Nami chegara à conclusão, que seria impossível ignorar seu capitão. Talvez fosse por que conviviam no mesmo navio. Talvez, essa era apenas uma hipótese. Luffy a machucou, a fez se sentir a pior pessoa do mundo por ser tão mesquinha e ontem de noite havia a visto nua. As coisas poderiam piorar? Do seu ponto de vista não.

Desde que levantou essa manhã, Luffy tomou conta de seus pensamentos. Fazia tempo que isso não acontecia, não foram muitas as vezes que isso ocorreu dizendo a verdade. A primeira vez foi em Arlong Park, aquele berro chamando-a de sua nakama permaneceu durante incontáveis dias em sua mente. Logo Ace morreu, e para ajudar, Nami estava longe de seu capitão quando ele mais precisou; aqueles foram tempos em que o sorriso grande de Luffy lhe perturbava todas as noites.

Riu com seus devaneios. Sentia-se estranha pensando em Luffy, era como se nutrisse algo por ele. Mas isso estava completamente fora de questão para a ruiva, dedicava seu amor somente aos berries, nunca se apaixonaria por alguém.

Relaxou esquecendo o companheiro por hora, a biblioteca do Sunny era um lugar incrível, entendia o motivo de Robin tanto visitá-lo. A tinta ainda fresca nos papeis, traçavam sua caligrafia impecável contando suas últimas aventuras no diário de bordo. Ela havia tirado o dia para atualizar suas funções, mais tarde desenharia os mapas que faltavam.

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— O tempo está ficando feio... — o espadachim resmungou enquanto levantava peso no deque principal. — A bruxa tá fazendo o que pra não perceber?

— Zoro! – Usopp se encolheu com a vara de pescar. — Não fale assim, ela pode ouvir... — suava só de pensar no quão assustadora Nami era.

— Nami decidiu atualizar o diário de bordo hoje, acho melhor não incomodarem. — Robin informou depois de dar um gole no chá que Brook fizera. — Aliás, Brook-san, isso está ótimo! — sorriu docemente para a caveira.

Zoro a encarou discretamente por alguns segundos, emburrando-se e deixando os amigos sozinhos em seguida.

Chopper acompanhava Luffy na cozinha, ele moía os componentes para sua Rumble Ball e o capitão implorava por carne ao Sanji.

— Sanji... — chamava o loiro com voz arrastada. — Só um pedaço, por favor! — fazia beicinho também.

— Não! — acertou uma frigideira no rapaz, no lugar afetado cresceu um galo instantaneamente. — Pare de me azucrinar, por que não procura algo para jogar?! — incentivou. — O Usopp deve ter algum tabuleiro de xadrez na oficina dele, se você me vencer, faço metade do estoque de carne pra você! — tragou seu cigarro, jogando a fumaça para cima.

Os olhos de Luffy brilharam. Metade do estoque do carne? Isso talvez fosse mais do que poderia aguentar, levando em conta que o estoque de comida dos Chapéus de Palha era incrivelmente grande. O moreno limpou a baba que escorria da sua boca semi-aberta, e levantou-se gritando pelo companheiro narigudo.

— Sanji, você é muito mal! — Chopper encarou-o com cenho franzido. — Luffy não teria chances nem mesmo com uma estátua! No mínimo ele derrubaria o rei sem querer¹, e perderia sozinho...

— Eu sei, é apenas para ocupá-lo. Em dias que estamos para ancorar em uma ilha, ele fica incontrolável. — suspirou.

O médico claramente desaprovava esse tipo de brincadeira, Luffy tinha mesmo uma inteligência inferior e ele próprio sabia, mas não era legal rebaixar tanto alguém. Acabou voltando sua atenção para o pote com ingredientes que preparava.

Ouviram passos desesperados vindo do convés, logo uma porta se abriu violentamente contra a parede, Luffy ofegava com um tabuleiro em mãos. Franky ouviu a porta sendo maltratada e xingou o capitão enquanto guiava o leme.

— Foi mal Franky!! — desculpou-se gritando também.

— Rápido. — Chopper comentou de olhos arregalados.

— Vale metade do estoque de carne! Shishishi — o moreno riu com a expressão que os companheiros esboçavam.

— Ok Luffy. — o cozinheiro apagou seu cigarro no mármore da pia, jogando-o no lixo em seguida. — Apenas um aviso, isso não vai ser fácil.

— Yosh! — sorriu desafiador. — Não vou perder!

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— Xeque — o loiro suspirou. — mate. — levantou sua pedra, e derrubou o rei de Luffy.

— Com esse são... — Usopp marcava a nova contagem num bloquinho. — São 22 vitórias do Sanji e 37 vezes que o Luffy derrubou seu rei. — revirou os olhos cansado.

— Mais uma! — Luffy pediu animado. — Tenho certeza que agora eu venço!! — dizia convicto.

