêm sendo caçados por seu próprio clã. Kouhen afirmava que precisava eliminar o traidor e as aberrações que eram sua esposa e filha.

            Apesar de escondidos, viviam bem e o sempre vigilante Rihan impedia que fossem descobertos facilmente. Estava feliz por conseguir criar Tsukiyo, seu maior orgulho, longe do perigo e a ensiná-la que youkais e humano não são tão diferente. Ele acreditava fielmente que todas as criaturas mereciam respeito.

            Puxado pela mão por Tsukiyo, ambos entraram no interior na casa.

            – Mama, o papa chegou! – gritou a pequena.

            – Bem vindo de volta, querido. – respondeu, dando um sorriso ao marido e a filha.

            Cheri era uma hanyou, mas era bela como qualquer youkai. Tinha brilhantes olhos violeta e longos cabelos negros que caíam pelas costas. Duas orelhas despontavam no topo da cabeça, as mesmas herdadas pela filha, marcando-a como meio youkai meio humana. Trajava um quimono rosa e prendia algumas mechas do cabelo ao lado da cabeça, com pequenos laços combinando com a roupa. Parecia jovem, mas exalava uma energia maternal tão forte quanto qualquer outra mãe.

            Cheri estava à beira de um fogão a lenha, preparando um humilde jantar para a família, composto por pães e uma rica sopa de legumes e carne.

            – Vamos, vamos. Sentem-se. – falou Cheri. – O jantar está quase pronto.

            Em poucos minutos, todos estavam à mesa se deliciando com a sopa. Conversavam, comiam e riam. Era como ver um retrato de uma família completamente normal. Ou, pelo menos, assim desejavam que fossem.

            Após o jantar, foram deitar-se cada um em suas respectivas camas, Tsukiyo em seu quarto e os pais na cama de casal, mas a pequenina insistiu em dormir com os pais naquela noite e eles não recusaram seu pedido, aconchegando-a entre si.

            Quando julgavam que a menina dormia, começaram a discutir um sério assunto, e por fingir estar dormido, Tsukiyo pôde ouvir por completo.

            – Eles estão se aproximando daqui. – escutou o pai falar, enquanto ele brincava com os cabelos da filha.

            – Teremos que nos mudar novamente. – falou com pesar, Cheri.

            – Infelizmente... – concordou Rihan. – Tudo o que eu queria é que tivéssemos uma vida normal, sem ter que fugir o tempo todo. – o tom triste evidente na voz.

            – A culpa não é sua. O mundo está cheio de youkais e humanos preconceituosos, e você teve o azar de ter um pai assim. – consolou a mãe. – Fico muito feliz que você não seja assim, mas, Rihan... talvez fosse mais fácil para você nos esquecer e voltar ao seu clã. Ainda dá tempo de refazer as pazes com seu pai. Assim não precisaria fugir mais.

            – Não diga isso! – retrucou. – Eu amo vocês da forma que são e juro, Cheri, que irei protegê-las até a morte. Jamais irei abandoná-las.

            Mesmo de olhos fechados Tsukiyo conseguia perceber que a mãe, emocionada, derramava algumas lágrimas. Mas não sabia dizer se era medo pela família ou alegria pela promessa do marido.

            O assunto não perdurou por muito, pois logo os pais caíram no sono, deixando Tsukiyo perdida em seus próprios pensamentos. Para uma criança que cresceu cercada do amor dos pais, ela não compreendia o motivo do seu avô querer matar a própria família.

...

             No dia seguinte, Cheri levara a filha em um parque onde outras crianças brincavam. Desta vez não tinham a companhia do pai. Ele foi patrulhar o redor a procura de qualquer youkai suspeito de ter sido mandado pelo pai.

            Tsukiyo brincava com a mãe uma vez que nenhuma criança se aproximava dela. Para um hanyou era complicado se aproximar de qualquer um, principalmente durante a infância. Os humanos não permitiam que seus filhos brincassem por medo e youkais não o permitiam por desprezo. No caso, como moravam próximos a uma vila humana e a família evitava contato com youkais devido a perseguição, as crianças da vila nunca se aproximavam de Tsukiyo que se contentava em brincar com a mãe. Cheri por sua vez se entristecia pela solidão da filha e fazia o possível para alegrá-la, já sabendo os preconceitos a que hanyous são submetidos.

