Profecia escrita por AgathadeLima


Capítulo 6
Mayana


Notas iniciais do capítulo

Então, oi!



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Eu estava passando para a porta quando uma mão me parou. Era, como eu esperava, Marlene, a empregada de casa.

E provavelmente a única pessoa nesse lugar que se importa com o que eu faço ou onde ando. Ah, e com todo o resto.

A gorducha mulher segurava a vassoura com uma mão e a outra se encontrava na cintura. Ela olhava pra mim com os olhos pretos que pareciam desconfiados, o cabelo tingido de preto preso num coque. O fardamento estava perfeitamente alinhado. Mas mesmo assim dava para notar que estava cansada. Trabalhar para os Lood nunca fora fácil. E ela é um doce de pessoa, nunca faltou um dia sequer e parecia não se importar em ser tratada como uma escrava, ou como lixo, pelos meus pais, quando eles estão em casa.

–Aonde vai, May? -Perguntou ela, usando o apelido que só ela usa, mesmo sobre meus protestos.

–Pro cemitério, Leninha. -Respondi. Ela me lançou um olhar triste: Já sabia do que eu estava falando.

–Está arrumada demais, não acha? -Opinou ela.

Olhei pra mim mesma, não estava tão arrumada. Um vestido que comprei na semana passada, preto, encontrei junto a vários iguais, apenas com a fita da cintura de cor diferente. Escolhi a de fita vermelha. Parecia combinar mais comigo, e era a cor predileta da Karen. Aquela boba da Karen...

Uma lágrima irritante quis sair e não aceitou "não" como resposta. Marlene sorriu tristemente, numa expressão de pena. Ela limpou a lágrima e sussurrou:

–Quer que eu vá com você?

–Não vou te atrapalhar, Leninha. Até porque, se meus pais descobrem... -Tentei, embora eu quisesse de todo o coração que ela fosse comigo.

–Não seja idiota, May, só tem você aqui, seus pais só voltam daqui a três semanas, eles não vão saber, e você não vai atrapalhar em nada. Espere um pouco, sim? Volto daqui a quinze minutos. -Retrucou a mulher e ela foi para o quartinho dos empregados.

Me joguei no sofá exageradamente grande, e caro. Tudo aqui é assim, pensei, se não exageradamente grande, exageradamente caro. E isso se não os dois.

Mas isso não era novidade. Nasci no que chamam de berço de ouro. Meu pai, um político cativante (para todos, menos para mim) que evoluiu em sua profissão tão rápido quanto Napoleão e pelo menos até agora, está vivendo seu ápice, mas eu sei que ele é corrupto a ponto de ser podre. Afinal das contas, Spencer Lood não é o que 90% dos eleitores pensam. Minha mãe, a empresária bem sucedida Joane Lood, que já nadava em dinheiro antes do casamento com meu pai, e agora já se afoga nele. Se eu pegasse um bolo de dinheiro e queimasse na frente dela, duvido que se importasse. Ou meu pai roubaria mais do povo, ou ela mesmo conseguiria em uma semana tranquilamente.

Mesmo tendo o que quer que eu quisesse, ouve algumas exceções: meus pais, e o amor deles. Quando não passavam um ou dois meses fora em viagens de férias, estavam no trabalho que fica longe demais de casa para que eu os veja. Saem antes de eu acordar e voltam quando estou trancada no meu quarto, dormindo ou lendo. E quando os vejo... bem, acho que pais normais não deveriam só trocar algumas frases e dar o dinheiro que a filha quer e sumir de novo, não é?

Mas Marlene conseguiu substituir eles, e tendo sido criada por uma mulher humilde, aprendi a ser humilde, sem me importar com dinheiro, mas que trata todos como igual e daria esmola a todos os mendigos do mundo se pudesse.