— Não! — todos que assistiam, menos Robin, gritaram.

— Você disse a mesma coisa na primeira vez que perdeu, seu burro! — Zoro reclamava encostado na parede do convés. — Me acordaram com essa barulheira, não aguento mais!

Chopper pulou em cima da mesa que estavam, e guardou apressado as peças juntamente com o tabuleiro. Robin ajudou-o brotando duas mãos para que o serviço fosse mais rápido.

— Eu não quero mais ver o Luffy perder! — falou nervoso.

Sanji apenas acendeu um cigarro enquanto se levantava. Não havia entendido o motivo de Chopper ter se exaltado. Talvez o médico achasse que muita brincadeira de mau gosto com alguém, fizesse a pessoa se sentir inferior depois, mas a questão era que se tratava de Luffy, a única pessoa na tripulação que realmente não poderia se sentir inferiorizado.

Depois que brincadeira se finalizou, cada tripulante foi caçar outra coisa atrativa para se fazer. Sanji havia enjoado de vencer Luffy, decidiu que suas mellorines precisavam se alimentar. Ao invés de do capitão, que continuou sentado apoiando seu queixo pensativo sobre a mesa onde estava o tabuleiro antes de Chopper o retirá-lo. Ele não queria ter perdido. E somente sua persuasão não o ajudou a vencer. Isso era estranho demais.

Numa luta contra algum inimigo, quanto mais pensa que seus companheiros estão em perigo, mais se esforça para vencer. Lembrar que há alguém que precisa dele, o auxilia a restaurar suas forças. Luffy prometeu a Ace que seria mais forte, o medo de perder mais alguém o faz recuperar sua sanidade em horas extremas. Ele realmente não entendera o porquê, mesmo desejando vencer, não havia vencido nenhuma vez o jogo de xadrez.

Levantou indo atrás de Robin, sempre a via jogando para passar o tempo. Tinha certeza que a arqueóloga o ajudaria nisso.

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— Não posso o ajudar, capitão. — esticou seus lábios em um sorriso sincero. — Peça ao Zoro, ele não tem muita paciência, mas certamente ficaria feliz em te ajudar!

— Heh? — Zoro o metralhava com os olhos. — Não vou fazer nada, se vira. O Chopper tem cara dessas coisas, não eu.

— Luffy! — a rena de um nariz inconfundível o olhava inacreditado. — Você acabou de perder 59 vezes, quer tentar de novo?! Se quiser peça pra outra pessoa, eu não quero ver você perdendo de novo. — assim deu as costas.

— Estou SUPER ocupado, Luffy.

— Luffy-san, acho inconveniente. — Brook parecia falar sério. — Chopper-san me disse para não o ajudar, desculpe.

— Oe Luffy, esquece isso vai... que tal pescar?! — Usopp tentou animá-lo com outra ideia.

As palavras de seus companheiros ainda martelavam em sua mente. De certa forma Luffy entendia, ninguém queria o ver triste por perder novamente. Desejava somente poder treinar, por que quando se treina e repete seus erros lembrando-se de corrigi-los depois, você aprende e se torna mais forte. Era assim que Luffy ficou como está hoje.

Passeava perdido em pensamentos, quando ouviu um som engraçado vindo da biblioteca. Um ronco leve talvez? Encostou os ouvidos na porta, confirmando o som engraçado. Puxou o alçapão, e desceu as escadas vendo sua navegadora dormindo desajeitada sobre muitos papeis na escrivaninha. Aproximou-se segurando o riso, agora sabia o porquê não a tinha visto ainda hoje. Devia estar muito cansada, até sua respiração estava alta!

Puxou um pouco do seu cabelo, descobrindo seu rosto e revelando bochechas sujas de tinta. Abafou risos baixinhos, ela estava muito engraçada daquela forma. Acabou notando também seus mapas borrados, gelou com isso, ela ficaria uma fera se descobrisse, acabaria descontando sua raiva em tudo e todos. Ainda paralisado com o medo de acontecer o que imaginara, Luffy pegou alguns papeis do canto e se jogou no chão com uma caneta e tinta, desenhando do jeito que lembrava as últimas ilhas pelas quais passaram.

Não devia ter passado mais que trinta minutos que começara a traçar suas linhas e lembrar-se de tudo que acontecera desde que se reencontraram. Acabou o serviço completamente satisfeito de si mesmo, havia dado seu melhor, Nami adoraria! É claro, ela havia estragado os originais, mas ele como um bom amigo a ajudara fazendo um novo idêntico.

Não aguentou vê-la dormindo torta e desconfortável daquela forma, resolveu carregar a ruiva desacordada até seu dormitório, não teria perigo, Sanji estava preparando a janta. Puxou a cadeira devagar para não acordá-la, e preparava-se para impor suas mãos debaixo das coxas da ruiva, quando sentiu a respiração dela acalmar. Simplesmente não a ouvia mais roncar baixinho e aquilo o paralisou novamente.