            As duas brincavam de bola, mantendo certa distância das outras crianças. De repente, um garoto que corria ali perto, escorregou e cortou o braço em uma pedra do chão. O ferimento fora leve, mas sangrava um pouco. Tsukiyo olhava aquilo ao longe, quando o cheio férrico do sangue atingiu seu nariz.

            Tudo se tornou preto.

            Quando voltou a si, a mãe segurava firmemente seus braços e a sua frente encontrava-se o garoto caído no chão com lágrimas nos olhos, a expressão de puro medo e horror. Ele tinha marcas de garras no braço onde antes havia apenas um único arranhão.

            – Eu sabia que deixar vocês próximos a vila era um erro. – gritava uma mulher, provavelmente a mãe do menino. – Tire esse monstro daqui!

            Olhando para as próprias mãos, Tsukiyo percebeu que estavam manchadas de vermelho. M-mas o que? A compreensão caiu sobre ela como uma rocha. Foi ela que atacara o menino! Ela era o monstro. Atordoada, ela viu a mãe lançar um olhar assassino à mulher, fazendo-a se calar. Em seguida, Cheri pegou a filha no colo e foi se afastando dali.

            – Está tudo bem, Tsuki. Vai ficar tudo bem. – tranquilizou-a.

            Ao contrário do que Tsukiyo pensava, a mãe não estava brava com ela. Portava a face séria e preocupada. Tomando impulso, Cheri começou a pular entre as árvores avançando com uma agilidade que apenas aqueles treinados para tal conseguiam. A pequena sabia que, assim como muitos hanyous, a mãe possuía habilidades de luta.

            Em alguns minutos, a pequena avistou o pai. Cheri parou de frente para ele, que olhou confuso para as duas.

            – O que as duas estão fazendo aqui?! É perigoso fic...

            – Rihan! – interrompeu-o a mãe.

            Finalmente o olhar dele recaiu sobre Tsukiyo, que nesse momento não conseguia impedir as lágrimas de escorrerem. Preocupado Rihan se aproximou e olhou para a esposa com uma pergunta dançando nos olhos. Cheri apenas assentiu. Ele já sabia do que se tratava. Sua expressão antes preocupada se tornou séria.

            – Vai ficar tudo bem, Tsukiyo, não se preocupe. – falou acariciando a cabeça da filha e com delicadeza arrancou um dos caninos da filha, se desculpando em seguida. Então se virou para a esposa e falou. – Volto o mais rápido que puder. Até lá não saiam de casa, eles estão muito próximos.

            Tsukiyo viu a mãe concordar e o pai começar a correr até desaparecer entre as árvores.

...

            Ao chegar em casa a mãe ajudou-a a limpar as mãos e colocou-a na cama. A pequena já mais calma, mas ainda amedrontada, questionou:

            – Mãe, o que aconteceu comigo? – olhava para as mãos que tremiam.

            Cheri possuía um semblante sério, mas ao mesmo tempo carinhoso, do modo que apenas mães conseguem fazer. Lentamente, ela foi explicando os fatos e saciando as dúvidas da filha.

            Tsukiyo aprendeu que esse descontrole diante de situações de muita pressão ou do cheiro de sangue é típico daqueles que possuem sangue youkai. No seu caso, por possuir ¾ de sangue de demônio, perdia o controle mais facilmente. Assim como é para um hanyou, uma arma que se ligasse a sua parte humana poderia vir a suprir a maior parte do sangue youkai. Era exatamente atrás disso que o pai estava atrás.

            De acordo com a mãe, Rihan saíra correndo para buscar uma arma para ela. Ela já estava sendo fabricada, pois os pais sabiam que aquilo poderia acontecer, só não imaginavam que seria tão cedo. Cheri se agachou e levantou levemente o quimono até o joelho. Assim, Tsukiyo pôde ver uma adaga presa por uma bainha especial à lateral da canela da mão. Cheri, num movimento fluido, tirou a lâmina e a mostrou para a filha.

            – Viu? Até eu possuo algo para me ajudar. – falou, mostrando uma adaga com a lâmina do tamanho de um antebraço com linhas em dourado e o punhal trabalhado em belos detalhes. – Foi um presente do seu pai. Agora, você também receberá um.

            – O acontece se quebrar? – perguntou curiosa.