Mendigos me lembra Karen, ela sempre foi pobre (mesmo que não a ponto de mendigar), algo estranho numa família de políticos e empresários como os Lood e a família da minha mãe, os Christine. Karen Lood era fruto de uma traição do meu pai com minha tia, mas minha mãe só se preocupou em abafar o caso e se certificar de que o marido não repetiria o erro. Ignorava Karen, que tinha uma semelhança tão absurdamente grande comigo que ás vezes confundiam quem era quem. O mesmo cabelo ruivo encaracolado, os mesmos simples olhos castanhos, as mesmas sardas, a mesma altura, a mesma idade (com uma ou duas semanas de diferença)...

Quase gêmeas.

–Estou pronta, May! -Exclamou Marlene.

–Ahn? Ah, certo, vamos. -Falei, sendo arrancada dos meus devaneios.

Me levantei, e segui Marlene até o carro preto. Não era uma limusine, mas era um carro importado de elite, e havia um motorista 24h, o Jorge, que é muito amigo meu, e irmão de Marlene. No momento, encontramos Jorge dormindo, sentado de qualquer jeito.

–JORGE! -Gritou Marlene.

Ele levou um susto.

–O que? -Disse, espantado.

–Você não é pago para dormir. -Imitou Marlene.

Era óbvio que ela estava imitando minha mãe, e para me animar, então me forcei a sorrir, porque não conseguiria rir.

–Me desculpe madame. -Fingiu Jorge. -Para onde?

–Cemitério, estúpido. -Continuou Marlene, embora menos animada.

Jorge pensou um pouco e lembrou o porque, logo sorrindo tristemente para mim. Devolvi o sorriso carinhoso e ele ligou o carro. Pelo caminho eu não falei nada, só olhei para a janela.

–May... -Começou Marlene.

–Shiu! Deixa a menina ter um pouco de luto. É saudável sofrer pelos motivos certos, e não dá pra distraí-la a vida toda! -Sussurrou Jorge, fazendo a irmã se calar.

Obrigada, Tio Jorge, pensei. Assim como Marlene sempre fora uma mãe, Jorge sempre fora um tio. E Antônio, marido de Marlene, foi um pai. Numa família diferente eu encontrei minha família e eu os ajudo o quanto posso com dinheiro. Parece que é só assim que consigo ajudar.

A paisagem ficou diferente: Menos prédios, mais casas, tinha até um bosque... desviei o olhar. Fora no bosque que a desgraça aconteceu.

"-Está vendo aquela floresta ali? -Perguntou Karen.

Estreitei os olhos. Estávamos longe de casa, Tia Maria ia brigar...

–Não seja boba, Karen. Aquilo é um bosque. -Expliquei.

–Já disse que não gosto que me chame de Karen! Parece cárie!-Reclamou.

–E eu te chamo de que? -Perguntei.

–De Kate. Eu gosto desse nome.

–Ok. Vamos voltar, Kate. -Pedi.

Ela cruzou os braços.

–Não seja medrosa. Vamos ver o que tem lá. -Falou.

–Kate! -Reclamei.

–Maya! -Pediu.

–Tudo bem, mas está me devendo uma.

Ela comemorou e entramos no bosque. Assim que entrei quis sair. Tudo era escuros, as árvores estavam em posições estranhas...

–MAYA! -Gritou Karen.

Me virei e ela não estava mais lá. Eu corri, com medo, mas não conseguia achar a saída... Até que vi a rua, lá no fim, e corri mais rápido. Olhei para trás uma última vez. Kate estava esticada no chão, e voltei para buscá-la. Eu não entendi: estava pálida, os olhos arregalados, e não se mexia. A arrastei até a calçada. Marlene passava por lá, nos procurando. Quando nos viu, arregalou os olhos e cobriu a boca com as mãos.

–Minha Virgem Santíssima... -Sussurrou.

–Cura ela, Lena. -Pedi. -Cura ela."

–May. -Chamou Marlene, e me virei assustada.

–O-o que? -Perguntei.

–Chegamos. -Ela respondeu, simplesmente.


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Notas finais do capítulo

e então?



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