— Luffy, posso saber o que está fazendo? — questionou sonolenta.

— Você dormiu nos seus mapas, só vou te levar para o quarto... — sibilou disfarçando o medo.

— Dormi nos... — levantou a cabeça olhando os papeis borrados na mesa. — Nos mapas?!

A ruiva percebeu seu trabalho destruído. Queria chorar de raiva ou bater em alguém, mas seu capitão agiu mais rápido, correu segurando sua mão e levando-a até o canto que os mapas dele estavam. Ele abaixou-se para pegar seus desenhos, entregando-os para a navegadora, antes que descontasse sua profunda ira.

Ainda tentando se acalmar, Nami observou cada detalhe dos desenhos infantis que seu capitão fizera. Havia um círculo torto no centro, provavelmente era a bolha que envolvia a Ilha dos Tritões. Alguns peixes mal feitos e cada um da tripulação, mas ela estava diferente dos demais. Seus seios estavam ridiculamente desproporcionais e maiores que até os da Robin. Havia uma arca e uma sereia gigante de fundo, no canto inferior do papel, tinha alguns números que não faziam sentido, provavelmente Luffy tentou desenhar uma escala gráfica ali.

— Luffy... — foi tudo o que ela pôde dizer diante daquilo.

— Vai me bater? — indagou encolhido.

— É claro que não. — respondeu sorridente, ele realmente conseguira a acalmar.

— Ufa, pensei que ia morrer! — suspirou aliviado. — Aliás, você está engraçada, sua cara tá toda suja! Shishishi — apontou para ela e riu exageradamente.

— Idiota. — sentiu uma veia pulsar.

Nami pediu ajuda para jogar os papeis estragados fora, e assim Luffy fez. Depois a acompanhou enquanto refazia os mapas, jogando conversa fora animadamente e se colocando de prontidão em qualquer coisa que ela pedisse. Foi um final de tarde memorável, o dia que conseguira conversar como antes com sua navegadora.

— Nami, hoje eu joguei xadrez com o Sanji! — contou sentado na outra mesa. — Mas eu perdi todas as vezes...

— Sério? — a mulher não tirava os olhos do papel e da régua. — Que pena, mais tarde eu jogo com você então. — falou sem se importar muito.

— Vai mesmo Nami?! — pulou do lugar exaltado. — Sério? Sem mentir?! — continuava entusiasmado demais.

— Sim... — riu debochada sem entender. — Qual o problema? — virou-se para ele.

— Ninguém quis jogar comigo de novo...

— Tudo bem, eu jogo. — voltou sua atenção para os mapas, ela estava em dívida com Luffy, precisava ser legal com seu capitão.

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A janta atrasou, Sanji se distraiu com Robin e acabou esquecendo-se de preparar alguns pratos. A consequência obviamente foi terem comido tarde demais, assim tendo acabado ainda mais tarde e deixado a tripulação mais sonolenta. Nami desceu até a oficina e pegou o tabuleiro, mesmo estando um pouco cansada, se esforçaria para manter sua promessa com Luffy. Encontrou-o sentado no chão do deque.

— Quer jogar aqui? — perguntou simplesmente.

— Não, combinei com o Zoro que eu ficaria de vigia, então a gente pode subir lá no ninho da gávea. — apontou para cima.

— Eu não vou ficar de vigia com você. — falou ríspida. — Se vira! — mostrou a língua entregando o tabuleiro para subir as redes.

— Eu sei! — riu, aquela era Nami que conhecia.

A navegadora o ensinou cada movimento de todas as peças, e explicou como uma jogada funcionava. Ela teve um pouco de paciência, coisa que o Sanji não tivera. Ele só gritava quando um movimento estava errado. Acabou que mesmo aprendendo a jogar, Luffy não conseguia vencer, e isso o entristecera um pouco.

— Luffy, vencer não é tudo na vida. — a ruiva balbuciou guardando as peças. — Chopper ficou bravo comigo quando me viu com o tabuleiro, e disse pra eu desistir porque você era um cabeça dura. — continuou. — E eu concordo. — riu levemente. — Mas alguém precisa te ensinar isso. Não sei o que você deve estar pensando, mas vencer um jogo e vencer uma luta, são coisas diferentes, ok?

— Mas Nami... — contestou. — E se algum dia alguém te sequestrar, e eu tiver que jogar xadrez pra te salvar?! — realmente, sua imaginação era incrível.

— Aí, você acerta o idiota com um Jet Pistol e tudo está acabado. — fez seu sinal costumeiro com a mão levantando-se do chão. — Agora vou dormir, boa noite. — pendurou o chapéu nas costas dele, e afagou seu cabelo escuro, em seguida desceu as redes bocejando.

Luffy apenas jogou as mãos para trás da cabeça, e deitou ali mesmo. Gostava da companhia de Nami.