            – Espero que isso não aconteça. – respondeu a mãe. – Quando a arma é confeccionada uma parte de sua humanidade fica ligada a ela, para que essa parte nunca diminuía e seja suprimida pelo sangue de youkais que temos. Por isso seu pai pegou seu dente, isso vai ligá-la a arma. – a mulher sentou-se ao lado da filha e permitiu à pequena aconchegar a cabeça em seu colo. – Sua pequena presa vai ser derretida e forjada junto com a lâmina. Então, se algum dia a arma se quebrar, a humanidade ligada a ela se vai junto e com isso sua parte youkai só vai ficar mais forte e será mais difícil conseguir outra arma que a ajude a se controlar.

            As duas conversaram durante um tempo até a pequena se acalmar e adormecer. Não que vida fosse fácil, mas para Tsukiyo, parecia que a sua havia virado de cabeça para baixo.

...

            No dia seguinte, assim como o pai ordenara, ambas ficaram em casa, chegando, no máximo, aos arredores do lugar. Cheri estava colhendo alguns legumes da pequena horta que tinham atrás da casa e Tsukiyo a observava.

            Tudo corria bem e o fim da tarde se aproximava. De repente, uma movimentação nas folhas mais a frente chamou a atenção de Tsukiyo que, imaginando tratar-se do pai, correu em direção à floresta. Apenas quando estava muito próxima percebeu um cheiro estranho. Uma lâmina cortou o ar a sua frente e a teria atingido se a mãe não tivesse parado o golpe com sua adaga.

            – Tsukiyo, para trás!

            A jovem se afastou enquanto duas figuras surgiam do meio das árvores. Dois youkais apareceram a sua frente. Eram dois homens, cada qual carregando uma espada na mão. O da direita tinha cabelos vermelhos e o da esquerda, pretos, ambos tinham os mesmo olhos amarelos de seu pai e usavam quimonos com o símbolo de um tigre de dentes de sabre entalhado.

            Eram do clã de seu pai.

            – Ora, ora. – falou o da direita. – Quem diria que acharíamos as duas desprotegidas dessa forma?

            – Parece que Rihan está nos subestimando. – reforçou o outro. – Bem, acho que matá-las primeiro possa fazê-lo nos levar mais a sério.

            A áurea assassina que exalavam era tamanha que até Tsukiyo, uma criança ainda destreinada, conseguia pressentir. Eles avançaram, sendo parados por Cheri que com sua agilidade defendia e deferia golpes. Era muito habilidosa, mas contra dois inimigos não conseguiria aguentar por muito tempo. Em meio ao tilintar de espadas, imponente, Tsukiyo viu a mãe começar a fraquejar e ganhar um profundo corte no braço, que a fez recuar e arquejar. Essa pequena brecha foi suficiente para que o youkai de cabelos vermelhos deferisse um golpe fatal.

Ele desceu o braço e a pequena viu sangue espirrar.

O youkai ruivo caiu desacordado, seu sangue espalhando-se pelo chão. Em contrapartida, uma figura havia aparecido entre Cheri e seus atacantes.

Rihan havia retornado.

O jogo havia virado, Rihan e Cheri atacavam numa dança de lâminas e golpes. Seus pais possuíam uma combinação mortal, sua sincronia nos movimentos impedia qualquer contra-ataque inimigo. Suas faces eram sérias e completamente focadas em seu alvo. Antes de seu pai dar o golpe final no youkai restante, ouviu-se.

— Não pense que nos matando vai acabar. – o youkai falava com escárnio para Rihan. – Já enviamos sua localização aos outros. Em alguns minutos estarão aqui. E você sabe que nós somos meros guardas em comparação a eles.

Seu pai desceu a lâmina e o youkai se calou para sempre.

Assustada com tudo que aconteceu e ao mesmo tempo encantada com as habilidades dos pais, Tsukiyo observou atônita, a mãe correr em sua direção enquanto o pai verificava a pulsação do youkai de vermelho, conferindo sua morte.

— Tsukiyo, graças aos deuses você está bem! – a mãe lhe abraçava forte.

Repentinamente, um cheiro metálico atingiu a menina. Era o sangue da mãe que escorria do braço machucado. Suas mãos começaram a tremer e quando Cheri percebeu, já era tarde demais. Involuntariamente, Tsukiyo sentiu as garras saltarem e o mão avançar em direção à mãe.

