Cheguei ao bar do Cassino e pedi um uísque, o barman logo me deu um copo com metade de Jack Daniel’s, o que me fez sorrir instantaneamente. Dei o cartão ilimitado, que havia acabado de pegar de Marco, para o Barman e logo ele voltou com o comprovante de pagamento. Guardei o comprovante e o cartão em minha carteira e me virei para olhar para Marco e Ace que estavam mais ao longe.

Ace estava tentando a sorte em uma roleta, e pelo visto ele estava tendo sorte, a julgar pela sua cara de felicidade extrema. Marco estava jogando Pôquer, mas não consegui perceber se ele estava com uma mão boa, já que ele não estava expressando qualquer emoção, o que é bem útil quando se joga Pôquer.

Estamos em Las Vegas, exatamente no Cassino do Hotel 5 estrelas que estamos hospedados. Agora você me pergunta: "O que vocês estão fazendo em Las Vegas?"E a minha resposta é: "Eu não sei!". Como eu vim parar em Las Vegas com Marco e Ace é uma historia estranha. Lembro-me de estar em casa, quando Marco e Ace chegaram. Ace me deu um chá então eu comecei a me sentir sonolento. Marco me acordou quando já estávamos chegando a Las Vegas.

Sim, eles me drogaram. Sim, eles me arrastaram pra Las Vegas. Não, eu não faço ideia do por que. Quando questionados sobre isso, Marco e Ace sempre respondem mesma coisa: "Você precisa se divertir!", "Desde o casamento do Law você não sai mais com ninguém! Nem mesmo com a gente"e "Não fique com essa cara, vai ser divertido! Afinal é Las Vegas!". Mas o sorriso que os dois trocam a cada vez que dizem isso me faz pensar que eles estão tramando algo a mais.

Porém eu estava feliz de estar aqui na presença deles. Eles conseguiram tirar Trafalgar de minha cabeça com essa viagem e esse pensamento me fez sorrir levemente. Olhei ao redor pensando no que faria seguir. Cogitei a possibilidade de ir a algum jogo de azar, porém lembrei que tenho azar o suficiente pra conseguir deixar o Fenwick sem dinheiro mesmo que o cartão dele seja ilimitado. Cogitei a possibilidade de ir jogar pôquer, mas eu estaria fadado a perder já que Marco está na mesa.

Decidi ir pro quarto, então deixei o copo no balcão e me levantei. Dei um aceno para Marco, assim que ele olhou para mim, ele franziu o cenho, mas logo depois sorriu. Arquei uma sobrancelha para o comportamento estranho de meu amigo, mas ignorei-o em seguida.

Fiquei de cabeça abaixada durante a metade do caminho, porém fui forçado a olhar para frente, assim que uma pessoa esbarrou em mim. Olhei para a pessoa com o meu melhor olhar assassino, mas assim que os meus olhos encontraram com o da pessoa eu perdi a fala.

Olhos cinza, pele bronzeada, sorrisinho de canto. Tudo o que eu não precisava estava na minha frente, deixando-me paralisado e sem palavras, e eu me odeio por isso, por simplesmente ainda cair nos encantos do maldito e mais ainda por deixá-lo saber disso.

- Olá, Eustass-ya. – O sorriso dele aumentou e eu bufei.

- O que você está fazendo aqui, Trafalgar? – Recuperei minha compostura e coloquei o meu melhor olhar irritado no rosto.

- Las Vegas é um dos meus lugares favoritos, achei que você saberia disso. – Ele revirou os olhos.

- Comecei a apagar tudo o que sei sobre você, desculpe. – Sorri e ele arqueou uma sobrancelha.

- Você está mentindo. – Ele estava completamente serio agora.

- Não, não estou. – Agora era a minha vez de revirar os olhos. – De toda forma, o que você está fazendo aqui?

Ele suspirou e olhou para baixo, como se reunisse coragem para falar algo. Esperei por algum tempo e ele continuou em seu dilema entre falar ou não, então desviei dele e continuei indo para o quarto.

- Ei, não vá embora. – Trafalgar segurou o meu braço.

- Por quê? Você não vai me responder a pergunta. – Tirei o meu braço da mão firme dele, tentando ignorar a proximidade dele e tentando não inalar o perfume inebriante que ele estava usando. – Presumo que esteja aqui por nada.

- Nós não estamos aqui para nada. – Ele deu um passo para frente e eu dei um para trás, continuamos assim até a minha costa estar pressionada em uma parede. – Estamos entediados e com uma boa aparência.

Sorri, pensando no quanto isso era irônico. Vegas Lights sendo cantada em Las Vegas. Lembro-me dele ter me falado disso certa vez, "Vamos para Las Vegas, e lá cantaremos Vegas Lights". Meu sorriso se transformou em um sorriso triste, teria sido feliz se ele não estivesse casado, antes que Trafalgar pudesse questionar o meu sorriso, inverti nossas posições.

- Podemos começar alguma coisa. – Vi um sorriso sugestivo aparecer em seu rosto quando continuei a musica. – Você mudaria se você pudesse?