Outro apagão.

Quando retornou, Tsukiyo percebeu que segurava uma espada na mão e estava diante do pai, que a olhava preocupado.

— O que...?

Sentiu a pergunta de formar na boca, mas assim que olhou o redor, as palavras morreram na garganta. Havia um ferimento no abdômen do pai. E seu próprio cheiro estava nele. Horrorizada, ela deduziu que perdera o controle novamente e havia ferido o pai, que nada fez contra a própria filha. Ainda em choque, olhou por cima do ombro do pai, percebeu um corpo caído mais atrás.

Sua mãe.

Suas mãos tinham seu cheiro e não foi difícil entender o que se passara. A pequena gritou em desespero e correu até a mãe, sendo impedida pelo pai que a abraçava contra si.

— Não vá! – sua voz buscava consolar, mas ele tremia e apertava a pequena contra si. Rihan não permitiria que a filha visse o corpo da mãe. Não queria que se sentisse culpada, pois não o era. – Não vá...

A pequena desabou nos braços do pai e chorava como nunca. Apesar dos esforços do pai a culpa a corroia como a ferrugem corrói os metais. Tsukiyo sentia como se o peito fosse rasgar ao meio, tamanha dor que sentia. Não apenas perdera a mãe como também foi ela a culpada.

Rihan se preparava para levá-la para casa, para depois conferir se ainda podia fazer algo para Cheri, mas sentiu o cheiro de youkais se aproximando. Rangendo os dentes, ele colocou Tsukiyo a frente de si, segurou em seus ombros e olhou-a nos olhos.

— Tsuki, você precisa fazer o que vou lhe dizer agora. – o tom era firme. – Pegue essa espada e corra o mais rápido que puder. Se esconda e espere até que eu vá procurá-la.

Ele embainhou a espada e entregou à menina.

— Cuide dessa espada, Tsukiyo. Com ela isso nunca mais vai acontecer.

Ele se levantou e se preparou para o combate, virando-se de costas para a menina.

— Papa, m-mas eu...

— Vá! – ordenou.

Tsukiyo olhou uma última vez para o corpo da mãe e engolindo o choro, começou a correr para longe dali, conseguindo escutar as últimas palavras do pai.

—  Seja forte, minha pequena...

Ela olhou para trás a tempo de ver um grupo de youkais surgirem entre as árvores, todos apontando espadas para o pai. Ao perdê-los de vista ela voltou sua atenção ao caminho.

Para Rihan, não houve tempo para sentir luto. A dor da perda de Cheri ameaçava engolir seu coração, mas ele precisava resistir. Precisava dar uma chance à sua filha. Precisava dar uma chance ao futuro dela. E que ele brilhe, Tsukiyo. Porque, agora, você precisa ser feliz por nós. Viva! Não apenas sobreviva, VIVA! Um sorriso saudoso preencheu os lábios de Rihan, enquanto ele desembainhava a própria espada.

Obrigada por me deixar ser seu pai.

Os youkais pularam e a luta começou.

Mesmo criança ela sabia. O pai não teria chance contra tantos youkais enquanto estava machucado. E ele também sabia que não teria chance. Aquelas últimas palavras confirmaram isso.

As palavras, ela sabia, não eram um até logo.

Eram um adeus.

Chorando, ela correu até as pernas não aguentarem mais. Correu por um caminho desconhecido. Correu para a solidão. Correu para uma vida de fuga constante.

Correu para um futuro incerto.

...

            – E foi isso que aconteceu. – terminou.

            Tsukiyo estava ao redor de uma fogueira, junto aos amigos. Já estava com eles há tempos, mas nunca tivera coragem de contar o que aconteceu no passado, por medo de ser abandonada novamente. Entretanto, sentiu que precisava contar à eles. Mereciam saber a verdade.

            Já haviam se passado treze anos desde o ocorrido, mas relembrá-lo era como trazer a tona uma dor sempre presente. Tsukiyo estava abalada e mal conseguia impedir as lágrimas. Aquele maldito choro desesperado que parecia acompanhá-la desde então.

            Vendo a cara de espanto dos três companheiros, Tsukiyo continuou.

            – Agora que sabem, vou entender se não me quiserem por perto. Afinal, quem sabe quando perderei o controle novamente. – seu tom era triste, mas falava como se estivesse vazia por dentro. – Foi tudo culpa m...

            O final da frase morreu quando sentiu algo a puxando para frente. Akarin a abraçava com força contra si.

            – Não diga isso! – seu tom abaixou-se até se tornar um sussurro acalentador. – A culpa não foi sua.

— Tsuki eu... sinto muito. – falou Merioku se aproximando, a face triste, carregada de compaixão.

            – A culpa é do clã de seu avô. Se não fosse por eles, nada teria acontecido. Como pudera fazer isso com vocês? – a pergunta retórica partiu de Wendy, agora mais velha, com os cabelos negros escorrendo pelas costas.

            – V-vocês... – Tsukiyo não conseguia proferir as palavras certas, tamanha a gratidão que sentia pelo apoio. Eles não a julgaram como pensou que fossem fazê-lo. Pelo contrário, eles a acolheram.

            Sentiu as lágrimas começarem a descer, mas já não eram mais de tristeza, eram lágrimas de alívio e gratidão. Sentiu a mão de Merioku no seu ombro e o calor do abraço de Akarin que não fez menção de soltá-la. Wendy a olhava com olhos carregados de compreensão, pois assim como Tsukiyo perdera sua família.

            Os dois irmãos, Akarin e Wendy, faziam parte de um clã, o clã dos youkais morcegos, que fora completamente aniquilado por um clã rival numa guerra. Apenas os dois sobreviveram.

            – Não se preocupe Tsukiyo. – falava Akarin, o tom convicto e carregado de ódio, algo extremamente incomum de se ver em sua voz. – Quando tivermos poder, faremos todos eles pagarem. Por seus pais e por nosso clã. Nós vamos vingá-los!

            Tsukiyo olhou em seus olhos, sempre negros como a noite sem lua. Ele a olhava com firmeza e carinho. Merioku e Wendy se aproximaram deles, as expressões decididas e acolhedoras. O jovem, agora com cabelos negros caindo pelos ombros, tão longos como os da irmã, sussurrou uma espécie de promessa a qual todos concordaram em cumprir. Uma promessa que para ser cumprida lhes custaria o mais alto dos preços. Que só traria arrependimento.

            Naquela fria noite de inverno, Akarin proferiu a sentença do futuro daquele grupo, ao repetir as tristes palavras:

            – Eles irão pagar...

...Flashback

            Ao terminar o conto, Tsukiyo sentiu-se de certa forma mais leve. Parecia que cada vez que contava sobre o ocorrido, parte de si se sentia mais aliviada. Havia contado até a parte da morte dos pais, o restante das memórias guardou apenas para si. Ainda não podia revelar.

            Olhou para o youkai ao seu lado, que se mantinha indiferente. Sesshoumaru não havia esboçado qualquer emoção durante sua narrativa, nem mesmo agora ao término da mesma. Tsukiyo sentia-se agradecida por isso, assim como os amigos, ele também não a julgou pelo que fez. Ou pelo menos não parecia.

            – O que foi? O que fiz foi tão horrível que não encontrou palavras? – brincou sem humor.

            – Apenas não entendo o motivo de se sentir culpada. – falou sem olhar para ela. – Não pôde se culpar por ter nascido assim, você é quem você é. Se nasceu mestiça, é por culpa de seus pais.

            Irritada, ela se preparou para defender os pais.

— Meus pais n...

— Teriam orgulho de quem é hoje. – interrompeu-a solene.

Aquilo a atingiu como um golpe. Nunca esperou um comentário do tipo partindo de Sesshoumaru. Agradeceu internamente, sorriu e disse:

— Espero que sim...

Realmente devo estar errada ao seu respeito.

— Agora, vamos dormir. Independente de nevasca ou não, amanhã voltaremos a avançar. – ordenou o youkai, encerrando o assunto de maneira típica. Era óbvio que não queria que ela pensasse que ele estava sendo solidário a ela. Nunca perde a pose, não é?

Ela apenas concordou. Estava exausta. Mais emocionalmente que fisicamente. A fala de Sesshoumaru, de certa forma, chegou a confortá-la e acalmá-la. Tsukiyo fechou os olhos e pelo restante daquela noite ela dormiu tranquila.

Sem pesadelos para atormentá-la

Rihan e Cheri.


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