A ultima parte da frase saiu com uma sinceridade que eu não havia planejado o que me fez franzir o cenho suavemente.

- Eu mudaria por você. – Ele respondeu, sinceridade transbordando pelos seus olhos e sua voz.

- Não. – Ignorei todos os sinais de sua sinceridade por pura magoa, e principalmente medo, porém nunca admitiria isso em voz alta. – Você não mudou antes, não é agora que vai mudar.

Afastei-me dele e fui até o elevador. Trafalgar não me seguia e eu não pude deixar de me sentir um pouco aliviado por isso. Entrei no elevador e fui até o quarto, destrancando a porta e indo direto para a minha mala. Desorganizei-a quase inteiramente até achar o que precisava, adesivos de nicotina.

Coloquei 3 adesivos no braços esquerdo e logo me acalmei, porém não completamente, olhei para o canto do quarto, sorrindo quando vi o piano parecendo me chamar. Tocar piano era algo que me acalmava, mas fazia algum tempo desde que tocará pela ultima vez. Suspirei e decidi que isso não importava. Fui até o piano e comecei a tocar notas aleatórias, quando me senti confiante o suficiente, decidi começar uma musica.

A melodia melancólica de For Blue Skies preencheu a sala, e eu pude sentir como isso acalmou minha alma completamente. O barulho da porta abrindo não passou despercebido por mim, mesmo que estivesse me focando no piano.

- Vem sendo um longo ano. – A voz de Trafalgar se fez presente, tímida. – Desde a nossa ultima conversa.

Parei de tocar momentaneamente, mas logo retornei. As notas saíram com mais emoção do que eu esperava.

- Como entrou aqui? – Perguntei, seco.

- Ace. – Ele respondeu, simplesmente.

Então tudo se tornou claro, todos os planos e motivos para Marco e Ace me arrastarem para Las Vegas. Era tudo pra ver o Trafalgar, porém qual era o objetivo de tudo isso? Que eu voltasse a gostar dele, somente pra o ver voltar para Nami? Somente para sofrer novamente? Não, muito obrigado, estou muito bem sem isso.

- Deveria ter desconfiado disso. – Murmurei para mim mesmo.

- Eu nunca vou me acostumar com isso. – Olhei para ele com um olhar questionador, porém sem parar de tocar a musica. – Você sabe, com você me odiando, mesmo que eu já tenha explicado o motivo.

Ri para mim mesmo. Não acreditando que o motivo de toda essa viagem era para eu simplesmente "Perdoar" o Trafalgar. Toquei as ultimas notas da musica e me virei para Trafalgar.

- Eu não te odeio. – Olhei para a parede mais próxima, pensando no que dizer em seguida. – Eu só não gostei de você ter me feito de idiota até o maldito dia do seu casamento.

- Eu não podia ter te falado antes. – Ele encarou o chão. – DoFlamingo ia realmente lhe matar.

- Eu já disse que não me importaria com isso e repito novamente. – Suspirei e voltei a encara-lo – Está tudo bem. Eu só quero queimar esse filme.

- O que conta a nossa historia? – A voz dele está soando como se estivesse... Magoada?

- Exatamente. – Tudo bem, eu estava sendo muito duro com ele. Eu não queria esquecer a nossa historia, só estava magoado o suficiente e queria faze-lo sentir isso.

- Não, você não quer. – Ele suspirou e me encarou decididamente. – Você só está magoado e eu entendo isso, mas, por favor, entenda. Eu não poderia viver com a sua morte em minhas costas.

Suspirei, odeio quando Trafalgar percebe tudo o que sinto e ele sempre percebe. Puxei-o pelo braço e o abracei fortemente, como se nunca quisesse deixa-lo partir e de certa forma isso era verdade.

Ele me beijou, lenta e profundamente, como se quisesse se lembrar de todos os detalhes de minha boca. Retribui o beijo com a mesma intensidade, e no momento seguinte já estávamos na cama matando toda a saudade possível e existente.

-v-

- Você está usando adesivos de nicotina? – Trafalgar disse arqueando uma sobrancelha, ele tentou se mover, mas eu o segurei firmemente contra o meu torso.

- Sim, ajuda a me acalmar. – Ri quando ele começou a murmurar algo sobre isso não ser nem um pouco bom para a saúde.

Então um silêncio confortável caiu sob nós, e por um momento eu achei que estávamos de volta aos velhos tempos. Deitados na cama, com somente o lençol para nos cobrir, calados, ouvindo somente os batimentos cardíacos do outro.

- Law, eu... – Comecei atraindo o olhar dele. – Desculpe-me pela infantilidade e saiba que... Eu te perdoei desde a sua festa de casamento.

- Eu sei. – Ele respondeu sorridente, e eu lhe lancei um olhar curioso. – Eu só quero que você espere mais um pouco.

- Por quê? – Agora eu realmente estava confuso.

- Por que eu vou dar um jeito nisso tudo. – Ele sorriu e me beijou. – E no final nós ficaremos juntos.

Ele entrelaçou o nossos dedos e eu sorri.

- Por favor, só espere.

E essas ultimas palavras que ele disse antes de partir iam ficar em minha mente por um bom tempo.